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sexta-feira, março 08, 2019

Mãos de Marta e Coração de Maria

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Maria, Marta e Jesus.
João Cruzué

No dia que escrevei este post, 
desci à sala para orar, e um pensamento veio, para pedir ao Senhor que falasse comigo. Ao abrir a Bíblia, antes da oração, que Deus falou. E como gosto de fazer, vim até aqui para compartilhar. sobe o elo que existe entre os fatos passados na casa de Marta e Maria e a parábola do "bom samaritano".

-Senhor fala comigo pela sua Palavra, eu pedi. Há dias em que temos mais necessidades de orar que outros, e esta semana em especial, tem sido bem difícil, pois são vários os motivos para bater, buscar e pedir recurso onde se pode achar.

Meu antigo companheiro, auxiliar dos meus tempos de "pastor" estava fazendo quimioterapia. A esposa de outro amigo de muitos anos, também colega de ministério, jazia em um leito de UTI, havia três meses. Seu cérebro foi muitíssimo danificado com três paradas cardíacas. Isso ainda não foi tudo. Um antigo Pastor, dos meus tempos de jovem, estava há mais de 12 anos em uma cadeira de rodas, deprimido. Não mais lê, deixou a fisioterapia, disse-me que apenas fecha os olhos e ora constantemente. Depois de ter sofrido um derrame, teima que só voltará à Igreja depois de curado e de uma forma maravilhosa, mas já se passaram mais de 12 anos.... Como você pode perceber,  minha alma não estava tranquila diante dessas coisas tristes.

Ao abrir a Bíblia no final do capítulo 10 de Lucas veio o texto de Marta e Maria, continuando na parábola do bom samaritano. São palavras muito conhecidas, mas que naquele dia se fizeram novas para mim.

A preocupação de Marta era o serviço. Andava para lá, andava para cá. Imagino, arranjando lenha, assoprando brasas do fogo, limpando as panelas, assando um pão, talvez depenando alguma ave ou mesmo temperando um pequeno cordeiro. O tempo passava depressa a  noite estava se aproximando , e nada da ajuda de Maria.

Maria se esquecera completamente do serviço. Assentada aos pés de Jesus, (não havia nem cadeiras nem mesas altas naquele tempo e naquela cultura) ouvia com o coração ardendo o falar do Mestre. O tempo passava e ela não se cansava, como de vez em quando ainda acontece em nossos dias, quando a presença do Senhor se faz muito forte em algum culto.

Marta estava preocupada em servir, e Maria esquecera-se de tudo para  ouvir;  ouvia e queria mais ouvir as palavras do Senhor. Marta receosa de não dar conta do trabalho sugeriu ao Mestre: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.

A comunicação é uma coisa boa; precisamos mesmo nos comunicar. Mas comunhão é algo muito mais profundo. Qualquer um pode comunicar-se, dizer bom dia, boa tarde, reportar o tempo; alguns podem orar acompanhados por uma hora, duas ou quem sabe até uma vigília inteira. Mas nem todos assuntos falados significam comunhão; isto é mais que sabido. Por exemplo: tenho duas filhas. Uma já se casou e a mais nova já tem namorado. Imagine que eu me assente à sala e passe a tarde inteira junto aos dois "segurando vela", como se diz em nossa cultura. Eles podem conversar assuntos os mais variados - mas nenhum deles vai ter a coragem necessária, por exemplo, para dizer "eu te amo".

Ano de 2019, século XXI - aqui estamos nós. Afadigados, preocupados, sem tempo... Como diligentes Martas, quem sabe até dando ordens ao Senhor. É um corre-corre, um sobe-e-desce, um ensaia-ensaia, um prega-prega, um canta-canta, um ensina-ensina   domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e chega o outro domingo. Estamos servindo? Sim! Estamos trabalhando? Muito! Estamos nos afadigando? Sim! Mas, por que estamos vazios e colhendo tão pouco?

Não temos mais tempo para comunhão com o Senhor. 

Não mais somos como um noivo/a apaixonado/a. Ele quer nos ouvir e também falar conosco, mas não temos mais tempo para isso. Estamos nos enganando ao pensar que se trabalharmos dez vezes mais seremos 10 vezes mais eficientes na Igreja, planejando que órgão ou departamento que cuidamos vá decuplicar de tamanho. Aí começa vir a besteiras, pois não conseguimos mais orientações com Deus.

A conseqüência disso pode ser entendida na mesma página da minha Bíblia. "Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que o despojaram, espancaram-no, deixando-o quase morto. E ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um sacerdote, que vendo-o, passou ao largo. Eis que de igual modo, também passava um levita, que também o viu e passou ao largo.

Quem são o sacerdote e o Levita? Decerto que representam os que conhecem e ensinam palavra de Deus. Apressados, estressados com a fadiga do serviço do altar, não conseguem mais ouvir a voz do Senhor por falta de comunhão. Eles são como as mãos de Marta.

"Mas um samaritano que ia de viagem aproximou-se do ferido e vendo-o moveu-se de íntima compaixão". Talvez por ter sofrido no passado um ataque semelhante. "E aproximando-se, atou-lhe as feridas aplicando-lhes azeite e vinho. E pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e recomendou-lhe: Cuida dele, e tudo o que mais gastares, eu to pagarei quando voltar". Aqui o temos um resultado diferente, pois atuaram em conjunto as "mãos" de Marta e o "coração" de Maria.

Os três personagens viram a mesma cena, mas suas atitudes foram inesperadas. Os dois primeiros julgaram que sua religião ou seus afazeres eram mais importante e tinham prioridade sobre um estranho caído no chão. O primeiro era um ministro a serviço do altar e segundo seu discípulo. Seus olhos não mais se comunicavam com o coração. Em algum lugar de suas vida eles perderam a compaixão e tornaram-se insensíveis à voz do Espírito que fala. Do samaritano poderia se esperar tudo, menos compaixão. 

E foi assim que entendi antes de começar minha oração, que não importa quão engajados nós estejamos em grandiosos projetos aos olhos alheios ou dos nossos próprios, há uma grande multidão muda, surda e em grande miséria ao nosso redor. Se dermos prioridade as coisas que nos interessam e relegarmos ao secundário os momentos que precisamos passar a sós com Deus, necessários para ouvir a Sua voz e fazer a sua vontade, ficaremos irremediavelmente secos de compaixão.

Por isso, vamos colocar o título da mensagem na ordem correta: "Coração de Maria e mãos de Marta". Primeiro a comunhão e depois o serviço.







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