domingo, setembro 22, 2019

O vale de ossos secos e a esperança nossa de cada dia





Wilma Rejane

Veio sobre mim a mão do Senhor, e ele me fez sair no Espírito  e me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos. E me fez passar em volta deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos. E me disse: Filho do homem, porventura viverão estes ossos? E eu disse: Senhor DEUS, tu o sabes. Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor DEUS a estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor.Então profetizei como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso. Ezequiel 37:1-7

A mensagem em Ezequiel fala literalmente sobre:

I-  A revitalização de Israel, pois, naquela época as tribos haviam se espalhado; Judá, Benjamin e Levi  levadas em cativeiro para Babilônia. Era tempo de angústia. Jerusalém estava em ruínas, as tribos espalhadas entre as nações, parecia o fim de um povo. O vale de esqueletos era como um raio x de Deus sobre Israel: um Israel triste e abatido. Deus, porém revigoraria Israel, transformando-o novamente em uma nação.

II- Também fala do Israel espiritual,  igreja de Cristo, composta por pessoas renovadas pelo Espírito Santo. Pessoas que outrora estavam perdidas, mortas em pecados, e atenderam ao chamado de arrependimento. Estes, em Cristo, venceram a morte. 

Delimitados os temas literais da mensagem em Ezequiel, podemos aqui abordar outros aspectos igualmente importantes presentes na passagem do Vale de Ossos secos. São observações que ampliam nosso olhar sobre a cena, a fim de aprendermos mais com Deus, fortalecendo-nos em fé e obediência. 

Aquele vale

O Vale de ossos secos, apresentado por Deus ao profeta Ezequiel é uma visão de horror, evocada para trazer esperança, a esperança revivida do pó de cadáveres, uma esperança que somente Deus pode dar, nada nem ninguém seria capaz de adentrar naquele ambiente para ressuscitar aquelas pessoas. 

Um vale fica entre montanhas, olhar para o alto quando se está em um vale pode ser animador, porque enxerga-se uma saída, um horizonte diferente que indica mudança. É isso que nos diz um conhecido Salmo: “ 121:1 Elevo os meus olhos para os montes; de onde me vem o socorro? 2 O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra”. Os esqueletos não podiam ver, então Deus envia Ezequiel para que eles possam ouvi-lo.

Outro aspecto que chama minha atenção é o dos esqueletos estarem ao ar livre, sobre a terra e não enterrados. E eles estavam sequíssimos! 

Ezequiel rodeia aqueles esqueletos, se põe entre eles, fala com eles!


A grandeza dos detalhes

Refletir sobre a mensagem de Ezequiel sobre o vale de ossos secos é contemplar Deus na história da criação humana e das nações em todas as épocas. Israel foi um povo perseguido, espalhado, foram  mortos aos milhões no Holocausto nazista, contudo, se ergueu novamente como Nação em  14 de maio de 1948. Israel é uma referência profética desde o início e assim será até o fim dos tempos. Porque assim como a Mão de Deus estava sobre Ezequiel naquele vale, está também sobre Israel.

Interpreto os esqueletos sobre a terra como sendo um estado provisório, ossos em decomposição, porém que aguardam uma resolução. É como se Deus tivesse-os sob seu olhar, um olhar que os rodeia, que se põe entre eles, observa atentamente a fim de reverter aquele estado terminal. A seu tempo. 

A sequidão dos ossos indica muito tempo de morte, e ainda assim Deus os transforma em corpos saudáveis, com tendões, carne, pele, músculos, vida!!! Isto significa Redenção, algo que acontecerá com o Israel Físico e com a Igreja (Colossenses 1: 13,14 – Romanos 11:26).

Lições para todos os dias

Não há coisa alguma impossível para Deus (Lucas 1:37). Se há determinadas áreas em nossas vidas que se assemelham aquele vale de ossos secos, Deus é a esperança e a certeza de restauração. 

Deus perguntou a Ezequiel: 
- Porventura viverão estes ossos?
 Ele disse: - Senhor Deus, tu o sabes.

Ezequiel era um homem de fé. Ele sabia que Deus não operava seguindo lógica humana, pois, em uma visão meramente humana, aqueles esqueletos jamais voltariam a viver. A resposta estava com Deus que criara todas as coisas e o homem do pó da terra ( Gênesis 2:7). Terra e osso não eram um fim para Deus, mas um começo, recomeço, matéria-prima para milagres!

Quantas vezes queremos perder as esperanças porque não vemos saída, não conseguimos enxergar nada mais além de um vale de morte. Não vemos montes, nem horizontes. Nos sentimos abandonados, esquecidos. Mas Deus está atento, Ele diz: “ouçam a minha voz, ela está presente também nos vales ”. 

Continuemos orando pela salvação de nossa família. Continuemos firmes nos caminhos do Senhor na certeza de que Ele vela por nós, conhece nossas angústias e sofrimentos e Ele nos ama. Aqueles esqueletos estavam na superfície, visíveis, ao alcance porque Deus agiria de modo milagroso sobre eles! Claro que não há distância ou profundidade onde Deus não chegue. Ele ressuscitou a Lázaro, de Betânia, quando este estava no túmulo (João 11). Lázaro estava na tumba, envolto a lençóis e uma pesada pedra fechava seu túmulo, mas todos esses acessórios de morte não foram capazes de esconder Lázaro do olhar de Deus, para Deus Lázaro estava como aqueles esqueletos: na superfície, aguardando a redenção!

Deus o abençoe.

sábado, setembro 14, 2019

O irmão do filho pródigo

.
A volta do Filho Pródigo

João Cruzué

Eis o texto que tem por título: A Parábola do Filho Pródigo, quando na verdade seu objetivo  é uma crítica bem formulada contra o pensamento farisaico que desprezava Jesus, porque ele conversava e comia com os publicanos, com os pecadores =- a "gentalha" desprezada da sua época.

"E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou, e não queria entrar.

E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.

E o Pai lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se." (Lucas 15: 25-32).

O texto da Parábola começa com a atitude do filho cobrando sua parte na herança antes da morte do pai, para torrá-la em bebedices com os falsos amigos e meretrizes. Este filho se arrepende depois,  volta, e é recebido com alegria pelo pai, que para expressar seu contentamento mandou chamar todos da casa e deu uma grande festa,  se fosse no dia de hoje, um "churrasco" com música e dança.

O filho mais velho, naquela ocasião, era o contraste em pessoa. Quando soube do regresso do irmão e da festa preparada pelo pai se emburrou,  ao ponto de  recusar-se a entrar para abraçar o irmão. Era um falso apologeta dos bons costumes. Cobrou coerência do pai:  um tratamento duro e exemplar para aquele irmão devasso e dissipador dos bens da família.

Foi usando desta analogia que Jesus criticou o comportamento dos fariseus,  autoridades religiosas do seu tempo, que  passavam muito tempo na Casa de Deus, mas que não O tinham dentro de seus corações. Eram frios, vazios, que não conheciam a verdadeira face de Deus. Uma face de misericórdia, de perdão, que oferecia uma nova oportunidade aos pecadores. O amor como forma de produzir gratidão e garantir o perdão.

O filho mais velho reclamou que em toda sua vida nunca tinha recebido um festa, nem celebrado com os amigos um churrasco de cordeiro. Não recebeu, porque tinha uma imagem muito diferente da pessoa de seu pai. Achava que o pai era austero e mesquinho. Um pai que devia castigar o erro das pessoas.

Ele estava muito enganado.

Preocupado com o trabalho, não tinha mesmo tempo de conversar com seu Pai. Por isso não via que seu "velho" todo dia,  que caminhava até os limites de suas terras para ver se o filho caçula estava voltando. O filho mais velho nunca percebeu isso porque não tinha saudades do irmão Não era generoso nem sabia que tinha um pai generoso, disposto a perdoar, esperançoso da volta do filho.

E no dia que o pródigo voltou, o primogênito  também voltava à tarde do trabalho. Ouviu um barulho de música e o cheiro de boi na brasa. Ao saber do que se tratava, fechou o coração e não quis entrar e festejar.

O filho mais velho é o tipo de crente que trabalha dedicadamente nas Igrejas hoje. Presta um serviço de excelência há muitos anos, mas  por costume e status. Pura formalidade. Em seu coração é um crítico ácido. É perfeito em serviço, mas mesquinho de coração. Quando volta para casa, costuma destilar um rol de críticas sob o que aconteceu no culto.

Está todos os dias dentro da casa do Pai, mas o Espírito Santo não está mais dentro de seu coração. Porque  a boca fala do que há em abundância  no coração. Um coração predominantemente crítico é espelho a ausência do Espírito. E sem o Espírito não há misericórdia, nem perdão nem celebração. E perante os olhos do Senhor a misericórdia prevalece sobre o formalismo farisaico.

O filho primogênito queria ver seu irmão pelas costas. Aliás, se fosse por ele, o irmão somente botaria os pés dentro de casa na condição de jornaleiro.

E com esta crítica sutil na forma de uma parábola, Jesus Cristo mostrou aos fariseus, e mais tarde aos judeus, que o amor de Deus transcende à justiça dos homens. Que para Deus o arrependimento de um pecador é motivo de festa entre os anjos do céu, porque Deus não enviou seu Filho ao mundo para chamar os justos ao arrependimento, mas para anunciar aos pecadores uma nova oportunidade de perdão  e o Ano aceitável do Senhor.