Mostrando postagens com marcador Jesus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jesus. Mostrar todas as postagens

sábado, julho 21, 2012

Intimidade com Deus para jovens e adolescentes cristãos

.
O bom Pastor
João Batista Cruzué 

À primeira vista, o título do texto parece destoante, mas creio que ele resume bem o devocional de hoje, uma bela tarde de muito sol e muito frio na Capital dos paulistas. Há dias que leio e releio o 10º capítulo do Evangelho "de" São João, sabendo que ali há uma revelação de Deus para mim e, apesar de insistir na leitura, ainda não descobri o que seja. Tomado fora do contexto, como geralmente fazemos, o v. 10, "O ladrão não vem senão a roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância" distancia o assunto bom-pastor-porteiro-ovelhas. Contextualizando, Jesus é o bom pastor que deseja intimidade com as ovelhas atuais da sua Igreja.

Tenho 56 anos de idade e quase 40 de decisão por Cristo. Eu aceitei Jesus como Senhor da minha vida e Salvador da minha alma em 1975. E a forma como fiz isto, foi levantando meu braço, publicamente, em sinal de aceitação ao convite que fora feito pelo pastor de uma congregação da Igreja Deus é Amor. Daí, pouco tempo depois fui batizado nas águas da Represa do Guarapiranga, e não muito depois disso, batizado com o Espírito Santo na vigília da mesma Igreja no Bairro do Tucuruvi - Zona Norte de São Paulo.

Era muito religioso. Orava. Jejuava. E resistia bem aos ataques de decepção de minha mãe, profundamente enraizada na Igreja Católica. Eu sentia a presença de Deus em minha vida, mas como uma criança, Deus cuidava de mim, mas eu não sabia quem Ele era.

Prosseguindo neste assunto de intimidade,  entendo que uma pessoa religiosa concebe em sua mente a ideia de que a cura de doenças, o emprego, a promoção, a compra da casa, o carro novo, a entrada na universidade sejam objetos de oração a um Deus e Senhor cuja vontade é limitada apenas para atender as orações de um crente.

Aprendi, no entanto, que o propósito de Deus para minha vida, depois de me ter salvado é que eu cresça em entendimento e sabedoria da sua vontade para ser íntimo dele. 

Abraão tinha um entendimento de Deus aos 75 anos de idade. Mas, aos 100, seu entendimento e comunhão com Deus eram muito maiores. Dos cultos de altares e queima de animais à perfeição exigida por Deus levou uns 25 anos. 

Davi  recebeu a unção de Deus na adolescência. Quando se tornou adulto, e vivia fugindo do sogro, sabia que Deus respondia orações. Tinha confiança nisso. Nas piores situações ele não se esquecia de consultar a vontade de Deus. Depois de ser confirmado Rei em Jerusalém e em toda nação de Israel foi traído pelo sucesso e pecou. O diabo aproveitou a brecha e procurou destruir a família de Davi, e só não teve sucesso, porque ao ser repreendido pelo profeta Natã, se humilhou - apesar de Rei - e recomeçou a andar no caminho da fidelidade e intimidade com Deus.

Jó, no "primeiro tempo" da sua experiência com Deus, se parece muito com os evangélicos do meu tempo que creem que Deus faz a parte Dele quando andamos fiéis. Aqui posso ver que Deus deseja que alcancemos o final da maratona em termos de entendimento, bem além dos 100 metros rasos da velocidade da glória humana. Jó, imagino, era como o filho mais velho da parábola do filho pródigo. Religioso. Não vacilava. Ético. Solidário. Prudente. Rico. Mas não tinha ainda o grau de intimidade desejada por Deus. Então veio o diabo com inveja e provocou a Deus. 

E Deus permitiu que o diabo tirasse todos os bens e destruísse a família. Mas ainda restava fé em Jó. 

Na segunda etapa, o diabo veio e acabou com a saúde de Jó. Como Jó ainda resistisse, instigou a língua de três velhos amigos e de um jovem para arar sobre os ouvidos de Jó. Mas as aflições de Jó  não tivessem acontecido, ele nunca teria tido uma oportunidade de falar com Deus e ouvi-lo tão de perto. É bem verdade que no final ficou duas vezes mais rico, mas o coração de Jó não lhes dava mais valor, pois a comunhão e a intimidade com Deus eram riquezas muito mais preciosas que camelos, ovelhas e vacas. E hoje muito melhores que Mercedes, casas em Boca Raton e estudar direito em Harvard.

Para ter intimidade com Deus é preciso aprender ser dependente de Deus. E só se aprende ser dependente de Deus quando  estamos por baixo. Em crise. No deserto. No desemprego. Na solidão. No abandono. No descrédito. Passando pelo vale da sombra da morte. Depois que saímos do buraco, pela graça de Deus, nós podemos olhar para o céu com um novo entendimento do que é a vontade de Deus. Não creio que haja  intimidade com Deus sem "pós-graduação" em dependência do Senhor. E depender do Senhor é compreender que a vontade Dele prevalece sobre a minha. Que o tempo do Senhor é diferente do tempo que desejo. Que os pensamentos do Senhor são mais altos que os meus pensamentos. Que ele é Pai e eu sou seu filho por adoção.  Quanto a mim, aprendi que Deus é meu Senhor, depois de 11 longos anos de desemprego.

Ir na Igreja é uma coisa, ter intimidade com Deus é outra. Cantar no coral da juventude da Igreja é uma coisa, ouvir a voz de Deus é outra.  Ser presidente de uma grande denominação é uma coisa, andar na presença de Deus é outra. Ser rico das bênçãos de Deus é uma coisa, ter o  coração quebrantado para fazer o que Deus manda é outra. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, como se contextualiza semanticamente em nossa língua.

Conhecer a Deus e andar na sua vontade é algo que deve ser desejado muito mais que carros, prédios e jatinhos. Viagens e carreiras. Se você soubesse que em tal lugar há uma pessoa que sob sua oração Deus vai ouvir e curar aquela pessoa, por ventura isto não é mais importante para um cristão do que ter uma BMW na garagem? Entendo que sim, pois há muitos que podem comprar um carro alemão, mas não há dinheiro que compre os direitos de ouvir a voz de Deus. O carro envelhece. O riso de contentamento passa quando o couro dos bancos se rasga, mas a alegria da presença do Espírito Santo nunca perde o brilho em um coração que aprendeu a depender de Deus.

Como é que se adquire intimidade com Deus? Como é que se anda na presença de Deus? Como é que chega a um grau perfeito de entendimento da vontade de Deus? Eu não preciso de muitas palavras para deixar algumas  respostas. É procurando ser fiel nas coisas pequenas. No dia a dia. É desejando conhecer o propósito de Deus para as diferentes épocas da vida. Infância. Adolescência. Juventude. Velhice. O propósito de Deus não é a mesma coisa que ACHAMOS  ser. É aqui que muitos se desviam do caminho seguindo atalhos ou desvios. A vida cristã é como uma estrada cheia de subidas, descidas, curvas, buracos e precipícios. Entretanto, ela é bem sinalizada, e é lendo estes pequenos sinais que podemos escapar dos desvios, diminuindo a velocidade.

A voz de Deus não é a mesma coisa que a voz dos homens. Não é a voz da maioria e, dependendo do momento, não é a voz da direção da denominação. Além dos ensaios, louvores, pregações, congressos e acampamentos a voz de Deus pode ser ouvida, principalmente se você adquirir o hábito de ficar a sós com Deus. Jesus buscava lugares onde ia sozinho para orar.  Um lugar reservado para ler a Bíblia Sagrada e meditar nos assuntos da leitura. Você precisa ficar atento a pequenos e insignificantes detalhes em sua busca. É preciso ter mais interesse em conhecer a Deus e entender o propósito Dele.  O cristão que  dedica mais tempo para novelas, facebook, orkut, twitter, filmes, livros  de vampiros ou músicas seculares no mínimo deve saber que se assemelha com Esaú, o filho de Jacó que não valorizava o sagrado.

Intimidade com Deus   depende de opção pessoal pela rejeição ao profano e interesse íntimo pelo sagrado.

Por que há tanto vazio e falta de alegria no coração de tantos cristãos? Respondo: É porque estão trocando o buscar a presença de Deus por coisas tolas. E quando você valoriza mais as coisas que tomam o lugar de Deus, e se esquece das coisas que O agradam, você vai fechando lentamente a porta do seu coração para o Espírito Santo. E Ele vai se apagando da sua vida. A alegria se vai e no lugar fica a tristeza de um grande vazio. 

É assim que se perde (ou deixar de ter)  intimidade com Deus, apesar de estar todo dia  dentro da Igreja. O Senhor deseja que todos andem na presença Dele, mas a presunção de cada um se enfastia de Deus e busca, como o filho pródigo, lugares e coisas mundanas para ocupar o lugar Dele.

Termino com o v. 14 do mesmo capítulo que diz: "Eu sou o bom pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas ovelhas sou conhecido." Além de dizer que é uma pena passar a vida inteira em uma Igreja desconhecendo que Deus, como grandioso Pai, é real e deseja ardentemente que o conheçamos bem de mais perto.


SP-21.JUL.2012


Você também poderá gostar de Frases para adolescentes cristãos






domingo, dezembro 25, 2011

Jesus e as mulheres


Sinner woman


"COM AS MULHERES"

Paulo Brabo


"–Está vendo essa mulher?

Eu entrei na sua casa e você não me ofereceu

água para lavar os pés.

Ela, no entanto, lavou meus pés com lágrimas,

e enxugou-os com os seus cabelos.

Você não me cumprimentou com um beijo,

mas ela, desde que entrou,

não parou de beijar-me os pés.

Você não me derramou óleo sobre a cabeça,

mas ela passou essência perfumada nos meus pés.
"


Lucas 7:44-46


"A distância cultural nos impedirá para sempre de apreender a extensão da sua influência e a absoluta novidade da sua postura, mas é certo que nenhuma outra figura masculina da antiguidade oriental – seja no domínio da realidade ou da ficção – sentiu-se mais à vontade entre as mulheres do que o Jesus dos evangelhos. Nenhum outro personagem do seu tempo, e talvez de tempo algum, fez mais para corrigir a distorção das lentes culturais através das quais a imagem da mulher era interpretada – e em muitos sentidos permanece sendo.

A singularidade de Jesus nesse aspecto não é menos do que tremenda. Acho notável ao ponto do milagroso que as posturas de Jesus diante das mulheres, conforme descritas nos evangelhos, não tenham sido censuradas posteriormente por homens menos preparados do que ele para abraçá-las.

É preciso lembrar o óbvio, que não faz cem anos que as mulheres alcançaram status social igualitário no ocidente, o que os evangelhos descrevem que ocorreu há dois mil.

Numa época em que um marido não deveria se dirigir à própria esposa em lugar público, e que homem algum deveria trocar palavra com uma mulher desconhecida (em ambos os casos para proteger a sua honra, não a dela), o rabi de Nazaré buscava a companhia amistosa de mulheres, puxava conversava com elas, tratava-as com admiração e naturalidade, interessava-se sem demagogia pelos seus interesses, deixava que tocassem publicamente o seu corpo e o seu coração.

O Filho do Homem não se constrangia em ser sustentado por mulheres, não virava o rosto à possibilidade de ser acarinhado por elas, não hesitava em recorrer a imagens que diziam respeito ao seu dia-a-dia, não sonegava histórias em que mulheres eram (muito subversivamente, na ótica do seu tempo) exemplo de humanidade, de integridade, de engenhosidade e de virtude.

Falamos de um tempo, num certo sentido não muito distante, em que os homens que não denegriam abertamente a imagem da mulher soterravam-na por completo debaixo de idealizações simplistas. Dependendo de quem estivesse falando, a mulher era vista como incômodo necessário, como homem imperfeito, como criança, como objeto mecânico de desejo, como objeto idealizado de poesia, como animal fraco e sensual; figura às vezes inocente, às vezes desejável, normalmente imprevisível, normalmente indigna de confiança e invariavelmente inferior.

Contra esse cenário, o rabi de Nazaré resgatou uma mulher adúltera das garras da justiça e da morte sem recorrer ao que seria o mais fácil e popular dos argumentos antes e depois dele, o que afirma que a mulher é criatura de mente obtusa e vontade fraca, particularmente suscetível às sensualidades da carne. Em um único golpe eficaz ele transferiu a culpa da mulher acuada para seus acusadores, todos eles homens, emblemas de poder e desenvoltura, até serem publicamente dissolvidos pela mão de Jesus. A vítima, transgressora, foi ao mesmo tempo salva da condenação e tratada, talvez pela primeira vez, como um ser humano independente e responsável (João 8:1-11).

Aqui estava um homem que, irresistivelmente, olhava para as mulheres sem rebaixar-se a preconceitos ou recorrer a idealizações. Jesus lia as mulheres como seres humanos, e foram necessários séculos para que o mundo arriscasse repetir a sua ousadia. Ainda hoje, transcorridos milênios ineficazes, não há homem que esteja imune a ler a mulher através de estereótipos novos e velhos; ainda somos tentados a enxergar o homem incompleto, a flor de pureza, a criança sem rédea. Mas ali, nas esquinas empoeiradas de um canto do mundo, as estruturas do mundo social haviam sido abaladas para sempre.

Para mim não há evidência maior de que o espírito subversivo de Jesus permaneceu vivo nos primeiros discípulos, logo após a ressurreição, do que a descrição da comunidade de seguidores em Atos 1:14: “Todos estes [homens] perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele”.

Este com as mulheres me pega desprevenido todas as vezes, tanto pela sua necessidade quanto pelo impensável que representava no seu tempo. Em retrospecto é difícil avaliar o quanto está sendo efetivamente dito aqui, mas é preciso lembrar constantemente que naquela cultura as esferas de atividade de homens e mulheres eram divididas ao ponto do incompatível. Essa fenda corria de uma ponta à outra o tecido da sociedade, mas seu ponto nevrálgico talvez residisse na esfera religiosa, na qual era preciso ser homem para ter participação eficaz – isto é, para ter acesso verdadeiro e relevante à divindade.

Na visão de mundo vigente, homens e mulheres habitavam espaços separados no universo; essa incompatibilidade era espelhada na sociedade e prontamente celebrada através de espaços diferenciados de adoração. Tanto o Templo quanto as sinagogas tinham áreas separadas para homens e mulheres, e os recintos reservados para os homens ficavam invariavelmente mais próximos de Deus. Era uma sociedade em que não ocorreria a ninguém colocar homens e mulheres compartilhando voluntariamente de um mesmo espaço, muito menos um espaço religioso.

Agora que Jesus havia subido ao céu e os homens de branco haviam dito que mantivessem os olhos fixos na terra, os discípulos viram-se diante de um problema e de um embaraço. Jesus, o amigo das mulheres, havia partido, mas as mulheres haviam ficado. Deveriam eles, homens de respeito e maridos de boa fama, retornar ao antigo e unânime padrão social, devolvendo as mulheres ao seu devido lugar? Agora que Jesus não estava mais ali para efetuar a sua mágica, não seria inevitável que restabelecessem a fenda social que ele havia coberto temporariamente? Quando a multidão de seguidores retornasse a Jerusalém (onde Jesus dissera que aguardassem) deveriam o grupo de discípulos e o de discípulas “perseverar unanimemente” em recintos separados?

Escolher o contrário, escolher o abraço comunitário e a convivência santa nos padrões inaugurados por Jesus, seria nadar contra a corrente de todas as instituições sociais em efeito no seu tempo. Um observador só encontraria um modo razoável de interpretar uma reunião voluntária e regular entre homens e mulheres: como ocasião para licenciosidade. Foi efetivamente dessa maneira que as reuniões cristãs “de amor” foram interpretadas por seus antagonistas ao longo de seus primeiros séculos. Tinham que ser desculpas para sexo – porque, que mais poderia um homem querer fazer com uma mulher?

A momentosa decisão encapsulada nesse único verso demorou a encontrar compreensão e aceitação, tanto dentro quanto fora do grupo. Escolhendo reunir-se regularmente no mesmo recinto, tanto homens quanto mulheres abriram voluntariamente mão da ficção da “boa fama” em troca da generosidade, da inclusão e da convivência. Escolhendo sentar-se de modo criativo ao lado de um Outro com quem não criam ter nada em comum, romperam um véu ancestral e convidaram o mundo a explorar um universo de possibilidades inimaginadas. Nos dois casos, seguiam o desafio formidável deixado pelo exemplo de Jesus".


Fonte: Bacia das Almas - Paulo Bravo




.

quarta-feira, outubro 19, 2011

Mãos de Marta e coração de Maria

.
Maria, Marta e Jesus.
João Cruzué
Ontem, quando
desci à sala para orar, um pensamento veio e eu pedi ao Senhor que falasse comigo. Ao abrir a Bíblia antes da oração, pude perceber que Deus falou. E como sempre gosto de fazer, vim até aqui para compartilhar. Pela primeira vez percebi um há um elo entre os fatos passados na casa de Marta e Maria e a parábola do bom samaritano.
-Senhor fala comigo pela sua Palavra, eu pedi. Há dias em que temos mais necessidades de orar que outros, e esta semana em especial, tem sido bem difícil, pois são vários os motivos para bater, buscar e pedir recurso onde se pode achar.Ao abrir a Bíblia, no final do capítulo 10 de Lucas, primeiro li o texto de Marta e Maria, depois continuei na parábola do bom samaritano. São palavras muito conhecidas, mas que ontem se inteligaram e fizeram-se novas para mim.
A preocupação de Marta era o serviço: Anda para lá, anda para cá; imagino: aranjando lenha, assoprando brasas do fogo, limpando as panelas, assando um pão, talvez depenando alguma ave, ou mesmo temperando um pequeno cordeiro. O tempo passava depressa, o dia ou noite chegando , e nada da ajuda de Maria.
Maria se esquecera completamente do serviço. Assentada aos pés de Jesus, (não havia nem cadeiras nem mesas altas naquele tempo e naquela cultura) ouvia com o coração ardendo o falar do Mestre. O tempo passava e ela não se cansava, como vez em quando ainda acontece em nossos dias, quando a presença do Senhor se faz muito forte em algum culto.
Marta estava preocupada em servir, e Maria esquecera-se de tudo porque ouvia, e ouvia, e queria mais ouvir as palavras do Senhor. Marta receosa de não dar conta do trabalho deu ordens ao Mestre: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.
Comunicação é uma coisa boa; precisamos mesmo nos comunicar. Mas comunhão é algo muito mais profundo. Qualquer um pode comunicar-se, dizer bom dia, boa tarde, reportar o tempo; alguns podem orar acompanhados por uma hora, duas ou quem sabe até uma vigília inteira. Mas nem todos assuntos falados significam comunhão; isto é mais que sabido. Por exemplo: tenho duas filhas. Uma já se casou e a mais nova já tem namorado. Imagine que eu me assente à sala e passe a tarde inteira junto aos dois "segurando vela", como se diz em nossa cultura. Eles podem conversar assuntos os mais variados - mas nenhum deles vai ter a coragem necessária, por exemplo, para dizer "eu te amo".
Ano de 2011, século XXI - aqui estamos nós. Afadigados, preocupados, sem tempo, como diligentes Martas, quem sabe até dando ordens ao Senhor. É um corre-corre, um subindo-e-descendo, um ensaia-ensaia, um prega-prega, um canta-canta, um ensina-ensina... Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e chega o outro domingo. Estamos servindo? Sim! Estamos trabalhando? Sim! Estamos nos afadigando? Muito! Mas, por que estamos vazios e colhendo tão pouco?
Não temos mais tempo para comunhão com o Senhor. Não somos mais como um noivo/a apaixonado/a. Ele quer nos ouvir e também falar conosco, mas não temos mais tempo para isso. Estamos nos enganando ao pensar que se trabalharmos dez vezes mais seremos muito mais eficientes e a Igreja, o órgão ou departamento que cuidamos vai decuplicar de tamanho. Aí começamos a fazer besteiras, pois não conseguimos mais orientações com Deus.
A conseqüência disso pode ser entendida na mesma página da minha Bíblia. "Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que o despojaram, espancaram-no, deixando-o quase morto. E ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um sacerdote, que vendo-o, passou ao largo. Eis que de igual modo, também passava um levita, que também o viu e passou ao largo.
Quem são o sacerdote e o Levita? Decerto que representam os que conhecem e ensinam palavra de Deus. Apressados, estressados com a fadiga do serviço do altar, não conseguem mais ouvir a voz do Senhor por falta de comunhão. Eles são como as mãos de Marta.
"Mas um samaritano que ia de viagem aproximou-se do ferido e vendo-o moveu-se de íntima compaixão". Talvez por ter sofrido no passado um ataque semelhante. "E aproximando-se, atou-lhe as feridas aplicando-lhes azeite e vinho. E pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e recomendou-lhe: Cuida dele, e tudo o que mais gastares, eu to pagarei quando voltar". Aqui o temos um resultado diferente, pois atuaram em conjunto as "mãos" de Marta e o "coração" de Maria.
Os três personagens viram a mesma cena, mas suas atitudes foram inesperadas. Os dois primeiros julgaram que sua religião ou seus afazeres eram mais importante e tinham prioridade sobre um estranho caído no chão. O primeiro era um ministro a serviço do altar e segundo seu discípulo. Seus olhos não mais se comunicavam com o coração. Em algum lugar de suas vida eles perderam a compaixão e tornaram-se insensíveis à voz do Espírito que fala. Do samaritano poderia se esperar tudo, menos compaixão.
E foi assim que entendi antes de começar minha oração, que não importa quão engajados nós estejamos em grandiosos projetos aos olhos alheios ou dos nossos próprios, há uma grande multidão muda, surda e em grande miséria ao nosso redor. Se dermos prioridade as coisas que nos interessam e relegarmos ao secundário os momentos que precisamos passar a sós com Deus, necessários para ouvir a Sua voz e fazer a sua vontade, ficaremos irremediavelmente secos de compaixão.

Por isso, vamos colocar o título da mensagem na ordem correta: "Coração de Maria e mãos de Marta". Primeiro a comunhão e depois o serviço.




.

segunda-feira, maio 17, 2010

O olhar de Jesus

.

Ator Robert Powell - Filme Jesus de Nazareth (1977)

.
------------------------------------------------------------------------------

"Eu sou a luz do mundo; quem me segue

não andará em trevas, mas terá a luz da vida."

João 8:12
--------------------------------------------------------------------------------

João Cruzué

É notável a diferença entre o olhar de Jesus e a visão dos homens. Nascidos em pecado estes se habituam desde cedo ao pessimismo, a desconfiança. Ajustam o foco sobre as fraquezas, defeitos, explorando o lado mesquinho das pessoas. Jesus Cristo, a expressão viva do amor de Deus não segue este padrão, quando miramos em sua maneira de olhar, folheando as páginas do Evangelho.

Quando Jesus viu Simão pela primeira vez não criticou suas fraquezas, nem profetizou que seria um um discípulo tímido, para não dizer covarde. Em lugar de uma taquara ( significado do nome Simão) Cristo viu uma rocha - Cefas. É assim que Deus nos vê. Ele não aponta o dedo para nossas fraquezas para que murchemos e desanimemos. O olhar de Jesus procura por aquilo que há de bom em nosso interior, ainda que seja uma partícula do bem em um milhão de defeitos.

Quando Jesus viu o baixinho Zaqueu no alto da figueira, não zombou dele perante a multidão. Poderia ter dito: Eis aí, o chefe dos coletores de impostos mais corrupto de nossa nação. Ele não fez isto. Era assim que todos diriam. Jesus olhava com amor. Foi por isso que disse: Zaqueu, desce depressa, pois hoje vou jantar em tua casa". Foi com apenas um olhar e algumas palavras que produziram a grande mudança na vida do chefe dos publicanos de Jericó.

Quando Jesus viu o coxo junto ao Tanque de Bestesda, ele não viu um aleijado. Ele viu um homem que depois de 38 anos doente ainda esperava pela cura. Todos viam um coxo, mas Cristo enxergava um homem de pé, levando embora um leito sobre as costas.

Quando Jesus olhou para a mulher adúltera diante daquele grupo de apedrejadores, ele não viu uma prostituta, mas uma jovem que precisava apenas de uma oportunidade para se levantar e nunca mais pecar.

Quando Jesus mandou retirar a pedra do túmulo de Lázaro, ele não enxergava um cadáver mal-cheiroso, mas via um amigo caminhando diante de uma família de pessoas críticas.

Jesus vê uma rocha enquanto todos veem só uma taquara. Jesus vê um convertido sincero enquanto todos enxergam um fiscal corrupto sem possibilidades de recuperação. Jesus vê um homem correndo e saltando, enquanto os conhecidos o enxergam como um coxo inútil e teimoso. Jesus não atira pedras em quem está caído. Jesus enxerga vida, onde todos já desistiram ou taparam o nariz por causa do mau cheiro.

Essa fixação em procurar os defeitos e descobrir os erros das pessoas para depois dizer para todo mundo. Esta ânsia de difamar, de derribar para produzir no criticado um sentimento de pequenez, de frustração, de desânimo revela, na verdade, algo interessante sobre a pessoa do crítico. Mostra sua necessidade premente de manipular as faltas alheias para dispersar o foco sobre si. Usa a crítica como capa para cobrir a própria nudez. Era porisso que o diabo só enxergava maldade no caráter do patriarca Jó.

Em tempos em que é tão fácil descer a "lenha" na vida de nossos irmãos, não custa perguntar: de que maneira estamos vendo a vida de nossos irmãos? Se apenas conseguirmos enxergar defeitos, e nada mais que isto, tempos um problema grave problema de miopia espiritual.

O olhar de Jesus é misericordioso. Ele procura em nós coisas boas para apreciar. Se se nossas virtudes resumissem a uma única gota d'água em um copo vazio, Ele voltaria seus olhos para ela e diria: Me alegra que isto esteja em teu coração. Este é o olhar de Jesus.




domingo, novembro 08, 2009

Pastor Joselito e as caçadoras de demônios


Monte da Tentacao
Monte da Tentação
João Cruzué

Faz algum tempo que não escrevo uma crônica, e para não perder de vez o estilo vou trazer hoje algo bem inusitado. Quer dizer, não tão inusitado assim, pois isto deve acontecer com bastante frequência por essa cidade batizada com o nome do grande apóstolo.

Tenho um amigo, quase parente, que vou chamar de Pastor Joselito. Ele tinha parentesco com minha cunhada, falecida no mês de maio passado. Homem de Deus. Animado. Sábio, bom de enxada, quero dizer, de encher Igrejas, lembrando daquela analogia do uso da pá e da enxada, muito conhecida no meio pastoral.

Certo dia, assim que colocara o garfo no prato, entrou uma senhora muito assustada pela porta. "Pastor, o senhor precisa nos ajudar." Eu e mais algumas irmãs estamos fazendo a "obra" e ao chegar na casa de uma pessoa, ela estava endemoninhada. Nós tentamos expulsar o demônio, mas está difícil! É ali na rua de baixo.

E o Pastor Joselito largou o prato e vai até a rua de baixo. "Sai demônio desta vida. Em nome de Jesus." O demônio caiu fora, sem resistência. Eo pastor voltou para sua casa, mas já encontrou o prato frio. Mas o assunto não ia ficar assim...

Uma semana depois, aparece de novo a mesma irmã. Pastor, corre de novo lá embaixo para nos ajudar. O inimigo está furioso. Nós viemos em consagração, mas o inimigo não quer sair de jeito nenhum!

Surpreso, ele perguntou: O que está acontecendo; porque as senhoras procurando por demônios?

--Ah, pastor depois daquele dia nós voltamos para casa e fomos nos consagrar. Voltamos naquela casa para ver se o demônio tinha voltado. E a mulher estava com cara feia, e nós dissemos: Sai demônio, pois desta vez nós estamos com nossa vida consagrada.

Aborrecido, o Pastor Joselito desceu outra vez à rua.

A casa estava em grande reboliço. Eram panelas voando pela janela, e mulheres rolando pela porta. Um barulhão que chamava atenção de um monte de curiosos. O Pastor entrou e viu aquela cena costumeira. Três senhoras segurando no "demônio." Duas nos cabelos. A mulher esperneava, chutava, mordia e urrava com um voz rouca cavernosa. Uma irmã já estava com um "maço" de cabelo dela na mão. A coisa está muito feia.

--Irmãs, parem em nome de Jesus! Eu vou orar, e Jesus vai expulsar este demônio, mas as senhoras façam-me um favor: vão arranjar serviço nas suas casas. e parem de perturbar as pessoas. Da próxima vez que saírem por aí atrás de demônios, vai ser por conta de vocês.

--Sai demônio, em nome de Jesus. O demônio saiu. A senhora ficou liberta, e o grupo que tinha se "consagrado" uma semana inteira, bateu em retirada de cabeça baixa.

É provável que elas não lessem a Bíblia. Em Lucas 10:20, diz que, quando os discípulos de Jesus voltaram muito alegres, contando suas proezas ao expelir demônios, Jesus os repreendeu quando disse: Não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus."

Moral da história: Isto significa que o foco dos discípulos estava distorcido. A pregação das Boas Novas do Reino de Deus e de sua justiça era e é objetivo principal da grande comissão. Expulsar demônios, apenas uma das consequências do ministério.




.