sábado, agosto 18, 2012

A oração de Ananias

.
Oração de Ananias

João Cruzué  

E havia na cidade de Damasco, um discípulo dos cristãos por nome Ananias. E apareceu o Senhor Jesus a Ananias em visão e ordenou: Levanta e vai à Rua Direita, na casa de Judas. E chegando lá, pergunte por um homem chamado Saulo de Tarso, para orar por ele. Quero usar este texto bíblico com base para uma reflexão sobre orientação cristã.

De que lado você está. Esta é a pergunta. Você tem certeza de que o sentido que você está seguindo é mesmo a corrente da vontade do Espírito Santo? Para onde você pensa que vai e para onde  realmente você está indo?

Ananias chegou à casa de Judas de Damasco e fez esta oração por Saulo de Tarso: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo". E depois desta oração, as escamas caíram dos olhos de Saulo e ele recuperou a visão.

Recuperou a visão nos dois sentidos. Passou a enxergar fisicamente e se lhe abriram também os olhos da fé. E sem fé, não é possível agradar a Deus. E foi assim que o judeu Saulo de Tarso se converteu e se tornou conhecido como o apóstolo Paulo, o home cujo coração Deus usou para levar a fé cristã aos gentios, aos reis e ao povo de Israel. Amado pelos gentios e odiado pelos judeus, este Paulo correu com disciplina a grande maratona e guardou com cuidado a fé.

É possível, sim, sair do caminho por vários atalhos que parecem levar a Deus, mas não levam. O mundo está cheio de fanáticos, desviados e cegos, mas nenhum deles tem uma consciência viva que lhes sirva de bússola para mostrar onde estão e para onde vão. Isto para mim é terrível e assustador. Milhões de pessoas religiosas e zelosas, porém perdidas por caminhos vários que não são os caminhos de Deus.

Um dos desvios deste caminho é o pecado. Um líder de grande carisma cai da graça de Deus, mas continua em frente como se nada tivesse acontecido. Atrás dele, podem seguir uma multidão de ovelhas, crédulas de que ele é um homem de Deus.

Outro desvio é a sabedoria humana. Homens cheios de títulos e diplomas, mas de um coração frio e vazio. E eles estão surpresos e interiormente deprimidos com um paradoxo:  Por que o grande saber deles não atrai a presença do Espírito Santo?

O fanatismo.  O fanático é aquele que perdeu a presença do Espírito de Deus, porque rejeita ouvir a voz de Deus, que fala através da família, dos amigos e dos irmãos. Só ele está certo. Atrás dele uma multidão sempre crescente. Saulo de Tarso era um religioso fanático, e se tornou fanático porque andava com fanáticos. Homens que seguem ordens sem questionamentos. Homens que exigem obediência cega sem questionamentos.

O sucesso. Os apóstolos e os discípulos  cristãos eram homens de uma vida muito simples. Despojados e solidários. Em nossos dias o sucesso de alguns líderes atrai milhões de crentes, pois a sabedoria secular induz as pessoas a seguirem os pastores e bispos que estão no topo. Difícil é explicar porque Jesus Cristo estava sozinho na semana da sua morte e que o Apostolo Paulo nos dias finais da sua vida era considerado um perdedor pelos seus conhecidos, pois definitivamente não era um homem de sucesso. Sua prisão em Roma depunha contra sua fé.

A obra de um homem de Deus costuma não sobressair diante dos olhos dos crentes durante a sua época. Se alguém naquele tempo  perguntasse quem era Paulo  em Jerusalém quanto em Roma, certamente não receberia uma resposta animadora. Encrenqueiro, agitador, pregador de heresias, fundamentalista! 

Aquela simples oração registrada por Lucas, no capítulo 09 de Atos dos Apóstolos, provocou uma mudança extraordinária na vida daquele Saulo. Ninguém conseguiu ver na sua época nenhum grande resultado na vida daquele homem. Mas os séculos passaram. E, dois mil anos depois, cerca de dois milhões de pessoas chegaram até a fé, pelas palavras escritas daquele homem solitário, abandonado e perdedor.

O que dirá os séculos vindouros dos líderes religiosos de minha época - principalmente dos que fazem grande sucesso na mídia aberta? Isso eu não sei. Mas tenho um palpite: Diante da humildade vai a honra, mas diante da fama vem a cova. 

Deus tem um jeito muito peculiar de falar, e nós devemos estar atentos como os ouvidos de Ananias. O que ele ouviu de Deus era difícil de acreditar. Mas ele sabia que a voz era de Deus. Ananias foi e orou. Por que Ananias, e não outro discípulo ou um apóstolo famoso? A resposta? Deus costuma usar  de pequenas coisas para fazer grandes obras. E por quê?  Porque as "grandes" pensam que estão ouvindo a Sua voz. Estão?












Um boldo no telhado

.
Plectranthus barbatus
João Cruzué

Não sei como, mas bons anos atrás, um galho de boldo foi atirado no telhado da edícula. Em meio a folhas secas, depois molhadas pela chuva paulistana, ele soltou raízes e tornou-se uma touceira. Os anos vieram e se foram, e lá está o pé de boldo; murcho durante a seca, viçoso durante as águas, mas vivo. Muito vivo.

O tempo está muito seco em são Paulo. A chuva não vem há mais de 30 dias. A humidade está abaixo dos 30% e as frentes frias não passam do Rio Grande do Sul. O ano veio chuvoso até meados de julho, e aí, parou. Ao longo da semana, na volta do trabalho, eu não me esqueço de aguar minhas plantinhas. Eu gosto disso. Mudas de maracujá, algumas de pau-ferro, umas carambolinhas antipáticas e anêmicas, as novas mudas de hortelã pimenta, três mudinhas de café que nasceram depois de uns 60 dias; os lírios do sítio da falecida mãe, salsinhas, os três pés de cidra, e duas mudinhas de couve, do único pé corajoso que agradou do meu quintal.

Chegar à noite do trabalho e aguar as plantas do chão é uma coisa; subir no telhado da edícula para molhar a touceira de boldo é outra coisa. Perigosa. Então, hoje pela manhã, depois de mais de 30 dias, enchi o balde d'água e fui presentear meu amigo do telhado. Acho que ele teve sorte de estar vivo, porque cresceu escondido do sol da tarde pela sombra de uma mangueira.

Água. Sombra. E, vida.

Talvez você tenha crescido em um lugar totalmente adverso à vida como o boldo do telhado. Contra todas as expectativas, você está vivo e aguardando com paciência pelo dia que será transplantado para uma terra profunda. 

Enquanto isso,  mesmo debaixo da seca  prolongada do inverno não morreu de sede. Nem morrerá, pois o Senhor não se esquece de você, até que chegue a primavera e depois o verão.

Os vizinhos se admiram: Como foi que este boldo foi parar aí em cima e porque continua vivo? A resposta parece estar naquele versículo do Sermão da Montanha: "Olhai os lírios do campo". Sim, os lírios flores persistentes que brotam na seca do inverno, rompendo o solo ressequido com seus botões de flores. É muito fácil abrir as flores durante as chuvas, mas o lírio mostra todo seu esplendor durante a seca, para mostrar que o Senhor Deus cuida deles.

E, se Deus cuida de lírios e boldos, nunca, jamais se esquecerá das aflições do leitor que vier até aqui "por coincidência" para ouvir uma palavra do Senhor.