terça-feira, fevereiro 05, 2013

O futuro dos blogs evangélicos por João Cruzué


João Cruzué


Quero fazer uma análise do movimento dos blogs evangélicos desde 2005 para dizer em FEV/2013, o que penso sobre o futuro dos blogs evangélicos. Estou longe de ser o dono da verdade, mas meus créditos a serviço do fomento à publicação de conteúdo cristão na internet, dão-me certa ousadia, para analisar, criticar e apontar uma direção.

RETROSPECTIVA:

A primeira onda de blogs evangélicos que tenho notícia, veio (e se foi) com a Blogosfera Evangélica de Poliane Latta. Não sei quando começou, mas aquela comunidade agregadora de blogs já tinha esgotado sua entalpia por volta de 2008. Não estaria sendo ignorante, se dissesse que a BC aglutinou uma geração de blogueiros da elite evangélica, que depois  se fechou em si mesma e essa deve ter sido a causa de seu esgotamento. Registro que o pastores  das Igrejas Evangélicas estavam completamente alheio ao movimento.

A segunda onda de blogs veio a partir de 2007, quando surgiu  um ramo assembleano de blogueiros que se desgarrou da BC. Isto é verdade, porque o registro desses blogs até hoje constam daquela velha lista. Estou falando da UBE – União de Blogueiros Evangélicos que foi criada a partir de uma ideia que já estava consolidada, ou seja, uma comunidade agregadora de blogs. Sem citar nomes, foi ali que nasceu  e amadureceu o desejo de popularização dos blogs evangélicos. O projeto de publicação de conteúdo cristão na internet por pessoas que tivessem um espírito de liderança, não importando se estivesse no púlpito ou na nave da Igreja. Foi aqui que acertamos. A UBE foi dando forma a uma ideologia.

Havia um ceticismo por parte dos blogueiros da primeira onda, que viam (e ainda devem ver) um ponto fraco neste projeto: a falta de criatividade dos novos blogueiros combinada com excessiva prática de cópia e publicação de textos alheios. A repercussão da paródia: “Na blogosfera pouco se cria e muito se copia”. E neste ponto não estavam totalmente equivocados. Todavia, ao publicar posts de incentivo à criação de blogs evangélicos, alguma coisa boa foi aparecendo nas redes. Seguramente, é possível encontrar hoje centenas de blogueiros com boa capacidade de análise e pensamento. 

Até 2010, este segundo movimento este à margem de influência dos púlpitos das igrejas Evangélicas. Mas a partir daí, não mais.  E esta influência tem sido mais negativa que positiva. 


O TEMPO PRESENTE:

O pensamento das maiores lideranças evangélicas é mais ou menos o seguinte: que a internet é terra de prostituição e perda de tempo. E  a quantidade de bons líderes que se recusam criar blogs, porque não querem ter dor de cabeça com o desagrado de seus mentores  é enorme. Hoje, em muitos casos, a consagração a postos superiores na Igreja depende do grau de obediência do interessado.  Vejo, e pode ser que não esteja errado, que a liberdade cristã dentro da Igreja passa primeiro pelo crivo do pastor e depois pelo Espírito Santo. Não sou menino para contradizer o costume da Igreja, mas alguns casos – e não em todos –, o pastor pode estar errado.

Exemplo?  Um dos meus antigos pastores, homem de grande envergadura espiritual tinha horror ao trabalho com presidiários. Eu estava no começo de um ministério de literatura para cadeias. O Espírito Santo dizia que sim, mas o pastor e a família diziam que não. Havia muitos riscos. No final, por dois anos e meio, recolhi literatura evangélica usada nas Escolas Dominicais, e consegui enviar mais de meia tonelada para 29 penitenciárias do Estado de São Paulo. Comecei em janeiro de 2001. Em Fevereiro daquele ano, estouraram as rebeliões do PCC no Estado de São Paulo. A assistência religiosa minguou naquelas instituições, e era mesmo o Senhor que estava por trás daquele ímpeto.

Por muito tempo, distribuir folhetos no meio da rua, foi uma maneira eficiente de evangelizar através da Palavra escrita. Hoje, através de um blog, e da ferramenta “busca do Google” você coloque o mesmo texto de um folheto, ou cria outros mais, diante dos olhos de um pecador onde quer que ele esteja. Seja trancado em um apartamento ou numa ilha no fim do mundo. Basta que ele tenha um computador e uma conexão com a Internet. A Internet é um novo tipo da máquina de Imprensa de Johannes Gutemberg. Ele imprimiu sobre folhas de papel que se agregaram em um primeiro livro – A Bíblia.  Sir Timothy John Berners-Lee, um físico britânico, cientista e professor da computação no MIT foi o criador da “WWW – World Wide Web”, a página da internet, onde a folha de papel foi substituída por uma página virtual, que pode ser aberta por um computador ou aparelho celular em qualquer canto do mundo.

Toda alma que for para o inferno nos dias de hoje por falta de evangelização pode ser creditada no Livro das Obras do Senhor, aqueles pastores retrógrados e medrosos que recusarem a ouvir a voz do Espírito Santo, quando de fato o Espírito Santo falar. E há muitas almas em grande miséria espiritual, mesmo morando em palácios de ouro, onde você como pessoa nunca conseguiria abordar ou falar de Jesus. Pela internet, a partir de um texto em um blog, você consegue. Mas e os perigos que ronda qualquer pessoa na internet? A pornografia, o adultério, a violência, a negação de Deus... Bem, não foi muito diferente quando Jesus deixou o céu e veio habitar entre os homens. Este tipo de desculpa não é aceitável, principalmente quando houver uma direção, real, do Espírito Santo.


E como está a visão da blogosfera evangélica hoje? Vejo com muito ceticismo. Pouca coesão e pouco Espírito. Não há um ativismo no varejo. Os velhos amigos blogueiros estão muito ocupados. Já não escrevem mais comentários de incentivo nos posts dos antigos colegas. Aquele espírito gregário foi-se, e  faz falta. É por isso que você pesquisa e descobre que por traz de 15, 18 ou 20.000 blogs agregados, nem um vigésimo deles está ativo. E não está porque aquele entusiasmo de 2007 a 2009 se apagou. Ainda  é preciso assoprar as pequenas centelhas para que elas acendam e não se desanimem. Se não houver este comprometimento, o resto é hipocrisia, blá blá blá e posts despossuídos de personalidade.

Com apenas uma oração e na direção do Espírito Santo, o desconhecido discípulo, Ananias de Damasco, despertou o Espírito Santo na vida de Paulo de Tarso. Por uns 30 anos parecia que aquele Paulo não chama iria dar em nada. Além de tudo era polêmico,  mais odiado que amado. Todavia, quando uma coisa está nos planos de Deus, ela não morre na esterilidade: cresce e atravessa séculos e milênios. Já ouvi uma frase parecida no filme Gladiador: o que fazemos aqui repercute na eternidade. O trabalho de  Paulo atravessou dois milênios, porque era feito com paixão, com a disciplina de um corredor de elite  da maratona.

VISÃO DO FUTURO

É muito "bonitinho" ter hoje um blog de amenidades, de análise de como está o movimento das "marés" e o que pensa "a" em relação  com a telogia de "b". Sejamos francos, mesmo que o contador de visita fique louco, este é um caminho de coisas secundárias. É preferível um ativismo inculto, a uma esterilidade embrulhada em palavras douradas com nós de teologia de púrpura escarlate.

Todo líder evangélico que teme ao Senhor e já ouviu a voz do Espírito Santo algum dia, deve considerar em seu coração a possibilidade de usar um blog para começar a publicar conteúdo cristão. E no meio disso, comentar e mostrar o caminho a partir de uma visão cristã.  Há muito mais gente com o coração vazio hoje, do que se imagina.  

E  para falar de Jesus para o mundo inteiro,  o custo hoje é baixíssimo. Basta vontade e um uma conexão de banda larga com provedor. A plataforma blogger e wordpress  são gratuitas. A divulgação, também é feita de graça, pelo Google, Facebook e Twitter. E lá fora há mais 6,5 bilhões de almas.     A maioria está passando por um deserto  espiritual, a espera de uma fonte de refrigério. Negar isto, e deixar a oportunidade passar é loucura.

A Igreja do Senhor Jesus é uma instituição que não se confunde com denominações. A voz do Espírito Santo nem sempre é a mesma de pastores, mestres, pós-graduados ou doutores em divindade. No tempo de Cristo foi assim e em nossa era também não é diferente. Quando o Espírito fala, devemos estar com os ouvidos abertos para entender. E entender a voz do Espírito não é assim tão fácil, haja vista, que a voz do diabo pode ser muito mais convincente. 

Como se deve blogar? Eu creio que seja escrevendo conteúdo cristão de qualidade, dentro de propósito concebido na vontade do Espírito. Contudo, para atrair visitantes e leitores de todos os seguimentos sociais e intelectuais, é bom que não se deixe de escrever sobre os assuntos de maior interesse popular.  Este tipo de conteúdo é um meio para que você atinja o propósito principal. 

Se alguém estiver com sede de justiça, ao visitar sua página  poderá ser atraído por um texto, “coincidentemente”  na barra lateral.

É muito interessante publicar em companhia de pelo menos mais um amigo chegado. Uma blogagem em parceria. E se puder reunir pelo menso uma dúzia de irmãos bem comprometidos, a performance e o alcance pode ser muito maior que uma comunidade inteira de mais de 1000 participantes que não têm vínculo ou compromisso uns com os outros.

E sobretudo desafiando os amigos que ainda não estão convencidos a ter um blog, a começar logo - antes que a porta das plataformas se feche.

Grande abraço.



Um comentário:

daladier.blogspot.com disse...

Prezado João, naquele longínquo 2006 você foi um ao qual recorri, mesmo silenciosamente, lendo seu blog. Noutras poucas vezes conversamos via e-mail. Você sabe que me desliguei da UBE há anos, penso que sabe o porquê.

Me atrevi a postar algo sobre este assunto ao final de 2011. (In)felizmente apaguei as postagens mais antigas. Penso nos blogs como nos cursos de teologia. Há muitos, mas poucos com qualidade. Ineditismo, nem pensar. Pensadores bem poucos. Pode melhorar, mas a preocupação do pessoal é com a audiência. Veja como agora todo mundo tem algo a dizer sobre Silas Malafaia?

O mais inquietante é a não compreensão da ferramenta por parte de muitos líderes. Os comentários contrários são tidos como afrontas. Eles pensam que estão no púlpito.

Como diz o João Alexandre: vamos embora que a jornada é muito longa e não há mais tempo de chorar por mais ninguém.

Abração!