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domingo, dezembro 21, 2025

Teologia Holística do Batismo e do Derramamento do Espírito Santo

Pomba 

João Cruzué

O Batismo com o Espírito Santo e o Derramamento do Espírito Santo figuram entre os temas mais decisivos e, ao mesmo tempo, mais debatidos da teologia cristã. Desde o Pentecostes narrado em Atos 2, a Igreja compreendeu que a vida cristã não se sustenta apenas em doutrina correta, mas na ação viva e contínua do Espírito de Deus. Contudo, ao longo da história, surgiram leituras distintas: algumas enfatizam o batismo como experiência subsequente à conversão, outras o identificam com a regeneração, enquanto o derramamento é visto ora como renovação espiritual coletiva, ora como momentos extraordinários de avivamento e missão. As diferenças não decorrem apenas de divergências bíblicas, mas também de contextos históricos, preocupações pastorais e métodos hermenêuticos. A seguir, apresenta-se uma análise aprofundada do tema em nove teólogos protestantes representativos e três católicos, considerando em cada parágrafo sua compreensão integrada do batismo e do derramamento do Espírito, culminando em uma síntese conclusiva.


PENTECOSTAIS

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Stanley M. Horton

Stanley Horton entende o batismo com o Espírito Santo como uma experiência distinta e posterior à conversão, concedida a crentes já regenerados com o propósito específico de capacitá-los espiritualmente para o testemunho, a missão e o exercício dos dons. Para Horton, essa experiência encontra sua evidência inicial no falar em línguas, conforme o padrão recorrente observado no livro de Atos, embora ele rejeite qualquer compreensão mecanicista ou meramente emocional dessa manifestação. Já o derramamento do Espírito Santo é visto como a intensificação dessa obra no âmbito comunitário, quando Deus visita a Igreja com renovação de poder, despertamento espiritual e expansão missionária. Horton enfatiza que o derramamento não cria uma nova doutrina, mas reaviva a vida espiritual, reacendendo o compromisso com santidade, serviço e proclamação do evangelho. Assim, batismo e derramamento se complementam: o primeiro capacita o indivíduo, o segundo renova o corpo da Igreja.


Gordon D. Fee

Gordon Fee aborda o tema com maior cautela teológica e rigor exegético. Para ele, o batismo com o Espírito Santo ocorre no momento da conversão, quando o crente é unido a Cristo e incorporado ao corpo da Igreja, conforme a teologia paulina. Fee rejeita a noção de uma segunda obra normativa e universal, mas não descarta a realidade de experiências profundas e transformadoras com o Espírito. Nesse sentido, o derramamento do Espírito Santo refere-se às múltiplas experiências de renovação, enchimento e capacitação que acompanham a vida cristã e a missão da Igreja. Fee reconhece que tais derramamentos podem ser intensos, emocionais e até extraordinários, mas insiste que devem ser avaliados à luz da Escritura e de seus frutos espirituais. Para ele, o Espírito não é um marcador de status espiritual, mas a presença constante que molda a comunidade cristã à imagem de Cristo.


William W. Menzies

William Menzies é um dos principais formuladores da hermenêutica pentecostal clássica e defende com clareza que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência subsequente à conversão, funcionalmente orientada para o empoderamento missionário. Para Menzies, o livro de Atos não é apenas um registro histórico, mas um modelo normativo da ação do Espírito na Igreja. O derramamento do Espírito Santo, por sua vez, é entendido como a atualização contínua do Pentecostes, quando Deus visita comunidades inteiras com poder renovado, despertando dons, avivando a fé e impulsionando a evangelização. Menzies vê esses derramamentos como momentos críticos na história da Igreja, responsáveis por grandes movimentos missionários e expansão do cristianismo. Em sua teologia, batismo e derramamento são inseparáveis da vocação da Igreja para testemunhar “até os confins da terra”.


REFORNADOS

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João Calvino

João Calvino compreende o batismo com o Espírito Santo como realidade inseparável do novo nascimento. Para ele, o Espírito é recebido plenamente na conversão, sendo o agente da fé, da justificação e da santificação. Calvino rejeita qualquer distinção que produza uma elite espiritual ou uma segunda experiência obrigatória, insistindo que todos os crentes participam igualmente do Espírito. No entanto, ele reconhece que Deus concede medidas variadas de graça ao longo da caminhada cristã. O derramamento do Espírito Santo, em sua teologia, manifesta-se nos momentos em que Deus renova a Igreja por meio da iluminação das Escrituras, da pregação fiel e de reformas espirituais profundas. Esses derramamentos não são espetaculares por natureza, mas produzem frutos duradouros de arrependimento, obediência e renovação da vida comunitária, sempre sob a soberania absoluta de Deus.


Martinho Lutero

Martinho Lutero associa a obra do Espírito Santo de forma inseparável à Palavra de Deus. Para ele, o batismo com o Espírito não é uma experiência distinta da fé, mas a própria ação do Espírito que cria fé no coração humano por meio da pregação do evangelho. O Espírito age onde Cristo é anunciado corretamente, trazendo arrependimento, consolação e confiança na graça. O derramamento do Espírito Santo, em Lutero, ocorre quando Deus vivifica novamente a Igreja por meio da redescoberta do evangelho, libertando-a do legalismo e da superstição religiosa. Embora Lutero não enfatize experiências carismáticas, ele reconhece que o Espírito pode agir poderosamente na história, renovando comunidades inteiras e conduzindo a Igreja de volta ao centro do evangelho da justificação pela fé.


Jonathan Edwards

Jonathan Edwards oferece uma abordagem profundamente espiritual e pastoral. Embora não utilize a linguagem pentecostal de batismo com o Espírito Santo, ele reconhece a realidade de operações extraordinárias do Espírito que transformam indivíduos e comunidades. Para Edwards, o derramamento do Espírito Santo é especialmente visível nos períodos de avivamento, quando há convicção profunda de pecado, amor intenso por Cristo e uma vida marcada por santidade prática. Ele alerta, contudo, que experiências espirituais devem ser discernidas com cuidado, pois nem toda emoção intensa procede do Espírito. O verdadeiro derramamento é identificado por seus frutos duradouros: humildade, obediência, amor ao próximo e perseverança na fé. Assim, Edwards fornece uma ponte entre experiência espiritual e discernimento teológico responsável.

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PROTESTANTES ATUAIS

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N. T. Wright

N. T. Wright compreende o batismo com o Espírito Santo dentro da grande narrativa bíblica da nova criação. Para ele, receber o Espírito significa ser incorporado ao povo da nova aliança inaugurada pela ressurreição de Cristo. O Espírito é o sinal de que o futuro escatológico já começou a invadir o presente. O derramamento do Espírito Santo, nessa perspectiva, capacita a Igreja a viver como sinal visível do Reino de Deus no mundo, promovendo justiça, reconciliação e fidelidade a Cristo. Wright rejeita tanto o racionalismo seco quanto o experiencialismo descontrolado, insistindo que o Espírito atua para formar comunidades que antecipem, aqui e agora, a realidade do Reino que será plenamente consumado.


Alister McGrath

Alister McGrath aborda o tema com equilíbrio histórico e pastoral. Ele entende o batismo com o Espírito Santo como parte integrante da conversão cristã, quando o crente é unido a Cristo e introduzido na vida da Igreja. Contudo, McGrath reconhece que a tradição cristã sempre falou de derrames do Espírito Santo como tempos de renovação espiritual, fortalecimento da fé e revitalização missionária. Ele alerta para o perigo de absolutizar experiências subjetivas, mas também critica uma teologia que marginaliza a ação viva do Espírito. Para McGrath, o Espírito Santo atua tanto na experiência pessoal quanto na formação intelectual e moral da fé cristã, mantendo a Igreja viva em meio aos desafios culturais e espirituais de cada época.


John Piper

John Piper afirma com clareza que todo verdadeiro cristão possui o Espírito Santo desde a conversão, rejeitando a ideia de um batismo subsequente obrigatório. No entanto, ele encoraja fortemente a busca contínua por enchimentos e derramamentos renovados do Espírito, que produzem paixão por Deus, poder espiritual e ousadia missionária. Piper valoriza experiências intensas com o Espírito, mas insiste que seu propósito central é a glória de Deus, não a exaltação da experiência em si. O derramamento do Espírito, para ele, manifesta-se quando Deus desperta alegria profunda em Cristo, quebranta o orgulho humano e impulsiona a Igreja a viver para a glória divina em todas as áreas da vida.


CATÓLICOS


Santo Agostinho

Santo Agostinho compreende o Batismo com o Espírito Santo como inseparável da incorporação do cristão em Cristo e na Igreja, especialmente por meio dos sacramentos do batismo e da fé. Para ele, o Espírito Santo é o dom do amor de Deus, derramado no coração do crente para produzir caridade, unidade e perseverança. Agostinho não concebe o batismo no Espírito como uma experiência subsequente autônoma, mas reconhece que há derramamentos do Espírito ao longo da história e da vida cristã, quando Deus renova a Igreja em tempos de crise, perseguição ou corrupção moral. Esses derramamentos manifestam-se menos por sinais extraordinários e mais por frutos duradouros: arrependimento, humildade, restauração da verdade e fortalecimento da comunhão. Para Agostinho, o Espírito é o vínculo vivo entre Cristo e a Igreja ao longo da história.


São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino desenvolve uma compreensão profundamente sistemática do Espírito Santo. O batismo com o Espírito, para Tomás, ocorre na infusão da graça santificante, quando o crente recebe o Espírito como princípio interior de vida nova, fé, esperança e caridade. Contudo, ele distingue claramente entre a habitação permanente do Espírito e os derramamentos especiais de graça, que podem intensificar dons espirituais (gratiae gratis datae) para edificação da Igreja. Esses derramamentos não são universais nem permanentes, mas concedidos segundo a vontade soberana de Deus para fins específicos, como ensino, profecia ou liderança espiritual. Tomás oferece, assim, uma chave teológica decisiva: o Espírito age tanto de modo ordinário quanto extraordinário, sempre ordenado ao bem comum e jamais desconectado da verdade, da razão e da ordem moral.


Karl Rahner

Karl Rahner interpreta o Batismo com o Espírito Santo a partir de sua teologia da graça como autocomunicação de Deus. Para ele, todo cristão verdadeiramente aberto à fé vive, ainda que de modo implícito, uma experiência do Espírito. O Espírito Santo é aquele que possibilita a resposta humana à revelação divina. O derramamento do Espírito, em Rahner, ocorre quando essa presença se torna consciente, transformadora e historicamente eficaz, tanto na vida pessoal quanto na missão da Igreja. Ele vê esses derramamentos em momentos de renovação eclesial, abertura missionária e sensibilidade ao sofrimento humano. Rahner desloca o foco da espetacularidade para a profundidade existencial, afirmando que a ação do Espírito se manifesta sobretudo na fidelidade cotidiana, no compromisso ético e na abertura radical ao mistério de Deus.


Considerações gerais:

A comparação entre os doze teólogos mostra que o debate sobre o Batismo com o Espírito Santo e o Derramamento do Espírito Santo não gira em torno da existência da ação do Espírito, mas de como, quando e para quê essa ação se manifesta. 

Os pentecostais veem o batismo como experiência subsequente à conversão, voltada ao poder para a missão, e o derramamento como renovação coletiva que reaviva a Igreja. Os reformadores clássicos afirmam que o Espírito é recebido plenamente na conversão, mas reconhecem períodos históricos de renovação espiritual. Jonathan Edwards aproxima essas visões ao validar avivamentos, desde que confirmados por frutos espirituais duradouros.

Entre os protestantes contemporâneos, N. T. Wright entende o Espírito como dom da nova criação que forma comunidades do Reino, Alister McGrath destaca a continuidade da ação do Espírito na história da Igreja, e John Piper enfatiza a necessidade de enchimentos constantes que conduzem à alegria em Deus e à santidade prática. 

Já a tradição católica, em Agostinho, Tomás de Aquino e Karl Rahner, reforça a dimensão histórica, moral e existencial do Espírito, distinguindo sua presença permanente dos momentos especiais de renovação.

Em síntese, apesar das diferenças de linguagem e ênfase, todas as correntes convergem em um ponto central: o Espírito Santo é essencial para a vida, a missão e a fidelidade da Igreja. Seja no batismo inicial, seja nos derramamentos ao longo da história, é o Espírito quem regenera, renova e conduz o povo de Deus até a plenitude do Reino.


SP-21/12/2025


Fontes e Bibliografia:

🔥 PENTECOSTAIS

HORTON, Stanley M.
HORTON, Stanley M. Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
HORTON, Stanley M. What the Bible says about the Holy Spirit. Springfield: Gospel Publishing House, 1976.

FEE, Gordon D.
FEE, Gordon D. God’s empowering presence: the Holy Spirit in the letters of Paul. Peabody: Hendrickson, 1994.
FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the people of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.

MENZIES, William W.
MENZIES, William W.; MENZIES, Robert P. Spirit and power: foundations of Pentecostal experience. Grand Rapids: Zondervan, 2000.
MENZIES, William W.; HORTON, Stanley M. Bible doctrines: a Pentecostal perspective. Springfield: Gospel Publishing House, 1993.


✝️ REFORMADOS CLÁSSICOS

CALVINO, João.
CALVINO, João. Institutas da religião cristã. 4 vols. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
CALVINO, João. Comentário sobre os Atos dos Apóstolos. São Paulo: Paracletos, 2009.

LUTERO, Martinho.
LUTERO, Martinho. Da liberdade cristã. São Leopoldo: Sinodal, 2015.
LUTERO, Martinho. Sermões sobre Atos dos Apóstolos. Porto Alegre: Concórdia, 2008.

EDWARDS, Jonathan.
EDWARDS, Jonathan. A treatise concerning religious affections. New Haven: Yale University Press, 1959.
EDWARDS, Jonathan. Some thoughts concerning the present revival of religion. Carlisle: Banner of Truth, 1978.


🌍 PROTESTANTES CONTEMPORÂNEOS

WRIGHT, N. T.
WRIGHT, N. T. Paul and the faithfulness of God. Minneapolis: Fortress Press, 2013.
WRIGHT, N. T. Surprised by hope. New York: HarperOne, 2008.
WRIGHT, N. T. Acts for everyone. London: SPCK, 2008.

McGRATH, Alister.
McGRATH, Alister. Christian theology: an introduction. 6. ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2017.
McGRATH, Alister. Reformation thought: an introduction. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012.

PIPER, John.
PIPER, John. Desiring God: meditations of a Christian hedonist. Colorado Springs: Multnomah, 2011.
PIPER, John. A hunger for God. Wheaton: Crossway, 1997.


⛪ CATÓLICOS

AGOSTINHO, Santo.
AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus, 2019.
AGOSTINHO. A Trindade (De Trinitate). São Paulo: Paulus, 2015.
AGOSTINHO. A cidade de Deus. Petrópolis: Vozes, 2018.

AQUINO, Tomás de.
AQUINO, Tomás de. Suma teológica. 9 vols. São Paulo: Loyola, 2001.
AQUINO, Tomás de. Comentário aos Atos dos Apóstolos. São Paulo: Ecclesiae, 2014.

RAHNER, Karl.
RAHNER, Karl. Fundamentos da fé cristã. São Paulo: Paulus, 2004.
RAHNER, Karl. Ensaios teológicos. São Paulo: Herder, 1974–1984.





segunda-feira, novembro 20, 2017

Meditação no Salmo 55



"De tarde, e de manhã, e ao meio-dia orarei; e clamarei,  
e Ele ouvirá a minha voz"

Túmulo de Absalão (Esquerda), Jerusalém

João Cruzué


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Em situações tão difíceis, não há outro 

caminho senão orar e depender mais de Deus


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"Inclina, ó Deus os teus ouvidos à minha oração e não te escondas da minha súplica. Atende-me e ouve-me; lamento-me e rujo, pois o clamor do inimigo e a opressão do ímpio lançam sobre mim iniquidade e com fúria me aborrecem." Este é o início de um Salmo de David, o rei que orava e dependia das respostas de Deus.

David era músico. Atarefado com a guerra e os deveres do reino, receio que não tinha tempo para fazer poesias. Imagino que orava junto a alguém, algum profeta ou secretário, Natã por exemplo, que anotava suas palavras. E elas não eram frutos de ficção, mas de um cotidiano muito difícil.

Os eruditos acreditam que o Salmo 55 foi escrito durante a rebelião promovida por Absalão, um dos filhos do rei, que buscava tomar pela força o trono do pai, sob a influência de Aitofel, ex-conselheiro de Davi. 

Davi, em guerra contra o próprio filho, em uma situação desesperadora, consciente da sua fraqueza,  fugiu de Jerusalém para nãos ser morto (ou matar) pelo próprio filho. Absalão, estava envenenado e disposto a qualquer coisa. Que situação! Verdadeiramente as portas do inferno estavam abertas dentro da casa de Davi.

E foi assim que David percebeu que devia orar mais e clamar com mais força a Deus. Passou a orar sobre o assunto três vezes ao dia. E para um judeu fazer isto, significava que sua necessidade era angustiante. De tarde, pela manhã e ao meio-dia.

A principal mensagem do Salmo 55 para mim, está registrada no penúltimo versículo: Lança o teu cuidado, sobre o Senhor, e Ele te susterá, e não permitirá que um justo seja abalado. Isto quer dizer que em situações tão difíceis como aquela, não há outro caminho senão orar mais e depender de Deus. Como esta promessa está vinculada à justiça, é bom ordenar sua vida com Deus para evitar impedimentos.

Se você entrar dessa forma diante de Deus, ele vai parar a fúria do inimigo. Você dará a volta por cima, porque o Senhor conquistará a vitória por você. Não se cale nem se apequene diante da fúria do diabo.


"Sujeitai-vos, pois a Deus, resisti o Diabo, e ele fugirá de vós"
Tiago 4:7





quinta-feira, março 06, 2014

Fernando Henrique Cardoso e a Solidariedade das Igrejas Pentecostais




Evangelização ao ar-livre
JOÃO CRUZUÉ


Em recente entrevista dada ao jornalista Anchieta Filho da Rádio Jovem Pan, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso surpreendeu a todos com esta pergunta: "Porque existe um crescimento tão grande de certas denominações pentecostais? E responde: Porque elas formam uma rede de solidariedade, o país está precisando disso. 

E ele continuou: Essa é uma constatação preciosa, esse crescimento das igrejas evangélicas só acontece porque elas contribuem de forma importante para mudar e disciplinar a vida das pessoas, tornando-as melhor. Porque se expandiria tanto uma coisa que lhes faria mal? 

O comentário sobre o assunto está em Opinião  escrito por Reinaldo de Azevedo no portal da Jovem Pan.

Quero dar início ao meu comentário dizendo que o ex-presidente sempre bem recebido entre os pentecostais, e deles recebeu muitas orações, principalmente por ter sido o homem abençoado por Deus (embora ateu) para debelar a inflação que literalmente devorava o salário do pobre qual uma praga de gafanhotos. O Plano Real implantado em 1994, teve como seu  principal articulador político o Ministro da Economia, que mais tarde veio a ser candidato e Presidente do Brasil por duas vezes.

O Presidente Cardoso nesta entrevista tocou no ponto: As igrejas pentecostais formam uma rede de solidariedade. E testemunho que está solidariedade é harmoniosa em todo Estados da federação. E quando alguém vai e fala de Jesus e um ouvinte dá lugar àquela Palavra de Deus, há uma transformação de vida. O que era desprezível, começa a ter utilidade. A disciplina que o Presidente fala é a DOUTRINA. Palavra que é ensinada na maioria das Igrejas Pentecostais, o famoso Culto de Doutrina que bem conhecemos, por exemplo, da Igreja Assembleia de Deus. Ali é insculpido, gota a gota, a palavra que muda o caráter de uma vida, qual uma gota de água batendo sobre uma pedra. Devagar e serenamente a Palavra de Deus vai incrustando valor ao que nada valia para a sociedade.

Quando, por exemplo, um alcoólatra aceita Jesus, o SENHOR o liberta do vício. Quebra a força maligna do gosto da bebida em sua boca. E, agora, deixando de beber, leva o seu salário integralmente para a sua família. A obra é feita pelo Espírito Santo, através de esforço de um crente que vai até onde está o bêbado para lhe falar de Jesus. E o mesmo Espírito é o agente que liberta o ladrão do pecado de roubar. E ele deixa de roubar e passa a trabalhar para seu sustento e para o sustento dos seus. E estas mudanças são VALORES que são lapidados pela PALAVRA de DEUS apregoada dentro de uma comunidade pentecostal.

E o presidente se admira de ver como o número dos crentes crescem em todo Brasil. Em pesquisas minhas publicadas sobre população evangélica, trago a informação de que a média aritmética deste crescimento ANUAL  de 1960 a 2010 é uma taxa de 5,7%, sendo de 4,91% a média anual da última década. E ele se admira este crescimento porque é justificado pela introdução de um valor social na vida do cidadão.

FHC conclui o assunto, perguntando: Por que se expandiria tanto uma coisa que lhes faria mal? Ou traduzindo em miúdos: Por que se fala tanto mal das Igrejas Pentecostais e elas continuam com um crescimento firme e constante?  Como sociólogo ele bem sabe que ninguém vai atrás de uma coisa que lhe dê prejuízo, que lhe desanime ou deprecie.

E meu comentário sobre este ponto é o seguinte:  Há um rótulo de ladrão atirado sobre os Pastores Evangélicos. E muitos deles, reconheço, ainda não foram quebrados para reaprender a viver com simplicidade. Mas 99,99% desses pastores são homens honrados, determinados, solidários, bons ensinadores da palavra de Deus, e bons lapidadores de almas. Eles conseguem adicionar valor a quem não tinha nenhum. E nisto, o presidente está certo: ninguém continua indo a uma Igreja, se de lá não estiver vindo resultados, o que chamamos de BENÇÃOS. Eu sei que do dia da prestação de contas a JESUS, está escrito que muitos pastores também irão para o inferno por torpe ganância e exploração de ovelhas. O sucesso de um pastor nunca foi nem será  garantia de que Deus se agrada do caráter dele.

Em tempos em que o crack e a cocaína deterioram a sociedade brasileira, onde mais estes agrilhoados pelas drogas vão buscar socorro, senão de Deus através de um crente amoroso ou na porta da Casa de Deus. A política não tem respostas para isto. Os programas que são implantados não atendem nem 1% das reais necessidades. A resposta para um dependente de crack, de cocaína ou de qualquer outra miséria está na Palavra de Deus. Disse Jesus: Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo [maneira santa de viver] e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e encontrarei alívio para vossas almas.

Sei que o ex-presidente estava falando de política, economia, eleição, mas seus olhos de oitenta e poucos anos ainda estão atentos. Um povo só vai para frente quando mantém altos valores dentro de suas famílias. E o melhor lugar para se aprender  a ter valor é dentro de uma Igreja. Não é a Igreja que muda a pessoa, mas a Palavra de Deus que ela apregoa, esta sim, tem a semente da transformação.

Diante desta palavra de encorajamento (indireto) de nosso ex-presidente, que não é outra coisa senão uma das formas de Deus falar conosco, e ele fala até  pela boca de um ateu (com todo respeito) o que devemos fazer, a não ser continuar nossa rede de solidariedade. Muitos a desconhecem, mas ela funciona muito bem desde Roraima até o Rio Grande do Sul. Ninguém pode estar vendo nem sabendo daquela alma perdida que você levou para Jesus. Até na Igreja, podem pensar que ela levantou a mão para Deus porque foi parar na Igreja sozinha.  Você e eu sabemos que isto não é verdade. Foi fruto de oração, interação, paciência e muito amor de Deus.

E por fim quero alertar para mais um fato. Esta rede de solidariedade já foi maior no passado. Hoje, muitos já se esqueceram do lugar de onde vieram, e já não têm mais o primeiro amor de ir até as periferias, favelas, hospitais e cidades pobres para para uma dívida de gratidão, ou seja: se alguém veio até você para falar do amor de Deus, agora, você também deve ir para fazer a mesma coisa. Se você hoje tem um curso superior, concluiu uma pós-graduação, um mestrado, ou até um doutorado, lembre-se de que a mão do SENHOR é que trouxe prosperidade a sua vida. E, sendo assim, ensine também os seus queridos. Diga-lhes de onde veio, porque veio e como veio. Mantenha  cheia de valores a sua família. A alegria do SENHOR é a nossa força. E quando estamos fazendo aquilo que o SENHOR determina, o ESPÍRITO SANTO se alegra, e sua alegria é estampado no sorriso de nosso rosto. E quando não estamos fazendo o que DEUS determina para que fizéssemos, se olharmos nosso rosto no espelho, vamos ver que ele perdeu o brilho do contentamento.

Deus abençoe o  nosso ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso.