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João Cruzué
Estive conversando com um irmão pentecostal indiano esta semana e ouvi algumas coisas interessantes sobre os pentecostais daquele país. Ele se admirou com a semelhança de costumes quando eu falei dos padrões de conduta e costumes dos pentecostais brasileiros dos anos 60's e 70's. E ele me disse que na Índia esses padrões, que ele chamou de ascetismo, iam um pouco mais além. Então eu comecei a analisar o quanto mudou os padrões evangélicos no Brasil, principalmente o pentecostal nestes últimos 40 anos. E as mudanças foram principalmente fisiológicas e doutrinárias.
Há pentecostais na índia que se propuseram a radicalizar sobre usos e costumes. Rejeitam o uso de qualquer calçado, andando com os pés no chão. Nas reuniões não usam esteiras, bancos ou cadeiras como assento. Simplesmente assentam-se no chão. Coisas desse gênero.
No Brasil, soube de tempos que o uso do chapéu (e da bengala) eram obrigatórios. Alcancei o tempo da aversão aos paletós com abertura (rachados) atrás. Da exclusão pela compra e uso de um televisor (e rádio) em casa. Quantas jovens, eu presenciei, foram disciplinadas por ter aparado as pontas do cabelo, etc, etc, etc.
Sabemos que esse tipo de ascetimo, embora muito louvado, não faz da pessoa um cristão, embora um cristão de verdade possa se submeter a esses padrões por obediência à palavra de Deus. Mas não quero focar o texto em padrões de usos e costumes, embora os bons costumes devam ser encorajados. Desejo convidá-lo a pensar sobre a grande mudança que está acontecendo com a igreja evangélica brasileira, notadamente a pentecostal, quanto ao abandono dos princípios cristãos.
Gostaria de comentar o que está acontecendo com o princípio do temor de Deus. Fiquei muito admirado ao ver pastores de grande liderança pentecostal, já em idade avançada, trocar ou estão buscando a troca do púlpito pela tribuna de uma casa legislativa qualquer. A profanação e a relativização do sagrado pelo desejo de exercer o poder no mundo. E a perda desse temor está justamente em: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele."
Minha mãe certa vez foi limpar um guarda-roupa. Ela encontrou alguns velhos cobertores e decidiu estendê-los no varal; ficou muito desapontada, quando percebeu que um "ninho" de cupins havia se instalado neles. Pela frente, não havia nem um sinal de cupins; olhando pelos lados, os cobertores estavam perfeitos, mas quando foram erguidos do lugar, o estrago estava por trás.
O povo evangélico de nosso país está surpreso. Decepcionado. Entre ele, me encontro. Decepcionado com a perda de muitos referenciais evangélicos, que se têm mostrado muito mais apaixonados e interessados pela política do que permanecer como paradigmas das gerações mais jovens. O que minhas filhas vão dizer quando aquele pastor presidente de um grande ministério da Assembléia de Deus trocou a palavra pelo discurso, o púlpito pela tribuna, o nome de "Irmão" pelo de "Excelência", sob o pretexto de "defender" os princípios cristãos contra o laicismo e os homossexuais? E o que dizer da enxurrada de "pastores", "bispos" e "apóstolos" que seguiram esse tipo de mau exemplo e estão correndo em desvario atrás de um cargo público que lhes dê mais ostentação?
Para onde estão indo os referenciais de nossa Igreja? E para onde vai a vida espiritual de nossos filhos e netos que já descobriram que eles são obreiros fraudulentos? Hipócritas que não guardaram o testemunho daquilo que pregaram e exigiram dos membros das igrejas, e até excluíram muitas famílias em nome de uma "santidade" que estão pisando agora?
E o que farão agora centenas e milhares de obreiros que sempre honraram e obedeceram estes referenciais que agora se mostram corrompidos de juízo e secos de amor ao Senhor? Vão continuar tranquilos e sustentando o insustentável?
Caro leitor, vou dizer apenas mais uma "coisinha" antes de parar por aqui. Meu irmão indiano me disse que uma das razões (postagem anterior) pela qual sua mãe decidiu ser uma cristã pentecostal, foi a atitude de uma irmã bem simples, que decidiu passar a noite em claro, com ela, no quarto de um hospital, assistindo um marido morrendo de câncer. Solidariedade.
Amor cristão. Quero perguntar e desejo ouvir uma resposta sincera: você tem visto solidariedade nos referenciais de sua Igreja? E uma pergunta ainda mais desconcertante: Valeria a pena ser solidário a alguém com o propósito de atraí-lo a congregar numa igreja dessas? O que essa pessoa iria aprender em uma Igreja onde os valores cristãos de seus referenciais já foram "bichados" por "cupins" e em seus corações a glória desse mundo é muito mais desejada?
Jesus, se eu estiver vendo as coisas de forma errada, o Senhor me perdoa, pois eu não consigo ver de forma diferente. Para mim, o lugar de um pastor presidente é à frente do Ministério. O Lugar de um Bispo, é à frente de uma Igreja. Brasília, pode ser o lugar de muitos crentes. Não de um Bispo ou de um presidente de um campo. A menos que ele não queira mais o cajado.
Os meus antigos referenciais não mais me servem de referência. Eles trocaram seus ministérios de pastores e bispos por cargos de deputados e senadores. Eles foram tentados e caíram, onde Jesus não caiu. E a cada ano eleitoral, estão fazendo mais "discípulos"
Graças a Deus que isto não me surpreende, pois já venho me decepcionando há muitos anos. Mas onde estão os referenciais da Igreja para meus filhos e neto? Se eles me perguntarem, vou dizer que estão de mudança para Brasília!
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