Foto do Hospital do Campo Limpo
Por João Cruzué
(Entrevista e texto original de 2006)
A cultura de um povo se mede pelo respeito à história dos homens e mulheres que se destacaram em suas épocas, contribuindo com suas vidas para que dias melhores surgissem para as gerações futuras. Este é o perfil do Dr. Fernando Mauro Pires Rocha, mineiro de Belo Horizonte, nascido em 22/09/1914 e falecido em 03/08/1985, em São Paulo.
Durante dois anos, procurei saber quem era Dr. Fernando Mauro Pires Rocha, o médico que deu nome ao Hospital Municipal do Campo Limpo, local onde trabalhei até 2009. Não havia nenhuma memória até 2005; nos meios administrativos do Hospital ninguém sabia quem era. Muito menos na internet. Então a partir dessa época começou a surgir algumas referências publicadas no Google. Valeu a pena persistir, finalmente em 2006, tivemos a oportunidade de saber que ele tinha um filho de mesmo nome, médico, que trabalhava no Hospital Alvorada, em Indianópolis. Após um contato com a Administração da Casa, cheguei até Dª Maria Helena, filha do ilustre médico biografado: Dr. Fernando Mauro Pires Rocha.
Agendamos uma entrevista, no próprio Hospital Alvorada, que fica na Avenida Ibirapuera. Lá fomos surpreendidos com a beleza da história e do carisma deste médico. Dedico esta biografia, não oficial, aos meus colegas de trabalho da ex-Autarquia Hospitalar Municipal do Campo Limpo (jul/2003 a fev/2009) e a todos que ainda não sabem porque aquele Hospital traz o nome de Hospital Dr. Fernando Mauro Pires Rocha. Faltou a foto. Infelizmente a Assembleia Legislativa do Estado mais rico deste país ainda não está organizada o bastante para disponibilizar um arquivo digital das fotos dos homens que fizeram a sua História.
Quanto ao meu interesse em divulgar estes dados históricos veio da minha admiração pela completa falta de memória (mesmo recente) existente nos meios administrativos das instituições públicas paulistas. Nosso trabalho não está autorizado. para cópia. Se houver interesse em utilizá-lo, que seja mediante solicitação por escrito.
BIOGRAFIA
O jovem Fernando formou-se em Medicina, em 1939, na UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais. Nascido de uma família de 13 filhos e poucos recursos, conta-se que chegou a tomar emprestado alguns livros de medicina dos colegas para concluir sua carreira.
Aos 25 anos decidiu fazer uma viagem até o Paraná. E quando o trem chegou na cidade de Marília-SP, ele parou para visitar uma irmã recém-casada. Ali, por influência de um médico local, deixou de seguir viagem e adotou a cidade do interior paulista como seu novo lar.
Foi em Marília que montou um pequeno e modesto consultório. Conheceu e se casou com a jovem Maria de Lourdes Carvalho Rocha (ainda viva em 2005) com quem teve seis filhos: Maria Helena, Fernando Mauro, Germano de Carvalho, Carlos Alberto, Paulo Cesar e Antonio Carlos.
Dr. Fernando tinha um carisma e personalidade muito fortes. Tornou-se um grande e respeitado médico na Região Mariliense. Tempos adiante foi médico da família do Ex-Prefeito Jânio Quadros e de sua esposa - Dª Eloá.
Não tinha hora para exercer a Medicina: estava sempre pronto a atender aos chamados de quem precisasse. Clinicava também, gratuitamente, para quem não tinha recursos. Era admirado pelos mais humildes. Fundou a Associação Paulista de Medicina da Região de Marília e sempre estava presente nas atividades sociais e beneficentes do lugar. Foi por isso que a sociedade Mariliense o incentivou a representá-la na esfera política.
Arquivo da ALESP
Teve seu mandato cassado pela ditadura militar em 29/04/1969, nos termos do art. 4º do famigerado Ato Institucional nº 5 de 1968.
Foi perseguido e preso na Base Aérea de Cumbica por mais de uma semana.
Perdeu seus direitos políticos por 10 anos: de 1969 a 1979.
Quando veio morar em São Paulo, em seu primeiro mandato, como deputado estadual, não abandonou a medicina. Dizia aos amigos que: "Nasci médico, não nasci deputado". Trabalhava das 6:30 até certa hora da manhã em uma clínica de particulares, depois da manhã até às duas da tarde em seu consultório na Liberdade, à tarde ia para a Assembleia Legislativa, no Parque Dom Pedro.
Mas não abandonou seus clientes nem os amigos de Marília. Embarcava toda sexta-feira no trem "noturno" para chegar pela manhã naquela cidade. Atendia pacientes no sábado e domingo e, à noite, retornava. Segunda-feira de manhã bem cedo ele já estava de novo em São Paulo, na clínica onde prestava serviços.
Metódico, franco, responsável, agradecido, dedicado às pessoas e coerente com suas convicções. Na política tinha um posicionamento social, de centro para a esquerda.
A ditadura tirou-lhe parte da alma. Tirou-lhe a honra, para quem conhecia perfeitamente o significado da expressão: "direitos civis". Foram longos os 10 anos de mordaça política. Depois disso, Marília o elegeu mais uma vez, em 1982, para seu último mandato.
Dona Helena nos contou que, em 1983, no momento da posse, ao chegar à rampa do Palácio da Assembleia Legislativa, os antigos funcionários da casa desceram para recepcioná-lo. Foi naquele dia que ele, junto com todos os amigos, se emocionaram muito, pelo resgate da sua honra ao recuperar os direitos civis que a ditadura militar NOJENTA tinha lhe roubado.
Durante os anos em que ficou sem os direitos políticos, dedicou-se, juntamente com outros amigos médicos, à continuação de um projeto nascido de um pequeno pronto-socorro: o desenvolvimento do Hospital Alvorada, da Sociedade Alvorada, culminando mais tarde na "Rede Medial de Saúde". Ele foi diretor-presidente, ao longo do tempo, de todas essas instituições.
Atuou desde 1940 em ginecologia e clínica geral. Como político, sempre participou das comissões ligadas à Saúde. A coroa de seu trabalho, da qual se sentia realizado, foi um projeto de sua autoria, convertido na lei estadual nº 3.914, de seis de abril de 1984, que desde aquela época obriga todas as maternidades e hospitais do Estado de São Paulo, públicos e privados, a realizar o exame preventivo de dois tipos de deficiências mentais: a fenilcetonúria (teste do pezinho) e o hipotiroidismo.
Na época, o governador Franco Montoro decidiu pelo veto à aprovação da lei. Sua assessoria receava que isso traria aumento de gastos para o tesouro. Mas, em um discurso emocionado feito na tribuna da Assembleia Legislativa, Dr. Fernando foi incisivo defendendo com bravura a conversão do projeto em lei, pois era um médico experiente e sabia do que estava dizendo.
O veto do governador Montoro foi quebrado. Derrubado. E, para esclarecimento geral, a Lei do teste do "pezinho" tem as digitais do Dr. Fernando Mauro Pires Rocha. Da esfera estadual, o teste do "pezinho" também foi instituído por lei federal.
O Hospital Municipal do Campo Limpo, por decreto do Prefeito Janio da Silva Quadros, recebeu em 1988 o nome de "HOSPITAL DR. FERNANDO MAURO PIRES ROCHA". Uma homenagem justa, merecida, e adequada a um homem público cujas realizações, tanto no campo da política quanto da medicina, repercutiram e iluminaram o futuro.
Fim.
Agradecimentos: Aos grandes servidores da Instituição do Hospital do Campo Limpo, que sempre foram além do possível, prestando um serviço com qualidade, responsabilidade e discrição - em meio a muitos que não se deram tanto.
É com muito orgulho que cito seus nomes: Sr. Antônio da Gasoterapia, Dª Maisa Isabel Aquino do Departamento Financeiro, Dr. Fukuda da Ortopedia, Drª Cheng da área de atendimento infantil, o mestre Cristovão do antigo departamento de compras, Dª Maria Antônia da Copa, Luciana Mello, David, Pedroca e Rildo do Departamento de Pessoal, Alexandre e Bruce do Almoxarifado, Sr. Gilberto (Seu Giba) da contabilidade.
(Trabalhei no Hospital do Campo Limpo entre junho/2003 e fev/2009)
Texto revisado no ChatGPT
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