sábado, dezembro 10, 2011

Discipulado Virtual


João Cruzué

Será que os novos convertidos do Tele-evangelismo se transformarão em seguidores reais de Cristo, nesta época em que há Igrejas seguimentadas e fabricadas com um apelo de marketing para alvos diferenciados? O blog olhar cristão pensa que não.

Há muitos anos, por determinada circunstância, fui pregar no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro. Um bairro da Zona Sul de São Paulo. E algo inusitado aconteceu: Na hora do "apelo", uma multidão de mãos foram levantadas. Acho que foi a única vez na vida que vi um grupo inteiro de umas 20 ou 30 pessoas aceitar Jesus. Eu não esperava ver toda aquela gente se decidindo, ainda mais que a mensagem não mexeu com as emoções de ninguém.

Depois daquele dia eu comecei a pensar mais seriamente em não apenas convidar, mas acompanhar o crescimento da fé de novos convertidos. E cada vez mais que eu meditava nos cuidados de Jesus - durante três anos - de andar com seus discípulos e ensinar a eles como pregar o Evangelho, mais mudava minha visão de pregar sem a responsabilidade de cuidar e ensinar.

Há uma norma vigente em nosso meio Cristão: A função do evangelista é pregar e a do pastor, arrebanhar e cuidar das almas. Estará isto certo, comparando com a Bíblia?

Acho que estamos encrencados. Há evangelistas de mais (na TV) e pastores de menos. E mesmo tendo pastores, não está havendo discipulado. E o único "discipulado" bem feito na TV brasileira não é cristão, nem está a serviço da Igreja.

Se você respondeu que são as novelas, acertou.

Quer aprender a adulterar? Assista uma novela. Quer aprender a trair? Novela. Quer aprender a ser inescrupuloso? Novela. Quer aprender a perder a virgindade na adolescência? Novela. Quer lições de mau-caratismo? Novela. Quer saber como trocar de esposa ou de marido como se troca de roupa? Artistas de novela. Quer aprender a fumar e a beber: Novela. Quer ver prostituição? Novela. Quer aprender lições de banditismo? Novela. Quer ver homossexualismo? Novelas.

Não estou aqui dando uma de santarrão, condenando o trabalho dos atores. Estou, sim, dizendo que se há discipulado na Televisão - as novelas são exemplo. São longas, planejadas e feitas para "estarem juntas" dos telespectadores por meses a fio. E sai uma, entra outra, a função dos papéis dos personagens não muda. A fórmula é sempre a mesma. Na minha opinião elas tem outra função além do lazer: Justamente um discipulado subliminar. Tanto é verdade que são patrocinadas por empresas que desejam massificar seus produtos: Sabonetes comuns, shampus baratos, operadoras de celular, detergentes, desinfetantes de banheiro...

Até na TV do Bispo as novelas fazem este anti-discipulado. O que ele prega de madrugada, as novelas "despregam" no horário nobre.

Quer sustentar a indústria das novelas? Compre os produtos que as financiam. Aqueles que aparecem nos intervalos.

Fora disso não há outro discipulado. E pior: Mesmo dentro de Igrejas lotadas de crentes, ninguém mais sabe fazer isso. Isso o que: Andar com um novo convertido por três anos ensinando-o a orar, ter comunhão com o Espírito Santo, expulsar demônios, curar doentes, ressuscitar mortos. Repercutir aquilo que viu e ouviu. Se não para todos, pelo menos para aqueles que têm sede de Deus.

E se não há mestres de carne e osso, para estar e praticar juntos, como haverá discípulos reais?




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Sensibilidade, Consciência e Conveniência

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"Nossas vidas começam a perder o sentido
no dia em que ficarmos calados,
diante de coisas que importam."

Martin Luther King Jr.

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João Cruzué

Meu DVD da "Paixão de Cristo" ficou com defeito, e eu fui, e comprei um novo. É muito fácil escrever para os outros, mas hoje quero escrever também para mim. Afinal, com quase 56 anos, já possuo sensibilidade o bastante para conhecer, diante das circunstâncias, as opções de caminhos a tomar, tendo por foco nossas reações às cenas e fatos do cotidiano.

Quando Jesus esteve diante do Sumo Sacerdote judeu, este perguntou: És tu o Messias, filho do Deus Bendito? E diante dela, Jesus não pode permanecer em silêncio e deu testemunho de boa confissão, mesmo sabendo que a resposta o levaria à morte: Eu o sou. E vereis o Filho assentado à direta do poder de Deus.

Como em prova de concurso ele tinha cinco opções:

( a ) O silêncio.
( b ) Eu sou.
( c ) Talvez.
( d ) Depende.
( e ) Não sou.

Se Ele ficasse em silêncio, teria livrado a sua pele, mas perderia a comunhão com o Pai. Às vezes, o silêncio de apenas alguns segundos, diante de uma circunstância em que é imprescindível dizer algo, é o bastante para entristecer o Espírito Santo. Vou especular: Se houvesse 100 pessoas presenciando aquela cena, e Cristo precisasse de uma testemunha que dissesse algo em seu favor, provavelmente 99 ficariam em silêncio, pois nenhuma teria o interesse de se comprometer.

Isso mudou?

Jesus não hesitou: Eu sou. Eu sou o Filho do Deus Bendito.

Nas opções "c" e "d", talvez alguém falasse, dependendo de antemão de um desfecho favorável. Timidez e interesse. Se é vantajoso, diante das circunstâncias, confirmar a divina filiação, então eu sou. Se vou ganhar algum prêmio ou honraria, também eu sou. Se não há risco algum de me revelar, então eu o sou. Mas se o que vier a seguir é ruim, então eu não sou.

O Talvez é uma palavra morna. Nem sim, nem não. A terceira via - nem muito estreita, nem muito larga. O caminho das aparências. Se alguém perguntar: Aquele pastor, aquele cristão, aquela mulher do pastor, é mesmo crente? A resposta poderia ser: Talvez... Não há como perceber.

E se alguém hoje fosse convidado a aceitar Jesus ou a trabalhar no ministério a resposta poderia ser: Depende. Depende de quanto...

Pedro, diante das acusações de que ele também seria um dos discípulos de Jesus, optou pela alternativa "e": Não sou; não conheço este homem, nunca vi este homem, não faço a mínima ideia de quem seja. Entre vender Jesus e negar Jesus não há tanta diferença. A diferença foi que, ao trocar Jesus por 30 moedas de prata, o diabo assenhoreou-se completamente da vida de Judas. E ao negar Jesus, Pedro entristeceu o Espírito Santo
. Se não fosse a iniciativa de Jesus de orar e depois procurar Pedro para restaurar sua fé, ele teria morrido de remorso.

São pequenos detalhes que produzem uma grande diferença. Poucos centímetros de erro na base, produzem uma grande diferença no topo. Olhando para a beleza, nada é notado. Uma vez tive um sonho com um prédio de Igreja. Diante de uma laje caída, uma voz respondeu:

--Puseram pouco cimento.

Não é fácil, pelo menos para mim, tomar uma decisão rápida diante de uma situação momentânea ou duradoura. Para isso eu deveria fazer uma sintonia fina do meu coração com a voz do Espírito Santo. Quando é, e quando não é, da vontade de Deus?

Creio que se eu procurar melhorar os meus ouvidos, e colocar meus olhos em segundo plano, vou perceber os pequenos detalhes que estão escondidos por trás das palavras e das circunstâncias.







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