terça-feira, dezembro 09, 2025

O Fim do Mundo na Perspectiva Hinduísta

 

Hinduísmo

João Cruzué

A ortodoxia evangélico-pentecostal e o hinduísmo apresentam visões completamente distintas sobre o que chamamos de “fim do mundo”, porque partem de concepções muito diferentes de Deus, tempo, história e destino humano. Para a fé cristã, o fim é um momento único e decisivo da história; para o hinduísmo, é apenas uma etapa dentro de um ciclo sem fim. Assim, embora ambos reconheçam que a realidade atual não permanece para sempre, cada tradição interpreta essa mudança de forma profundamente diversa.

Na visão evangélico-pentecostal, o fim do mundo é o ato final da intervenção de Deus na história humana, quando Cristo retorna, o mal é derrotado, os mortos ressuscitam e uma nova criação é inaugurada. O tempo é linear: Deus criou o mundo, sustém a história e a conduz para uma consumação planejada, onde justiça, redenção e restauração se unem. O fim não é destruição absoluta, mas transformação — a antiga ordem marcada pelo pecado chega ao fim para que novos céus e nova terra sejam plenamente revelados. O destino humano é definitivo: cada pessoa comparece diante do juízo divino e entra em eternidade com ou sem Deus.

O hinduísmo, por sua vez, não vê o fim como algo final ou absoluto. O cosmos existe em ciclos eternos de criação, preservação e destruição, chamados Yugas, Kalpas ou Pralayas. O tempo é cíclico, não linear; o mundo não caminha para um encerramento definitivo, mas para processos repetidos de dissolução e renovação. A destruição efetuada por Shiva não é um juízo moral, mas parte natural do equilíbrio cósmico. Após cada dissolução, o universo retorna em outra forma. Não há um evento único que encerra a história, nem uma vitória final do bem sobre o mal. O destino humano também é cíclico: reencarnações sucessivas moldadas pelo karma conduzem à libertação individual (moksha), não a um juízo final coletivo.

A diferença essencial está na natureza e no propósito da existência. No cristianismo pentecostal, Deus é pessoal, soberano e conduz a história a um clímax redentor. Há direção, sentido e destino. No hinduísmo, a divindade pode ser pessoal, múltipla ou impessoal, e o universo não tem começo nem fim absolutos. A história não avança; ela gira. O cristianismo vê uma narrativa com início, meio e fim; o hinduísmo vê um fluxo contínuo que se renova indefinidamente.

Essas duas visões também divergem quanto ao significado de salvação. Para a fé evangélica, salvação e fim da história estão ligados: Cristo retorna, julga, restaura e inaugura a eternidade. Para o hinduísmo, a libertação é interior e individual, não depende do destino do cosmos nem de um julgamento final. Enquanto o cristianismo proclama um fim que encerra a antiga ordem para instaurar uma nova, o hinduísmo descreve um fim que simplesmente reinicia o ciclo cósmico.

Em síntese, o cristianismo evangélico-pentecostal anuncia um fim que é consumação — um ponto final que abre um novo capítulo eterno. Já o hinduísmo vê o fim como transição, não como conclusão: o universo se dissolve, mas sempre retorna, e nunca chega a um destino final definitivo. Assim, enquanto a fé cristã oferece a esperança de uma redenção plena e final, o hinduísmo apresenta a realidade imperfeita como um movimento eterno sem término absoluto.

SP- 09/12/2025.



O Fim do Mundo na Perspectiva Popular


Nova Terra
João Cruzué

Na compreensão popular, a expressão “fim do mundo” costuma ser associada à destruição completa do planeta — um colapso total onde nada sobreviveria. É uma ideia moldada por filmes, rumores, previsões sensacionalistas e imaginário coletivo, não pela Bíblia. Nesse entendimento comum, o fim do mundo aparece como um evento caótico e imprevisível, provocado por guerras globais, desastres naturais gigantescos ou impactos cósmicos. A visão dominante é aniquiladora: tudo termina, e a existência deixa de continuar.

A ortodoxia bíblica, porém, apresenta um conceito muito diferente. Quando a Escritura fala do “fim”, ela se refere ao encerramento de uma era — o término do sistema atual marcado por injustiça, corrupção e pecado. Não se trata do fim da criação, mas do fim da ordem presente. O termo usado por Jesus (sunteleia tou aiōnos, Mt 24:3) significa literalmente “conclusão da era”, não destruição do mundo físico. Em vez de aniquilação, o foco bíblico é transformação, purificação e renovação.

Segundo o ensino das Escrituras, aquilo que muitos chamam de “fim do mundo” corresponde ao conjunto de eventos escatológicos que culminam no retorno de Cristo, na ressurreição dos mortos, no juízo final e no estabelecimento definitivo do Reino de Deus. Textos como 2 Pedro 3:10, frequentemente interpretados como destruição total, na verdade descrevem um processo de refinamento, semelhante ao fogo que purifica o ouro. O universo não é eliminado, mas restaurado para cumprir plenamente o propósito de Deus.

Enquanto a visão popular enxerga o fim como algo sem controle, aleatório e destrutivo, a ortodoxia bíblica mostra que tudo ocorre dentro de um plano ordenado. Cada etapa — arrebatamento (na leitura pré-tribulacionista), tribulação, milênio, juízo final e novos céus e nova terra — segue uma sequência com sentido e propósito. Nada é acidental; tudo está sob a direção soberana de Deus.

Assim, o contraste é claro: para a cultura popular, o fim do mundo é destruição; para a Bíblia, é renovação. O mundo como o conhecemos realmente chegará ao fim, mas não por aniquilação — e sim para dar lugar ao mundo que Deus sempre planejou: renovado, justo, livre do mal e repleto da glória divina. A mensagem bíblica não é de desespero, mas de esperança: Deus não destrói Sua criação; Ele a conduz ao seu destino perfeito.


SP-09/12/2025.



Autores demonstrados no texto:

-Gordon Fee (interpretação de “aiōn” e “consumação da era”);

-D. A. Carson (Mateus 24:3 e linguagem apocalíptica);

-Leon Morris (relação AT/NT em temas escatológicos);

-John Stott (visão equilibrada entre juízo e renovação);

-Russell P. Shedd (ênfase no Reino de Deus como renovação, não aniquilação);

Autores Pentecostais:

-Stanley Horton – forte ênfase na renovação da criação e consumação do plano divino;

-Myer Pearlman – didática clara sobre “fim da era”;

-George Eldon Ladd – conceito chave de já e ainda não do Reino.