quarta-feira, abril 13, 2011

Missões na India por um indiano

.
Clique na figura para estudar os 28 estados e sete territórios da Índia.



De Aby Mammen/Kerala/India

Tradução de João Cruzué


Amado irmão João,

"Estou feliz com sua preocupação com os missionários indianos. Primeiro, deixe me tentar responder suas questões. Bem, o nome do Irmão cujo texto transcrevi para lhe enviar, é Philip P. Eapen. Ele é meu primo segundo, da família de minha mãe, além de um abençoado escritor. Você pode ter acesso ao site dele, através deste endereço: www.philipeapen.com.

I - Sobre a necessidade de uma tradução atualizada da Bíblia para a língua malayalam [falada no estado de Kerala]. A tradução popular em malayalam usada pelos cristãos protestantes do Estado de Kerala tem cerca de 170 anos. Alguns vocábulos dessa tradução não são compreensíveis ou têm erro de tradução. Assim, tendem a usar a Bíblia inglesa para conseguir aclarar a interpretação dos versículos.

Em 1997, uma nova versão da bíblia foi publicada, mas ela não se tornou popular. O povo tem uma mentalidade tradicional e se adaptam aos novos métodos muito vagarosamente. Também, estas duas, são as únicas versões disponíveis. Além disso, seria muito bom que tivesse uma Bíblia de crianças em malayalam.

II. Sobre a perseguição no estado de Orissa. As notícias que vocês encontram sobre a perseguição em Orissa são apenas a versão divulgada pela mídia. Ela não mostra o quadro inteiro. A razão por trás do porquê os cristãos estão sendo alvo de perseguições na Índia está no aumento da taxa de crescimento das conversões ao cristianismo. Seria bom que você soubesse como o missionário australiano Graham Staines e seus dois filhos foram queimados vivos por extremistas Hindus. Ontem, eu soube de notícias de que dois pastores foram atacados em Bihar. Perseguições muito similares estão acontecendo com o povo nativo. Mas estes fatos não se tornam conhecidos a nível internacional, provavelmente, porque os povos afetado são minorias e pelo medo que existe em muitas mentes. Além disso, por seguir princípios cristãos, as pessoas não procuram tomar medidas legais contra seus perseguidores.

III - Quanto ao assunto da intimidação e isolamento do novo convertido e "house church."

Para compreender isso, você precisaria ler o texto integral e conhecer o contexto cultural daqui. Com relação ao "não envolvimento" é o costume geral de hoje nas igrejas. Em lugar de ser um lugar amigável, as igrejas intimidam e isolam o novos crentes. Em lugar de ter um culto relevante e atrativo, elas frequentemente usam de formas arcaicas de adoração, locais de acomodação, arquitetura, etc. Mas não pense que os crentes mais velhos tentam atormentar os novos convertidos na Igreja.

Para entender a respeito das formas não atrativas de louvor, eu vou lhe explicar mais. Primeiro, na Índia, as Igrejas pentecostais não têm bancos dentro da Igreja para o conforto das pessoas. Isto se deve principalmente por duas razões: Desde que o movimento Pentecostal se tornou proeminente neste país, as pessoas costumavam se assentar sobre esteiras no chão, principalmente porque nós considerávamos isto como a melhor postura para adorar a Deus sobre nossos joelhos do que se nos assentássemos confortavelmente nos bancos. Havia também o problema de disponibilidade de instrumentos musicais, que eram não muito bons como os de hoje. Eram tambores e clangores, as pessoas batem palmas quando cantam e não há coral nas pequenas Igrejas. Mesmo hoje, há muitas igrejas que não consideram que os instrumentos musicais não são efetivamente adequados para adorar!

Segundo, muitas igrejas são pobres e têm um número reduzido de pessoas. Em uma cidade haverá muitas igrejas - poucas igrejas grandes e a grande maioria de igrejas pequenas. Então, as pequenas igrejas não têm templos próprios. Construir uma igreja aqui, precisa de dinheiro e as despesas de construção não podem ser arcadas por poucos membros. Assim eles se reúnem na casa do Pastor ou alugam um salão para cultuar. É por isso que vem o nome "Igreja nas Casas." Mas, interessantemente, é isto que vemos no livro de Atos dos Apóstolos. Na maior parte das vilas, as igrejas são pobres e estão nas casas.

Mesmo se uma igreja tiver muitos membros, e conseguir levantar recursos para construir um templo, eles geralmente não procuram embelezar o ambiente ou tornar confortável seu interior com bancos e galerias decoradas... ou ter boa música para adorar. É assim porque a mentalidade das pessoas está satisfeita com o estilo tradicional de louvor. Eu também frequento uma Igreja no lar, mas nós temos um órgão elétrico para acompanhar o louvor.

Assim, quando uma visita não cristã chega na igreja ela não encontra um lugar confortável para se assentar, pois os crentes se assenta no assoalho, ouve hinos cantados sem música, escuta sermões muito demorados... isto faz da igreja um lugar pouco atrativo para os não crentes.

Um outro aspecto: usar jóias é considerado pecado pelos pentecostais daqui. Geralmente, em nosso país se dá muita importância a joalheria, especialmente as mulheres. Você pode ver que uma noiva estará adornada com muitos ornamentos em seu casamento. Os pioneiros pentecostais de nossas igrejas tiveram o cuidado de ensinar um estilo de vida simples. Eles decidiram pelo não uso de roupas caras, construção de grandes casas, e não querem o uso de jóias. Mas a medida que o tempo passa o não uso de jóias se torna um código normal de conduta na igreja. O povo passa a considerar isto como uma doutrina. Então, quando as pessoas não crentes vêm a igreja, elas são olhadas pelos crentes que não usam jóias e se sentem deslocadas. Costumeiramente, apenas as viúvas não usam jóias em nossa terra. Algumas igrejas não permitiram receber o batismo nem participar da ceia do Senhor se a pessoa usasse ornamentos, porque eles ficam temerosos de ir contra a tradição. Então, isto é um aborrecimento e uma intimidação para recém convertidos. Você encontra isso, porque as pessoas estão seguindo cegamente a tradição.

IV. Resumindo o meu primeiro email, para que você entenda melhor:

1 - O evangelismo aqui é feito por pouquíssimas pessoas/organizações. Os crentes em geral não consideram que eles foram chamados para evangelizar. Mas não era assim antigamente.

2. As Igrejas não são um lugar amistoso/alegre para os recém-chegados, como eu já expliquei acima.

3. Missões não estão acontecendo nas áreas ainda não alcançadas porque mesmo as organizações missionárias receiam ataques de não cristãos, pela falta de recursos financeiros, falta de bom relacionamento com pessoas de outros credos e pela inabilidade de convivência com povos em seu contexto cultural.

4 - O método de evangelismo pessoal tem sido bem sucedido. As pessoas trazem seus amigos mais íntimos ou parentes para Cristo, depois de insistentemente ministrar-lhes a um nível pessoal. Isto é o que chamamos evangelismo de amizade ou evangelismo nas casas. Evangelismo em massa, como uma convenção apenas ajudará ao criar um clima nas mentes das pessoas, que depois poderia ser feito um acompanhamento daqueles que mostram interesse em conhecer mais de Jesus.

5 - Igrejas baseadas em células: uma grande igreja pode querer pequenos grupos chamados de igrejas as quais podem ser suas reuniões de oração e esforços evangelísticos. Isto se torna muito eficaz.

6 - Muitas igrejas que são boas em evangelização não conseguem ser tão boas no ensino da Palavra. Assim, o discipulado não é bem feito, o que resulta em um grupo de crentes mal fundamentados na fé.

7 - Há igrejas que muita visão de engajamento em evangelismo transcultural, mas não tem recursos financeiros. Enquanto outras têm dinheiro de sobra mas falta o desejo de sair para evangelizar.

8 - Um movimento de rápido de crescimento em Uttar Pradesh (o mais populoso e também o mais pobre estado da Índia) é protagonizado por uma igreja que opera com bem estar social. As pessoas evangelizam seus membros familiares. Ninguém de fora é envolvido. Os convertidos não atiram fora as práticas tradicionais que não vão de encontro à Palavra. Eles não praticam adoração de ídolos, mas seus casamentos, festivais, etc, ainda são celebrados em seus próprios costumes culturais. Daí, o seu rápido crescimento nos últimos 15 anos.

9 - Evangelizar com literatura é muito necessário agora. Também, tendo hinos, livros, material de treinamento, filmes em língua nativa.



10 - Como você pode ajudar a obra missionária na Índia.
Ao ver o zelo e o fardo que você tem em mente sobre o evangelho, tem grandemente nos encorajado, amado irmão. Que o Senhor possa abençoá-lo grandemente.

11 - Eu posso ajudá-lo a conectar com missionários que realmente necessitam, por fazer missões em lugares muito difíceis. Eu tenho contatos com organizações missionárias que encontra muitas dificuldades em operar devido a falta de recursos. Por estes tempos, muitos hospitais dirigidos por missões estão fechando as portas ou se transformando em hospitais particulares, devido a falta de médicos cristãos comprometidos que estejam prontos para servir com baixos salários.

11 - Ocasionalmente eu ajuda financeiramente um hospital missionário tribal, que ministra para um tribo chamada Attapadi - Tribal Mission in India . Há também outra organização missionária chamada Missão Evangélica Indiana que está batalhando para pagar seus missionários. Eu tenho um amigo chamado Luke Titus que está trabalhando em missões em um lugar chamado Lahaul & Spiti localizado na cordilheira do Himalaia, um difícil trabalho de missões transculturais da minha terra junto a Himachal Pradesh.

12 - Outra organização missionária é a Jesus mission in India.org. Saju Mathew da Missão Jesus, também é outro líder missionário que eu admiro. Ele tem campo de missões em Orissa onde as perseguições aconteceram. Também, Deus está usando-o em Moçambique, na África. Existem outros pobres missionários pioneiros que eu contato através de líderes missionários acreditados. Há Organizações missionárias com trabalho de assistência social acreditadas, através das quais elas podem receber dinheiro.

13 - Se você me disser como deseja contribuir se de uma vez só, ou continuadamente, eu posso lhe dizer qual é a melhor forma para enviar os recursos. Também, você poderia transferir os fundos para as organizações missionárias ou diretamente para os missionários.

14 - Meu email ficou bastante longo. Eu espero que tenha explicado claramente suas dúvidas. Por favor me diga de você precisa de mais informações. Eu estou certo disso, que aquele que iniciou um boa obra em ti, a aperfeiçoará até o dia da vinda de Cristo Jesus.(Filipenses 1:6)"


cruzue@gmail.com



segunda-feira, abril 11, 2011

Mãos de Marta e coração de Maria

.

Mary
Maria, Marta e Jesus.

João Cruzué

Ontem quando
desci à sala para orar, eu pedi ao Senhor que falasse comigo. Ao abrir a Bíblia antes da oração, pude perceber que como Deus falou. E como sempre costuma de fazer: vim para compartilhar com você. Pela primeira vez percebi um há um forte elo entre os fatos passados na casa de Marta e Maria e a parábola do bom samaritano.

-Senhor fala comigo pela sua Palavra, eu pedi. Sabe, há dias em que temos mais necessidade de orar que outros, e esta semana tem sido bem difícil, pois vários são os motivos para bater, para buscar e pedir recurso onde se pode achar.

Meu antigo companheiro, auxiliar dos meus tempos de "pastor" está fazendo quimioterapia. A esposa de outro amigo de muitos anos, também colega de ministério, jaz em um leito de UTI, há três meses. Seu cérebro foi muitíssimo danificado com três paradas cardíacas.

Isso ainda não é tudo.

Um antigo Pastor, dos meus tempos de jovem, está há mais de 12 anos em uma cadeira de rodas, deprimido. Não mais lê, deixou a fisioterapia, disse-me que apenas fecha os olhos e ora constantemente. Depois de ter sofrido um derrame, teima que só voltará à Igreja depois de curado e de uma forma maravilhosa. E já se passaram mais de 12 anos. Como pode notar, eu não conseguiria mesmo estar com a minha alma tranqüila diante dessas coisas tristes.


Ao abrir a Bíblia pude ler a página inteira do final do capítulo 10 de Lucas. Primeiro o texto de Marta e Maria, continuando na parábola do bom samaritano. São palavras muito conhecidas, mas que ontem se fizeram novas para mim.

A preocupação de Marta era com o serviço: andava para lá, andava para cá. Imagino: aranjando lenha, assoprando as brasas para o fogo, limpando panelas, assando pão, talvez cozinhando alguma ave ou mesmo temperando um pequeno cordeiro. O tempo passava depressa, o dia ou noite estava chegando, e nada da ajuda de Maria.

Maria se esquecera completamente do serviço. Assentada aos pés de Jesus, (não havia nem cadeiras nem mesas altas naquele tempo e naquela cultura) ouvia com o coração ardendo as palavras do Mestre. O tempo passava e ela não se cansava, como de vez em quando ainda acontece em nossos dias, quando a presença do Senhor se faz muito forte em algum culto.

Marta estava preocupada em servir, e Maria se esquecera de tudo porque ouvia, e ouvia, e queria ouvir mais aquelas palavras que alcalmavam seu coração. Maria não desejava sair da presença de Jesus.

Marta, receosa de não dar conta do trabalho, deu ordens ao Mestre: "Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude".


Comunicação é uma coisa boa; precisamos mesmo nos comunicar. Mas comunhão é algo muito mais profundo que comunicação. Qualquer um pode se comunicar, dizer um bom dia, boa tarde, falar sobre tempo. Alguns podem até orar em grupos por uma hora, duas ou quem sabe até uma vigília inteira. Mas nem todos assuntos falados significam comunhão; isto é mais que sabido.

Por exemplo: Tenho duas filhas. Uma já se casou e a mais nova está namorando. Imagine que eu me assente à sala e passe a tarde inteira junto aos dois "segurando vela". Eles podem conversar assuntos os mais variados - mas nenhum deles vai ter a coragem necessária, por exemplo, para dizer para o outro "eu te amo".


Ano de 2011, século XXI - cá estamos nós. Preocupados e sem tempo, como diligentes e afadigadas Martas, quem sabe até dando ordens ao Senhor. É um corre-corre, um sobe-e-desce, um ensaia-ensaia, um prega-prega, um canta-canta, um ensina-ensina... Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e chega o outro domingo. Estamos servindo? Sim! Estamos trabalhando? Sim! Estamos nos afadigando? Muito! Mas, por que estamos vazios e colhendo tão pouco?

Não temos mais tempo para estar em comunhão com o Senhor. Não somos mais como um noivo/a apaixonado/a. Ele quer nos ouvir e também falar conosco, mas não temos mais tempo para isso. Estamos nos enganando ao pensar que se trabalharmos dez vezes mais seremos muito mais avivados. E, a Igreja, o órgão ou departamento que cuidamos, vai decuplicar de tamanho. Assim começamos correr e fazer besteiras, pois não temos mais tempo para ficar na presença do Senhor até que nosso coração fique em paz e nos orientemos sem erro debaixo de suas asas.

A consequência disso pode ser entendida na mesma página da minha Bíblia. "Descia um homem de Jerusalém para Jericó. E caiu nas mãos de salteadores, que o despojaram, espancaram, deixando-o quase morto.

E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um sacerdote que, o vendo, passou ao largo. Eis que de igual modo, passou um levita, que o viu, mas também passou ao largo.


Quem são sacerdote e Levita? Decerto que representam os que conhecem e ensinam palavra de Deus. Apressados, estressados com a fadiga do serviço do altar, não conseguem mais ouvir a voz do Senhor por falta de tempo para estar em comunhão com Deus.. Eles são como as mãos de Marta. Muito serviço, muita fadiga, e pouca compaixão.

"Mas um samaritano, que ia de viagem, se aproximou do ferido e vendo-o moveu-se de íntima compaixão". Talvez por ter sofrido no passado um ataque semelhante, aproximou-se, atou as feridas do caído, aplicando-lhes azeite e vinho. E pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e recomendando-lhe: Cuida bem dele, e tudo o que mais gastares, eu to pagarei quando voltar".

Aqui temos um resultado diferente, pois atuaram em conjunto as "mãos" de Marta e o "coração" de Maria.


Três personagens viram a mesma cena, mas suas atitudes foram inesperadas. Os dois primeiros julgaram que sua religião ou seus afazeres religiosos eram mais importantes, tinham prioridade sobre um estranho caído no chão. O primeiro era um ministro a serviço do altar e segundo seu discípulo. Seus olhos não mais se comunicavam com o coração. Em algum lugar de suas vida eles perderam a compaixão e tornaram-se insensíveis à voz do Espírito Santo. Do samaritano poderia se esperar tudo, menos compaixão, afinal ele não era teólogo, nem escriba, nem umdoutor da Lei.

E foi assim que entendi, antes de começar minha oração, que não importa quão engajados estejamos. Não importa quão grandiosos projetos estejamos planejando, diante dos olhos alheios ou dos nossos próprio. Há uma grande multidão muda, surda, em grande miséria ao nosso redor. Se dermos prioridade às coisas que nos interessam e relegarmos ao secundário os momentos que precisamos passar a sós com Deus, até ouvir Sua voz, ficaremos irremediavelmente secos de compaixão.

A prioridade correta fará inverter a cultura da pressa e teremos um "Coração de Maria controlando as mãos de Marta". A comunhão com Deus precede o serviço.