quarta-feira, outubro 05, 2011

Deus, uma hipótese necessária

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Henry Ford examinando um motor V8


"Deus - Uma Hipótese Desnecessária?"

John C. Lennox

A ciência tem alcançado êxito impressionante na investigação do Universo físico e na elucidação de como ele funciona. A pesquisa científica também levou à erradicação de muitas doenças horríveis e nos deu esperanças de eliminar muitas outras.

E a investigação científica alcançou outro efeito numa direção completamente diferente: ela serviu para libertar muita gente de medos supersticiosos.

Por exemplo, ninguém precisa mais pensar que um eclipse da Lua é causado por algum demônio assustador, que necessita ser apaziguado.

Por tudo isso e por inúmeras outras coisas devemos ser muito gratos.

Porém, em algumas áreas, o próprio sucesso da ciência tem também conduzido à ideia de que, por conseguirmos entender os mecanismos do Universo sem apelar para Deus, podemos concluir com segurança que nunca houve nenhum Deus. Que o universo não teve um arquiteto.

Todavia, esse raciocínio é incorreto.

Tomemos o caso de um carro com motor Ford.

É concebível que alguém de uma parte remota do mundo que o visse pela primeira vez e nada soubesse sobre a engenharia moderna pudesse imaginar que existe um deus (o Sr. Ford) dentro da máquina, fazendo-a funcionar.

Essa pessoa também poderia imaginar que quando o motor funcionava suavemente o Sr. Ford gostava dela, e quando ele se recusava a funcionar era porque o Sr. Ford não gostava.

É elementar que, se esta pessoa passasse a estudar engenharia e desmontasse o motor, descobriria que não há nenhum Sr. Ford dentro dele. Tampouco se exigiria muito de sua inteligência, para ver que não é necessário introduzir o Sr. Ford na explicação para o funcionamento do motor. Sua compreensão dos princípios impessoais da combustão interna seria mais que suficiente para explicar como o motor funciona.

Até aqui, tudo bem.

Mas se, por outro lado, esta pessoa decidisse que seu entendimento dos princípios do funcionamento do motor tornasse impossível sua crença na existência de um Sr. Ford, que foi de fato o projetista da máquina. Isso seria evidentemente falso, e na terminologia filosófica, estaria cometendo um erro de categoria, pois se nunca tivesse existido um sr. Ford para projetar os mecanismos, nenhum mecanismo existiria para ser questionado.












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terça-feira, outubro 04, 2011

lembranças de um ingazeiro


Angá
Folhas do ingazeiro

João Cruzué

Meu pai era um homem do campo. Simples. Honrado. Trabalhador, econômico e mineiro de Ponte Nova. Construiu ele próprio sua "aposentadoria" ao longo de 60 anos, manejando o cabo de uma enxada, o que ele sabia fazer. E se deu bem: comprou o sítio de sonhos, aceitou Jesus, viveu até 76 anos, e depois descansou dessa vida, em 1997.

Ali, pelos 70 anos, ele decidiu aposentar a enxada. Gostava muito de andar a pé. Na mudança para o sítio novo, cruzamos o famoso "Córrego da Taioba" levando dois balaios cargueiros no lombo de um animal. Era um trecho de uns 18 km, de muita serra e muito barro. Foi nossa primeira travessia do Córrego da Boa Vista, em Iapu para o Córrego da Areia Preta, em Dom Cavati.

Ouvi dizer que na sua juventude cobria distâncias longas, indo a pé de Ponte Nova até Chopotó, ao longo da linha do "trem-de-ferro", da maria-fumaça, que seguia de Ponte Nova a Dom Silvério, passando por Pontal, Chopotó... onde o Ribeirão do Carmo conflui com o Rio Piranga, na terra das Gerais.

Seu gosto por caminhadas também diminuindo e depois dos 70 ainda mais, por causa de um tombo em um bendito tamborete que costumava "dançar" quando o usuário subia.

Seu Melo, como era chamado era magro, curvo por causa das "2 1/2
", que para quem não sabe era o peso de classificação das enxadas "Duas libras e meia", passou a caminhar cada vez menos por causa do tombo. E os vizinhos comentavam:

-Sô Melo, o senhor precisa fazer algum exercício, não pode ficar parado. É ruim para o coração. E ele os atendeu, procurando limpar com a vasoura os terreiros da fazenda.

Terreiro de sítio suja muito. E ele decidiu varrer os quatro lados da casa. Terreiros grandes.

No terreiro da porta da cozinha, havia um pé de ingá, árvore folhuda, e sem educação. Meu pai varria o terreiro da cozinha de manhã, e o pé ingá, por desaforo, sujava de tarde.


-Melo, você já varreu o terreiro da cozinha? Ainda ouço minha mãe dizer. Ele meio sem graça, imagino que ficava calado, pois as evidências eram contra ele.

Nesse tempo eu já estava há uns 20 anos em São Paulo.
E só vez em quando aparecia por lá. Eu conhecia a fama do ingá da porta da cozinha.

E Foi assim que meu pai foi pegando inimizade com aquela árvore - o pé de angá, como se fala por lá.

Até que um dia,ele se cansou e deu um basta. Pegou um facão e descascou o pé da árvore sem dó nem piedade. O ingazeiro definhou, amarelou, secou e morreu. O terreiro da cozinha, depois disso,não deu mais trabalho. Estava sempre limpinho.


E poucos anos mais tarde,
"sô" Melo
também foi descansar. Na sua conta ficou o pé de ingá, porém, para ser justo, preciso dizer que milhares de árvores ele plantou. Era apaixonado por laranjeiras e cidras. Meu gosto por coletar sementes e fazer mudas veio de meu pai.





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