sábado, janeiro 02, 2010

Seu Mário já não mora mais na Praça da República

.
.João Cruzué

A primeira vez que vi seu Mário assentado no bancada do jardim da Praça da República, não pude mais esquecê-lo. Eu fiquei asssutado com seus gritos e palavrões, palavras as mais chulas que talvez você ainda não tenha ouvido. Ele gritava a plenos pulmões ofendendo a mãe e toda parentela de transeuntes e outros moradores de rua que o provocavam ou o simplesmente o encaravam.

Eu fiquei sabendo do seu nome através de minhas colegas de trabalho. Moças e senhoras evangélicas; Aadministradoras, advogadas, funcionárias públicas que decidiram caminhar pela Praça no intervalo do almoço à procura de alguém para falar do amor de Deus. E foi ali que, na bancada do jardim , na saída do Metrô, atrás do Colégio Caetano de Campos, elas "acharam" seu Mário. Uma pessoa com graduação em Economia, mas morador de rua conhecido e esquecido pela ou da família. Foi o que apuraram.

Eu já sabia de casos e casos de moradores de rua, mas nunca tinha ouvido falar que um morador de rua fosse um economista.

Orando e buscando ajuda, minhas colegas conseguiram um abrigo católico para receber e cuidar do seu Mário. Durante três a quatro semanas os transeuntes da Praça da República notaram a ausência de seu Mário. Quando eu pensei que ele já tivesse encontrado um lar definitivo, ele voltou. Para minha tristeza.

Na semana que seu Mário voltou choveu muito. Ele praticamente ficava assentado o dia inteiro no mesmo lugar ou deitado sob um cobertor velho. Mesmo tendo chovido a noite inteira, ao sair do Metrô eu o vi seu Mário no lugar de sempre.

Entre o céu e seu Mário o único teto era um cobertor molhado. Ensopado.

Por que seu Mário voltou? Eu não tenho a resposta para esta pergunta. Talvez uma ideia que se aproxime dela. Seu Mário perdeu a noção de família. Aliás, foi perdendo pouco a pouco. Mesmo sendo recebido com muito carinho onde foi acolhido, ele sente saudades da solidão do bancada de cimento no meio da rua. Mas trouxe um costume novo de onde ele esteve pela última vez: não tenho visto ele xingar.

Não sei se foi por problemas mentais (não parece) ou por rabugice extrema. O fato é que, enquanto ele se desgarrava da família, foi se apegando a um endereço na Praça. Um endereço que não tem número, nem porta, nem teto. A esquina de uma bancada de cimento que circunda um canteiro de jardim na Praça. Ele pode se mudar, mas isso pode levar tempo. Não deve ter sido a primeira vez que concordou em ser cuidado em um abrigo de uma instituição religiosa. Católica. Mas eu creio, que entre idas e vindas ele poderá estabelecer novos vínculos de apego em um endereço de verdade.

Eu notei a volta do seu Mário. Cheguei a conversar com ele. "Olha, estive esses dias no Pronto Socorro tal, mas não deixe seus parentes irem lá não! É um açougue. Ele falou para mim.

No mês de setembro passado, seu Mário sumiu de novo. Outubro e novembro se passaram e eu nunca mais o vi naquele canto da Praça, na saída do Metrô República. Eu tive um mau presentimento. Talvez eu nunca venha a saber o que aconteceu com ele, mas algo me diz que seu Mário já não está mais conosco.

Eu creio que moradores de rua podem se mudar para lares verdadeiros. Existe um remédio que, se ministrado pelo menos uma vez por semana, durante certo tempo, pode fazer efeito duradouro. É um frasco de amor cristão. Uma única dose pode não ser o bastante para curar, mas se for administrado com teimosia vai tirar muitos "Mários" da rua.

O que fazer se nem todos os cristãos têm ministérios para cuidar de moradores de rua? Talvez investindo em pequenos gestos despretenciosos. Eu descobri que seu Mário gostava de pão-de-queijo. Ou será pão de queijo?



.

domingo, dezembro 20, 2009

O significado do Natal - 2009



Foto: Ron Almog
Pôr do sol em Tel Aviv - Israel
Joao Cruzué

O Natal é muito especial para mim. Quando dezembro chega, eu percebo que as pessoas ficam mais alegres, mais solidárias, generosas, comunicativas, emotivas, viajam mais; vão para junto de seus queridos.

Eu vejo o Natal sendo comemorado entre as famílias por todo mundo. Até pelos não cristãos. Também é verdade que muitos rabujentos não gostam dele. Dizem que é puro comércio, outros, que é uma festa pagã disfarçada. Cada um pode pensar como quiser, mas sinceramente eu creio que no fundo, no fundo, todos gostam dele,pois é um tempo muito especial para se dar e receber presentes.


Natal sem Jesus, não é Natal. Jesus é nosso maior presente. Por uns bons cinco anos trabalhei na Rua 24 de Maio, no Centro de São Paulo. E recentemente voltei a trabalhar de novo. Quando chega dezembro, um mar de pessoas flui por ali, principalmente na Região da Rua 25 de Março, atrás enfeites, caixas de luzes, pisca-piscas e muitos presentes. Papais-Noéis aparecem tocando sininhos nas esquinas e nas Lojas. As músicas natalinas ainda enchem o ar ao som das harpa paraguaias. É "Gingle Bell" "Meu sapatinho" e "otras cositas " o dia inteiro, o mês inteiro. Hoje, o grande movimento está na Rua 25 de Março e nos grandes Shopping Centers. Aquilo que eu já achava bom, está melhor ainda.

Por causa do Natal, surgem muitas oportunidades de emprego no comércio, e dezembro é o melhor mês de vendas. O Natal sustenta o emprego de toda uma cadeia produtiva que começa desde a pequena indústria, passando pelas grandes fábricas, atacadistas, transportadoras, terminando na rede varejista. Cada um conquista o seu dinheirinho e pode voltar feliz para sua casa no final do mês com presentes para seus queridos.

Muitas famílias entre tanta gente humilde neste país têm uma oportunidade de comprar um peru, um chester, um pernil no Natal. Posso imaginar crianças tagarelando à mesa ou pela sala com os rostinhos sujos de comida, e do outro lado, pais e mães sorridentes, guerreiros e guerreiras compartilhando com alegria o resultado, o fruto de seu trabalho.

Se o Natal fosse apenas comércio, sem ele o lixeiro, o carteiro, os porteiros dos prédios, os faxineiros não poderiam compartilhar de uma generosidade de tão curta duração. Que bom que nessa época o comércio seja mesmo forte, porque é isto que faz com que compartilhem o sustento do mesmo pão e da mesma paz, ainda que apenas uma vez por ano.


Por trás de todo este movimento, quer queira quer não, está a pessoa de Jesus Cristo.O personagem principal da Bíblia, o Filho de Deus nascido em uma manjedoura pobre pela indiferença dos antigos moradores de Belém.

Eu sei que Deus poderia ter escolhido afamília mais rica e mais abastada da Judéia para que Jesus nascesse em berço de ouro e lençóis de linho. Mas se Cristo tivesse nascido rico, o pensamento farisaico teria invertido todos os valores morais cristãos em que a riqueza nem sempre é sinal de justiça ou da bênção de Deus. Um Jesus pobre ainda é um paradoxo e a parábola do rico e do lázaro uma pedra no sapato dos pregam a fé como meio de alcançar a prosperidade financeira.


O Natal é Cristo. O filho de Deus que se humanizou para mostrar a boa vontade de Deus para com os homens. Ele veio trazer luz aos cegos, libertar os cativos, soltar os oprimidos e restautarar os quebrantados de coração. Jesus é o Emanuel. O Deus conosco, O maravilhoso, Conselhieiro, Deus forte e o Príncipe da Paz, que veio anunciar o ano aceitável do Senhor. É por meio de Cristo que Deus oferece a cada um uma opotunidade de reconciliação.


Em um mundo tão agitado e violento, é inegável a mudança que acontece no comportamento das pessoas no Natal. Uma paz, alegria e generosidade através do nascimento de Cristo. É este o significado do Natal para mim - a maior festa da humanidade.


Feliz Natal!


*Clique na foto para ampliar


.