terça-feira, janeiro 08, 2013

Conversa franca sobre o namoro cristão

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Namoro
Pastor Armando Vanelli

Como pastor, durante 35 anos nunca disse que o namoro é algo bom, antes, um mal necessário. Até porque não se pode pensar num relacionamento entre dois adolescentes ou jovens sem que haja um cortejar ou galantear, e a partir destes atos é que nasce uma inspiração amorosa. Seria muito bom que os jovens fizessem  seus planos de relacionamento se utilizando  dos princípios da Palavra de Deus, para o passo único e mais acertado da vida a dois - o casamento.

Nos meus muitos anos de pastoreado, percebi que a maioria que conduziu o relacionamento pelas suas vontades pessoais, experimentaram marcas e traumas, a exemplo de uma jovem que me ligou em desespero. Penso que posso sugerir algumas recomendações para um namoro em linha com os padrões divinos.

A primeira conscientização a ser tomada é que um namoro nunca deve ser em caráter experimental. Ao perceber que é tempo e hora de iniciar um relacionamento, é preciso ter convicção de que namoro é algo sério e, portanto, precisa ser iniciado com uma pessoa que também seja séria. Daí,  já se subentende existir duas coisas que não se combinam: “namoro e brincadeira”. 

Despertados pelas descobertas de transformação do corpo, e seduzidos por tão apelativos chamados da mídia, o adolescente que mal largou os brinquedos e brincadeiras, pensam que o que vem pela frente agora - carícias, afagos sensuais, beijos prolongados, tudo isto seja o tão esperado namoro. Esta aproximação tão precoce acaba desembocando em experiências com marcas psicológicas que afetarão a personalidade por toda uma vida, das quais podemos citar a perda da virgindade e a gravidez indesejada. Resta a cada interessado no namoro, buscar em oração que o início de um relacionamento seja apenas o primeiro passo de um caminho que vá culminar em um feliz e perene casamento.

A partir de descoberto o amadurecimento, para o início do relacionamento, com a devida permissão dos pais, este precisa obedecer a regras e limites. 

É hora de romper com os padrões ditados pelas aberrações da mídia que prega o "ficar" como algo bom, porque não implica comprometimento dos envolvidos. A divulgação de estimulação ao sexo está desenfreada, ontem mesmo, no meu celular, recebi uma "proposta" de despertamento de maiores prazeres nas relações através de um livro divulgado, e ainda com pagamento de taxa de 0,31 centavos mais impostos.

Que absurdo! Uma publicidade destas nas mãos de um jovem casal em namoro, sem regras e disciplinas. Esta banalização daquilo que é santo, que foi instituído por Deus, visa denegrir os conceitos primordiais da família e com isto acabam por passar informações distorcidas, como a mais clássica usada hoje: "ser virgem é coisa antiquada". 

O namoro para ser correto, precisa ter cores cristãs, marcas e padrões de Deus.  Se o namoro tiver o timbre cristão, isto é, normas e princípios ditados por Deus, e estes estão por toda a Bíblia, o casal terá mais facilidade de aprender a dizer não ao impulso sexual. E hoje é preciso mesmo ter normas já que a depravação tomou conta dos meios de comunicação.  

Em linhas gerais, cristãos não comprometidos totalmente com a Palavra já não importam se seus filhos praticam o sexo antes do casamento. Há um corrente de pensamento livre (ou libertino) que promulgam que a ideia que compromissados para casar já podem praticar o sexo, mesmo antes de assumirem o consórcio nupcial. Deus, no entanto, em Sua palavra nunca abriu esta concessão. 

A Palavra nos ensina que o sexo foi instituído por Deus como benção a ser desfrutado entre um homem e uma mulher que se amam e que assumem um compromisso permanente. Em suma, o sexo é benção dentro do casamento, fora dele é impureza.  

Se num relacionamento este princípio for levado como fator primário, a dignidade e o respeito pela pessoa amada passam  para um plano de grande fundamento no compromisso: respeito e dignidade. O que quer dizer isto? Um não pode intencionar igualdade de procedimentos ou gostos semelhantes. Quando há falta de respeito fica patenteada a ausência do amor real.

Respeito e dignidade formam pontes para a fidelidade. Se no namoro a fidelidade é algo pratico, este procedimento será bem patente no casamento. Apelidos como “galinhão” ou “vassourinha” são dados a quem tem mais de uma parceira ou parceiro no namoro, no entanto isto é o padrão carnal, logo, é de suma importância fazer prevalecer a vontade de Deus. A quem se ama, fidelidade à toda prova.

E por fim, deixei a parte mais difícil  justamente para fechamento da postagem. Em  início de um relacionamento procure alguém que tema a Deus. Se não houver a mesma crença, que não acredite em Jesus como único e suficiente salvador, tem algo errado. A esta situação a Bíblia dá o nome de “jugo desigual”. Isto está narrado em II Coríntios 6:14-18. Vi também nestes anos de ministério gente que foi “legal”, “bacana” e de “acordo com tudo” no namoro, mas depois do casamento, deixou a igreja, não permitiu mais a esposa de ir à igreja, e o pior, vem gerando confusão na cabeça dos filhos no tocante a fé.

É preciso que a pessoa a ser escolhida para uma vida a dois tenha profunda confissão da fé para que ambos não olhem mais um ao outro, mas o alvo dos olhares agora seja voltado para Jesus. (Hebreus 12.2).

Isto me faz lembrar uma história engraçada contada pelo Reverendo Dario Sallas, professor de Retórica Sagrada na Faculdade de Teologia do Chile. Certa vez entrou no gabinete do Pr. Dario uma jovenzinha dizendo: “Pastor, eu gosto de mais da igreja, estou aqui desde o começo, mas ainda não consegui arrumar alguém para me casar dentro da igreja, e recentemente conheci um moço muito lindo, com lindo narizinho, olhos azuis, corpo atlético e quero lhe confessar que não estou buscando apenas o espiritual, preciso de algo para os olhos”. O pastor perguntou: Tereza, ele tem Jesus Cristo? Não pastor, não tem não. Então ele não tem nada, Tereza! Mas pastor, ele tem carro, casa e é lindo, já lhe disse, estou em busca de algo para os olhos. 

Mesmo com a discordância do pastor, Tereza começou a namorar o jovem, e não muito depois veio a casar se com ele. Alguns meses depois, numa sessão de aconselhamento apareceu Tereza com os olhos todo roxo e dizendo: “pastor, veja o que fez  meu marido...”, e o pastor sem demora arrematou: “olha Tereza, você queria tanto algo para os olhos, e agora já tem!”

Não busque nada para os olhos, busque quem tenha os mesmos princípios de crença e fé, não se prenda a “um jugo desigual”, porque namoro não é brincadeira, é o primeiro passo para uma “união eterna”.






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As folhas do pé de ingá

L E M B R A N Ç A S


Foto: Natureza Divina
Ang
pé de ingá
João Cruzué

Meu pai era um homem do campo; simples, honrado, trabalhador, econômico e mineiro de Ponte Nova. Construiu suas economias ao longo de 60 anos, manejando o cabo de uma enxada. Mas, depois dos 60, decidiu descansar e viver do conforto que conseguira. Ele, que gostava muito de andar a pé, decidira parar. Bico de papagaio. E por falta de exercícios, teve um contenda séria com um pé de ingá. Os dois perderam.

Soube, pela minha mãe, que na juventude, meu pai costumava ir a pé de Ponte Nova a Chopotó, ao longo da linha do "trem-de-ferro", da antiga "maria-fumaça", que seguia o itinerário Ponte Nova - Dom Silvério. No caminho, passava por Pontal, Chopotó... Não sei ao certo, mas falavam de 11 léguas.

Seu gosto por caminhadas foi diminuindo depois dos 60, e a partir dos 70 ainda mais, depois da queda de um tamborete. Um dia, ele for ver o nível da caixa d'água do sítio. Ele subia em um tamboretinho que costumava "dançar". Seu Melo era magro, mas não adiantou. O tal tamboretinho o derrubou, e a coluna já com  os bicos de papagaio, piorou. Eu coloquei uma travessa lateral de madeira no móvel, mas o estrago já tinha sido feito.

Então  Sô Melo, apelido de meu pai, passou a caminhar menos. Sentava-se, de vez em quando,  à beira da estrada para ver o tempo passar. Aconselhado pelos vizinhos, voltou a  exercitar-se, e eu acho que era apenas para agradá-los.

--Sô Melo, o senhor precisa fazer algum exercício, não pode ficar parado. Aqui vou abrir um parêntesis. Na língua culta é -  Senhor. Em terras paulistas seria "Seu", mas na Região do Vale do Rio Caratinga é "Sô".

No sítio havia terreiros grandes, e terreiro de sítio suja muito. Ele decidiu, então, usar a vassoura algumas vezes por semana, varrendo os terreiros dos quatro lados da casa. O terreiro da esquerda ficava sujo com folhas de mangueira. O da porta da sala ficava resumido à calçada e não dava muito trabalho. No terreiro da direita, tinha um pé de abacate manteiga e outra mangueira; nenhum dos dois sujava muito. Mas, na porta da cozinha tinha um pé de ingá. 

Angá, como era nosso costume mineiro local de falar. Esse era uma árvore folhuda e malcriada. Sim! malcriada, pois meu pai varria o terreiro da cozinha de manhã, e o angá, por desaforo, derrubava outro monte de folhas amarelas,  à tarde.

--Melo, você já varreu o terreiro da cozinha?  Imagino minha mãe a perguntar. E, com aquele monte de folhas no chão, creio que  meu pai nem ousava resmungar. O varrido ficava por não varrido, e pronto.

Foi assim que meu pai foi pegando inimizade com aquele pé de angá. Até que um dia, se cansou e decidiu dar  um basta. Passou a vida inteira plantando árvores, mas naquele dia pegou o facão de cortar cana e descascou o pé da árvore sem dó e sem piedade. O ingazeiro amarelou, definhou e, em menos de um ano, secou. O terreiro da cozinha depois disso não deu mais trabalho a meu pai. Estava sempre limpinho.

E por justamente diminuir os exercícios com a vassoura que meu Pai Melo veio falecer de ataque cardíaco em 1997, poucos anos depois da morte do pé de ingá.





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