sábado, agosto 18, 2012

Um boldo no telhado

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Plectranthus barbatus
João Cruzué

Não sei como, mas bons anos atrás, um galho de boldo foi atirado no telhado da edícula. Em meio a folhas secas, depois molhadas pela chuva paulistana, ele soltou raízes e tornou-se uma touceira. Os anos vieram e se foram, e lá está o pé de boldo; murcho durante a seca, viçoso durante as águas, mas vivo. Muito vivo.

O tempo está muito seco em são Paulo. A chuva não vem há mais de 30 dias. A humidade está abaixo dos 30% e as frentes frias não passam do Rio Grande do Sul. O ano veio chuvoso até meados de julho, e aí, parou. Ao longo da semana, na volta do trabalho, eu não me esqueço de aguar minhas plantinhas. Eu gosto disso. Mudas de maracujá, algumas de pau-ferro, umas carambolinhas antipáticas e anêmicas, as novas mudas de hortelã pimenta, três mudinhas de café que nasceram depois de uns 60 dias; os lírios do sítio da falecida mãe, salsinhas, os três pés de cidra, e duas mudinhas de couve, do único pé corajoso que agradou do meu quintal.

Chegar à noite do trabalho e aguar as plantas do chão é uma coisa; subir no telhado da edícula para molhar a touceira de boldo é outra coisa. Perigosa. Então, hoje pela manhã, depois de mais de 30 dias, enchi o balde d'água e fui presentear meu amigo do telhado. Acho que ele teve sorte de estar vivo, porque cresceu escondido do sol da tarde pela sombra de uma mangueira.

Água. Sombra. E, vida.

Talvez você tenha crescido em um lugar totalmente adverso à vida como o boldo do telhado. Contra todas as expectativas, você está vivo e aguardando com paciência pelo dia que será transplantado para uma terra profunda. 

Enquanto isso,  mesmo debaixo da seca  prolongada do inverno não morreu de sede. Nem morrerá, pois o Senhor não se esquece de você, até que chegue a primavera e depois o verão.

Os vizinhos se admiram: Como foi que este boldo foi parar aí em cima e porque continua vivo? A resposta parece estar naquele versículo do Sermão da Montanha: "Olhai os lírios do campo". Sim, os lírios flores persistentes que brotam na seca do inverno, rompendo o solo ressequido com seus botões de flores. É muito fácil abrir as flores durante as chuvas, mas o lírio mostra todo seu esplendor durante a seca, para mostrar que o Senhor Deus cuida deles.

E, se Deus cuida de lírios e boldos, nunca, jamais se esquecerá das aflições do leitor que vier até aqui "por coincidência" para ouvir uma palavra do Senhor.


















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