sábado, maio 09, 2009

Homenagem a Dona Glória no Dia das Mães

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João Cruzué

Eu me lembro de minha mãe, desde meus três quatro anos de idade. Ela era uma ex-professora alegre e se existe uma palavra que a definia bem era: trabalho. Moça da cidade, casou-se com meu pai que era do campo. Estranho para os anos 50, ela nunca apreciou ficar na cozinha, preferia a companhia de meu pai no trabalho com a enxada nas roças de milho, feijão, café.. Minha mãe tem um nome que todo crente pentecostal gosta de falar: ela se chama Glória! Foi ela quem ensinou-me a orar.

Como lembrança de solteira, quando era professora, enviou-me à escola já alfabetizado. Direto no segundo ano, aos sete anos de idade. Todas as lições eram devidamente fiscalizadas, e na época os "pontos" - textos enormes de História, Geografia ou Ciência, eram devidamente decorados, requeridos até as vírgulas. Eram os anos 60 - tempo do "decoreba", do ajoelhar no grão de milho, e do grande respeito (para não dizer medo) que os alunos tinham pelas professoras. Mãe tinha uma exigência comigo: exigia o primeiro lugar da classe a mesma posição que ela conseguia nos anos 40.

Era tempo de pouco dinheiro e de poucos brinquedos. Eu tinha uma bola de borracha pequena, vermelha, que depois de muitos anos furou. Eu a guardava no sótão de esteira de taquara. Anos mais tarde a fartura bateu à sua porta. Mas antes disso a vida era bem dura. Lembro-me de um caminhãozinho de plástico amarelo, que eu quase chorei sobre ele, mas não adiantou. Hoje, carrinhos de plásticos são abandonados em qualquer rua, mas no princípio dos anos 60 eram coisas de ricos.

Mãe tomou uma dura decisão, que produziu muitas feridas em sua alma. Ela não queria que eu vivesse do campo, na agricultura. Aos 18 anos, a contragosto apoiou minha vinda para estudos e trabalho em São Paulo. Quando amarelei e voltei para casa com saudade do campo, ela não não concordou. Foi dura, e decidiu que eu deveria retornar à grande Cidade. Ela estava certa. O campo neste país, principalmente a pequena agricultura, não tem futuro.

Um episódio em especial marcou profundamente nosso relacionamento. Depois de um ano em São Paulo, aceitei Jesus. Ela viajou do sítio até a Capital para me fazer desistir da idéia. Com minha firme negativa, voltou muito triste. Não arredei o pé. Doze anos depois foi a vez dela, quando uviu claramente o chamado do Senhor e foi congregar na Igreja Presbiteriana de minha terra. Foi e levou meu pai a seguir o mesmo caminho. Na Igreja presbiteriana ficou em dúvida com seu batismo em pouca água. Como eu já era um Presbítero da Assembléia de Deus, pediu-me que a batizasse em águas, por imersão.

Também tive meus espinhos. No ano de 2.000 eu já ia para o sexto ano pastoreando uma congregação no Parque Santo Antônio em São Paulo. Mãe Glória, viúva há três anos, começou a ter alguns problemas aparentemente pequenos. Mas quando dobrava meus joelhos, Deus mantinha o foco da minha mente em Dona Glória. Eu não consegui orar. Eu sabia que era a foz de Deus. Então tomei uma atitude, que tempos mais tarde me fez desgarrar um pouco do ministério. Conversei com meu Pastor Setorial, Irmão Luiz Branco, português, homem de Deus. A princípio não gostou, depois entendeu. Ligou certa vez para minha casa e deixou um versículo. Aquele em que Davi perguntava para Deus se devia subir e para que cidade ir. Então fui fazer companhia para minha mãe. Um mês com ela, outro com a família aqui em São Paulo. Durante dois anos foi assim. Perdi o apreço e a consideração dos colegas do Ministério, mas fiquei em paz com minha consciência. Eu não resolvi totalmente o problema, mas dei bom testemunho de cristão. Diz a Bíblia que "Quem não tem cuidado dos seus, negou a fé, e é pior que o infiel".

Hoje eu liguei á tarde para ela, falamos sobre coisa boas e sobre como eu sou desastrado na minha nova mania de preparo de perfumes. Ela também lembrou-se de seus tempos de criança. Contou que tinha seis anos de idade quando teimou usar o cachimbo de uma velha amiga de seus pais. Pedido negado com firmeza, ela conta que insistiu tanto, tanto - até que a contragosto foi atendida. "Isso vai te fazer mal..." Dito e feito! Mãe conta que deu uma cachimbada daquelas! Dois minutos depois o mundo estava girando. O mais perto que foi parar foi debaixo da cama de seus pais com tontura e muitos vômitos. Mãe, com 76 anos, riu muito comigo hoje sobre suas peripécias com esse famigerado cachinbo.

Neste dia das mães, provavelmente ela nunca vai encontrar este texto na WEB, pois não sabe o que é isso. Mas, com muita alegria posso dizer tenho boa amizade com ela. Compartilhamos muitas coisas boas, principalmente as lembranças dela de criança. Ela mora com minha irmã. É franca, sempre acorda cedo, ainda trabalha, não gosta de companhia em sua casa - diz que é o preço de sua liberdade. Aprendeu tocar teclado depois que aceitou Jesus e sempre foi afinada e tem boa voz. Nos tempos de sua juventude, quando era católica, cantava missas em latim no coro da Igreja. Hoje é evangelista por excelência. Ninguém fica perto dela sem ouvir a palavra de Deus.

Eu tenho orado ao Senhor que me permita passar ainda muitos dias com ela. Neste Dia das Mães de maio de 2009, ainda tenho a felicidade de conversar com meu tesouro, que é a Dona Glória. Nesta homenagem que faço para ela, também homenageio a mãe de todo leitor ou leitora do Blog Olhar Cristão.


cruzue@gmail.com


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sexta-feira, maio 08, 2009

Formas bíblicas de silêncio

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João Cruzué
No livro de Eclesiastes está escrito que tudo tem seu tempo determinado e que há tempo para todo propósito debaixo do céu. Inclusive o tempo de falar e tempo de ficar calado. Também há outras formas de silêncio na Bíblia que merecem uma boa análise. Então vamos ver isso de mais perto.
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No Salmo 115:17 está escrito que os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio. Esta semana foi particularmente dura quanto a esta forma, pois minha cunhada Dalva, a mais alegre, a mais barulhenta, faleceu e está em um lugar de silêncio na cidade de Barra do Turvo/SP


No Evangelho segundo Mateus, no capítulo 26, também está escrito que Jesus guardava silêncio diante do sumo sacerdote judeu no dia do julgamento. O líder religioso perguntava, mas Jesus continuava calado. Talvez admirado da ignorância dele, tão fora de sintonia com Deus. Então o sumo sacerdote perguntou: Conjuro-te perante o Deus vivo que nos diga se tu és o Cristo, o filho de Deus. Então Jesus abandonou o silêncio e produziu a prova oral que o condenou à morte. "Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu." Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: "Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia!" Para um Judeu, Deus é único e não tem filho.

No Centro da Cidade de São Paulo as pessoas também fazem silêncio diante dos grupos de viciados em crack e loucos da Região da Praça da República. É o silêncio da desigualdade e da impotência. Se o próprio viciado não procurar por ajuda, ele não pode ser forçado nem ajudado. O silencio diante de uma liberdade da escolha de autodestruição.

Em Lucas 15, um pai amoroso não disse uma palavra quando o filho mais novo pediu a herança e foi embora de casa. Nada do que o pai dissesse teria valor. Foi o silêncio do amor e da sabedoria. Aquele pai aguardou em silêncio até o dia que avistou o filho retornando para casa. Então começou a falar sem parar: Trazei-me depressa a melhor roupa, ponde-lhe um anel na mão, sandálias nos pés, trazei-me o bezerro cevado e matai-o; comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha se perdido e foi achado!"

Em São João, um grupo de fariseus levaram uma mulher adúltera diante de Jesus. Eles queriam ver sangue. Eles acusavam e Jesus permaneciam em silência. Eles continuaram acusando e Jesus escrevia na areia, sem responder uma palavra. Quando os homens se calaram Jesus disse: "Aquele que estiver sem pecado, atire a primeira pedera." Jesus guardou silêncio diante da hipocrisia. Quando ela se calou, pode ouvir uma crítica certeira. Em silêncio eles foram embora. Um silêncio de vergonha.

Em Apocalipse 8, por quase meia hora se fez silêncio no céu. O silêncio da expectativa.

Existe também o silêncio dos covardes, que no tempo de falar preferem ficar calados. Há ainda o silêncio de um coração contrito cujas palavras e gemidos já se esgotaram em oração. Há o silêncio da dor, da opressão, onde a língua permanece muda, enquanto as lágrimas falam.

Para cada tempo e ocasião existe uma forma de silêncio adequada. Mas eu guardei a melhor para o final. Se você ainda não aceitou Jesus Cristo como Senhor da sua vida, ou está distanciado dele como o filho pródigo, não fique em silêncio diante da oportunidade quando você sentir a voz de Deus falando a sua alma.

cruzue@gmail.com

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