João Cruzué
A região de Samaria possui profundo significado espiritual na narrativa bíblica. Localizada entre a Judeia e a Galileia, sua história começa nas tribos de Efraim e Manassés e ganha destaque quando o rei Onri a estabelece como capital do Reino do Norte (Israel), edificando ali uma cidade que chamou de Samaria (1 Reis 16:24).
Durante os tempos do Antigo Testamento, Samaria se tornou símbolo do afastamento de Israel do Senhor. Seus reis promoveram a idolatria, e os profetas, como Elias e Eliseu, a mando de Deus, denunciaram sua decadência espiritual para que se arrependessem. Em 722 a.C., a cidade foi conquistada pelos assírios, e parte da população foi levada cativa. Estrangeiros foram trazidos para habitar ali, e com o tempo, surgiu um povo mestiço, com práticas de sincretismo religioso, chamados samaritanos. Esse processo gerou animosidade entre judeus e samaritanos, que perdurou por séculos.
O Novo Testamento, porem, mostra que Jesus quebrou essas barreiras preconceituosas ao passar intencionalmente por Samaria. Em João capítulo 4, Ele passa pela cidade de Sicar e, junto ao poço de Jacó, encontra uma mulher samaritana. O diálogo entre ambos revela verdades espirituais profundas. Jesus lhe pede água, surpreendendo-a, pois judeus não se comunicavam com samaritanos. Em resposta, o Senhor revela saber de sua história pessoal e afirma que a verdadeira adoração não depende de lugar, mas deve ser feita “em espírito e em verdade” (João 4:23).
Impactada pela revelação do Senhor Jesus, a mulher reconhece que Ele é o Cristo e corre à cidade para anunciar em João 4:29). O resultado é que muitos samaritanos passam a crer em Jesus, não apenas pelo testemunho da mulher, mas por ouvirem o próprio Salvador. Assim, Samaria, outrora símbolo de rejeição e divisão, torna-se campo fértil para a graça e a reconciliação, demonstrando que o amor de Deus alcança todos os povos, sem acepção.
Outro registro marcante do amor de Jesus contra o preconceito é a parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus em Lucas 10:25-37. Em resposta a um intérprete da Lei que questionava “quem é o meu próximo?”, Jesus narra a história de um homem que descia de Jerusalém para Jericó e foi atacado por salteadores:
--Um sacerdote e um levita passaram de largo, ignorando o ferido. Porém, um samaritano — alguém que, segundo a mentalidade judaica, seria o menos provável a ajudar — moveu-se de íntima compaixão, tratou das feridas do homem, levou-o a uma estalagem e cuidou dele. Ao final, Jesus pergunta e depois da resposta conclui: “Vai, e faze da mesma maneira” (Lucas 10:37).
Essa parábola não apenas exalta a misericórdia e o amor ao próximo como expressão prática da fé, mas também quebra preconceitos religiosos e étnicos profundamente enraizados. Ao colocar um samaritano como exemplo de compaixão, Jesus ensina que a verdadeira piedade está no agir com amor, independentemente de origem ou rótulos religiosos.
À luz da Bíblia, Samaria simboliza tanto a queda espiritual como a restauração pela graça de Deus. Como uma terra marcada por idolatria e desprezo, tornou-se cenário de encontros transformadores com o Salvador.
Ao passar por Samaria, Jesus revelou que o Reino de Deus está acessível a todos, inclusive aos marginalizados. Seus ensinamentos e ações demonstram que a salvação não se restringe fronteiras, etnias e tradições.
Samaria nos lembra que a verdadeira adoração, a compaixão e evangelho de Cristo são para todos os povos, e que, diante de Deus, não há lugar ou pessoa que Ele não possa redimir.
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