terça-feira, fevereiro 13, 2018

O papel dos pais na educação dos filhos

Filhos da graça

Por Cleuza da Silva Nogueira
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"Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontais entre os vossos olhos. " (Deuteronômio 11:18).

"E ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando- te;" (Deuteronômio 11:19)

De tudo o que tenho aprendido na Bíblia sobre a educação espiritual da criança, sem desmerecer e nem diminuir o papel da igreja, a educação espiritual das crianças é, sobretudo, obrigação dos pais. Os pais são orientados biblicamente a, primeiro viver a Palavra e depois esmerar-se em ensiná-la aos seus filhos. Vemos em Deuteronômio que a criança precisa ser ensinada em todo o tempo para não se desviar dos caminhos do Senhor.

Tenho visto muitos pais reclamarem que criaram seus filhos na igreja e que depois seus filhos desviaram. Levar os filhos à igreja na Escola Dominical e nos cultos à noite e, às vezes, uma vez durante a semana, não faz da criança um servo do Senhor.

O exemplo em casa, a piedade no lar, culto doméstico, ensino na Palavra, o culto a Deus na Igreja ensinando a criança a fazer parte do Corpo de Cristo, o entusiasmo dos pais por Deus, pela obra no Calvário, pela igreja e pela obra de Deus, o compromisso dos pais com a verdade, o ensino de princípios e valores bíblicos, ensinados através do exemplo e da vida mesmo com Deus, o acompanhamento do crescimento espiritual dos filhos na Escola Dominical, e nos trabalhos da igreja, fazem dos filhos, verdadeiros servos de Deus. - "Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele." (Provérbios 22:6).

Não estou culpando os pais de Eloá, ou quem quer que seja pelo desfecho em sua vida, mas estou aproveitando para lembrar que os pais não podem e não devem deixar a educação espiritual dos seus filhos somente à cargo da igreja.

A maioria dos pais evangélicos que conheço, passam a semana inteira sem ler um versículo bíblico com seus filhos. Nunca perguntam aos professores da Escola Bíblica Dominical como seus filhos estão se desenvolvendo. Não os acompanham quando alguma atividade da EBD é enviada para casa. Mas não deixam de olhar o dever da escola secular deles. O filho pode faltar da EBD porque está cansado, coitado, mas da escola secular não pode faltar de forma alguma. Acham que fazem muito em levá-lo à igreja no domingo à noite. Compram livros, revistas e todo tipo de informação secular para formação intelectual dos seus filhos, mas às vezes não são capazes de adquirir nem a revistinha da EBD. Não investem nada na vida espiritual dos filhos. Não compram livros, revistas, jogos bíblicos, nada. Ainda reclamam em casa do pastor, da igreja, dos irmãos e do culto. Mas criou o filho na igreja.

A Igreja tem sua cota de responsabilidade e precisa cumprir bem seu papel, mas cabe aos pais situarem-se no processo.






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A força da graça em Jesus Cristo


Paulo escrevendo a Timóteo
Por João Cruzué.

"Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus" II Timóteo 2:1.

A Fé é o dom mais precioso que o cristão recebe de Deus. Esta fé é quardada em nossos corações e está sujeita a toda sorte de investidas malignas. Em tempos mais confortáveis, quando quase não mais existe a perseguição que fustigava os primeiros discípulos no alvorecer da Igreja, corremos o risco de perdê-la se não bebermos da água pura do verdadeiro Evangelho. Paulo em seus últimos dias de vida não desperdiçou tempo com as palavras na última carta que escreveu a Timóteo.

1. Por que entre tantas pessoas Paulo escreveu sua última carta a Timóteo?

 De certa forma, Timóteo representa a Igreja de nossos dias. Quando Paulo orava, vinha em sua lembrança as lágrimas que aquele moço frágil derramava em suas orações. E entre tantas pessoas merecedoras de uma carta sua - que tornou-se um memorial ao longo dos séculos e milênios - o Espírito Santo dizia ao coração de Paulo: Seu último trabalho é escrever uma carta para Timóteo. E assim, não foi para um pastor, nem para um bispo, nem para um rabino que Deus ordenou a Paulo que escrevesse. Foi para um jovem sem aparência, atribulado em meio a tantos falsos mestres na cidade de Éfeso. Esta carta foi muito oportuna, pois, é como se o Apóstolo estivesse escrevendo para a juventude cristã de hoje,  carente de líderes verdadeiros.

2. "Não te envergonhes do testemunho (Evangelho) de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do Evangelho, segundo o poder de Deus. Que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos." II Tim. 1:8. Paulo afirmou que Deus investiu sua graça em nós, que existe uma chamada de Deus para cada um de nós, que ela não é segundo dons naturais, nem depende de nossa capacidade intelectual, acadêmica ou cultural. O que Deus vocacionou há de se cumprir em nossa vida, se dermos ouvidos a voz do seu Espírito. A mesma graça não merecida que opera a salvação também opera em nós a capacitação para que os objetivos dos planos de Deus sejam alcançados.

3. "Conserva o padrão das sãs palavras que de mim tendes ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós." II Tim 1:14. O Senhor deu-nos da sua graça para nossa salvação pessoal. Agora estamos crescendo nesta mesma graça, preparando-nos para dar frutos. Estes frutos são esperados por Deus, são os objetivos de seu investimento ( graça) em nós. Ele plantou a semente de salvação em nós, regou, limpou, revelou seu propósito - tudo pela sua graça - e deseja colher os frutos dela. O modelo destas sãs palavras não pode ser diminuído e falsificado como sempre aconteceu ao longo da jornada da Igreja do Senhor.

Em todos os tempos, falsos mestres, falsos pastores, falsos bispos, falsos apóstolos e falsos pregadores têm feito "sucesso" dentro da Igreja do Senhor. E este sucesso não é nenhum sinal de aprovação de Deus quanto as obras que eles fazem, principalmente se considerarmos que Paulo, o autor da segunda Carta a Timóteo, em seus últimos anos, ficou só, abandonado e sofreu toda sorte de privações entre elas - o frio do calabouço. Mas sob a direção do Espírito, orava e Deus curava, repreendia e os demônios saíam, aconselhava e sua palavra não caia. Interessante é, com tantos cristãos em Roma, e alguns deles eram da família de Cesar, pediu que Timóteo troxesse sua capa, esquecida em Trôade, na casa de Carpo, e que viesse a Roma antes do inverno. Não podia contar com ninguém para lhe arranjar uma capa. Ele poderia orar e pedir que Deus lhe concedesse quantas capas quizesse. Mas não foi essa a direção do Espírito Santo. Por outro lado não queria mendingar. Ele tinha uma capa a 800km de distância, e por isso pediu que Timóteo a trouxesse, juntamente com os livros - a Bíblia de sua época. Ele também presenciou já em seu tempo um evangelho pregado sem amor. Paulo passava frio e sentia abandono. É isso que a capa revela.

Em nossa legislação existe a figura do fiel depositário, uma pessoa a quem o juiz designa para guardar um bem. Se esse bem não for achado na posse desse depositário, ele responderá por ele com a privação de sua liberdade. Prisão. Da mesma forma Paulo instruíu Timóteo a guardar o bom depósito de Cristo, de acordo com a voz do Espírito Santo, que habita em nós, os que ainda têm em suas vidas este Espírito. Este depósito é a graça de Deus, tanto para salvação quanto para continuar firme no caminho. Outro dia, um irmão comentava a respeito de um bispo que no começo pregava o Evangelho do Reino e depois mudou seus objetivos embaraçando-se com as podridões mundanas. Então podemos ver que a perda do depósito é a conseqüência e sua causa é o pecado contra o Espírito Santo, ou seja, uma desobediência contínua à voz do Espírito que faz com que Ele vá entristecendo-se e sendo apagado da vida tanto do discípulo quanto do bispo gerando a morte espiritual. Sem o Espírito o crente está morto e fica desorientado.

4 . O que Paulo queria dizer com: Fortifica-te na graça? A julgar pelo que está escrito em II Tim. 2:2, Timóteo foi aconselhado a não perder tempo com homens desviados; que não devia ser companheiro de falsos ministros; que não andasse atrás de aparências, das quais o profeta Samuel uma vez fora enganado julgando pela aparência de Eliabe, o primogênito de Jessé. Deus nos guarde nos dias de hoje, quando a Igreja do Senhor - tanto quanto já nos tempos do Apóstolo Paulo - está cheia de eliabes; homens que pregam como Apolo, administram melhor ainda, mas estão ocupando posições apenas com a unção dos homens. É por isso que a Igreja brasileira não está bem. Enquanto Eliabe estiver no lugar de Davi, a obra de Deus cresce em quantidade mas diminue na graça e na força do poder de Cristo. A única forma de tirar os eliabes do poder são os escândalos, que Deus permite, na vida de todo aquele que usa de engano para permanecer no poder. Mas cedo ou mais tarde cada um deles segue a cova do escândalo, porque trocaram a orientação do Espírito pelo conselho de interesseiros. Esse foi o erro de Saul, que caiu da graça por insistir em desobedecer a Deus, pois ouvia a voz do povo e desprezava as orientações do Senhor.


Paulo cobrou de Timóteo que sofresse com ele as aflições como bom soldado de Cristo. Que não se embaraçasse com os negócios desta vida. Aqui, Paulo estava dizendo duas coisas: a vocação de Deus tem prioridade em nossas vidas; que devemos seguir a voz do Espírito Santo; que não adianta ganhar o mundo inteiro - fama, riqueza, cargos de ministério, cargos políticos, altos cargos empresariais - e colocar em segundo ou último lugar o plano de Deus desenhado para nós. Quando invertemos estes valores, podemos alcançar toda glória do mundo, mas seremos abandonados pelo Espírito Santo. E sem o Espírito Santo, seremos os homems e as mulheres mais tristes dessa terra. Icabô! A segunda coisa que Paulo disse para Timóteo, é que não se deve transigir com o Evangelho. Pecado é pecado, o sim é sim, e o não ainda é uma das palavra que mais revela o amor de Deus na Bíblia. O único caminho que mantém o Espírito na vida tanto do ministro quanto do discípulo é o caminho estreito, de mão única - para frente.

Não adianta apenas ensinar em cima do púlpito que não se deve fazer isso ou aquilo. Este ponto é um dilema, mas, não devemos nos esquecer que no nos dias de Samuel, quando ele ainda era garoto, os filhos do Sacerdote Eli pecavam descaradamente, e o pai apenas dizia: Não é boa a fama que ouço de vocês!

Não é bíblica a orientação de que devemos ensinar no púlpito, fazer a nossa parte, e cada um dará conta de si mesmo a Deus. Isto não é válido para os atalaias. Eli perdeu o direito de andar diante de Deus e sua família foi rejeitada porque foi brando com o pecado. O modelo bíblico correto é o confronto. É o chamar no "canto" e repreender com responsabilidade e amor. Da mesma forma que o Profeta Natã fez com o Rei Davi. Não existirá amor sem confronto. Por outro lado, o diabo nunca se contenta com a sujeira que traz para dentro da Igreja. Se o pastor não repreender com sabedoria o pecado e tirá-lo do seio da Igreja, o diabo sempre trará uma coisa pior. É no trato com estas coisas que os homens com unção de Deus se sobressaem enquanto os que não têm chamada nem amor se embaraçam.

Lembro-me de uma nova convertida que se batizou, mas ainda tinha o hábito de fumar. Seu pastor sabia disso e nada falou. E não aconselhou, e não repreendeu. Depois de ter tomado sua segunda Santa Ceia, nunca mais se firmou na Igreja e desviou-se. Faltou-lhe uma simples palavra de amor de um pastor omisso. Por outro lado, conheço outro pastor, que não vou dizer o nome, que passou muitas aflições ao lidar com pessoas amaziadas e que se amaziaram em seus dias de ministério. Ele sofreu o dano com a língua de muitos, mas dez anos depois, cada uma daquelas pessoas estão casadas. E daquela que mais cobrou e mais foi mal interpretado, recebeu um convite de casamento.

5. "Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé eles, todavia, não irão avante; porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles".II Timóteo 3: 1-9.

6. Um sinal de Deus: todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições. A perseguição por causa do Evangelho, a aflição por causa do pecado adentrando à Igreja do Senhor, o abandono dos "amigos", as privações de conforto e bens, paradoxalmente são os sinais inequívocos da presença de Deus na vida tanto do ministro quanto do discípulo. Cristo materialmente não foi próspero. Ele e seus discípulos eram desprezados pela nata religiosa (desviada) de sua época justamente porque eram classificados como um bando de "passa fome". Se é o sucesso de um líder religioso que define hoje a quantidade de seguidores ( como nos dias de hoje) de uma religião, concluiríamos então que tanto Cristo quanto Paulo foram dois homens fracassados. Ambos morreram sós, por abandono de seguidores. É por isso que não devemos ser "maria-vai-com-as-outras". Embora toda a regra tenha suas excessões, quando o mundo corre como um rio atrás de alguém famoso, mais à frente sempre vem o escândalo e a decepção. Paulo afirma isso, lembrando a lei divina da semeadura e da colheita no versículo 13.

7 . Quando tudo o parecer confuso e sua orientação começar a falhar, beba da fonte legítima - a palavra de Deus. "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra". Vv 14 a 19.

8 - Não desperdiçe o tempo. Tudo que o vier a sua mão para fazer, planeja e faze agora, porque há um tempo certo para tudo. A voz do Espírito Santo não nos deixa enganados. "Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas." II Tim 4: 3-4. O versículo três contextualiza o lugar e o tempo: Brazil, dezembro de 2007.

As perspectivas são ruins, mas o Espírito ainda está em nosso meio. Se Ele ainda está presente em sua vida da mesma forma que está na minha, vamos em frente porque a Alegria do Senhor é a nossa força.

Autor João Cruzué
Blog Olhar Cristão
cruzue@gmail.com

sábado, janeiro 20, 2018

Mapa de restrição religiosa nos 25 países mais populosos




João Cruzué

Para entender: no eixo vertical estão os índices de hostilidades sociais contra religiões, no eixo horizontal estão os índices de restrição dos governos contra religiões. Na leitura dos resultados, o Japão e o Brasil mostram-se menos restritivos.  A China e o Irã são os governos que mais restringem. Para aprofundar no assunto: http://www.pewforum.org .





domingo, janeiro 14, 2018

James Heckman e o estímulo à educação da criança nos primeiros anos de vida

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James Heckman

"Tentar sedimentar num adolescente o conhecimento
que deveria ter sido apresentado a ele dez anos antes,
custa mais e é menos eficiente"
James Heckman

Monica Weinberg
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Entrevista James Heckman

Ao economista americano James Heckman, 65 anos, deve-se a criação de uma série de métodos precisos para avaliar o sucesso de programas sociais e de educação - trabalho pelo qual recebeu o Prêmio Nobel, em 2000. Nessa data, Heckman estava no Rio de Janeiro, numa das dezenas de visitas que já fez ao Brasil. 
Achou que fosse trote quando lhe disseram da premiação. Formado em Princepton e há 36 anos professor da Universidade de Chicago, James Heckman se dedica atualmente a estudar os efeitos dos estímulos educacionais oferecidos às crianças nos primeiros anos de vida - na escola e na própria família. Sua conclusão: "Quanto antes os estímulos vierem, mais chances a criança terá de se tornar um adulto bem-sucedido".

1. Em seus estudos, o senhor conclui que não há política pública mais eficaz do que investir na educação de crianças nos primeiros anos de vida. Por quê?
James Heckman: 
A educação é crucial para o avanço de um país - e, quanto antes chegar às pessoas, maior será o seu efeito e mais barato ela custará. Basta dizer que tentar sedimentar num adolescente o tipo de conhecimento que deveria ter sido apresentado a ele dez anos antes sai algo como 60% mais caro. Pior ainda: nem sempre o aprendizado tardio é tão eficiente. Não me refiro aqui apenas às habilidades cognitivas convencionais, mas a um conjunto de capacidades que deveriam ser lapidadas em todas as crianças desde os 3, 4 anos de vida.

2. O senhor poderia ser mais específico em relação a essas habilidades?

Há evidências científicas de que dois tipos de habilidade têm enorme influência sobre o sucesso de uma pessoa na vida. No primeiro grupo, situam-se as capacidades cognitivas - aquelas relacionadas ao QI. Por capacidades cognitivas entenda-se algo abrangente, como conseguir enxergar o mundo de forma mais abstrata e lógica. Num outro grupo, igualmente relevante, coloco as habilidades não cognitivas, relacionadas ao autocontrole, à motivação e ao comportamento social. Essas também devem ser estimuladas no começo da vida. Embora sejam cientificamente menosprezadas por muitos, descobri que elas estão diretamente relacionadas ao sucesso na escola - e, mais tarde, no próprio mercado de trabalho.

3. É realmente possível estimular esse tipo de habilidade?

Obviamente, há diferenças entre as pessoas, e estamos falando de capacidades muito relacionadas a personalidade e temperamento. Mas elas podem - e devem - ser melhoradas desde bem cedo. Defendo isso por uma razão: mesmo quando as intervenções em crianças pequenas não têm impacto sobre o QI, elas costumam trazer ótimo resultado sobre as capacidades não cognitivas. Muitos especialistas tendem a reduzir tudo ao QI, que é, logicamente, primordial para prosperar numa sociedade moderna. Hoje, no entanto, não se vai muito longe sem aquilo que poderíamos chamar de traquejo social, ou a capacidade de manter o controle diante de situações adversas. Isso pode ser desenvolvido. E, quanto mais cedo, melhor.

4. O que falta é investir mais na pré-escola?

As escolas têm um papel fundamental, especialmente quanto ao desenvolvimento das habilidades cognitivas. Mas enfatizo ainda a relevância dos programas sociais que tenham foco nas famílias, de modo que elas consigam fornecer os incentivos certos num momento-chave. Iniciativas mínimas têm altíssimo impacto, como o hábito de conversar com os filhos ou emprestar-lhes um livro. Só que alguns pais precisam  ser orientados a fazer isso, daí a necessidade de programas específicos. Não afirmo isso por bom-mocismo ou ideologia, mas com base em evidências. Elas indicam que qualquer tipo de intervenção que consiga despertar o interesse dos pais e fazê-los estimular, desde cedo, o aprendizado cognitivo e emocional dos filhos tem excelente custo-benefício. Infelizmente, governos no mundo inteiro ainda não se  renderam ao que a ciência já sabe.

5. Que tipo de intervenção funciona com as famílias?

Os estudos confirmam que um programa americano da década de 60, o Perry, amplamente copiado por outros países, tem ótimo retorno. Ele consiste, basicamente, em colocar crianças pobres na escola, em salas com poucos alunos, e envolver os pais no processo educativo. O professor visita as famílias para informar o que está sendo ensinado na aula, de modo que passem a participar mais ativamente. Sem esse amparo dos pais, dificilmente uma criança vai ter motivação para aprender, o que tende a se perpetuar no curso da vida escolar e resultar em adultos sem sucesso. Está provado que a família é o fator isolado que mais explica as desigualdades numa sociedade como a brasileira. Sob esse prisma, uma criança do Nordeste começa a vida em franca desvantagem em relação a uma do Sudeste. Com programas como esses, a ideia é tentar atenuar as diferenças no ponto de partida.

6. O que alguém que não desenvolve as principais habilidades nos primeiros anos de vida deve esperar?

Os números são espantosos. Uma criança de 8 anos que recebeu estímulos cognitivos aos 3 conta com um vocabulário de cerca de 12 mil palavras - o triplo do de um aluno sem a mesma base precoce. E a tendência é que essa diferença se agrave. Faz sentido. Como esperar que alguém que domine tão poucas palavras consiga aprender as estruturas mais complexas de uma língua, necessárias para o aprendizado de qualquer disciplina? Por isso as lacunas da primeira infância atrapalham tanto. Sempre as comparo aos alicerces de um prédio. Se a base for ruim, o edifício desmoronará.

7. O senhor parece fatalista.

Não sou. Acho uma bobagem o que pregam os cientistas que até hoje defendem a tese das janelas de oportunidade. Segundo essa teoria, existe um único momento na vida para aprender cada coisa. Ao contrário desses colegas, vejo o aprendizado como um processo bem mais flexível. É verdade que, por volta dos 10 anos, como mostram os estudos científicos, as habilidades cognitivas já estão cristalizadas e se torna bem mais difícil desenvolvê-las. Mas não é impossível. A questão central é que isso demandará mais tempo, custará mais caro e não necessariamente produzirá os mesmos resultados.

8. Por que é tão mais caro para uma sociedade educar suas crianças depois que elas já passaram pelos primeiros anos de vida?

É mais lento aprender toda uma gama de coisas depois da primeira infância e também porque a ausência dos incentivos corretos nessa fase da vida está associada a diversos indicadores ruins. Entre eles, evasão escolar, gravidez na adolescência, criminalidade e até os índices de tabagismo - sempre mais altos em sociedades incapazes de fornecer às suas crianças uma educação apropriada nos primeiros anos de vida. É claro que a falta de incentivos numa única fase da vida não explica 100% da ocorrência desses problemas, mas diria que o peso é grande. E isso tem seu preço. A criminalidade, por exemplo, pode ser reduzida, basicamente, de duas maneiras: investindo cedo em educação ou reforçando o policiamento nas ruas. Calculo que a opção pelo ensino custe algo como um décimo do gasto com segurança. Os Estados Unidos gastam trilhões de dólares a mais por ano só porque não entenderam isso.

9. Se há tanta clareza sobre os benefícios de programas que mirem os primeiros anos de vida de uma criança, por que os governos ainda resistem a essa ideia?

Há, sem dúvida nenhuma, alguma ignorância sobre o que a ciência já desvendou - mas isso é só uma parte do problema. A outra diz respeito a uma questão mais política. Para investir em programas com o objetivo de intervir nas famílias, é preciso, antes de tudo, reconhecer que há algo de errado com elas. Um ônus com o qual os políticos não querem arcar. Eles passam ao largo dos fatos e, pior ainda, divulgam uma imagem mistificada. Nessa visão ingênua, a família é uma unidade inabalável, que invariavelmente proporciona às crianças bem-estar. Além de não corresponder à realidade, essa imagem idílica só atrapalha, uma vez que ofusca o problema. Mais de 10% das crianças americanas são indesejadas, e muitas dessas jamais chegam a conhecer seus pais. Que tipo de incentivo para aprender se pode esperar numa situação dessas?

10. Um colega seu na Universidade de Chicago, o economista Steven Levitt, apresenta em seu livro Freakonomics uma opinião diferente da sua sobre a influência da família na vida dos filhos.

Levitt descambou para a simplificação absoluta de questões complexas, perigo eterno no meio acadêmico, sobretudo entre os economistas. Tendo bons números na mão, é sempre possível construir argumentos persuasivos, ainda que não passem de ciência social ruim. Uma das maiores bobagens de Levitt é justamente partir do pressuposto de que, se uma criança nasce em desvantagem, numa família que não lhe fornece nenhuma espécie de incentivo, não há nada a ser feito em relação a isso. Eu estou convicto do contrário. Só que é preciso começar cedo.

11. O Brasil investe sete vezes mais dinheiro no ensino superior do que na educação básica. O senhor considera essa uma inversão de prioridades?

Todo país precisa de boas universidades para formar cérebros e se tornar produtivo. É básico. Mas um país como o Brasil só conseguirá realmente alcançar altos índices de produtividade quando entender que é necessário mirar nos anos iniciais. Eles são decisivos para moldar habilidades que servirão de base para que outras surjam - um ciclo virtuoso do qual resulta gente preparada para produzir riquezas para si mesma e para seus países. Os governos, no entanto, têm se mostrado bastante ineficazes ao proporcionar esse ciclo.

12. Os educadores costumam dar muita ênfase à falta de dinheiro para a educação. Esse é realmente o problema fundamental?

O problema existe, mas não é o principal. O que realmente atrapalha nessa área é a péssima gestão do dinheiro. Se os governantes fossem um pouco mais eficazes, conseguiriam colher resultados infinitamente melhores. Em primeiro lugar, deveriam passar a tomar suas decisões com base na ciência, e não em critérios políticos ou ideológicos, como é mais comum. Veja o que aconteceu no caso da pesquisa com as células-tronco. Apesar de todas as evidências de que poderiam ser cruciais para curar doenças, deixamos de estudá-las durante oito anos nos Estados Unidos - isso por razões políticas. Um exemplo de obscurantismo em pleno século XXI. Na educação, há sempre a tentação de reduzir a discussão à luta do capitalismo contra o marxismo, da direita contra a esquerda ou de antissindicalistas contra sindicalizados. Meu esforço é justamente para trazer o debate a bases objetivas - e econômicas.

13. O que está comprovado sobre os benefícios da educação para um país?

Cada dólar gasto na educação de uma pessoa significa que ela produzirá algo como 10 centavos a mais por ano ao longo de toda a sua vida. Não há investimento melhor. A ideia é fornecer incentivos suficientes para que o talento atinja sempre o maior nível possível. Só com gente assim a Irlanda, por exemplo, conseguiu tirar proveito das oportunidades que surgiram depois que o país se integrou à economia mundial. É também o que ajuda a explicar o acelerado enriquecimento da Coreia do Sul nas últimas décadas. Nesse cenário, não há melhor aplicação do que canalizar o dinheiro para a formação de crianças em seus primeiros anos de vida. Insisto nisso porque são os países que já estão nesse caminho justamente os que se tornam mais competitivos - e despontaram na economia mundial.


Fim.

Fonte: 
 https://veja.abril.com.br/revista-veja/james-heckman-nobel-desafios-primeira-infancia/

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sábado, janeiro 13, 2018

Sete erros que levaram o Titanic ao fundo do mar


Titanic
Por: João Cruzué
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Quero aproveitar esta tarde de sexta-feira, para revisar este post que fala sobre a sucessão de erros, que levou o Titanic a um triste naufrágio. Vou aproveitar também, para fazer uma analogia com o processo de secularização por que passa a Igreja Evangélica brasileira.

O Titanic foi apresentado em 1912 à sociedade inglesa como um transatlântico inafundável. A empresa White Star Line o construiu no estaleiro de Belfast, Irlanda, para ser o maior transatlântico do mundo. Maior em tamanho e em  luxo que seus concorrentes diretos da época, o Mauritânia e o Luzitânia da Cunard Line.

Às 23:40 horas do dia 14 de abril de 1912, ele bateu na lateral de um iceberg e em três horas afundou. Foi encontrado 73 anos mais tarde, em 1985, por uma expedição franco-americana a 4.000 metros de profundidade.



UMA SUCESSÃO DE ERROS

Um homem teve o sonho de construir um grande navio e o batizou com o nome de Titanic. Era para ser o maior  barco que jamais navegara pelo oceano. Quanto ficou pronto, seu construtor contratou a tripulação para fazer uma viagem em grande estilo:  A travessia do Velho  Mundo para o Novo Continente.

A tripulação do navio, a princípio humilde, depois de ser apresentada pelo engenheiro àquele colosso, ficou tão envaidecida, a ponto de espalhar pela cidade que o Titanic era  inafundável. E esta confiança inabalável foi o primeiro erro de uma série, para o desastre.

Em sua primeira (e única) viagem, o Titanic transportava 2.208 pessoas, mas somente levava  20 barcos salva-vidas. O que dava para acudir 1.178 passageiros em caso de uma inesperada desgraça. Este foi o segundo erro.

A tripulação dentro daquele colosso, não passou por treinamento para eventuais situações de emergência. Afinal, não era um navio que nem Deus conseguiria afundar? Foi o terceiro erro.

Era o começo da primavera e o Titanic navegava  em um mar gelado onde grandes icebergs haviam sido vistos pela tripulação de outros navios naquela rota. Um deles enviou notícias que foram captadas pelo telégrafo do Titanic. O operador do telégrafo estava tão confiante naquele gigante de aço que decidiu não entregar os alertas ao comando do navio.  Este foi o quarto erro.

Os dois atalaias do barco, no cesto da gávea, não levavam nenhuma luneta. Foi o quinto erro. Assim, quando iceberg fatal apareceu à frente, distava apenas 500 metros. 

O alarme tocou!

O comandante viu o perigo, mas em vez de mandar parar as máquinas e diminuir a velocidade, decidiu  desviar do iceberg.  O navio era muito grande e o tempo muito curto para a manobra. Ele conseguiu virar apenas uns poucos graus. O sexto erro.

Em menos de um minuto, um leve tremor vibrou todo Titanic. A maioria nem percebeu.  O sétimo erro.

No impacto do casco  contra o gelo, os rebites das chapas de duro aço saltaram e abriram-se grandes brechas. Houve um desprendimento das chapas uma das outras. Se houvesse brechas em um ou dois compartimentos, o navio "inafundável" conseguiria chegar ao destino, mas com o impacto, foram  seis os compartimentos atingidos e inundados. 

O diagnóstico do engenheiro construtor foi fatal: Não havia mais salvação para o Titanic.  Seu destino não mais seria o Porto de Nova York, mas o fundo do mar!

Quando os passageiros ouviram a notícia de que a água estava invadindo o barco não conseguiam acreditar.

Das 2.208 pessoas que estavam a bordo do Titanic, 1.176 morreram afogadas ou de hipotermia no mar.  Isto aconteceu  por uma sucessão de erros: Excesso de confiança, falta de botes salva-vidas, falta de treinamento,negligência de um operador de telégrafo, atalaias sem lunetas, a imperícia de um Capitão e uma colisão quase imperceptível com um "simples" bloco de gelo.


UMA ANALOGIA COM A IGREJA DE NOSSOS DIAS

A construção de um grande navio representa a vaidade humana.  Já fizeram isto no passado com uma grande torre. Hoje temos mega templos e Igrejas corporativas. O  mar é o mundo e sua cultura secular.  O destino da viagem está registrado na Bíblia. No tempo de Moisés era Canaã, nos dias de hoje é a Jerusalém celestial. Quem envia as mensagens sobre o perigo é o Espírito Santo.  O pecado do orgulho é a ponta do iceberg.

O navio é a denominação religiosa. Os operadores do telégrafo são os pastores. Na cesta da gávea estão os profetas da Igreja. A mensagem - PECADO À VISTA - tem como destino a ponte de comando. Na ponte de comando estão os líderes da denominação. 

A base de flutuação da Igreja são os ministérios. Ela é divida em compartimentos que não podem entrar "água" do mar: cooperadores, diáconos, presbíteros, levitas, evangelistas, mestres e pastores. O leme do navio é a oração pessoal de seus líderes.  A luneta para enxergar bem longe,  do alto do cesto da gávea, é o jejum.  

A ponta do iceberg é o pecado da soberba.  A parte maior da montanha de gelo fica submersa. Ali pode ficar escondida a teologia da prosperidade, a mesma que o diabo usou para enganar Eva e pregou para Jesus na tentação do deserto.

Á água que entrou nos compartimentos e fez o navio ir ao fundo, é o pecado do secularismo. O mundo sendo despejado imperceptivelmente dentro das famílias cristãs, por meio dos canos de esgoto da cultura  deste mundo rebelde a tudo que vem de Deus. São novelas cheias de adultério, filmes cheios de violência, pornografia na internet, propagandas de bebida alcoólica, revistas masculinas, homossexualismo, pedofilia, baladas noturnas para "crentes", moda indecente, namoro fornicário e muita avareza.

Os barcos salva-vidas representam as missões. Os 20 barcos salva-vidas do navio, insuficientes para salvar  todos passageiros, representam a negligência da liderança da Igreja que não se preocupa com a ordem de Jesus.

Por quê, mais de 100 anos depois, o naufrágio do Titanic não foi esquecido? Talvez para lembrar algumas coisas importantes:

1. Nossos olhos e ouvidos podem ser  enganados através de palavras persuasivas de um propaganda ufanista e sofismática. Eis o maior templo do Brasil, a maior denominação brasileira, o maior grupo de louvor de todos os tempos, o maior pregador de nossa época. Babel também era a maior torre do mundo e as Torres Gêmeas de Manhattan também eram "inderrubáveis"...

Para enxergar a realidade dos fatos é preciso ser exigente. É preciso observar os sinais, as referências e os icebergs que vagam pelo meio do mar. De certa forma, nossas famílias navegam por um oceano cheio de icebergs de secularismo. É possível ver somente uma pequena e inofensiva parte. Mas o pecado que está escondido em baixo, quando colide com a fé, pode parecer que houve só um "tremorzinho" mas é perigoso o suficiente para por a pique a vida de nossos queridos.

O Titanic não afundou por causa de um erro, mas por uma sucessão muitos deles. A Igreja de Laodiceia era o símbolo de uma igreja secularizada. Sua liderança achava que tinha tudo, mas era cega. Ainda não tinha visto que havia perdido Jesus e que ele estava batendo à porta pelo lado de fora. 

Se você ama a sua família, abra bem os olhos para ver, pois assim como foi uma sucessão de erros que levou o Titanic a afundar, muita coisa errada pode estar passando despercebida diante dos seus olhos. É hora de procurar ouvir a voz de Deus, porque os dias são extremamente maus.














quarta-feira, janeiro 03, 2018

Ancoragem cristã na pós-modernidade

Cristo na Tempestade - Pintura de Rembrandt

Por: João Cruzué

O desencanto da sociedade com a religião e depois com a ciência é a principal característica da pós-modernidade. E não parou por aí. No rastro destes dois pilares seguiu-se a política, a justiça e a imprensa.  Assim como na época do Renascimento, um espírito de inconformismo e insatisfação paira sobre tudo e todos,  até mesmo sobre a própria pós-modernidade.

Posso comparar esta época com a situação enfrentada por alguns pescadores no Mar da Galileia, há dois milênios, onde a a fúria do mar e a força do vento, que pareciam incontroláveis, se acalmaram pelo som das palavras de um homem.

Quero começar com a  Operação Lava-Jato, um dos agentes da pós-modernidade no Brasil. Ela desnudou e vem  desnudando com fotos, vídeos e gravações a forma centenária de como o poder do dinheiro vem comprando a consciência dos políticos no Brasil - aos MILHARES. desencanto. A forma como o Ministério Público tratou dos acordos de delação levou o Judiciário a aplicar penas brandas a grandes larápios do dinheiro público. Transparência e desencanto como os agentes da Lava-Jato.

A Igreja Evangélica, minha casa, também enfrenta os efeitos da pós-modernidade. A forma com que algumas denominações "arrecadam" os recursos do bolso dos fiéis é uma ofensa à prudência paulina dos capítulos 8 e 9 da II Carta aos Coríntios. Desde quando o Apóstolo Paulo, em nossos dias, ira tomar os dízimos e ofertas do povo de Deus para comprar uma rede de TV para transmitir novelas, filmes e programas indecentes? De que livro da Bíblia Sagrada veio a inspiração para Igrejas fundarem partidos políticos seculares? Com que autoridade um Pastor Presidente pode aparecer em um culto de Santa Ceia para apresentar pastores ou familiares a pré-candidatos a cargos de representação política? Não deviam eles anunciar nestas ocasiões e lugares um plano nacional de evangelização ou um novo campo de atuação missionária? Transparência e desencanto.

A Ciência que "deveria" soterrar a religião, empacou no sequenciamento do DNA humano. Depois de "sequenciado" trouxe mais dúvidas que certezas. O câncer ainda não tem cura, a AIDS ainda não tem cura. A tuberculose nunca esteve matando tanto. E no Brasil a febre amarela e o sarampo estão de volta. A Ciência não deveria ser ter a solução para toda espécie de males? E o que dizer da comunicação na era digital? É só olhar na hora do rush dentro dos trens e dos metrôs e principalmente em suas escadas: zumbis abstraídos com seus smartphones. Houve um recrudescimento da comunicação. As pessoas estão perdendo a sociabilidade, principalmente dentro dos lares. Ninguém tem mais paciência para conversar com ninguém. No meio cristão, é uma dificuldade reunir a família para orar na hora do almoço. Cada um está recolhido em seu espaço manuseando o seu celular. Não sabemos ainda aonde isso vai dar. Estamos cheios de problemas e comendo mal, perdoe-me a indiscrição: comendo porcaria. Uma quantidade enorme de substâncias químicas na carne, nos vegetais, na água, nos produtos enlatados. Nunca tivemos tanta alergia. E as bulas de remédios, cada vez maiores. Na verdade, grande parte das descobertas científicas está sendo aplicada na produção de bens de uso e consumo humano. Faturamento. A sociedade esperava mais.

Quanto à imprensa, jornal, rádio e TV, é 99% tendenciosa. Mostra a informação sob o ângulo que lhe convém. Muitos jornalistas falam aquilo que a audiência quer ouvir e escamoteiam a verdade. A transparência completa  é algo que ainda precisa ser incorporado ao processo de informação dos fatos à sociedade brasileira na era das páginas eletrônicas.  Gilberto Mendonça Teles (2010), registrou um fato interessante ao notar que os dicionários nem sempre reservaram um verbete especial para o termo transparência [1]. Para defini-lo com a profundidade exigida,  buscou auxílio no Dicionário dos Sinônimos - Poético e de Epítetos da Língua Portuguesa de Roquete & Fonseca (1848). Lá,  encontrou o seguinte:
A água é clara, quando nenhuma substância a turva; é diáfana, quando permite a passagem dos raios de luz, mas só é transparente quando permite a visão completa dos objetos que nela estão contidos.
Diante desses conceitos, não é possível dizer que há transparência em todos os fatos noticiados pela imprensa devido à manipulação.

O Judiciário brasileiro, principalmente o que está instalado nas grandes capitais, é a esfera de poder no Brasil que, segundo a grande imprensa, recebe remuneração, benefícios e aposentadoria acima dos limites impostos pela própria Lei. Transparência e desencanto.

Depois de ter se desencantado com tudo e com todos, chegou a vez da própria pós-modernidade. Sua visão crítica expôs a nudez de todas as áreas. A sociedade, sob está ótica,  passou a observar as mazelas e idiossincrasias de religiosos, cientistas,  políticos, juízes e jornalistas. O resultado disso é um comportamento individualista e consumista. O novo fica velho em menos de um ano. A descartabilidade de tudo.  A pós-modernidade é um pensamento que mostrou o cisco no olho das instituições sociais, sem dar nenhuma referência em troca. As instituições coletivas tiveram suas vidraças quebradas mas o indivíduo está se desgarrando e ficando solitário. Desagregação social.

E o cristão dentro da Igreja, diante de tudo isso, não está imune à fúria do mar e a força contrária do vento. A palavra de Deus ainda é o nosso referencial e a nossa âncora em meio à tempestade.  Entre tantos outros textos, citarei este, um dos meus preferidos: primeira Carta de São João, 2,  assim está escrito:
15 Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 
16 Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. 
17 E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
18 Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora.
19 Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.
20 E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo.
21 Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da verdade.

 O mundo passa, mas a Palavra de Deus permanece. Em meio às tempestades de quaisquer eras eu continuo ancorado nestes belos versos do Salmo 46:
DEUS é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.  Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; não se abalará.

SP 03/1/18.