Mostrando postagens com marcador Crônicas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Crônicas. Mostrar todas as postagens

domingo, novembro 11, 2012

Crônica de uma segunda feira de novembro



A mão que segura outra mão
João Cruzué 

Eu creio que para a maioria das pessoas, a segunda-feira é um dia aborrecido. Principalmente, se você estiver no trânsito caótico da Capital Paulista. Mas, hoje trabalhei perto de casa. Por isso, esta segunda não está com cara de "segunda-feira". Bem, deixando de lado este "inbroglio" de tantas segundas-feiras, um fato muito especial chamou-me a atenção no final do dia. Quando eu voltava. Já bem perto de casa. Subindo uma ladeira estreita, eu vi um pai passeando com sua filhinha. Ainda bem pequena. Ao passar por eles, ouvi aquela garotinha dizendo assim: "Segura minha mão, paizinho."

Eu sei que Deus pode falar de várias maneiras, mas ainda não tinha visto Deus falar comigo por uma cena como aquela. Um pai passeando com a filha, e quando ela se viu de mãozinha solta, com medo de cair ela reclamou: "Segura a minha mão, paizinho."

Era um pai ainda muito joven, talvez não tivesse 20 anos. Estava todo orgulhoso, falante, era alto, mas se inclinava quase ao chão para se comunicar com palavras carinhosas àquele pingo de gente. Ela, ousada, corajosa, caminhava ladeira acima mudando os passinhos muito devagar. O carinho e a comunicação dele ao lado da filhinha, trouxe-me surpresa e admiração. Supresa e admiração, sim! Não é todo dia que se vê isto por São Paulo, terra que já foi da garoa, mas que hoje é da pressa, do trânsito caótico e da falta de tempo.

Eu fiquei imaginando: que bênção é ter dois aninhos... Com essa idade tudo é novo, atraente. Os pais, então, são como Deus. Fortes, altos, destemidos, maravilhosos. Ao lado deles não há o que temer. Eu imagino que, nesta idade, não se perceba as dificuldades da vida. Nem o que vai pela mente de um pai, ainda mais quando este pai está caminhando bem ao lado. Protegendo. Incentivando. Conduzindo. Tempos um pouco mais tarde, já vai caminhar sozinha, e ninguém mais ouvirá de sua boca aquelas palavras que hoje ouvi. Pelo menos enquanto estiver grandes problemas.

Lembro-me também de meu pai. Em minhas primeiras lembranças,ele era alto, carinhoso, alegre. Sempre vinha da "rua" sem se esquecer de nos trazer pães de doce e de sal. Eles vinham a cavalo, embrulhados em papel cinza, amarrados com barbante branco. Anos 60, época que ainda não havia sacolas de plástico. Quando ele chegava, com certeza, tinha pão. Depois cresci. Jovem ainda, tornei-me crente e descobri a bondade Pai Celestial. Deus para mim é como a figura de meu pai. Foi fácil fazer esta associação. Um pai que não é vingativo, iracundo, espancador, bêbado ou hipócrita. É o Pai que se agrada de ser chamado de Paizinho (aba Pai). Que está disposto a segurar nossa mão para nos erguer e conduzir através de ladeiras e dos vales da vida.

Assim, como aquele jovem pai que hoje à tarde se desmanchava em cuidados e palavras de amor para sua filhinha, muito mais é o amor de nosso Deus e Pai celestial. O problema é que, quando ficamos adultos, não queremos mais depender dos pais. Já não lhe chamamos mais de paizinho. Não mais pedimos para que segure nossas mãos. Nos tornamos indiferentes. Negligentes. Auto-suficientes. Assim, nosso relacionamento decai. Emudece. Entristece. Se transforma em abandono. A imagem do pai, então, somente volta quando caímos. Quebramos a "cara".

Querido/
Querida, se em algum lugar da vida você tropeçou e caiu; se o chão lhe tiver provocado feridas; se elas ainda estiverem abertas por ter se recusado a segurar na mão de nosso Paizinho, lembre-se de que ele - Deus - ainda ama você. Ele não vai jogar em seu rosto tudo o que você já falou, xingou ou pensou dele. Basta que lhe peça com voz sincera: Segura de novo minha mão e ajuda-me Paizinho!


Link de Mensagens de João Cruzué


cruzue@gmail.com

.

sábado, outubro 09, 2010

Oriandelabassi

..

João Cruzué

Esta semana um antigo pastor veio nos visitar e isso mexeu com minha memória. Lembrei-me de algo muito engraçado, dos tempos em que fui convidado por ele, para assumir uma classe de novos convertidos. E no meio dessa classe, chegou, um dia, um irmãozinho que tinha um bar e estava em fase de aproximação de Cristo.

Eu já vi muita coisa em 35 anos de fé, mas não tinha visto ainda um dono de bar, crente. E no bar ele falava de Jesus com a autoridade, para cada um dos frequentadores, que o olhavam incrédulos, servindo uns copos da "mardita".

Quando ele chegou na classe, fui informado do assunto. Também me disseram para ter paciência com ele. Então, deixei que o Espírito Santo trabalhasse naquele coração que ainda não se mostrava nem um pouquinho de preocupado em abandonar o bar. Eu fiquei quieto; mas dava uma vontade imensa de falar, mas costurei minha boca, ficando só na oração. Eu pensava: se sua conversão for sincera, em breve ele vai mudar de comércio.

E isto aconteceu. O bar foi perdendo os fregueses. E percebendo isso, mudou seu ramo de negócio para uma mercearia. E já em outro período, anos mais tarde, aquele espaço se tornou em salão de Igreja.

Voltando no tempo, nosso irmãozinho, baiano da terra de Caetano, parou de vender pinga, talvez forçado pelos próprios fregueses irritados com suas pregações. O Espírito acabou vencendo. Convertido, sim senhor; de verdade; bar fechado. Novo ramo de negócio, dono de mercearia. Ele se firmou batizou-se e foi batizado no Espírito Santo.

Dá-me um vontade imensa de dizer seu nome, mas não posso. Vou ficar só o milagre, sem dizer o nome do santo. E eis que ele se apaixonou por outra baiana, mas não foi correspondido. Tentou a aproximação de várias formas, mas nada. Então apelou para a música, como compositor iria consquistá-la.

Comprou um violão e arriscou umas dedilhadas. Eu mesmo estive algumas vezes em sua casa.Morava com um sobrinho. Depois veio uma irmã. E treinando as posições no pinho.

Quando viu que a baiana não queria mesmo nada com ele, arriscou uma última tentativa. Compôs uma canção em línguas estranhas. He he he! Começava um verso em português, e sapecava algumas palavras em línguas no final dele.


"Ele morreu e foi crucificado.... Orieandê,

E morreu por mim no calvário... Orieandê, Oriendeondestás!"


Gente... a Igreja inteira séria, segurando a vontade imensa de rir... mas não se ouvia nem um pio. Todo mundo surpreso. Nem um aleluia, nem nada! Mas na casa de cada um, era o assunto mais saboroso do dia. Da semana até. E ele chegou a cantar sua canção mais de uma vez.

E foi assim que meu irmão, ex-dono de bar, já com uns dois anos de convertido, ficou definitivamente sem a baiana! De tanta vergonha que ela passou. Ele voltou para a Bahia e se tornou pastor. Ela continuou em São Paulo e se casou.

Eu já tinha visto alguém cantar em línguas espirituais, e era maravilhoso ver. Mas hino composto em língua estranha foi a primeira, e última vez.




.







sexta-feira, maio 07, 2010

Crônica de uma pia entupida


Photobucket

João Cruzué

Eu não sou judeu, mas o sábado é meu dia de descanso. Posso levantar-me mais tarde, a não ser no sábado que a "Nala" resolve dar uma de "cuco", miando na maior altura. Meu sábado tinha tudo para ser perfeito; até a gata se esquecera de acordar, e aí, (veja bem!) lembrei-me de que havia uma pia de cozinha para consertar.

Pias de cozinha são aquelas coisas que permanecem discretas por anos e anos, até que de repente - entopem!

Eu descobri que existem diversos tipos de defeitos possíveis em pias. Tem o da borrachinha, o do sumiço do ralo, o vazamento em cima do sifão, o entupimento embaixo dele ... e o pior de todos eles - quando cano de esgoto, bem debaixo do piso da cozinha, entope.

Fui então deixando a cama tão quentinha para fazer o planejamento. Uma lista de compras, para o conserto e outras "cositas más" que uma casa sempre precisa.

Calcei o tênis e saí para para unir o útil ao desagradável - caminhar uns dois quilômetros (o útil) para comprar um sifão novo e as outras cosistas.

Cheguei e troquei o sifão, mas o problema não era de sifão. Era mesmo o pior: um entupimento não-sei-onde no cano de esgoto. A prova dos nove foi a cuba de inox cheia d'água que não descia nem um milímetro.

Entupidaça!

Pensei em colocar soda no cano, mas desisti, porque alguém já havia tentado isso antes e fora derrotado. Elementar meu caro "watson": um frasco vazio de soda estava por perto.

Aí a situação piorou, e precisei mudar a estratégia.

Fui pedir ajuda a um senhor de uma loja de produtos de limpeza.

Um tipo sabichão: "Meu filho", disse ele (tenho 55 anos) "Leve este produto aqui; não sei bem o nome do conteúdo ativo, mas desentope legal. São dois e cinquenta...Ah! O senhor também precisa despejar um litro de água quente para "ajudar" no desentupimento.

Fui para casa e despejei o tal produto bem olho do problema. Um cateterismo em cano da pia. Aí começou sair uma fumacinha mal-cheirosa. Lembrei-me de por a tal água quente para "ajudar". Esperei mais um pouco.

Para ter certeza do xeque-mate, fiz o teste "São Tomé": abri a torneira até encher a cuba. E Nada!

Voltei à loja de materiais de limpeza para comprar outro frasco do desentupidor. E não deixei de reclamar: "O senhor tem certeza de que não estou comprando água verde em vez de desentupidor de pia?

Depois de uns 15 minutos de explicações (...) que o produto no passado era muito mais forte, mas que por motivo de registro no M.S. tivera sua fórmula abrandada., etc... Voltei para casa com a sensação de que caíra duas vezes no conto do desentupidor de pia.

O sábado já era! Quatro horas da tarde!

E lá estava eu derramando o segundo frasco de líquido verde no cano entupido. Desta vez não economizei despejei tudo de uma vez, e mais água quente... para ajudar. De novo veio a fumaça, e que fumaça! Passou mais meia hora, e "lá vamos nós" para o segundo teste "São Tomé."
De repente, lembrei-me de um detalhe importante: de orar!

--Ó Jesus, nunca li que o Senhor tivesse desentupido uma pia, nem me atreveo a pedir uma coisa destas, mas eu sei que Senhor tem bom humor, me ajuda com esta pia.

Enchi a cuba de novo. Fiz pressão com a mão no fundo da pia, e cinco segundos depois ouvi aquele barulho escandaloso de sucção: usssshhhhhhhh!

Lembrei que o Senhor já falara dos lírios, dos passarinhos, e também da sua promessa e estar conosco todos os dias. Se Ele nos mostra seu amor em coisas tão pequenas, como ralos e canos de pias, que dirá, pois, do cuidado que tem por você e por mim?

SP - 30/06/2008

cruzue@gmail.com


.

quarta-feira, março 03, 2010

Crônica evangélica - O desentupidor de pia


Photobucket

João Cruzué

Eu não sou judeu, mas sábado é meu dia de descanso. Posso levantar-me mais tarde, a não ser no sábado que a Nala resolve dar uma de "cuco", miando na maior altura. Meu sábado tinha tudo para ser perfeito; até a gata se esquecera de acordar. E aí, estava eu no bem-bom daquele magnífico sábado quando lembrei-me de de uma pia de cozinha para consertar.

Pias de cozinha são aquelas coisas maravilhosas, que permanecem discretas por anos e anos, até que de repente - entopem! Há um detalhe interessante: existem diversos tipos de defeitos possíveis em pias. Tem o da borrachinha, o do sumiço do ralo, o vazamento em cima, o entupimento embaixo... e o pior de todos eles - o cano de esgoto da pia entupido.

Sabe o que estar tranquilamente na cama, em uma bela manhã de sábado, quando de repente você se lembra de uma pia? Terrível! Enfin, fui logo deixando a cama tão quentinha para fazer uma lista de compras, para o conserto e outras "cositas más" que uma casa sempre precisa. Calcei o tênis. Saí para para unir o útil ao desagradável - caminhar uns dois quilômetros e comprar um sifão novo e as otras cosistas.

Troquei o sifão, mas o problema não era o sifão. Era o pior: um entupimento não-sei-onde no cano de esgoto. A cuba de inox estava cheia d'água e não descia nem um milímetro. Entupidaça! Pensei em colocar soda no cano, mas desisti porque alguém já havia tentado isso antes e foi derrotado. Elementar: um frasco de soda vazio estava por perto.

A situação mudou para alerta vermelho, e precisei mudar de tática.

Fui pedir ajuda ao senhor de uma loja de produtos de limpeza. Era um tipo sabichão: "Meu filho", disse ele (tenho 54 anos) "Leve este produto aqui; não sei bem o nome do conteúdo, mas desentope legal. São dois e cinquenta.

--Ah! O senhor também despeja um litro de água quente para "ajudar" o produto.

Fui para casa e procurei uma pedaço de mangueira para despejar o tal produto bem olho do problema. Um cateterismo em cano da pia. Aí começou sair uma fumacinha mal-cheirosa. Lembrei-me de por a tal água quente para "ajudar". Esperei mais um pouco. Um xeque-mate? Para ter certeza disso, fiz o teste "São Tomé": abri a torneira até encher a cuba. Nada!

Voltei à loja de materiais de limpeza para comprar mais um frasco do desentupidor, e aproveitei para reclamar: "O senhor tem certeza de que não estou comprando água verde em vez de desentupidor de pia? Depois de uns 15 minutos de explicações (...) que o produto no passado era muito mais forte, mas que por motivo de registro no M.S. teve a fórmula abrandada... voltei para casa com a sensação de que caíra no conto do desentupidor de pia.

O sábado já era. Quatro horas da tarde! E lá estava eu derramando o segundo frasco no cano entupido. Desta vez não economizei despejei tudo de uma vez, e mais água quente. De novo veio a fumaça, e que fumaça! Passou mais meia hora, e "lá vamos nós" para o segundo teste "São Tomé."Enchi a cuba de novo. De repente, lembrei-me de um detalhe importante.

--Ó Jesus, nunca li que o Senhor tivesse desentupido, nem me atreveo a pedir uma coisa destas, mas eu sei que tem bom humor, me ajuda com esta pia.

Fiz pressão com a mão pela enésima vez no fundo da pia, e cinco segundos depois ouvi aquele barulho escandaloso de sucção: usssshhhhhhhh!

Eu não sabia se ria ou se chorava. Acabei molhando os olhos. Foi minha segunda experiência desse tipo. Eu não percebera, mas o Senhor estivera comigo o dia inteiro. Lembrei que ele já falara dos lírios, dos passarinhos, e também da sua promessa e estar conosco todos os dias.

Se Ele nos mostra seu amor em coisas tão pequenas, como ralos e canos de pias, que dirá, pois, não tem cuidado de você e de mim?

SP - 30/06/2008

cruzue@gmail.com


.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

De mãos dadas com Jesus

.
João Cruzué

A semana que passou foi a semana das menininhas. Explico: tive minha atenção despertada por várias delas. No sábado quando caminhava observei duas, de uns dois anos, gêmeas. Lindas, tagarelas e brincando na calçada. Domingo, durante o culto, tinha mais uma brincando no banco de trás. Acho que não tinha mais do que dois aninhos. Mas hoje, pela manhã eu quase "babei" ao ver um pingo de gente seguindo para a escola, com uma mochila rosa com desenhos dourados (quase maior que ela) de mãos dadas com seu papai. E não é a primeira vez que escrevo sobre este assunto.

Hoje eu fui mais cedo para o trabalho. Desci do ônibus antes do final para caminhar porque estava com mais desejo de orar do que de costume. Eu ando pensando em fazer uns jejuns para tirar uma dúvida sobre dons de curar. No meio da caminhada, lá vem a menininha da mochila rosa com seu pai. E eu me lembrei dos primeiros anos de casados quando minha esposa e eu adorávamos sair com a Pris, então com um, dois aninhos.

A Pris nasceu linda. Quando fui vê-la no berçário, não estava lá, mas nas mãos das enfermeiras. Elas a achavam muito bonita. Nas compras pelo supermercado, então, nós a colocávamos na cadeirinha do carrinho. E ninguém ficava indiferente, pois era muito sorridente e barulhenta.

Também me lembro de que eu a tomava pela mão e seguíamos para um gramado no prédio em frente, para passearmos na "floresta".

Mas não foi somente para falar de menininhas que estou escrevendo.

Eu não conseguia ver, mas durante o tempo de minhas aflições, pois fiquei desempregado por 11 anos, eu orava, eu chorava, eu batia nas portas fechadas. Naquele tempo eu sentia que Jesus estava bem longe de mim. Eu não conseguia ver Jesus. Como Tomé, eu só acreditaria se Ele me mostrasse suas mãos. Mas o Senhor estava lá.

Voltando ao assunto da caminhada e da oração, também vi outras duas coisas além daquela cena magnífica da menina da mochila rosa segurando a mão do seu papai. Do outro lado da Avenida tinha um prédio velho. Sujo. Com pichações em todos os andares, janelas quebradas e sem porta de entrada. Uma barreira de blocos de concreto foi erguida de forma a fechar a entrada do prédio, para que ninguém entrasse.

E mais adiante também vi uma palmeira areca-bambu com um cacho de muitos coquinhos. E outra, com outro cacho ainda maior. E eu fiquei imaginando e meditando naquelas três cenas.

Sei que muitas pessoas leem este blogs. Leem no anonimato e ninguém fica sabendo. Talvez seja este o seu caso. Saiba que escrevi esta crônica para você. Para você que ao ler a descrição do velho prédio abandonado, disse para si: "Este se parece comigo, estou sozinho/sozinha e nem portas há para que eu saia. Pois bem, você precisa saber uma coisa: quem passou por 11 anos de desemprego também sabe o significado da palavra - lixo.

Toda lágrima que chorei, o Senhor Jesus viu. Toda falta que a minha casa passou o Senhor conhecia. As portas na "cara" e o sumiço dos "amigos" Ele também notou. E enquanto eu pensava e sentia que estava sozinho, Ele nunca deixou de segurar minha mão. Desde o dia em que o aceitei de verdade como dono da minha vida. E a prova disso é, que tempos depois, para cada necessidade que minha família e eu passamos, o Senhor Jesus nos deu tanto que não posso detalhar.

É por merecimento? Não! É porque Ele me adotou como filho desde o dia que o aceitei. Quando você aceita Jesus, de verdade, de coração, você não anda mais sozinho. Os olhos do Senhor nos acompanham. As mãos do Senhor nos amparam. Ninguém vê - mas ele está lá.

Jesus muda o quadro da história. Ele transforma um prédio velho em ruínas em menininha saltitante de mochila com letras douradas. E uma vida miserável que habita na escuridão em uma alguém tão abençoado, que suas bênçãos não se podem contar em um cacho de coquinhos de areca-bambu.

Eu sei que Jesus faz tudo isto, pois é isto que fez na minha vida. O Senhor Jesus é especialista em milagres e Doutor das causas causas impossíveis

Procure uma Igreja Evangélica mais próxima para VOLTAR para Jesus. Dê a sua mão para ele segurar. "Entrega teus caminhos ao Senhor, confia nele, e ele tudo fará" (Salmo 37).





sábado, janeiro 02, 2010

Seu Mário já não mora mais na Praça da República

.
.João Cruzué

A primeira vez que vi seu Mário assentado no bancada do jardim da Praça da República, não pude mais esquecê-lo. Eu fiquei asssutado com seus gritos e palavrões, palavras as mais chulas que talvez você ainda não tenha ouvido. Ele gritava a plenos pulmões ofendendo a mãe e toda parentela de transeuntes e outros moradores de rua que o provocavam ou o simplesmente o encaravam.

Eu fiquei sabendo do seu nome através de minhas colegas de trabalho. Moças e senhoras evangélicas; Aadministradoras, advogadas, funcionárias públicas que decidiram caminhar pela Praça no intervalo do almoço à procura de alguém para falar do amor de Deus. E foi ali que, na bancada do jardim , na saída do Metrô, atrás do Colégio Caetano de Campos, elas "acharam" seu Mário. Uma pessoa com graduação em Economia, mas morador de rua conhecido e esquecido pela ou da família. Foi o que apuraram.

Eu já sabia de casos e casos de moradores de rua, mas nunca tinha ouvido falar que um morador de rua fosse um economista.

Orando e buscando ajuda, minhas colegas conseguiram um abrigo católico para receber e cuidar do seu Mário. Durante três a quatro semanas os transeuntes da Praça da República notaram a ausência de seu Mário. Quando eu pensei que ele já tivesse encontrado um lar definitivo, ele voltou. Para minha tristeza.

Na semana que seu Mário voltou choveu muito. Ele praticamente ficava assentado o dia inteiro no mesmo lugar ou deitado sob um cobertor velho. Mesmo tendo chovido a noite inteira, ao sair do Metrô eu o vi seu Mário no lugar de sempre.

Entre o céu e seu Mário o único teto era um cobertor molhado. Ensopado.

Por que seu Mário voltou? Eu não tenho a resposta para esta pergunta. Talvez uma ideia que se aproxime dela. Seu Mário perdeu a noção de família. Aliás, foi perdendo pouco a pouco. Mesmo sendo recebido com muito carinho onde foi acolhido, ele sente saudades da solidão do bancada de cimento no meio da rua. Mas trouxe um costume novo de onde ele esteve pela última vez: não tenho visto ele xingar.

Não sei se foi por problemas mentais (não parece) ou por rabugice extrema. O fato é que, enquanto ele se desgarrava da família, foi se apegando a um endereço na Praça. Um endereço que não tem número, nem porta, nem teto. A esquina de uma bancada de cimento que circunda um canteiro de jardim na Praça. Ele pode se mudar, mas isso pode levar tempo. Não deve ter sido a primeira vez que concordou em ser cuidado em um abrigo de uma instituição religiosa. Católica. Mas eu creio, que entre idas e vindas ele poderá estabelecer novos vínculos de apego em um endereço de verdade.

Eu notei a volta do seu Mário. Cheguei a conversar com ele. "Olha, estive esses dias no Pronto Socorro tal, mas não deixe seus parentes irem lá não! É um açougue. Ele falou para mim.

No mês de setembro passado, seu Mário sumiu de novo. Outubro e novembro se passaram e eu nunca mais o vi naquele canto da Praça, na saída do Metrô República. Eu tive um mau presentimento. Talvez eu nunca venha a saber o que aconteceu com ele, mas algo me diz que seu Mário já não está mais conosco.

Eu creio que moradores de rua podem se mudar para lares verdadeiros. Existe um remédio que, se ministrado pelo menos uma vez por semana, durante certo tempo, pode fazer efeito duradouro. É um frasco de amor cristão. Uma única dose pode não ser o bastante para curar, mas se for administrado com teimosia vai tirar muitos "Mários" da rua.

O que fazer se nem todos os cristãos têm ministérios para cuidar de moradores de rua? Talvez investindo em pequenos gestos despretenciosos. Eu descobri que seu Mário gostava de pão-de-queijo. Ou será pão de queijo?



.

domingo, novembro 08, 2009

Pastor Joselito e as caçadoras de demônios


Monte da Tentacao
Monte da Tentação
João Cruzué

Faz algum tempo que não escrevo uma crônica, e para não perder de vez o estilo vou trazer hoje algo bem inusitado. Quer dizer, não tão inusitado assim, pois isto deve acontecer com bastante frequência por essa cidade batizada com o nome do grande apóstolo.

Tenho um amigo, quase parente, que vou chamar de Pastor Joselito. Ele tinha parentesco com minha cunhada, falecida no mês de maio passado. Homem de Deus. Animado. Sábio, bom de enxada, quero dizer, de encher Igrejas, lembrando daquela analogia do uso da pá e da enxada, muito conhecida no meio pastoral.

Certo dia, assim que colocara o garfo no prato, entrou uma senhora muito assustada pela porta. "Pastor, o senhor precisa nos ajudar." Eu e mais algumas irmãs estamos fazendo a "obra" e ao chegar na casa de uma pessoa, ela estava endemoninhada. Nós tentamos expulsar o demônio, mas está difícil! É ali na rua de baixo.

E o Pastor Joselito largou o prato e vai até a rua de baixo. "Sai demônio desta vida. Em nome de Jesus." O demônio caiu fora, sem resistência. Eo pastor voltou para sua casa, mas já encontrou o prato frio. Mas o assunto não ia ficar assim...

Uma semana depois, aparece de novo a mesma irmã. Pastor, corre de novo lá embaixo para nos ajudar. O inimigo está furioso. Nós viemos em consagração, mas o inimigo não quer sair de jeito nenhum!

Surpreso, ele perguntou: O que está acontecendo; porque as senhoras procurando por demônios?

--Ah, pastor depois daquele dia nós voltamos para casa e fomos nos consagrar. Voltamos naquela casa para ver se o demônio tinha voltado. E a mulher estava com cara feia, e nós dissemos: Sai demônio, pois desta vez nós estamos com nossa vida consagrada.

Aborrecido, o Pastor Joselito desceu outra vez à rua.

A casa estava em grande reboliço. Eram panelas voando pela janela, e mulheres rolando pela porta. Um barulhão que chamava atenção de um monte de curiosos. O Pastor entrou e viu aquela cena costumeira. Três senhoras segurando no "demônio." Duas nos cabelos. A mulher esperneava, chutava, mordia e urrava com um voz rouca cavernosa. Uma irmã já estava com um "maço" de cabelo dela na mão. A coisa está muito feia.

--Irmãs, parem em nome de Jesus! Eu vou orar, e Jesus vai expulsar este demônio, mas as senhoras façam-me um favor: vão arranjar serviço nas suas casas. e parem de perturbar as pessoas. Da próxima vez que saírem por aí atrás de demônios, vai ser por conta de vocês.

--Sai demônio, em nome de Jesus. O demônio saiu. A senhora ficou liberta, e o grupo que tinha se "consagrado" uma semana inteira, bateu em retirada de cabeça baixa.

É provável que elas não lessem a Bíblia. Em Lucas 10:20, diz que, quando os discípulos de Jesus voltaram muito alegres, contando suas proezas ao expelir demônios, Jesus os repreendeu quando disse: Não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus."

Moral da história: Isto significa que o foco dos discípulos estava distorcido. A pregação das Boas Novas do Reino de Deus e de sua justiça era e é objetivo principal da grande comissão. Expulsar demônios, apenas uma das consequências do ministério.




.


quarta-feira, novembro 04, 2009

Deus é fiel

.
Wallpaper de João Cruzué
João Cruzué

UD 3191 era a placa amarela de um carro nosso. Um Chevette Hatch, cinza, ano 80, comprado em 87 e vendido em 2002 por R$200,00. Se você está precisando ouvir a voz de Deus por causa de tempos dífíceis, leia este testemunho para fortalecer seu coração. Os protagonistas foram minha esposa e eu.

Em 1987, minha esposa vendia bordados de Ibitinga, cidade do interior paulista, próxima de Araraquara, famosa pelas colchas, toalhas, lençóis e outros bordados. Ela orou por um carro, para vender de porta em porta.

Alguns dias depois, achamos um Chevette Hatch prateado, lindo, usado,pelo preço Cz$4.100.000,00. Havia tantos zeros na moeda que não mais me recordo se eram milhões cruzados ou cruzados novos. Era de uma época, em que o ex-presidente José Sarney começava seu discurso assim: "Brasileiras e Brasileiros..." E quando fazia discurso na TV, todo mundo corria aos postos porque o preço dos combustíveis ia aumentar.

Como já testemunhei, de agosto de 1992 a julho de 2003, fiquei desempregado e minha casa e eu passamos por muitas provações. Naquele período devo ter enviado mais de 500 currículos e participado de dezenas de entrevistas cujo resultado eram apenas portas fechadas. Daí, procuramos nos virar das mais diversas maneiras possíveis e decentes, à medida que as oportunidades iam aparecendo. Em 1995, abrimos um comércio ( em tempo errado) que depois não deu certo. Trinta mil de prejuízos. Também plantei tomates e depois mandiocas no sítio dos meus pais no Estado das Gerais - para não ficar ocioso.

Depois da fase dos "bordados", ajudei minha esposa a levar pessoas em excursões "bate e volta" para o Paraguai. Depois ganhamos nosso pão ornamentando eventos. Fui vendedor de planos de saúde da Unimed Paulistana, atividade que o Senhor preparou para me fazer mais otimista. Eram muitas aflições, e também muitas orações.

Nosso Chevette era deste modelo

Fomos dezenas de vezes com ele na "Feira de Flores" que acontece nas madrugadas de terças e sextas-feiras, no Ceasa de São Paulo. Duas da madrugada. Ao dobrar o banco traseiro, cabia muita coisa em um Cehvette Hatch. Rosas vermelhas: "dalas" e "vegas"; rosas champangne: "oceânias" e "versilhas". Crisântemos: "margarida" e "polar". Lisiantos brancos e lilazes. Tuyas, maços de gipsófila, paulistinhas, smailacs, heras, tangos, caixas de espumas florais, orquídeas, lírios para buquês, cestas, argila.Ufa!

De 1992 até 2002, nosso carro não foi licenciado. Com os recursos sempre lá embaixo, lembro-me do dia que orei ao Senhor mais ou menos assim: "Pai, eu preciso de ajuda. Nosso dinheiro dá suprir apenas nossas necessidades básicas. Gostaria que o Senhor cuidasse de nós neste aspecto, porque o dinheiro do licenciamento vai nos fazer falta. E Deus foi fiel. Nunca fomos abordados, em nenhuma blitz, em nossos caminhos para levar nossas filhas, todo dia, para suas escolas em Santo Amaro, para ir aos cultos na Igreja, para comprar roupas no Largo do Cambuci de vez em quando. Enquanto o modelo das placas dos carros já eram brancas e com três letras, a daquele Chevete sempre ficaram nas amarelas.

Um dia, precisando ir na Vila dos Remédios para buscar um arco de ornamentação com grandes colunas eu orei. "Senhor, a Vila dos Remédios é muito longe. Nosso carro ainda está com essas placas amarelas. Vou pedir uma bênção. Quero ir e voltar em paz. À noite eu darei um oferta de agradecimento. Fui buscar o arco.

Passei pela Avenida João Dias, depois da ponte, para abastece. Adiante do antigo Banco Bamerindus, hoje HSBC, dobrei à direita para pegar a "Marginal". Sabe quem estava lá na frente? Um guarda de trânsito. Voltar eu não podia; correr não ia dar certo. Vi um motorista parado junto ao guarda, e tive uma idéia. Também parei ao lado dele e perguntei: Seu guarda, como faço para pegar a Marginal? E ele, muito prestativo ensinou: vai em frente, dobra para a direita depois esquerda,...faça assim e assim. E foi desse jeito, com muita classe, que passei com um carro velho, com placas amarelas proibidas diante do guarda. Não estou me gabando de esperteza, mas testemunhando que Deus é fiel e responde orações.

Fui à Vila dos Remédios, e trouxe o arco duas colunas para ornamentação, enormes, dentro daquele Chevette - não sei como, mas coube. Voltei em paz, feliz da vida e cumpri meu voto. Uma oferta de gratidão na Igreja. Deus não precisava do meu dinheiro, mas aprovava minha liberalidade.

O Senhor é Fiel.

O Chevette foi se deteriorando à medida que a "grana" ficava ainda mais curta. A ferrugem foi aumentando e comendo tudo. Era viciado ém óleo. Toda semana precisava de litro de óleo. Me tornei um mecânico razoável. As velas, pastilhas de freio, sangrias, eram por minha conta. A coisa piorou tanto que uma pedaço de ripa de madeira se transformou máquina do vidro da porta do motorista.

O escapamento eram ruim. Quando minha esposa saía da garagem acelerando, aquela "bagaça," o ronco era ensurdecedor. Em 1994 fomos cuidar de nossa primeira congregação - a Assembléia de Deus do Parque Santo Antônio. Nosso carro era o mais feio de todos. Eu cheguei a ouvir um comentário de ó possível saber quem está chegando à Igreja só pelo barulho do carro. O nosso tinha um ronco inconfundível.

E, nós continuávamos esperando com paciência pelas bênçãos que "nunca" chegavam. Infelizmente, de vez em quando, também ouvíamos pregações "cotovelando" o testemunho de certos crentes que estão sempre debaixo de lutas.

Pasmem! o velho chevette caindo aos pedaços, foi roubado. Isso mesmo roubado! E achado, uma semana depois na calçada da subida da curva da Figueira Grande, Estrada do M'Boi Mirim. Passou uma semana, como ninguém mexeu no carro, nem puseram fogo nele, fomos lá, pusemos gasolina, uma bateria e ainda nos serviu por quase de um ano buscando flores do Ceasa e carregando os equipamentos de decoração. Eu estive caminhando nesta curva recentemente (2009) e o montinho de concreto onde o diferencial ficou preso - ainda está lá. Isto já faz sete anos! Deus é fiel.

E por fim, um sitiante comprou aquela "relíquia" por R$200,00.

Em julho de 2003, depois de onze anos sem um sustento fixo, o Senhor nosdeu uma oportunidade de ser contador num grande Hospital público do Município de São Paulo. Depois veio o concurso e passei . Estávamos sem carro há um ano e meio. Minha esposa também havia conseguido uma oportunidade como professora substituta em uma escola estadual.

Em janeiro de 2004, o Senhor nos concedeu a oportunidade de comprar nosso primeiro carro 0km, um Celta 2004 - DMJ 8496. Ficamos com ele pagando prestações até outubro - 2006. Na terceira semana de outubro/06, nós o trocamos por um Corsa também novinho em folha, DSM 9976. Sem dívidas. Na segunda semana de outubro 2008, trocamos o Corsa por um Renault Logam 1.6 EEL 6258.Também sem dívidas. Mas nunca nos esquecemos daquele Chevette.

Wallpaper de João Cruzué

Foi através dele que Senhor nos provou e preparou para nos as bênçãos dos anos seguintes. É por isso que precisamos dar graças pelos dias de "deserto" porque é o tempo de ser provado no pouco. Se não aprender a ser agradecido pelas pequenas bênçãos do dia a dia, como vai saber ser grato pelas grandes?

Dê graças em tudo. Aguarde orando, porque o Senhor também vai virar o seu "cativeiro".

Ao Senhor Jesus toda glória! Sua vitória já está com Ele.


Se este testemunho foi importante para sua vida, ore por mim. cruzue@gmail.com

sábado, setembro 26, 2009

Por que "seu" Mário voltou a morar na Praça da República

.João Cruzué

De vez em quando, como você já deve ter percebido, eu tenho escrevido algumas crônicas sobre o que tenho visto no Centro da Paulicéia, meu novo local de trabalho, desde o início do ano. Hoje eu desejo falar do "seu" Mário, um conhecido morador de rua, que tem seu lar em uma bancada de jardim da Praça da República. Ele foi embora da Praça, mas não conseguiu ficar longe. Seu Mário voltou.

Desde a primeira vez que vi seu Mário não pude mais esquecê-lo. Eu fique asssutado com seus gritos e impropérios. As palavras mais chulas que, talvez você ainda não tenha ouvido, eram ditas a plenos pulmões ofendendo a mãe e toda parentela de transeuntes que o provocavam. Eu percebi que seu Mário, se não era possesso, já era acostumado a emprestar sua boca ao demônio.

Eu fiquei sabendo do seu nome, através de minhas colegas de trabalho. Moças e senhora evangélicas. Administradoras, advogadas, funcionárias públicas. Elas decidiram caminhar pela Praça no intervalo do almoço à procura de alguém para falar do amor de Deus. E foi ali que, na bancada do jardim , na saída do Metrô, atrás do Colégio Caetano de Campos, elas "acharam" seu Mário. Uma pessoa com graduação em Economia, mas morador de rua conhecido e esquecido pela ou da família. Foi o que apuraram.

Eu já sabia de casos e casos de moradores de rua, mas nunca tinha ouvido falar que um morador de rua pudesse ser um economista.

Orando e buscando ajuda, minhas colegas conseguiram um abrigo católico para receber e cuidar do seu Mário. Durante três a quatro semanas os transeuntes da Praça da República notaram a ausência de seu Mário. Quando eu pensei que ele já tivesse encontrado um lar definitivo, ele voltou. Para minha tristeza.

Na semana que seu Mário voltou choveu muito. Ele praticamente fica assentado o dia inteiro no mesmo lugar. E deitado sob um cobertor velho. Mesmo tendo chovido a noite inteira, ao sair do Metrô eu o vi seu Mário no lugar de sempre. Entre o céu e seu Mário o único teto era um cobertor molhado. Ensopado.

Por que seu Mário voltou? Eu não tenho a resposta para esta pergunta. Talvez uma ideia que se aproxime dela. Seu Mário perdeu a noção de família. Aliás, foi perdendo pouco a pouco. Mesmo sendo recebido com muito carinho onde foi acolhido, ele sente saudades da solidão do bancada de cimento no meio da rua. Mas trouxe um costume novo de onde ele esteve pela última vez: não tenho visto ele xingar.

Não sei se foi por problemas mentais (não parece) ou por rabugice extrema. O fato é que, enquanto ele se desgarrava da família, foi se apegando a um endereço na Praça. Um endereço que não tem número, nem porta, nem teto. A esquina de uma bancada de cimento que circunda um canteiro de jardim na Praça. Ele pode se mudar, mas isso pode levar tempo. Não deve ter sido a primeira vez que concordou em ser cuidado em um abrigo de uma instituição religiosa. Católica. Mas eu creio, que entre idas e vindas ele poderá estabelecer novos vínculos de apego em um endereço de verdade.

Eu creio que moradores de rua podem se mudar para lares verdadeiros. Existe um remédio que, se ministrado pelo menos uma vez por semana, durante certo tempo, pode fazer efeito duradouro. É um frasco de amor cristão. Uma única dose pode não ser o bastante para curar, mas se for administrado com teimosia vai tirar muitos "Mários" da rua.

O que fazer se nem todos os cristãos têm ministérios para cuidar de moradores de rua? Talvez investindo em pequenos gestos despretendiosos. Eu descobri que seu Mário gosta de pão-de-queijo. Ou será pão de queijo?

cruzue@gmail.com

.

sexta-feira, julho 17, 2009

Crônica de uma segunda-feira

João Cruzué

Eu creio que para a maioria das pessoas, a segunda-feira é um dia aborrecido. Principalmente, se você estiver no trânsito caótico da Capital Paulista. Mas, hoje trabalhei perto de casa. Por isso, esta segunda não está com cara de "segunda-feira". Bem, deixando de lado este "inbroglio" de tantas segundas-feiras, um fato muito especial chamou-me a atenção no final do dia. Quando eu voltava. Já bem perto de casa. Subindo uma ladeira estreita, eu vi um pai passeando com sua filhinha. Ainda bem pequena. Ao passar por eles, ouvi aquela garotinha dizendo assim: "Segura minha mão, paizinho."

Eu sei que Deus pode falar de várias maneiras, mas ainda não tinha visto Deus falar comigo por uma cena como aquela. Um pai passeando com a filha, e quando ela se viu de mãozinha solta, com medo de cair ela reclamou: "Segura a minha mão, paizinho."

Era um pai ainda muito joven, talvez não tivesse 20 anos. Estava todo orgulhoso, falante, era alto, mas se inclinava quase ao chão para se comunicar com palavras carinhosas àquele pingo de gente. Ela, ousada, corajosa, caminhava ladeira acima mudando os passinhos muito devagar. O carinho e a comunicação dele ao lado da filhinha, trouxe-me surpresa e admiração. Supresa e admiração, sim! Não é todo dia que se vê isto por São Paulo, terra que já foi da garoa, mas que hoje é da pressa, do trânsito caótico e da falta de tempo.

Eu fiquei imaginando: que bênção é ter dois aninhos... Com essa idade tudo é novo, atraente. Os pais, então, são como Deus. Fortes, altos, destemidos, maravilhosos. Ao lado deles não há o que temer. Eu imagino que, nesta idade, não se perceba as dificuldades da vida. Nem o que vai pela mente de um pai, ainda mais quando este pai está caminhando bem ao lado. Protegendo. Incentivando. Conduzindo. Tempos um pouco mais tarde, já vai caminhar sozinha, e ninguém mais ouvirá de sua boca aquelas palavras que hoje ouvi. Pelo menos enquanto estiver grandes problemas.

Lembro-me também de meu pai. Em minhas primeiras lembranças,ele era alto, carinhoso, alegre. Sempre vinha da "rua" sem se esquecer de nos trazer pães de doce e de sal. Eles vinham a cavalo, embrulhados em papel cinza, amarrados com barbante branco. Anos 60, época que ainda não havia sacolas de plástico. Quando ele chegava, com certeza, tinha pão. Depois cresci. Jovem ainda, tornei-me crente e descobri a bondade Pai Celestial. Deus para mim é como a figura de meu pai. Foi fácil fazer esta associação. Um pai que não é vingativo, iracundo, espancador, bêbado ou hipócrita. É o Pai que se agrada de ser chamado de Paizinho (aba Pai). Que está disposto a segurar nossa mão para nos erguer e conduzir através de ladeiras e dos vales da vida.

Assim, como aquele jovem pai que hoje à tarde se desmanchava em cuidados e palavras de amor para sua filhinha, muito mais é o amor de nosso Deus e Pai celestial. O problema é que, quando ficamos adultos, não queremos mais depender dos pais. Já não lhe chamamos mais de paizinho. Não mais pedimos para que segure nossas mãos. Nos tornamos indiferentes. Negligentes. Auto-suficientes. Assim, nosso relacionamento decai. Emudece. Entristece. Se transforma em abandono. A imagem do pai, então, somente volta quando caímos. Quebramos a "cara".

Querido.
Querida. Se em algum lugar da vida você tropeçou e caiu. Se o chão lhe tiver provocado feridas. E se elas ainda estão abertas, por ter se recusado a segurar na mão do Paizinho, lembre-se de que ele - Deus - ainda ama você. Ele não vai jogar em seu rosto tudo o que você já falou, xingou ou pensou dele. Basta que lhe peça com voz sincera: Segura a minha mão e ajuda-me Paizinho!


Link de Mensagens de João Cruzué


cruzue@gmail.com

.

quarta-feira, junho 03, 2009

As margaridas da Ladeira da Memória

.
Largo da Memória
João Cruzué

"No início do século XIX o Largo da Memória, localizado no começo da antiga Rua da Palha, hoje Rua Sete de Abril, era o ponto de encontro dos moradores da província e caminho obrigatório dos viajantes que paravam ali, para encher os cantis na bica d'água"
[1]. Entretanto, o que chama minha atenção desde fevereiro (2009), quando voltei a trabalhar no Centro de São Paulo, é a ladeira que se inicia ao lado da Estação Anhangabaú do Metrô.

Sinto uma coisa boa, uma alegria especial, quando inicio a subida da ladeira debaixo de todas aquelas árvores. À direita, estão dois grandes pés de jatobás; à esquerda, eu contei cinco figueiras, sendo que a maior delas deve ser centenária. Mais à esquerda existem pés de Ipês, que somente vou saber se são rosa, preto ou amarelo, quando florirem no final do inverno.

Passando sob a sombra daquelas árvores eu sinto-me bem. Vivo. Contente. É um lugar que toca meu espírito como em nenhum outro lugar do Centro. A beleza das árvores e a brisa no rosto emociona-me. Parece que isto é uma repetição do passado, uma vez que tropeiros e provincianos do século XIX também gostavam de estar ali, principalmente por causa da bica de água potável. Um lugar de sombra boa e água fresca, definição clássica para o passado., que hoje só resta a boa sombra.

Há dias estava pensando escrever alguma coisa sobre esta ladeira tão famosa. Ficaria apenas nas árvores, se não surgisse outro assunto. Pela manhã quando subo a ladeira, vejo sempre duas senhoras com grandes vassouras de palmeira ajuntando as folhas do chão. Como ali venta muito, posso imaginar que não deve ser fácil varrer aquele lugar. São Paulo deu um nome carinhoso a estas senhoras que executam a varrição pública de São Paulo - elas são chamadas de "margaridas"

A razão do apelido não sei ao certo; é coisa de poeta, do Adoniran Barbosa, do tempo do "Trem das Onze. As Margaridas!

Segunda feira, a primeiro de junho de 2009, quando passei por ali presenciei uma cena muito cidadã, que me envaideceu e me fez ter orgulho das "margaridas" de São Paulo. Em meio a tanta gente granfina que passa pela Ladeira, vi uma moça muito bem vestida se dirigindo até uma "margarida" para pedir uma informação.

-- Moça, sabe onde fica a Praça Ramos?

E a "margarida" pôs o melhor sorriso e com segurança informou. Como não parei para ouvir a resposta, imaginei que tenha dito: "Depois da Ladeira você dobra à direita, caminha até o Teatro Municipal e pronto! Já está na Praça Ramos.

Por que a cena chamou minha atenção?

Quando a moça se dirigiu àquela "margarida", em lugar de ter perguntado ao guarda, ao executivo ou a qualquer outra pessoa, ela estava demonstrando a confiança e o respeito que a maioria dos paulistanos tem pelas mulheres que executam a varrição pública da Pauliceia. Enquanto muitos a sujam, elas tornam a Cidade limpa. A Ladeira é limpa toda manhã.

A "margarida" não percebeu, mas eu vi o seu sorriso. Ela "ganhou" o dia. E o presente quem deu, foi a moça granfina, deixando para trás um dia melhor, a julgar pelo semblante da "margarida."





.

quinta-feira, maio 14, 2009

Paizinho, segura minha mão

João Cruzué

Eu creio que para a maioria das pessoas, a segunda-feira é um dia aborrecido. Principalmente, se você estiver no trânsito caótico da Capital Paulista. Mas, hoje trabalhei perto de casa. Por isso, esta segunda não está com cara de "segunda-feira". Bem, deixando de lado este "inbroglio" de tantas segundas-feiras, um fato muito especial chamou-me a atenção no final do dia. Quando eu voltava. Já bem perto de casa. Subindo uma ladeira estreita, eu vi um pai passeando com sua filhinha. Ainda bem pequena. Ao passar por eles, ouvi aquela garotinha dizendo assim: "Segura minha mão, paizinho."

Eu sei que Deus pode falar de várias maneiras, mas ainda não tinha visto Deus falar comigo por uma cena como aquela. Um pai passeando com a filha, e quando ela se viu de mãozinha solta, com medo de cair ela reclamou: "Segura a minha mão, paizinho."

Era um pai ainda muito joven, talvez não tivesse 20 anos. Estava todo orgulhoso, falante, era alto, mas se inclinava quase ao chão para se comunicar com palavras carinhosas àquele pingo de gente. Ela, ousada, corajosa, caminhava ladeira acima mudando os passinhos muito devagar. O carinho e a comunicação dele ao lado da filhinha, trouxe-me surpresa e admiração. Supresa e admiração, sim! Não é todo dia que se vê isto por São Paulo, terra que já foi da garoa, mas que hoje é da pressa, do trânsito caótico e da falta de tempo.

Eu fiquei imaginando: que bênção é ter dois aninhos... Com essa idade tudo é novo, atraente. Os pais, então, são como Deus. Fortes, altos, destemidos, maravilhosos. Ao lado deles não há o que temer. Eu imagino que, nesta idade, não se perceba as dificuldades da vida. Nem o que vai pela mente de um pai, ainda mais quando este pai está caminhando bem ao lado. Protegendo. Incentivando. Conduzindo. Tempos um pouco mais tarde, já vai caminhar sozinha, e ninguém mais ouvirá de sua boca aquelas palavras que hoje ouvi. Pelo menos enquanto estiver grandes problemas.

Lembro-me também de meu pai. Em minhas primeiras lembranças,ele era alto, carinhoso, alegre. Sempre vinha da "rua" sem se esquecer de nos trazer pães de doce e de sal. Eles vinham a cavalo, embrulhados em papel cinza, amarrados com barbante branco. Anos 60, época que ainda não havia sacolas de plástico. Quando ele chegava, com certeza, tinha pão. Depois cresci. Jovem ainda, tornei-me crente e descobri a bondade Pai Celestial. Deus para mim é como a figura de meu pai. Foi fácil fazer esta associação. Um pai que não é vingativo, iracundo, espancador, bêbado ou hipócrita. É o Pai que se agrada de ser chamado de Paizinho (aba Pai). Que está disposto a segurar nossa mão para nos erguer e conduzir através de ladeiras e dos vales da vida.

Assim, como aquele jovem pai que hoje à tarde se desmanchava em cuidados e palavras de amor para sua filhinha, muito mais é o amor de nosso Deus e Pai celestial. O problema é que, quando ficamos adultos, não queremos mais depender dos pais. Já não lhe chamamos mais de paizinho. Não mais pedimos para que segure nossas mãos. Nos tornamos indiferentes. Negligentes. Auto-suficientes. Assim, nosso relacionamento decai. Emudece. Entristece. Se transforma em abandono. A imagem do pai, então, somente volta quando caímos. Quebramos a "cara".
Querido. Querida. Se em algum lugar da vida você tropeçou e caiu. Se o chão lhe tiver provocado feridas. E se elas ainda estão abertas, por ter se recusado a segurar na mão do Paizinho, lembre-se de que ele - Deus - ainda ama você. Ele não vai jogar em seu rosto tudo o que você já falou, xingou ou pensou dele. Basta que lhe peça com voz sincera: Segura a minha mão e ajuda-me Paizinho!

Link de Mensagens de João Cruzué


cruzue@gmail.com

.