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sexta-feira, agosto 06, 2010

A síndrome de Salomão

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João Cruzué

Que paradoxo é empenhar uma vida inteira em projetos grandiosos e depois de muitos anos de sacrifício, o conquistador pára, olha, e de repente uma sombra de tristeza invade sua alma. Em poucos segundos, aquilo que tinha tanta importância, motivo de tanto orgulho muda rapidamente diante de seus olhos e você descobre que tudo aquilo não lhe traz mais nenhum contentamento. Estranho este nosso jeito de querer e se aborrecer. Exatamente assim foi o que experimentou o Rei Salomão e deixou escrito no livro de Eclesiastes.

"Fiz para mim obras magníficas; edifiquei casas, plantei vinhas. Fiz para mim hortas e jardins e plantei árvores de toda espécie de fruto. Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Adquiri servos e servas e tiver servos nascidos em casa. Também tive grandes manadas de gado e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.

"Amontoei também para mim prata e ouro, e jóias de reis e das províncias. Provi meu de cantores e de cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, e de instrumentos de música de toda sorte. E engrandeci-me e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em jerusalém. Perseverou também comigo minha sabedoria."

"E tudo quando desejaram os meus olhos não lhos neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma, mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho. E olhei para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando tinha feito e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito."

E por que será que depois de tudo veio a frustração? Bom, se você leu os textos compilados já deve ter percebido quantas vezes foi citado a frase: PARA MIM! Ele deve ter se frustrado porque quando seu egoísmo passou e a "ficha" caiu, percebeu que tudo que tinha feito apenas para se próprio foi como o fumo da luz de uma vela que se apaga.

Assim também tenho certeza que em meus dias a decepção com as conquistas de uma vida inteira é simplesmente real. E não pode ser diferente, quando se corre apenas atrás de coisas "só para mim". A visão que Salomão teve há quase 3.000 anos ainda se repete com muita frequência porque os castelos construídos com areia do egoísmo logo desmoronam e se apresentam como nada ante os olhos de seus donos.

Em um país onde a desigualdade social chega a ser pior que o Haiti, é um pecado ver tantos "conquistadores" que desperdiçam uma vida inteira correndo atrás de coisas "só para mim" e não conseguem ver que ali bem perto deles existem seres humanos procurando migalhas de pão caídas de mesas fartas e contas bancárias recheadas.

Imagino depois de velhos não tenham mesmo contentamento algum!



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