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domingo, novembro 13, 2016

Porque a América escolheu Trump e rejeitou Hillary Clinton


Hillary Clinton e Donald Trump
João Cruzué
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Não foram apenas a grande imprensa e os institutos de pesquisa que erraram feio ao garantir a vitória de Hillary Clinton. Até o pessoal do próprio Trump cria nisso,  pois havia preparado muito material contestando o resultado da eleição, dizendo que fora uma fraude. De onde veio a "surpresa", é o assunto que gostaria de comentar.

Trump trouxe para o debate o que se faz nos bastidores da política. Ali é dito e dado todo tipo de golpe baixo e as máscaras não são usadas. Mas, ele levou para o debate e o foco da mídia um comportamento de um sujeito sem educação, ele abriu sua boca grande para falar grosserias, mas não se escondeu atrás de uma máscara.

O americano típico, o "joe", detesta falta de transparência. Nas coisas públicas o americano médio não gostam que lhe esconda a verdade. Sei disso, por fiz meu artigo de pós-graduação, recentemente, sobre um assunto ligado a este princípio e, entre Japão, Reino Unido, Finlândia  e EUA, só consegui resultados conversando com o pessoal dos Estados Unidos. Vou reproduzir um excerto, onde fica bem definido o conceito das palavras claro, diáfano e transparente
"[Gilberto Mendonça] Teles* (2010), registra com maior propriedade a ideia de transparência, desta forma: A água é clara, quando nenhuma substância a turva; é diáfana, quando permite a passagem dos raios de luz, mas só é transparente quando permite a visão completa dos objetos que nela estão contidos".
Assim como em Romanos 12:2 fala da boa, agradável e perfeita vontade de Deus, em assuntos de sinceridade, o claro e o diáfano não têm a necessária transparência, para se enxergar o que há  por trás da máscara.

Donald Trump foi acusado de todo tipo de coisa. De esperteza na declaração do Imposto de Renda, de infidelidade conjugal, assédio sexual, de ser mal-educado com as mulheres, grosseiro em suas conversas... enfim, ele fez de tudo para mostrar que não era um sujeito politicamente correto. A imprensa americana e mundial inteiras se posicionaram contra ele. No Brasil e no mundo a torcida era quase unanime em favor da senhora Clinton.

Acontece que a Hillary Clinton, durante os 8 anos que esteve à frente da Secretaria de Estado dos EUA, costumava esconder coisas oficiais, principalmente, parte de sua comunicação oficial por e-mail. A suspeita do que ela escondia coisas graves (e por ocultá-las) derrubou surpreendentemente uma vitória certa. Para o americano médio (branco, crente fundamentalista, evangélico do interior) quando um político esconde coisas oficiais, ele não é confiável. Então, entre um sujeito bocudo que fala o que pensa, mas usa máscaras e uma senhora que faz tudo para ser politicamente correta, mas que fica escondendo as coisas, este tipo de eleitor não gosta muito do primeiro candidato, mas detesta a atitude do segundo.

Depois que a grande imprensa e os institutos de pesquisa descobriram onde foi que haviam errado, disseram o seguinte: O eleitor padrão que votou em Trump é do tipo caipira do interior, branco, sem curso superior, religioso, pessoa que vai a igreja todo domingo. Dessa leitura, chegaram à conclusão de que se tratava de um crente evangélico do interior - 60% da população americana.

A imprensa diz que Trump estabeleceu uma comunicação muito clara com este americano típico. Ele prometeu, fazer a América grande de novo. Ele perguntava: Você tem, hoje, uma vida melhor que seu pai? A resposta era não. Então, eu vou dizer que se continuar como aí está, seu filho também vai ter um futuro pior que o seu. Esse discurso foi amarrado com trazer a produção das empresas americanas para dentro dos Estados Unidos, disse que iria romper acordos comerciais porque estão prejudicando os interesses americanos, prometeu barrar a imigração ilegal que está tirando a segurança e os empregos dos americanos, disse que iria construir um muro na divisa com o México e o custo dele iria cobrar do governo mexicano... tudo o que um americano, branco, queria ouvir.

Mas a imprensa secular não disse tudo; ela escondeu algumas coisas. A maioria silenciosa que votou em Trump, que esta imprensa e institutos disseram ser branca, caipira e fundamentalista, não votou porque Trump era o presidente dos sonhos dela. E o que foi que a imprensa não disse?

A tal maioria branca e sem cultura que a imprensa rotulou,  na verdade, são os cristãos fundamentalistas (creem que a Bíblia é a única regra de fé e prática) americanos, evangélicos que não aceitam a postura da senhora Clinton frente ao aborto e o casamento gay.

Então, entre um sujeito sem educação, mulherengo, malandro e uma senhora que esconde a verdade (escândalo dos e-mails), favorável a liberalização do aborto e a favor do casamento gay, entre o ruim e o pior, a maioria ficou com o ruim! Depois da senhora Clinton, quem mais perdeu credibilidade foi a imprensa e os institutos de pesquisa. Manipularam tanto, mas tanto, que até o próprio Trump terminou sua campanha pensando que havia perdido.

Moral da história: apesar de ser execrado pelo sistema corrupto mundial, o fundamentalismo cristão tem sido um freio moral  que, quando moderado, garante a melhoria da sociedade. Leia-se: valorização da mulher, combate à escravidão e ao trabalho escravo, política de direitos humanos, democracia, combate à ideologia comunista... entre outros. A senhora Clinton perdeu, porque não foi transparente, mesmo, ao meu ver, sendo melhor candidata que Donald Trump.


SP  13/11/16.


*TELES, Gilberto Mendonça. O claro-escuro na transparência literária. Paris: Revista Sigila nº 25, 2010.