João B. Cruzué
Desde o dia 13 de março de 2013, quando apareceu pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio - Papa Francisco - chamou a atenção. Nascido em Buenos Aires, tornou-se o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta a assumir o cargo e o primeiro a escolher o nome Francisco, inspirado em São Francisco de Assis.
Desde o início, Francisco tem tentado trazer a Igreja para mais perto das pessoas, especialmente das mais simples. Ele rejeitou muitos dos símbolos de luxo tradicionalmente associados ao papado: mora na Casa Santa Marta, e não no Palácio Apostólico, usa vestimentas mais simples.
Uma das marcas fortes de seu pontificado é a defesa incansável dos pobres, dos imigrantes, dos refugiados e das vítimas da injustiça social. Ele denuncia com frequência os excessos do capitalismo e a "cultura do descarte", que marginaliza os mais vulneráveis. Também tem sido um crítico firme das desigualdades e da falta de solidariedade nas sociedades contemporâneas.
Francisco promoveu reformas importantes na estrutura do Vaticano. Criou conselhos de cardeais para auxiliá-lo na reestruturação órgãos internos da Igreja, tentando torná-los mais transparentes e eficientes. Uma de suas preocupações tem sido com as finanças da Santa Sé, buscando mais clareza no uso dos recursos da Igreja.
Francisco publicou encíclicas que marcaram época. A Laudato Si’ (2015), por exemplo, foi a primeira dedicada inteiramente ao cuidado com o meio ambiente, chamando a atenção para a crise ecológica como uma questão moral. Já em Fratelli Tutti (2020), ele propôs uma nova forma de fraternidade global, que vá além das fronteiras, ideologias e religiões.
O Papa também se destacou pelo esforço de aproximação com outras religiões. Encontros com líderes muçulmanos, judeus e ortodoxos têm sido constantes, com destaque para a histórica viagem ao Iraque em 2021, onde pregou a paz entre cristãos e muçulmanos em um território marcado pela guerra.
Por outro lado, enfrenta resistência dentro da própria Igreja. Suas propostas de abertura pastoral, como o acolhimento a pessoas LGBT, a atenção a casais divorciados e sua crítica ao clericalismo, são mal-recebidas por setores conservadores. Ainda assim, ele tem insistido numa postura de escuta, promovendo um processo de sinodalidade — ou seja, mais participação da base da Igreja nas decisões.
Ao longo de mais de uma década de pontificado, Francisco deixou claro que mais do que governar, desejava pastorear. Seus gestos de afeto, suas viagens a lugares esquecidos do mapa e seu olhar constante para os que sofrem fazem dele uma liderança espiritual com impacto muito além dos muros do Vaticano.
Francisco foi embora ontem, com 88 anos de idade, depois de um AVC fulminante.
Em meu entendimento, o Papa Francisco usou boa parte de seu pontificado para pedir perdão em nome da Igreja pela chaga aberta por milhares de padres pedófilios, desde o início. Como isto sempre foi feito com diante da imprensa, com um microfone na boca, minha opinião não mudou: puro pragmatismo. Ele foi o Papa que tinha um propósito formal: pedir, e pedir perdão pelos estragos da pedofilia até que a sociedade católica ficasse cansada ou satisfeita. Posso até estar errado, mais está é minha impressão dos fatos.
Entre os diversos pedidos públicos de perdão por abusos sexuais cometidos por membros do clero, especialmente padres, nas seguintes ocasiões:
📍 1. Abril de 2014 – Primeiro pedido público de perdão (Vaticano)
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Em um encontro com a Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores, Francisco fez seu primeiro pedido oficial de perdão pelos abusos cometidos por padres.
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Disse: “Sinto-me chamado a assumir pessoalmente o pedido de perdão pelos danos que foram causados por clérigos a estas crianças.”
📍 2. Julho de 2014 – Missa com vítimas no Vaticano
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Encontro pessoal com vítimas de abuso da Irlanda, Alemanha e Reino Unido, seguido de uma missa privada.
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Francisco chorou e pediu perdão em nome da Igreja: “Peço humildemente perdão. Não há lugar no ministério da Igreja para quem abusa de menores.”
📍 3. Setembro de 2015 – Visita aos Estados Unidos
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Em visita à Filadélfia, uma das dioceses mais afetadas por escândalos de pedofilia, Francisco pediu perdão às vítimas e suas famílias.
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Disse: “Deus chora pelos abusos contra menores. O clero que cometeu esses crimes traiu a confiança de Deus e a dos fiéis.”
📍 4. Janeiro de 2018 – Visita ao Chile
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Após inicialmente defender um bispo acusado de acobertar abusos, Francisco foi amplamente criticado.
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Ao retornar a Roma, reconheceu seu erro e pediu perdão às vítimas chilenas, dizendo que sentiu "dor e vergonha".
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Mais tarde, convocou todos os bispos chilenos a Roma e, em um gesto sem precedentes, aceitou a renúncia coletiva de 34 deles.
📍 5. Agosto de 2018 – Carta ao povo de Deus
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Após o relatório da Pensilvânia, que revelou mais de 1.000 casos de abusos cometidos por padres ao longo de décadas nos EUA, Francisco publicou uma carta aberta global.
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Reconheceu o sofrimento das vítimas e afirmou: "Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, pedimos perdão."
📍 6. Março de 2019 – Encontro com presidentes das Conferências Episcopais (Vaticano)
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Convidou líderes da Igreja de todo o mundo para discutir o combate aos abusos.
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Em sua fala de encerramento, reforçou que "o abuso de menores é um crime horrendo" e reafirmou o compromisso com a tolerância zero.
📍 7. Setembro de 2024 – Visita à Bélgica
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Durante visita pastoral, voltou a pedir perdão em um discurso fortemente emotivo:
“A Igreja deve sentir vergonha e pedir perdão por não ter protegido seus filhos.” -
Foi um gesto simbólico, em um país onde a crise de abusos ainda gera profundas cicatrizes.
Esses pedidos de perdão não foram apenas palavras: eles vieram acompanhados de ações estruturais, como:
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Criação de normas obrigatórias de denúncia (Vos Estis Lux Mundi, 2019);
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Julgamentos e punições de clérigos e bispos;
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Encontros com vítimas e escuta ativa de seus testemunhos.
"Em Nome da Santíssima Trindade. Amém.
Sentindo que o crepúsculo da minha vida terrena se aproxima e com firme esperança na Vida Eterna, desejo expressar os meus últimos desejos relativamente ao meu local de sepultamento.
Sempre confiei a minha vida e o meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe do Nosso Senhor, Maria Santíssima. Portanto, peço que os meus restos mortais repousem, aguardando o dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior.
Desejo que a minha última jornada terrena termine precisamente neste antigo santuário mariano, onde vou rezar no início e no fim de cada Viagem Apostólica para confiar fielmente as minhas intenções à Mãe Imaculada e para agradecer o seu terno e materno cuidado.
Peço que o meu túmulo seja preparado no nicho de sepultamento na nave lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza da mencionada Basílica Papal, conforme indicado na planta anexa.
O túmulo deverá ser no chão; simples, sem ornamentação particular, e ostentando apenas a inscrição: Franciscus.
As despesas para a preparação do meu sepultamento serão cobertas por uma quantia fornecida por um benfeitor, que providenciei para ser transferida para a Basílica Papal de Santa Maria Maior. Dei as instruções apropriadas a Mons. Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Capítulo Liberiano.
Que o Senhor conceda a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e continuarão a rezar por mim. O sofrimento que marcou a parte final da minha vida, ofereço-o ao Senhor, pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.
Domus Sanctae Marthae, 29 de junho de 2022."
Fonte: Santa Sé