sábado, março 22, 2014

Gertruds, um pé de pimenta malagueta no escritório

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Foto: João Cruzué
Capsicum frutescens
JOÃO CRUZUÉ

No começo deste mês de março, eu conheci a Gertrud. Ela não tinha este nome, foi um apelido que lhe dei depois. Quando comecei neste meu novo trabalho, meu chefe tinha um pé de pimenta malagueta. Ele foi embora, mas a pimenta ficou. Deve ter durado uns três anos, mesmo morando em um vazo muito pequeno. Eu vou contar para você, agora,  um pouco da mais nova moradora da minha seção.

Eu sempre gostei de ir na hora do almoço, para os lados do grande Mercado Municipal da Rua Cantareira, perto da Rua 25 de Março. Lugar de bons "vacalhaus", "binhos" e "caijos". Por incrível que pareça, eu só gosto dos caijos, é claro, porque sou filho das Gerais.  Mas do outro lado Rua Cantareira, perto do Banco Itáu, tem um outro Mercado, na verdade uma feira coberta, onde você encontra muitas frutas e principalmente pimentas.

Na entrada desta feira, tem uma família de brasileiros, descendentes de japoneses. Normalmente, a gente os chama de "japoneses", mas eu acho que estaria sendo injusto. Esta família vende mudas de plantas. E no primeiro dia que estive ali, no começo de março/14, eu vi manjericões roxos e verdes, alecrins, hortelãs, bonsais de mexericas poncãs, dois pés de jabuticabeiras de uns 60 cm e um pé de pimenta malaguetona.

Não foi amor à primeira vista. Na verdade, eu não estava muito a fim de comprar. Mas, me lembrei do pé de pimenta da antiga sala do meu chefe, e pah! Comprei o pé de pimenta. Tem um meio quilômetro, do Mercado Municipal ao meu local de trabalho.

Dizem que pé de pimenta é para espantar mau olhado. Mas não foi por isto que comprei a pimenta. Eu ainda tenho muito sangue de capiau mineiro, criado no Vale do Rio Doce, grande frequentador das águas do Rio Caratinga, nos tempos de criança. No sítio, a gente tinha gato, cachorro, cavalo, boi, cabrito... em escritório de prédio moderno isto não acontece, então vamos de plantas mesmo.

Como todo animal no sítio tinha nome, decidi dar nome ao meu pé de pimenta.  Olhei para aquela arvorezinha de  50 cm, e vi que tinha "cara" de Gertruds.  Tive, primeiro,  o cuidado de dar um nome diferente de qualquer colega. Já pensou se você tem uma colega de trabalho e depois ela fica sabendo que você deu seu nome a um pé de pimenta?

Quita-feira passada, eu levei a máquina para tirar umas fotos da Gertruds. Eu sei que logo, logo, as pimentas dela vão começar a murchar e secar. Assim, no auge da sua "beleza", tirei umas trinta fotos dela. Joguei fora as feias e ainda ficaram umas 10.

Somos em três na seção. Minha chefe, uma colega e eu. Com certeza, a gertruds  tem trazido mais alegria ao nosso trabalho super-burocrático. Tem colegas que acham que, sendo nós auditores de um Tribunal de Contas, seria bom manter a pimenta longe de nossos relatórios, com vistas à moderação, sabedoria, etc... mas, eu acho que a Gertruds está fazendo o papel de um animalzinho de estimação. Estimada ela é, e muito.

Um fato muito muito engraçado aconteceu nesta semana que passou. Gozo de boa amizade com uma antiga diretora e a convidei para conhecer a Gertruds. Sei que lá pelas quatro horas da tarde, a glicose  diária já se foi e nossas mentes começam a se esgotar.  Foi neste horário que a convidei para conhecer a Gertruds.

--Como é  esta  tal Gertruds, perguntou.  E eu respondi que era muito ardente...

No outro dia, minha chefe que é amigona desta diretora voltou rindo muito depois do almoço. Ela me dizia que minha ex-diretora estava muito preocupada comigo. 

--Que história é essa de "ardente"?  A esposa do João já sabe que ele está pondo as manguinhas para fora com esta tal de Gertruds? Este mal-entendido levou-me a carregar a Gertruds até a mesa dela.  Não sei o que se passou na cabeça dela, mas acho que ela entendeu bem a semântica da palavra "ardente" quando ficou conhecendo a Gertruds.

Como ela não vai durar para sempre, tirei um de seus frutos, abri e coloquei  as sementes em dois pequenos vasos. Em uma semana, nasceram umas 20 gertrudinhas. Agora não sei o que fazer com tanta pimenta. Meu atual diretor tem gastrite. Só de olhar para a gertruds ele começa a tossir.

No mercado onde comprei a Gertruds, tem um senhor que vende pimentas frescas. Puxei conversa com ele, enquanto comprava umas pimentas. O senhor Santo (deve ser um italiano) foi me ensinado: esta daqui é a caiene;  muito boa para o coração. Eu comprei um pouco e voltei em outro dia para comprar um quilo. Não de caiene mas de dedo de moça.  

Eu já tinha umas duas garrafas em casa de molho de pimenta que eu mesmo fiz com umas pimentas dedo-de-moça que colhi no meu quintal. Garrafas de uns sete anos. Aproveitei esta minha fase pimenta e fiz outras três garrafas de molho de pimenta. Duas com pimenta dedo de moça, aquela vermelha enorme, e um da pimenta caiene que tem pouca ardência. Da malaqueta eu ainda não fiz molho, não. Mas como a Gertruds tem mais de 50 pimentas, acho que vai dar uma boa garrafa de molho.


Na verdade, um pé de pimenta no escritório com pimentinhas nascendo, mudinhas torcendo o pescoço para olhar o sol é coisa muito boa para aliviar o estresse. Como apaixonado fazedor de mudas (blog ecológico) acho que a malagueta, tanto a pequena quanto a grande, se adapta bem a ambientes bem iluminados. Ela gosta de sol forte e muita água no pratinho do vaso. O contrário das violetas que preferem a sombra.

Tenho usado como adubo, umas coisas que comprei lá na Rua São Caetano. Além de vestidos de noiva, ali tem duas casas enormes de coisas  para agricultura e pecuária. Superfosfato triplo, sulfato de amônia, adubo foliar, enxofre, óleo mineral, etc. Agora pulverizadores pequenos, eu amei os da marca Guarani que encontrei na loja da Camicado, adiante da Ladeira Porto Geral.

Daqui a um ano quando voltar a esta crônica, quem sabe este pé de pimenta já esteja na sua terceira geração. Gertruds, depois Penélope, depois Gisele... Cada geração vai ter um nome. A propósito, dê uma clicada com o mouse  na foto da Gertruds, para vê-la em tamanho maior.

O que tem de estranho nesta crônica? Eu acho que é o fato de colocar nome de gente em pés de planta. Quem sabe elas gostam?















Um comentário:

Wilma Rejane disse...


Irmão João,

A Gertrudes está muito bonita! Eu teria até dó de colher as pimentas.Mas se não colher, elas murcham.

Gosto muito de plantas, mas considero difícil cultivar pimentas, especialmente em vasos.

Gostei da crônica.

Deus o abençoe.