quarta-feira, setembro 10, 2008

Mãos de Marta e coração de Maria

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Maria, Marta e Jesus.
João Cruzué

Ontem, quando
desci à sala para orar, um pensamento veio e eu pedi ao Senhor que falasse comigo. Ao abrir a Bíblia antes da oração, pude perceber que Deus falou. E como sempre gosto de fazer, vim até aqui para compartilhar. Pela primeira vez percebi um há um elo entre os fatos passados na casa de Marta e Maria e a parábola do bom samaritano.

-Senhor fala comigo pela sua Palavra, eu pedi. Há dias em que temos mais necessidades de orar que outros, e esta semana em especial, tem sido bem difícil, pois são vários os motivos para bater, buscar e pedir recurso onde se pode achar.

Meu antigo companheiro, auxiliar dos meus tempos de "pastor" está fazendo quimioterapia. A esposa de outro amigo de muitos anos, também colega de ministério, jaz em um leito de UTI, há três meses. Seu cérebro foi muitíssimo danificado com três paradas cardíacas. Isso ainda não é tudo. Um antigo Pastor, dos meus tempos de jovem, está há mais de 12 anos em uma cadeira de rodas, deprimido. Não mais lê, deixou a fisioterapia, disse-me que apenas fecha os olhos e ora constantemente. Depois de ter sofrido um derrame, teima que só voltará à Igreja depois de curado e de uma forma maravilhosa. E já se passaram mais de 12 anos. Como pode notar, eu não conseguiria mesmo estar com a minha alma tranqüila diante dessas coisas tristes.

Ao abrir a Bíblia pude ler a página inteira do final do capítulo 10 de Lucas. Primeiro o texto de Marta e Maria, continuando na parábola do bom samaritano. São palavras muito conhecidas, mas que ontem fizeram-se novas para mim.

A preocupação de Marta era o serviço: anda para lá, anda para cá; imagino: aranjando lenha, assoprando brasas do fogo, limpando as panelas, assando um pão, talvez depenando alguma ave, ou mesmo temperando um pequeno cordeiro. O tempo passava depressa, o dia ou noite chegando , e nada da ajuda de Maria.

Maria esquecera-se completamente do serviço. Assentada aos pés de Jesus, (não havia nem cadeiras nem mesas altas naquele tempo e naquela cultura) ouvia com o coração ardendo o falar do Mestre. O tempo passava e ela não se cansava, como vez em quando ainda acontece em nossos dias, quando a presença do Senhor se faz muito forte em algum culto.

Marta estava preocupada em servir, e Maria esquecera-se de tudo porque ouvia, e ouvia, e queria mais ouvir as palavras do Senhor. Marta receosa de não dar conta do trabalho deu ordens ao Mestre: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.

Comunicação é uma coisa boa; precisamos mesmo nos comunicar. Mas comunhão é algo muito mais profundo. Qualquer um pode comunicar-se, dizer bom dia, boa tarde, reportar o tempo; alguns podem orar acompanhados por uma hora, duas ou quem sabe até uma vigília inteira. Mas nem todos assuntos falados significam comunhão; isto é mais que sabido. Por exemplo: tenho duas filhas. Uma já se casou e a mais nova já tem namorado. Imagine que eu me assente à sala e passe a tarde inteira junto aos dois "segurando vela", como se diz em nossa cultura. Eles podem conversar assuntos os mais variados - mas nenhum deles vai ter a coragem necessária, por exemplo, para dizer "eu te amo".

Ano de 2008, século XXI - aqui estamos nós. Afadigados, preocupados, sem tempo, como diligentes Martas, quem sabe até dando ordens ao Senhor. É um corre-corre, um subindo-e-descendo, um ensaia-ensaia, um prega-prega, um canta-canta, um ensina-ensina... Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e chega o outro domingo. Estamos servindo? Sim! Estamos trabalhando? Sim! Estamos nos afadigando? Muito! Mas, por que estamos vazios e colhendo tão pouco?

Não temos mais tempo para comunhão com o Senhor. Não somos mais como um noivo/a apaixonado/a. Ele quer nos ouvir e também falar conosco, mas não temos mais tempo para isso. Estamos nos enganando ao pensar que se trabalharmos dez vezes mais seremos muito mais eficientes e a Igreja, o órgão ou departamento que cuidamos vai decuplicar de tamanho. Aí começamos a fazer besteiras, pois não conseguimos mais orientações com Deus.

A conseqüência disso pode ser entendida na mesma página da minha Bíblia. "Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que o despojaram, espancaram-no, deixando-o quase morto. E ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um sacerdote, que vendo-o, passou ao largo. Eis que de igual modo, também passava um levita, que também o viu e passou ao largo.

Quem são o sacerdote e o Levita? Decerto que representam os que conhecem e ensinam palavra de Deus. Apressados, estressados com a fadiga do serviço do altar, não conseguem mais ouvir a voz do Senhor por falta de comunhão. Eles são como as mãos de Marta.

"Mas um samaritano que ia de viagem aproximou-se do ferido e vendo-o moveu-se de íntima compaixão". Talvez por ter sofrido no passado um ataque semelhante. "E aproximando-se, atou-lhe as feridas aplicando-lhes azeite e vinho. E pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e recomendou-lhe: Cuida dele, e tudo o que mais gastares, eu to pagarei quando voltar". Aqui o temos um resultado diferente, pois atuaram em conjunto as "mãos" de Marta e o "coração" de Maria.

Os três personagens viram a mesma cena, mas suas atitudes foram inesperadas. Os dois primeiros julgaram que sua religião ou seus afazeres eram mais importante e tinham prioridade sobre um estranho caído no chão. O primeiro era um ministro a serviço do altar e segundo seu discípulo. Seus olhos não mais se comunicavam com o coração. Em algum lugar de suas vida eles perderam a compaixão e tornaram-se insensíveis à voz do Espírito que fala. Do samaritano poderia se esperar tudo, menos compaixão.

E foi assim que entendi antes de começar minha oração, que não importa quão engajados nós estejamos em grandiosos projetos aos olhos alheios ou dos nossos próprios, há uma grande multidão muda, surda e em grande miséria ao nosso redor. Se dermos prioridade as coisas que nos interessam e relegarmos ao secundário os momentos que precisamos passar a sós com Deus, necessários para ouvir a Sua voz e fazer a sua vontade, ficaremos irremediavelmente secos de compaixão.

Por isso, vamos colocar o título da mensagem na ordem correta: "Coração de Maria e mãos de Marta". Primeiro a comunhão e depois o serviço.


João Cruzué
http://olharcristao.blogspot.com
cruzue@gmail.com

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Nietzsche e o livre arbítrio

Friedrich Wilhelm Nietzsche
(1844 - 1900)

"A doutrina da vontade foi inventada principalmente para
punir, isto é, com a intenção de encontrar um culpado...
Hoje que entramos nesta corrente contrária e nós os
imoralistas, trabalhamos com todas nossas forças
para conseguir que desapareça mais uma vez do
mundo a idéia da culpabilidade e de punição
"
Nietzsche
João Cruzué


Nietzsch disse em "Crepúsculos dos Deuses" que os teólogos inventaram a idéia do livre-arbítrio para tornar a sociedade responsável por seus próprios atos ou como ele diz: "Dependente dos teólogos..." Então para restabelecer a inocência do devir a idéia de Deus deve ser negada, e não existindo Deus, não existe responsabilidade, e concluindo assim, diz ele: "Salvamos o mundo."


É muito interessante saber que Nietzsche morreu louco. E mais interessante ainda é saber que ele é o filósofo mais lido da atualidade. É a Bíblia que diz no Salmo 49 v.13: "O caminho deles é a sua loucura; contudo a sua posteridade aprova as suas palavras."


Foi Drummond quem certa vez conjecturou mais ou menos isso: "E se o céu for de verdade, e a vida um vestibular?" 

Com formação em Teologia e Filosofia na Universidade de Bonn, Friedrich Wilhelm Nietzsche em desespero tentava negar a causa para que, como em passe de mágica, não existisse as conseqüências. Entre a idéia de que Deus existe de fato e outra idéia de que Ele não existe, ainda assim entre as duas existe uma área de dúvida. Não vemos o vento, mas ele existe; não vemos o amor, mas ele existe; não podemos pegar a luz, mas ela existe, não temos mais a companhia dos entes queridos mortos, mas eles estiveram conosco.


É preciso muito mais "fé" para um ateu crer que tudo veio de uma ameba, do que crer que Deus criou todas as coisas. Michael Behe em seu livro "A caixa preta de Darwin" escreveu: "acreditar que o Homem com toda a complexidade dos sistemas de seu corpo é apenas o produto de mutações genéticas a partir de uma ameba, é o mesmo que acreditar que uma tábua de madeira, uma mola e um gatilho de arame, evoluíram e se juntaram sozinhos até formar uma ratoeira."


"Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado" O que é o bem? O bem é algo que todos querem para si. E deixar de fazer o bem? Isto já inerente àquele que tem condições de fazê-lo, pode fazê-lo, mas não o faz ou por indolência ou por vingança ou por maldade. Fazer ou deixar de fazer - livre-arbítrio. Venha (sempre) a nós, e ao vosso reino, talvez ou nunca. Como na Aritmética juntando dois com dois dá quatro, o semear do homem deve produzir uma colheita.


Se a idéia de Deus e do pecado fosse apagada de entre os homens, julga Nietzche que a humanidade voltaria à inocência. Matando, praticando a pedofilia, o incesto, qualquer coisa sem limites, sem culpa e sem punição - inocentemente. Uma sociedade com características assim teria curta duração, aniquilaria a si mesma sem nenhum constrangimento. Pelo menos Deus tem uma promessa de vida eterna para quem os que aceitam uma reconciliação através do caminho que é Jesus Cristo. Que futuro e promessa têm os que não crêem? A resposta é: nenhum! É o Apóstolo Paulo quem escreveu no Livro de Romanos: "Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus", mas logo a seguir: "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito." Deus é o criador, o designer, a Lei Moral não foi dada com o objetivo de punir e matar, mas para preservar a humanidade do próprio auto-aniquilamento. Um carro de fórmula um sem os freios.


O Deus que conheci não é um carrasco. Tem sido para mim um pai amoroso, aberto ao diálogo, disposto a ser provocado para se deixar achar. Aceitar um monte de baboseiras como verdades absolutas com base em idiossincrasias alheias é aceitar que a chama do fogo é fria. Foi o Profeta Jeremias quem escreveu esta frase cuja autoria é de Deus "Clama a mim, e responder-te-ei; anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes."


Para alguém provar que Deus existe, primeiro teria que orar. Dialogar com Deus. Não com instinto zombador, pois onde não há o mínimo de sinceridade também não haverá respostas. O Deus que conheço aceita o diálogo. Se alguém, por pior que seja, trancar a porta de seu quarto, e ali sozinho conversar com Deus,  expor suas dúvidas e pedir uma prova de sua existência, pela experiência que tenho não vai ficar decepcionado.


Deus é amor. Por que Nietzsche enxergava nele um carrasco? Uma decepção amorosa? Conflitos familiares? Uma vida manipulada pela mãe? Um amor incestuoso para com a irmã? É que ponto da sua vida o teólogo passou a hostilizar os teólogos? A partir do momento que encontrou a "verdade" e se libertou da idéia de Deus? Ou a semelhança de tantos teólogos modernos foi entristecendo e apagando o Espírito de Deus em sua vida ao ponto de dar lugar a um espírito maligno?


Eu creio que a loucura que levou Nietzsche à morte tinha uma natureza maligna. Se ele se torno o filósofo mais lido atualmente, nisso não há nenhuma surpresa: a humanidade também está caminhando para a loucura. Uma multidão de néscios, todo dia, estão por aí dizendo :"Deus não existe", o pecado é uma invenção barata para nos culpar e punir. Queremos de volta nossa inocência. Enquanto isso matam, roubam, bebem, praticam a pedofilia, matam os próprios bebês, matam os próprios pais. O que é isso? Pergunta a sociedade. Eu vou responder: deve ser a "inocência"...


Temos a capacidade, sim, de decidir a partir de escolhas pessoais. "O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom" Jó 34:4.


João Cruzué
SP 10.09.2008
cruzue@gmail.com


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