uma vaca
João CruzuéHoje vou descrever um fato real sobre liderança que vai surpreender muita gente. E será mesmo surpreendente pois se trata de uma lição de vida entre simples animais. Para quem nasceu e cresceu no campo é um fato comum, mas ele pode produzir reflexões importantes se entendido em sua profundidade.
Eu era garoto quando meu pai, comprou um sítio. Pouco tempo depois compramos nossa primeira vaca - a Bordada. Era uma vaca "pé duro", sem raça definida, com alguns traços de "Gir". tinha uma testa grande, ovalada até a nuca. Bordada era vermelha ou retinta, salpicada de pintas brancas. Com ela veio um bezerrinho branco, com salpicos de vermelho, que "batizamos" de Bordadinho.
Quando minha mãe, então, foi tirar o leite da bordada pela primeira vez, para cativar a vaca e gerar estímulos agradáveis, habitou colocar um balaio com palha de milho na frente da vaca para que ela comesse, relaxasse e não "escondesse" o leite. Foi assim que começamos a nos entender com vacas, bezerros, touros, leite, vacinas, sal, cochos, latões de leite, tombos de bicicletas carregando os latões...Quando chegou o tempo em que tínhamos mais vacas e melhos palha de milho, o mimo acabou.
Eu sempre admirei a inteligência dos bois. Naturalmente generalizamos o nome "bois" da mesma forma que fazemos quando usamos o verbete homem ou os homens. Quem já teve um sítio, e criou gado, sabe que ele é constituído de dezenas de vacas para apenas um boi - ou o touro. Entre porcos, cavalos, cachorros, gatos , pombos e bois - sempre apreciei estes últimos, de preferência os mansos.
Há vacas mansas e bravas. As holandesas e as pequenas jerseis têm o "sangue" dócil - ou seja, sangue de barata. Mas as vacas de raças indianas: Gir, Guzerá e, principalmente Nelore - Deus que me livre, são malvadas ou "brabas". Quando estão de bezerrinhos novos então... são das piores! Eu tenho o braço marcado por cicatrizes de arame farpado, tudo porque uma tal Riqueza, queria por que queria me pegar, pois cheguei perto do seu bezerrinho.
Perto da 01 hora da tarde, mãe nos mandava trazer as vacas do pasto para o curral, para apartar os bezerros. Esta operação consistia em prender os bezerrinhos que mamavam, em um curralzinho ou pastinho separado de suas mães, até a manhã do dia seguinte. Isso para que não mamassem todo o leite que seria tirando na manhã do dia seguinte. Na verdade, o leite era deles, mas nós o "emprestávamos"... Nesta operação de aparte todo cuidado era pouco. Algumas vacas eram capazes de matar qualquer um, por causa de seus bezerrinhos. À medida porém que eles cresciam ,este instinto de amor maternal ia diminuindo, diminuindo... Menos com uma tal Lembrança. Ela "pegava" em qualquer tempo.
Depois de apartados os bezerros, a "gente" ia embora para casa, o curral ficava em paz, e todo o gado ia deitar ao sol, para remoer. Lá pelas duas ou três horas da tarde, o gado se levantava para voltar ao pasto. Este pasto era montanhoso e por ele corriam caminhos ascendentes, estreitos, tortuosos, chamados de trilhos. Os trilhos eram cavados pela ação das patas desses animais, passando no mesmo lugar dia após dia.
Entretanto, depois que o gado se levantava para voltar ao pasto, enquanto uma certa vaca - e era sempre a mesma - não se posicionava na frente, na guia, a longa fila não avançava. Eu creio que foram as vacas que inventaram a fila indiana. Justamente porque Gir, Guzerá e Nelore são mesmo raças indianas. A primeira vaca de guia de nosso sítio foi a bordada; a segunda Morena. Daí para frente, não me lembro.
Para assumir a guia não havia discussões, nem brigas, nem reuniões, nem acordos, nem atas. Simplesmente uma vaca tomava o lugar. Se ela vivesse por dez anos, continuaria na guia. No dia em que morresse, e o gado precisasse voltar ao pasto ou vir do pasto para o curral, outra vaca assumiria a liderança de uma forma assustadoramente natural. Sem brigas, sem eleições, sem aclamações, sem assembléias, sem traições - sem nenhuma alteração visível na rotina.
E assim sucessivamente com o passar dos anos; em qualquer lugar do mundo onde houvesse este gado "pé duro"
Eu fico pensando: em termos de estabelecimento, substituição e sucessão de liderança - seja na Igreja ou no País - ainda estamos a "anos luz" da naturalidade, do respeito e da maneiro com que isto se processa em uma simples "comunidade" de vacas. É por isso que eu admiro esses animais pela grande lição de vida que eles dão.
João Cruzué
SP-06.09.2008
Se você gostou Leia mais em Mensagens de João Cruzué
.
Eu era garoto quando meu pai, comprou um sítio. Pouco tempo depois compramos nossa primeira vaca - a Bordada. Era uma vaca "pé duro", sem raça definida, com alguns traços de "Gir". tinha uma testa grande, ovalada até a nuca. Bordada era vermelha ou retinta, salpicada de pintas brancas. Com ela veio um bezerrinho branco, com salpicos de vermelho, que "batizamos" de Bordadinho.
Quando minha mãe, então, foi tirar o leite da bordada pela primeira vez, para cativar a vaca e gerar estímulos agradáveis, habitou colocar um balaio com palha de milho na frente da vaca para que ela comesse, relaxasse e não "escondesse" o leite. Foi assim que começamos a nos entender com vacas, bezerros, touros, leite, vacinas, sal, cochos, latões de leite, tombos de bicicletas carregando os latões...Quando chegou o tempo em que tínhamos mais vacas e melhos palha de milho, o mimo acabou.
Eu sempre admirei a inteligência dos bois. Naturalmente generalizamos o nome "bois" da mesma forma que fazemos quando usamos o verbete homem ou os homens. Quem já teve um sítio, e criou gado, sabe que ele é constituído de dezenas de vacas para apenas um boi - ou o touro. Entre porcos, cavalos, cachorros, gatos , pombos e bois - sempre apreciei estes últimos, de preferência os mansos.
Há vacas mansas e bravas. As holandesas e as pequenas jerseis têm o "sangue" dócil - ou seja, sangue de barata. Mas as vacas de raças indianas: Gir, Guzerá e, principalmente Nelore - Deus que me livre, são malvadas ou "brabas". Quando estão de bezerrinhos novos então... são das piores! Eu tenho o braço marcado por cicatrizes de arame farpado, tudo porque uma tal Riqueza, queria por que queria me pegar, pois cheguei perto do seu bezerrinho.
Perto da 01 hora da tarde, mãe nos mandava trazer as vacas do pasto para o curral, para apartar os bezerros. Esta operação consistia em prender os bezerrinhos que mamavam, em um curralzinho ou pastinho separado de suas mães, até a manhã do dia seguinte. Isso para que não mamassem todo o leite que seria tirando na manhã do dia seguinte. Na verdade, o leite era deles, mas nós o "emprestávamos"... Nesta operação de aparte todo cuidado era pouco. Algumas vacas eram capazes de matar qualquer um, por causa de seus bezerrinhos. À medida porém que eles cresciam ,este instinto de amor maternal ia diminuindo, diminuindo... Menos com uma tal Lembrança. Ela "pegava" em qualquer tempo.
Depois de apartados os bezerros, a "gente" ia embora para casa, o curral ficava em paz, e todo o gado ia deitar ao sol, para remoer. Lá pelas duas ou três horas da tarde, o gado se levantava para voltar ao pasto. Este pasto era montanhoso e por ele corriam caminhos ascendentes, estreitos, tortuosos, chamados de trilhos. Os trilhos eram cavados pela ação das patas desses animais, passando no mesmo lugar dia após dia.
Entretanto, depois que o gado se levantava para voltar ao pasto, enquanto uma certa vaca - e era sempre a mesma - não se posicionava na frente, na guia, a longa fila não avançava. Eu creio que foram as vacas que inventaram a fila indiana. Justamente porque Gir, Guzerá e Nelore são mesmo raças indianas. A primeira vaca de guia de nosso sítio foi a bordada; a segunda Morena. Daí para frente, não me lembro.
Para assumir a guia não havia discussões, nem brigas, nem reuniões, nem acordos, nem atas. Simplesmente uma vaca tomava o lugar. Se ela vivesse por dez anos, continuaria na guia. No dia em que morresse, e o gado precisasse voltar ao pasto ou vir do pasto para o curral, outra vaca assumiria a liderança de uma forma assustadoramente natural. Sem brigas, sem eleições, sem aclamações, sem assembléias, sem traições - sem nenhuma alteração visível na rotina.
E assim sucessivamente com o passar dos anos; em qualquer lugar do mundo onde houvesse este gado "pé duro"
Eu fico pensando: em termos de estabelecimento, substituição e sucessão de liderança - seja na Igreja ou no País - ainda estamos a "anos luz" da naturalidade, do respeito e da maneiro com que isto se processa em uma simples "comunidade" de vacas. É por isso que eu admiro esses animais pela grande lição de vida que eles dão.
João Cruzué
SP-06.09.2008
Se você gostou Leia mais em Mensagens de João Cruzué
.