terça-feira, março 20, 2012

Jihad evangélica - Macedo x Santiago

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João Cruzué


É bastante significativa a recente troca de acusações entre a TV Record do Bispo Macedo e o Pastor  Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus.  No meio da contenda o que deixa de ser dito é o xis da questão: Espaço e dinheiro. O mesmo "tiroteio" que aconteceu na América entre Jim Baker e Jimmy Swaggart está se repetindo aqui. Um conflito de egos.

Eu creio que nenhum desses homens, lá no começo, se pareciam com o que se mostram hoje. O pior inimigo desses bispos foi o próprio sucesso. Eles começaram bem, a mão de Deus foi com eles, mais à medida que prosperaram  cometeram pequenos desvios, e hoje desmentem pelo testemunho o Evangelho que pregam.

Cristo, há dois mil anos, passou pela mesma tentação: Transformar  pedras em pães, se atirar  do pináculo do templo e render-se aos pés do diabo para ter a glória e o poder mundanos. Mas ele se recusou usar o poder do Espírito para satisfazer necessidades pessoais, tentar a Deus  ou dobrar os joelhos diante do mau.

Coisa que não vem acontecendo com as duas eminências evangélicas. Usar o $ da Igreja para comprar uma Rede de TV para passar programas e novelas imorais é cair no conto da transformação das pedras. Chorar de mentirinha diante das câmeras, para arrecadar milhões a pretexto de evangelização e desviar um pouco  comprar fazenda e muito gado, também não é outra coisa. Veicular novelas e programas imorais semelhantes para bater a número 1 o que não é senão tentar a Deus saltando das alturas para o nível mais rasteiro? Aliar-se à política e fazer dela um trampolim para exercitar o poder de domínio, não seria sujeitar-se à ambição do poder mundano? Um fato e inegável: Deus não se deixar escarnecer, e sua glória não dá a ninguém. 

Quando a vaidade humana atinge um limite em que a vontade do homem se sobrepõe à vontade divina, basta apenas segundo de ausência da graça, para que o mais esperto dos bispos role no mais tenebroso escândalo. O que aconteceu na América, há vinte e poucos anos, breve pode acontecer no Brasil, a julgar pela guerra de vaidades que começamos  ver. O gatilho deste infeliz acontecimento já foi acionado. 

É por isso que Tiago escreveu, eu vou postar, mas quem precisa nunca vai ler:

CAPÍTULO 3

1"MEUS irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.

2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.

3 Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.

4 Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa.

5 Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.

6 A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.

7 Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;

8 Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.

9 Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.

10 De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.

11 Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?

12 Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.

13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.

14 Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.

15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.

16 Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.

17 Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.

18 Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz. "

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 Conclusão do blogueiro: Não é preciso dizer mais nada.










segunda-feira, março 19, 2012

Crentes insatisfeitos


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Cruzando o Mar da Galiléia

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"De que se queixa, pois, o homem vivente?

Queixe-se cada um dos seus pecados."
Lamentações 3.39
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João Cruzué

Quero refletir um pouco sobre as dificuldades de orientação que nós cristãos, já conhecedores da Palavra, enfrentamos ao ficar insatisfeitos pensando na Igreja perfeita, um porto seguro para congregar com a família em tempos tão profanos. Um dilema bastante comum em nossos dias.

A Igreja do Senhor é perfeita, todavia, constituída de membros imperfeitos que por opção pessoal podem ser lapidados ou não pela palavra. Não sei porquê, mas por duas vezes Ernest Hemingway passou pela minha mente quando dei título ao post, e neste parágrafo em particular, lembrei-me daquele prefácio do pastor anglicano John Donne no Livro "Por Quem os Sinos Dobram":

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.


O individualismo hoje tem um viés mais forte  que nunca e o isolamento pode  alimentar em nós uma profunda insatisfação com a própria Igreja. É neste ponto que começamos a ver no próximo os defeitos que na verdade  estão presentes em nós.

Certa vez Jesus ordenou aos discípulos que cruzassem o "Mar" da Galiléia, enquanto ele ficou para trás. Foi orar. Interessante: Se Jesus era Deus, por que precisava orar? A resposta que encontrei foi: Pelo prazer da comunhão; de estar em contato com o Pai. Há uma didática (antiga) neste hábito: Se o que era perfeito buscava comunhão para suas orientações diárias, então, nós cristãos por mais "sabidos" que somos, também necessitamos da mesma disciplina, para manter viva a mesma comunhão.

Os discípulos corriam perigo. O Senhor os viu em plena luta e os socorreu. Entrou no barco, repreendeu o vento e mandou que o mar se calasse. Há muitos cristãos à deriva, açoitados pela força do vento e fustigados pela fúria do mar. O vento das novidades, o mar do secularismo e a fúria de um olhar crítico. Ficamos insatisfeitos e esta insatisfação tanto pode ser benéfica quanto perigosa, dependendo do caminho que tomarmos.

A crise de identidade evangélica pode nos levar a um aumento da sede de comunhão com o Senhor. Neste sentido, é Deus quem nos coloca no barco e manda que atravessemos o mar. Embora não esteja no barco o tempo todo, Ele  observa atentamente. Isso produz experiência, crescimento, e desejo de maior comunhão.

Outro tipo de crise de insatisfação pode nos açoitar - como aconteceu com o filho pródigo. Esta não produz sede de oração nem desejo de comunhão com Deus. Ela é perigosa, pois nossos olhos focam apenas os defeitos naquilo que observam: Excesso de ortodoxia, liturgias adormecedoras, pastores ignorantes, antagonistas em lugar de irmãos, teologia da prosperidade entrando e saindo dos púlpitos, política secular ocupando mais o tempo pastoral que planos de evangelizção. Nesse ponto, o mundo começa a parecer mais justo que a própria Igreja. Aqui mora o perigo.

Não havia nada errado com com a casa do Filho Pródigo. O coração do moço foi sendo envenenado aos poucos pelo seu (ou de outrem) pensamento crítico exagerado. Sua insatisfação pessoal o levou ao desvario, depois ao desvio, ao desperdício e à derrota. Creio que foram as orações do Pai que o trouxe de volta, pois coube ao jovem o benefício da inexperiência.

A insatisfação de cristãos experientes pode ser mais complexa. E tanto mais perigosa. É a insatisfação do filho mais velho da mesma parábola. Ele começou a criticar a justiça do próprio pai. 

Eu fico pensando. É bem possível que a causa do "envenenamento" da mente do irmão caçula pode ter sido as críticas do primogênito. E esta também pode ser a mesma explicação para tantos filhos de crentes que tomam o destino do mundo, envenenados pelo criticismo dos mais velhos, que se parecem mais com o "acusador" de Jó.

Se por um lado é difícil encontrar a Igreja perfeita, aquela que possa satisfazer o gosto de cada um, por outro, o conhecimento bíblico de lidar com a situação já faz parte da bagagem. Se Jesus, que era muito mais experiente e sábio, tinha seus problemas de orientação e solidão e os resolvia através de mais comunhão, não há outro caminho senão buscá-la através de orações individuais ou em cultos domésticos.

O Senhor era profundo conhecedor dos corações e da hipocrisia humana. Não desperdiçava seu tempo anotando defeitos, nem murmurando das pessoas, nem jogando-lhes na face os pecados. Por então um crente deveria adotar este comportamento  mesquinho? O diabo sim, quando nos vê, só comenta coisas ruins. Jesus não é assim: Ele nos vê com olhos compassivos. Ainda que tivéssemos mil defeitos e apenas uma virtude, é sobre ela que Ele focaria seus olhos para  nos animar.

O mar está revolto por causa da fúria do vento? O barco está fazendo água e parece cada vez menor diante das ondas do mar? Quem sabe a solução não esteja em abandonar o barco, mas em trazer Jesus para dentro dele?





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