sábado, março 24, 2012

Autotítulos da presunção evangélica

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COMO AS COISAS ESTÃO MUDANDO...

João Cruzué 

Quando aceitei Jesus, há trinta e poucos anos, passei por perseguições e presenciei pedras e tijolos "caindo" sobre o telhado da Igreja pentecostal. Uma vez quase perdi um emprego, quando recusei comprar os cigarros do patrão, enfim, para ser crente, tinha que pagar um preço alto.  Não que tenha saudades do passado, pois, sou perfeitamente consciente de que a falta de equilíbrio já vem acontecendo desde os tempos do Antigo Testamento. Aborrecido e estupefado, sim, com os títulos cada vez mais inusitados que aparecem.

A sociedade olhava-nos, preconceituosa, com uma lupa e fazia questão de conferir se havia mesmo santidade. E havia. Os pastores eram homens reservados e dedicados à oração e jejum! Um pouco duros talvez, mas conservadores e conscientes do perigo da presunção. Todavia, quando analiso hoje o que se passa Igreja Evangélica não tradicional, fico estupefado. 

O título de Pastor cai bem; desde que a pessoa seja pastor de fato. Há uma multidão de homens por aí aceitando esse título ou se autoentitulando pastores sem nunca ter pastoreado uma pequena congregação.  Pastores de "faz-de-contas": Não foram separados, nem consagrados, nem possuem ministério algum, apesar de um diploma de meio metro quadrado, na parede da sala. 

Um pronome de tratamento nunca fará de um crente um pastor, e aceitar uma adulação para massagear o ego, das duas uma: Ou é muita ingenuidade ou falha de caráter, mesmo.

Mas os tratamentos evoluiram. Apareceu recentemente o Bispo; nome meio pomposo, mas ainda sim discreto. Depois vieram, apóstolo, bispa, e até apóstola! Se falta de bom senso e semancol de um lado, sobra ganância e avareza de outro.   Há poucos anos um desses apóstolos investia não em oração e missões, mas em um haras de cavalos. Recentemente, um outro apóstolo comprou uma senhora fazenda de porteira fechada com quase 5.000 cabeças de gado. Estranho, este gosto apóstólico pela pecuária!

Sei que isso não é invenção brasileira. Veio de fora. Mas como soa ridículo alguns títulos, ou melhor, "autotítulos". Temo, todavia, que isto não pare por aí. Não me assustaria se, dia desses, ouvisse  no meio evangélico, onde congrego, coisas como: Arcebispo, cardeal, papa ou imperador! Quem sabe coisas ainda mais pomposas: Anjo, arcanjo, querubim ou serafim. E para esculhambar de uma vez: Por que não primeira-ministra, rainha, faraó ou césar?

Eu devia ter ficado calado, mas não consegui. Para curar esses desvarios, Jesus, certa vez, deu uma receita infalível: Nascer de novo!







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quinta-feira, março 22, 2012

Como ouvir a voz de Deus 2

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Chuva de bênçãos
João Cruzué

Escrevi o primeiro texto há uns cinco anos, e desejei continuar no mesmo assunto. Sei queDeus fala conosco de várias formas e de várias maneiras. Fala por um conselho da família, de um pastor e até por um estranho.  O detalhe é que nem sempre  temos tempo para ouvir ou nossos ouvidos estão como o botão do rádio em off. Tenho certeza que muitos há mais crentes mais experientes e abençoados que eu, contudo, quero escrever para adicionar uma pequena mudança em seu entendimento. Se isto acontecer é por bondade do Senhor, e não mérito meu.

Deus falou pelo menos umas oito vezes com Abraão. Já estive meditando sobre o assunto.  Da primeira vez disse: Sai da tua terra, do meio da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrarei.  

Não sabemos quanto tempo Abrão ainda ficou em Ur. E quando ele saiu, não foi só; juntos foram a família do pai e o sobrinho. Pararam no meio do caminho, em Harã. E Deus só voltou a falar com Abrão quando ele deixou Harã e chegou na terra  prometida. Para trás tinha ficado a terra natal e a família do Pai. 

No entanto, o sobrinho ainda continuava com ele. E Deus só voltou a falar com Abrão, no dia que o sobrinho se apartou dele, deixando-no no prejuízo. Os textos estão em Gênesis, capítulo 12:1; 12:7 e 13:14.

Um pequeno comentário: Deus fez uma promessa inicial para Abrão. À medida que este avançava em obediência e fé nas promessas, Deus continuava a falar. Falou pela segunda vez quando chegou no destino. Falou pela terceira vez, quando cumpriu completamente a exigência de Deus: Longe da terra natal, longe da casa paterna e longe da parentela. Deus falava nas crises de Abraão para confortar e surpreendê-lo.

Minha experiência pessoal: Quando deixei minha terra e a casa de meu pai para morar em São Paulo, foi nesta época que aceitei a fé e me tornei um seguidor de Jesus. 

Imagino que nossos ouvidos não estejam abertos ao que Deus tem para nos falar enquanto não saímos da zona de conforto. Foi assim com Moisés, Josué, Sansão, Samuel, Elias, David,  Neemias, Pedro, Paulo e comigo.

Pelo menos umas quatro vezes  ouvi a voz de Deus falar comigo.  Vou comentar sobre duas. Eu estava no final de onze longos anos de desemprego. Casado, pai de duas crianças, cortando despesas a cada ano, e procurando as oportunidades de ganhar o pão que aparecessem. Era mês de março, e estava no sítio, na companhia de minha mãe, longe da família e de São Paulo. O que estava fazendo? Plantando 160 covas de bananeiras maçã, por sugestão de minha saudosa mãe.

Quando terminei o plantio, ao final de uns cinco dias de trabalho, choveu. Eram duas horas da tarde. E uma chuva mansa  caiu e começou a molhar a poeira  da terra. Vi a bênção de Deus naquela chuva. O sol  iluminava a tarde, enquanto as gotas da chuva  brilhavam entre seus raios. 
 
No sítio dormíamos cedo, para acordar mais cedo ainda. Eram 08 horas da noite, quando eu pousei os joelhos ao lado da cama para orar. No mesmo instante, coincidentemente outra chuva mansa começou cair. E no outro dia, eu passaria a manhã inteira regando cada uma daquelas 180 covas de bananeiras. Depois eu voltaria para minha família, em São Paulo.

Eu sabia que aquelas duas mansas chuvas não molhariam completamente as plantas. Mas com a coincidência daquela chuva repentina na hora da oração, de alguma forma percebi que  Deus me provocava para fazer uma oração bem-humorada.  

E eu disse ao Senhor: Pai, eu posso regar amanhã cada uma daquelas mudas de bananeira, sem nenhuma preguiça. Mas, se o Senhor está mesmo disposto a regá-las que mande  mais outra chuva" e arrematei sem cerimônia: Mas que dessa vez seja dez vezes mais grossa!  Agradeci e dormi. Dormi, mas acordei  na madrugada com o barulhão de grossas goteiras caindo do telhado  na calçada  lá embaixo. Sem  vento, relâmpago ou trovão.

No outro dia observei na  estrada as marcas de enxurrada. Subi ao campo e havia lama nas covas das bananeiras de tanta chuva. De fato, deve ter sido mesmo "dez" vezes mais grossa, pensei. E enquanto eu olhava o campo e as folhas das bananeiras, uma voz interior falou forte em minha alma:  Se Eu me preocupo em regar tão simples e comuns bananeiras, também estou cuidando de você.

Três meses depois, era 14 de julho de 2003, o Senhor abriu-me uma porta de trabalho, depois de ter ficado 11 longos anos desempregado. A porta continuou aberta e foi se alargou. Seis anos adiante - no final de 2009 - eu tomei posse em cargo no Tribunal de Contas do meu estado. Cargo Efetivo. Eu passei e fui convocado em dois concursos em dois Tribunais TCESP e TJSP. Por causa disso, recusei convite para trabalhar na Secretaria de Finanças do Município de São Paulo. Fiquei com a melhor oportunidade. Foi mesmo uma chuva 10 vezes mais grossa.

Deus tem o "estranho" costume de falar conosco em tempos de crise. Com certeza por que  não estamos interessados em ouvi-lo  na inércia de uma boa zona de conforto. Ele permite que passemos por aflições e tribulações, mas quando pensamos que estamos sozinhos, não vemos  que Ele nos observa, tentando cruzar um mar de dificuldades no frágil  barco da vida. Então ele  repreende o vento e manda o mar se aquietar. É assim que Deus faz.




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