| Hinduísmo |
João Cruzué
A ortodoxia evangélico-pentecostal e o hinduísmo apresentam visões completamente distintas sobre o que chamamos de “fim do mundo”, porque partem de concepções muito diferentes de Deus, tempo, história e destino humano. Para a fé cristã, o fim é um momento único e decisivo da história; para o hinduísmo, é apenas uma etapa dentro de um ciclo sem fim. Assim, embora ambos reconheçam que a realidade atual não permanece para sempre, cada tradição interpreta essa mudança de forma profundamente diversa.
Na visão evangélico-pentecostal, o fim do mundo é o ato final da intervenção de Deus na história humana, quando Cristo retorna, o mal é derrotado, os mortos ressuscitam e uma nova criação é inaugurada. O tempo é linear: Deus criou o mundo, sustém a história e a conduz para uma consumação planejada, onde justiça, redenção e restauração se unem. O fim não é destruição absoluta, mas transformação — a antiga ordem marcada pelo pecado chega ao fim para que novos céus e nova terra sejam plenamente revelados. O destino humano é definitivo: cada pessoa comparece diante do juízo divino e entra em eternidade com ou sem Deus.
O hinduísmo, por sua vez, não vê o fim como algo final ou absoluto. O cosmos existe em ciclos eternos de criação, preservação e destruição, chamados Yugas, Kalpas ou Pralayas. O tempo é cíclico, não linear; o mundo não caminha para um encerramento definitivo, mas para processos repetidos de dissolução e renovação. A destruição efetuada por Shiva não é um juízo moral, mas parte natural do equilíbrio cósmico. Após cada dissolução, o universo retorna em outra forma. Não há um evento único que encerra a história, nem uma vitória final do bem sobre o mal. O destino humano também é cíclico: reencarnações sucessivas moldadas pelo karma conduzem à libertação individual (moksha), não a um juízo final coletivo.
A diferença essencial está na natureza e no propósito da existência. No cristianismo pentecostal, Deus é pessoal, soberano e conduz a história a um clímax redentor. Há direção, sentido e destino. No hinduísmo, a divindade pode ser pessoal, múltipla ou impessoal, e o universo não tem começo nem fim absolutos. A história não avança; ela gira. O cristianismo vê uma narrativa com início, meio e fim; o hinduísmo vê um fluxo contínuo que se renova indefinidamente.
Essas duas visões também divergem quanto ao significado de salvação. Para a fé evangélica, salvação e fim da história estão ligados: Cristo retorna, julga, restaura e inaugura a eternidade. Para o hinduísmo, a libertação é interior e individual, não depende do destino do cosmos nem de um julgamento final. Enquanto o cristianismo proclama um fim que encerra a antiga ordem para instaurar uma nova, o hinduísmo descreve um fim que simplesmente reinicia o ciclo cósmico.
Em síntese, o cristianismo evangélico-pentecostal anuncia um fim que é consumação — um ponto final que abre um novo capítulo eterno. Já o hinduísmo vê o fim como transição, não como conclusão: o universo se dissolve, mas sempre retorna, e nunca chega a um destino final definitivo. Assim, enquanto a fé cristã oferece a esperança de uma redenção plena e final, o hinduísmo apresenta a realidade imperfeita como um movimento eterno sem término absoluto.
SP- 09/12/2025.
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