segunda-feira, novembro 17, 2025

Amós Capitulo 9 - Tempo de derrubar

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Amós, capítulo 9

João Cruzué

Há algo perturbador na visão que se abre no capítulo 9 de Amós: o Senhor não está no altar para receber ofertas, mas para destruí-lo. Golpeia os capitéis, faz tremer os umbrais, despedaça tudo sobre a cabeça dos presentes. É o  colapso das instituições sagradas, o desmoronamento de tudo aquilo que parecia sólido como pedra.

Para quem vivia naquela época, o templo era mais que um edifício religioso. Era o símbolo da presença divina, a garantia de proteção, o centro da identidade nacional. Ver Deus destruindo seu próprio santuário era como assistir um pai incendiando a casa da família. Não faz sentido. Não deveria acontecer. Mas acontece.

Talvez seja esse o ponto mais incômodo da profecia de Amós: Deus não está preso às nossas instituições religiosas. Ele não é refém de nossas tradições, por mais antigas e veneráveis que sejam. Quando essas estruturas se tornam cúmplices da injustiça, quando servem para encobrir a opressão ao invés de combatê-la, elas mesmas se tornam alvos do juízo divino.

O texto tem uma ironia cruel. O povo achava que estava seguro porque tinha o templo, os rituais corretos, a linhagem certa. Mas Amós destrói essa ilusão com uma pergunta devastadora: "Não sois para mim como os etíopes, ó israelitas?" Ou seja, vocês que se acham tão especiais, tão diferentes, tão superiores aos outros povos — o que os torna melhores? A resposta implícita é: nada! Absolutamente nada.

E então vem aquela perseguição implacável. Não adianta fugir, cavar, escalar, mergulhar. Os olhos de Deus estão sobre eles "para o mal, e não para o bem". É uma inversão total da teologia confortável. O Deus que deveria proteger agora persegue. O Deus que deveria abençoar agora sentencia.

Mas há uma reviravolta no final do capítulo que não pode ser ignorada. Depois de toda devastação, surge a promessa de reconstrução. Não imediatamente, não sem consequências, mas eventualmente. A casa de Jacó não será totalmente destruída. Deus vai peneirar Israel entre as nações como se peneira grãos, mas não deixará nenhum grão cair na terra.

Essa imagem da peneira é fascinante. 

Deus não descarta tudo — separa. Elimina a palha, mas conserva o grão. O exílio não é apenas castigo, é também purificação. A destruição não é fim, é recomeço. As ruínas da tenda de Davi serão reerguidas, os muros reconstruídos.

O que Amós profetiza no capítulo 9 é uma espécie de morte para ressurreição. Não dá para reformar a estrutura apodrecida; é preciso deixá-la cair. Não dá para maquiar a injustiça com piedade; é preciso extirpar o mal pela raiz. Só depois, sobre os escombros da arrogância e da hipocrisia, é que se pode edificar algo verdadeiro.

Vivemos tempos em que muitas certezas estão desabando. 

Instituições que pareciam eternas estão se revelando frágeis. Lideranças que se diziam ungidas estão se mostrando corruptas. Sistemas que prometiam justiça perpetuam desigualdades. E talvez, como nos dias de Amós, precisemos ouvir que nem tudo que rui merecia ficar de pé.

A grande questão é: estamos dispostos a ser peneirados ou preferimos nos agarrar às ruínas, fingindo que o altar não está rachando?

 

SP-17/11/2025.

terça-feira, novembro 11, 2025

Plano de Viagem de Abrão - De Ur à cidade de Harã em 110 dias


 

Subindo de Ur para Harã
João Cruzué

Se Abrão fosse bom ouvinte, faria o planejamento da saída de Ur no começo de março, para depois de 90 a 110 dias, chegar em Harã, no máximo até meados de junho.

Consultado a climatologia da Região do Vale do Eufrates, onde a estação chuvosa acontece principalmente no  inverno, Abrão e sua comitiva devem ter saído no final do inverno, ali pelo mês e março, quando a temperatura média estava entre  14º pela madrugada e  29º durante à tarde. 

A medida que subiam pelas margens do Rio Eufrates (Ramadi/Deir ez Nor) em direção à Harã, as temperaturas dubiam um pouco. mìnima de 17º e máxima de 33º

Do trecho final da viagem, estariam no mês de maio em que as temperaturas permaneceriam igual, no Sudeste da atual Turquia, com mínima de 17º e máxima de 34º.

Se viajasse durante o período chuvoso, poderia ser surprendido por alguma tempestade. Se viajase depois do mês de maio, as pastagens já não estariam tão verdes. Se viajasse depois de junho, o calor poderia ir além dos 40º.

Quanto tempo ele ficou em Harã, já é assunto para outra pesquisa.


SP-11/11/2025.