Estação Sé do Metrô
João Cruzué
Esta semana eu comecei bem dodói. Domingo eu não conseguia beber nem um gole d'água, por causa de vômitos intermitentes. Acho que o fígado se estressou. O médico receitou uma canja de arroz, e não me deu remédio. Aí, achei que uma água de coco ia bem. Foi. Mas, a imunidade baixa trouxe uma baita inflamação de garganta. Mesmo assim, eu fui à luta; na segunda, na terça e hoje. Quando a gente pensa que tem grandes problemas, aí você começa a perceber o quanto longe da verdade está.
Na saída do trabalho, hoje, passei na Frutaria do Seu João e da Irmã Socorro, no Centro de São Paulo. Eu lá estava comprando uma dúzia bananas nanicas, quando o Alexandre, filho dos donos, olhou para um moço esquálido, morador de rua, que estava parado na porta e disse assim:
-- Não precisa pegar as coisas no lixo; vem aqui que vou lhe dar algumas bananas. Dona Socorro, commpletou: Meu filho, tenho um pouco de sopa aqui no fundo... Alexandre, pega lá para mim. E eu levantei os olhos e olhei para o rosto daquele moço, alto, magro, enrolado em um cobertor, e vi o retrato completo de entrega total à desesperança.
Comprei minhas bananas deixei uns trocados para o moço, e segui para a Estação Sé do Metrô. Nem bem havia descido as escadas, e notei um amontoado de gente. A princípio pensei que fosse o começo de uma fila. Depois, aquilo não era uma fila. Parecia mais com o evento de algum propagandista cercado por um círculo de curiosos. Também, não era propagandista. Três policiais estavam colocando uma manta térmica de alumínio sobre o corpo desfalecido de um homem seminu todo ensanguentado. Quando eles o moveram do chão com esforço, para colocar sobre a maca, muita gente colocou a mão na boca, de espanto, ao ver sangue para todo lado e um corpo inerte. Eu fiquei zonzo.
A vida sem Deus nesta cidade está valendo muito pouco. Apesar de um início ruim de semana, com vômitos e gripe, ainda assim não posso deixar de ponderar que há gente em situação muito pior.
O curioso é que, enquanto lá em Brasília "nossas" autoridades estão preocupadas em quem vai assentar-se na cadeira do Cunha e quando vão votar o projeto da famigerada CPMF, aqui no Brasil real tem gente catando lixo para comer, outros morrendo no metrô, e outros tentando apagar o rastro destas mazelas para não assustar tanto.
Antes de embarcar no trem da Linha Vermelha em direção à Estação República, ouvi o serviço de alto-falante da Estação anunciar:
--Encarregado da limpeza, apresente-se na SSO...
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