sábado, abril 05, 2025

Jesus e os Samaritanos


 João Cruzué

A região de Samaria possui profundo significado espiritual na narrativa bíblica. Localizada entre a Judeia e a Galileia, sua história começa nas tribos de Efraim e Manassés e ganha destaque quando o rei Onri a estabelece como capital do Reino do Norte (Israel), edificando ali uma cidade que chamou de Samaria (1 Reis 16:24). 

Durante os tempos do Antigo Testamento, Samaria se tornou símbolo do afastamento de Israel do Senhor. Seus reis promoveram a idolatria, e os profetas, como Elias e Eliseu, a mando de Deus, denunciaram sua decadência espiritual para que se arrependessem. Em 722 a.C., a cidade foi conquistada pelos assírios, e parte da população foi levada cativa. Estrangeiros foram trazidos para habitar ali, e com o tempo, surgiu um povo mestiço, com práticas de sincretismo religioso, chamados samaritanos. Esse processo gerou animosidade entre judeus e samaritanos, que perdurou por séculos.

O Novo Testamento, porem, mostra que Jesus quebrou essas barreiras preconceituosas ao passar intencionalmente por Samaria. Em João capítulo 4, Ele passa pela cidade de Sicar e, junto ao poço de Jacó, encontra uma mulher samaritana. O diálogo entre ambos revela verdades espirituais profundas. Jesus lhe pede água, surpreendendo-a, pois judeus não se comunicavam com samaritanos. Em resposta, o Senhor revela saber de sua história pessoal e afirma que a verdadeira adoração não depende de lugar, mas deve ser feita “em espírito e em verdade” (João 4:23).

Impactada pela revelação do Senhor Jesus, a mulher reconhece que Ele é o Cristo e corre à cidade para anunciar em João 4:29). O resultado é que muitos samaritanos passam a crer em Jesus, não apenas pelo testemunho da mulher, mas por ouvirem o próprio Salvador. Assim, Samaria, outrora símbolo de rejeição e divisão, torna-se campo fértil para a graça e a reconciliação, demonstrando que o amor de Deus alcança todos os povos, sem acepção.

Outro registro marcante do amor de Jesus contra o preconceito é a parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus em Lucas 10:25-37. Em resposta a um intérprete da Lei que questionava “quem é o meu próximo?”, Jesus narra a história de um homem que descia de Jerusalém para Jericó e foi atacado por salteadores:

--Um sacerdote e um levita passaram de largo, ignorando o ferido. Porém, um samaritano — alguém que, segundo a mentalidade judaica, seria o menos provável a ajudar — moveu-se de íntima compaixão, tratou das feridas do homem, levou-o a uma estalagem e cuidou dele. Ao final, Jesus pergunta e depois da resposta conclui: “Vai, e faze da mesma maneira” (Lucas 10:37).

Essa parábola não apenas exalta a misericórdia e o amor ao próximo como expressão prática da fé, mas também quebra preconceitos religiosos e étnicos profundamente enraizados. Ao colocar um samaritano como exemplo de compaixão, Jesus ensina que a verdadeira piedade está no agir com amor, independentemente de origem ou rótulos religiosos.

À luz da Bíblia, Samaria simboliza tanto a queda espiritual como a restauração pela graça de Deus. Como uma terra marcada por idolatria e desprezo, tornou-se cenário de encontros transformadores com o Salvador. 

Ao passar por Samaria, Jesus revelou que o Reino de Deus está acessível a todos, inclusive aos marginalizados. Seus ensinamentos e ações demonstram que a salvação não se restringe fronteiras, etnias e tradições. 

Samaria nos lembra que a verdadeira adoração, a compaixão e evangelho de Cristo são para todos os povos, e que, diante de Deus, não há lugar ou pessoa que Ele não possa redimir.



O Profeta Desobediente

 

Por João Cruzué

O Livro de Jonas, no Antigo Testamento da Bíblia, registra a história de um profeta hebreu relutante em obedecer uma ordem de Deus. Relutante porque sabia que Deus era perdoador e temia que usasse de misericórdia com um povo mau que não tinha dó nem misericórdia de ninguém.

Jonas (יוֹנָה - Yonah) era filho de Amitai e natural de Gate-Hefer, cidade localizada na terra de Zebulom, Região da Galileia, norte do Reino de Israel, conforme mostra o 2º livro 2 Reis,14:25.

 E, Deus ordenou ao profeta para ir à cidade de Nínive pregar uma mensagem de arrependimento. Nínive era uma cidade conhecida pela maldade. Por isso, Jonas recusou seguir a ordem de Deus e foge, embarcando em um navio para Társis.

Uma tempestade furiosa atinge o navio, e os marinheiros, supersticiosos, lançam Jonas ao mar, acreditando que ele seja a causa da ira divina. Um grande peixe engole Jonas, e ele passa três dias e três noites em seu ventre. Em agonia e arrependimento, Jonas ora a Deus, que ordena ao peixe que o vomite em terra firme.

Jonas finalmente obedece, vai a Nínive e prega a mensagem de Deus. Para sua surpresa, o rei e o povo de Nínive se arrependem e jejuam, demonstrando humildade e contrição. Deus, vendo sincero arrependimento, decide não destruir a cidade.

Jonas, porém, fica muito ressentido com a misericórdia divina, pois desejava ver a destruição da Cidade. Ele se retira da cidade e constrói um abrigo. Deus faz crescer uma aboboreira para dar sombra a Jonas, mas no dia seguinte, envia um verme para destruí-la.

Jonas se irrita com o calor e com a perda da planta. Deus o repreende, ensinando-lhe uma lição sobre compaixão. Deus argumenta que, se Jonas se preocupava tanto com uma planta, quanto mais Ele se preocupava com a grande cidade de Nínive e seu povo.

Jonas não queria ir a Nínive por medo e preconceito. Nínive era a capital da Assíria, um império poderoso e cruel que frequentemente oprimia Israel. Jonas, como um profeta hebreu, provavelmente nutria um profundo ressentimento em relação aos ninivitas, vendo-os como inimigos. Ele temia ir a uma cidade tão poderosa e perigosa.

Jonas era um patriota hebreu e desejava a destruição dos inimigos de Israel. A ideia de que Deus estenderia sua misericórdia a um povo tão odiado era repugnante para ele. Mas, sabia que Deus era misericordioso e compassivo e temia que, se os ninivitas se arrependessem, Deus os perdoaria, frustrando seu desejo de vê-los punidos. Isto está em Jonas 4:2, onde ele diz: "Ah! Senhor, não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis, pois sabia que és Deus misericordioso e compassivo, lento para a ira e cheio de amor, que ameaça castigar e não castiga".

A história de Jonas é uma reflexão sobre a misericórdia e a compaixão de Deus, que se estendem a todos os povos da terra, e sobre a importância da obediência e do arrependimento.

Deus é bom!




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