SP-18 novembro 2010
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João CruzuéA imprensa do mundo inteiro está repercutindo a operação de guerra lançada para re-estabelecer o poder do Estado em favelas da cidade do Rio de Janeiro. Esta foto não é da Guerra do Iraque nem de combates no Afeganistão, mas no Complexo do Alemão. As imagens do começo, meio e fim desta operação podem produzir um filme inteiro - sem necessidade de edição. Nome: Tropa de Elite 3. Quero refletir um pouco sobre o assunto, pois a ausência do Estado tem sido geral, não apenas no Rio de Janeiro, senão no Brasil todo.
Recentemente o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento publicou no site em inglês ranking 2010 do IDH - Índice de Desenvolvimento Humano onde o "Brazil" aparece em 73º lugar [1]. Para um país que hoje é a oitava potência econômica mundial, estes números são um fiasco. O Brasil segue a reboque de Barbados(42) Chile(45), Argentina(46), Uruguai(52), Panamá(54), México(56) e até de Trinidad e Tobago(59). O que tem a ver estas estatísticas com o Morro do Alemão? Você vai ver já.
O Brasil é a maior "vaca" leiteira do mundo, alguém já disse isso. Em lugar de leite, remunera com os juros mais gordos os especuladores internacionais. Fico muito irritado com os economistas brasileiros de meia tigela, que adoram dar entrevistas para palpitarem a mesmice de sempre "Olha, eu estimo que o Copom vá aumentar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual; 0,75, 1,00 ponto percentual. "É preciso desacelerar a economia..." Correto. Muito bem, mas esta é a conversa mole de sempre. Não têm massa cinzenta para fazer outra coisa. E o superávit primário? é a garantia de pagamento desses juros. Primeiro vem a parte dos especuladores, dos agiotas, dos banqueiros, o que sobrar vai para o resto (Educação, Saúde, Investimentos em transportes públicos, em banda larga de internet, em gasolina mais barata...). Com isso, os recursos minguados que sobram da agiotagem não chegam desde o século XIX aos morros e favelas cariocas.
Não preciso ir ao Rio de Janeiro para me certificar da ausência do Estado entre os mais carentes. Tanto lá, como nas favelas da Zona Sul de São Paulo a presença esporádica do Estado aparece assim: 1) Bombeiros - para jogar água nos barracos depois do incêndio;
2) Tropa de choque - para baixar a borracha nos frequentadores de bailes funks no meio da rua; 3) Políticos - antes das eleições para repetir velhas promessas;
4) Um hospital de atendimento de urgências e emergências, onde quem entra em estado grave não sai mais , ou melhor, sai no rabecão.
Há 30 anos o Estado brasileiro está em grande débito com os moradores de favelas de suas Metrópoles. Foram três décadas perdidas com inflação alta e falta de emprego. Um dos piores momentos, foram os anos de 1991-1994. Primeiro quem investia na Indústria vendia tudo para aplicar no Opem Market ou no Overnight. Depois da "tarrafada" do Collor as empresas nacionais quebraram e o emprego desapareceu de vez. Voltou nos últimos oito anos, graças a Deus por causa da demanda chinesa. É uma vergonha dizer isto: Temos muito petróleo, não temos? Mas ainda compramos barris de óleo leve para refinar aqui. Somos os maiores exportadores de minéiro de ferro, não somos? Pois agora somos os maiores também em IMPORTAÇÃO de aço.
Voltando ao Rio. No final deste mes de novembro, estamos vendo o governador do Rio, Sr. Sérgio Cabral, levando a cabo uma operação, jamais realizada no país no pós-ditadura, para defenestrar os bandidos do tráfico do Complexo de favelas do Alemão e retomar o papel do Estado. Não creio que o que ficou abandonado por mais de 100 anos vá mudar agora só porcausa de uma Copa do Mundo. As favelas do Rio (e de São Paulo) não têm "Plano Diretor". Têm vielas, becos, escadas, onde seres humanos dividem o mesmo espaço com os ratos. Nada de reurbanização, nem acesso às melhores universidades públicas.
Se os governantes brasileiros tivessem mesmo aquilo que avermelha a face, não chamariam as melhores cabeças para os ministérios da área econômica, para sinalizar aos agiotas internacionais que o "deles" vai ser muito bem resguardado. Se tivessem vergonha na cara, colocariam os melhores dentre os melhores para cuidar da Educação e do Investimento em obras públicas. Pois assim este país vai sair da merda - com o perdão da palavra chula, mas que tem significado universal. Basta olhar a cor do Rio Pinheiros desde o Cebolão até a Represa Billings, passando pela nobreza do Jockey Clube de São Paulo, onde quem quiser, pode ver uma cascata de uns dois metros de altura, onde cai mais coisas além de água.
Não vou deixar de fora as Igrejas Evangélicas brasileiras, principalmente as pentecostais, que nasceram evangelizando os pobres, mas que hoje ficaram ricas e têm medo de subir as favelas e torcem o nariz para o cheiro dos pobres. Os projetos de reinserção social que propagandeiam são hipócritas - apenas para colocar na internet. Evangelização no Brasil, hoje, não funciona mais na base de palavras. É preciso muito mais que isso: de amor e atitudes. Se nas décadas passadas o Evangelho subia o morro e impedia milhares de jovens de entrar para o crime, hoje seus portadores estão com medo de sujar os sapatos. Estamos em tempos maus, onde o evangelho está sendo pregado na Televisão e entre as quatro paredes. O Ide mudou: agora é somente Vinde, e de preferência com o bolso cheio. O "Evangelho" pentecostal de hoje prefere Brasília aos becos de favelas.
Não estou aqui fazendo apologia do tráfico nem de traficantes nem de funkeiros que ligam o som de seus "poisés" com o que há de mais podre diante dos ouvidos das crianças da periferia. Não estou defendendo isso. Estou criticando a ausência do Estado brasileiro que não tem assumido seu papel nas favelas e periferias das Metrópoles. As piores condições de moradia, a falta de saneamento básico, falta de reurbanização, dificuldade centenária que impedia a graduação do jovem excluído à Universidade, hospitais que mais parecem açougues humanos - e um "monte" de outras coisas. Isto não se resolve com tanques, nem com carros blindados, nem com borracha nem com o Exército.
Quantos bilhões vão ser usados para construir estádios de futebol, que depois vão ficar às traças - com está acontecendo na África do Sul? Por que estão querendo torrar 40 bilhões de dólares no Projeto do Trem Bala que vai ligar Campinas ao Rio de Janeiro, canibalizando a ponte área? Por que o Palocci vai para a Casa Civil e não para o Ministério da Educação? Sabe porquê? Porque não há visão. E não me venha com papo de bolsa família nem inserção de miseráveis na baixa classe média. Essa gente desassistida precisa muito mais do que esmolas e publicidade enganosa. Precisa de um projeto de Educação na mão de um grande Gestor. Precisa de saneamento básico e reurbanização de favelas, precisa de moradias decentes que não desabem todo ano na estação das chuvas.
A ocupação do complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro, é a evidência mais concreta do abandono dos seres humanos excluídos da sociedade. É a prova da ausência do papel do Estado nos morros e favelas do Rio. Se o Estado estive presente ali nos últimos 100 anos, não haveria tráfico, nem cooptação dos garotos das famílias entregues à miséria. Isto é uma vergonha centenária. Ocupação e bolsa família é muito pouco, pois está faltando tudo.
cruzue@gmail.com
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Recentemente o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento publicou no site em inglês ranking 2010 do IDH - Índice de Desenvolvimento Humano onde o "Brazil" aparece em 73º lugar [1]. Para um país que hoje é a oitava potência econômica mundial, estes números são um fiasco. O Brasil segue a reboque de Barbados(42) Chile(45), Argentina(46), Uruguai(52), Panamá(54), México(56) e até de Trinidad e Tobago(59). O que tem a ver estas estatísticas com o Morro do Alemão? Você vai ver já.
O Brasil é a maior "vaca" leiteira do mundo, alguém já disse isso. Em lugar de leite, remunera com os juros mais gordos os especuladores internacionais. Fico muito irritado com os economistas brasileiros de meia tigela, que adoram dar entrevistas para palpitarem a mesmice de sempre "Olha, eu estimo que o Copom vá aumentar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual; 0,75, 1,00 ponto percentual. "É preciso desacelerar a economia..." Correto. Muito bem, mas esta é a conversa mole de sempre. Não têm massa cinzenta para fazer outra coisa. E o superávit primário? é a garantia de pagamento desses juros. Primeiro vem a parte dos especuladores, dos agiotas, dos banqueiros, o que sobrar vai para o resto (Educação, Saúde, Investimentos em transportes públicos, em banda larga de internet, em gasolina mais barata...). Com isso, os recursos minguados que sobram da agiotagem não chegam desde o século XIX aos morros e favelas cariocas.
Não preciso ir ao Rio de Janeiro para me certificar da ausência do Estado entre os mais carentes. Tanto lá, como nas favelas da Zona Sul de São Paulo a presença esporádica do Estado aparece assim: 1) Bombeiros - para jogar água nos barracos depois do incêndio;
2) Tropa de choque - para baixar a borracha nos frequentadores de bailes funks no meio da rua; 3) Políticos - antes das eleições para repetir velhas promessas;
4) Um hospital de atendimento de urgências e emergências, onde quem entra em estado grave não sai mais , ou melhor, sai no rabecão.
Há 30 anos o Estado brasileiro está em grande débito com os moradores de favelas de suas Metrópoles. Foram três décadas perdidas com inflação alta e falta de emprego. Um dos piores momentos, foram os anos de 1991-1994. Primeiro quem investia na Indústria vendia tudo para aplicar no Opem Market ou no Overnight. Depois da "tarrafada" do Collor as empresas nacionais quebraram e o emprego desapareceu de vez. Voltou nos últimos oito anos, graças a Deus por causa da demanda chinesa. É uma vergonha dizer isto: Temos muito petróleo, não temos? Mas ainda compramos barris de óleo leve para refinar aqui. Somos os maiores exportadores de minéiro de ferro, não somos? Pois agora somos os maiores também em IMPORTAÇÃO de aço.
Voltando ao Rio. No final deste mes de novembro, estamos vendo o governador do Rio, Sr. Sérgio Cabral, levando a cabo uma operação, jamais realizada no país no pós-ditadura, para defenestrar os bandidos do tráfico do Complexo de favelas do Alemão e retomar o papel do Estado. Não creio que o que ficou abandonado por mais de 100 anos vá mudar agora só porcausa de uma Copa do Mundo. As favelas do Rio (e de São Paulo) não têm "Plano Diretor". Têm vielas, becos, escadas, onde seres humanos dividem o mesmo espaço com os ratos. Nada de reurbanização, nem acesso às melhores universidades públicas.
Se os governantes brasileiros tivessem mesmo aquilo que avermelha a face, não chamariam as melhores cabeças para os ministérios da área econômica, para sinalizar aos agiotas internacionais que o "deles" vai ser muito bem resguardado. Se tivessem vergonha na cara, colocariam os melhores dentre os melhores para cuidar da Educação e do Investimento em obras públicas. Pois assim este país vai sair da merda - com o perdão da palavra chula, mas que tem significado universal. Basta olhar a cor do Rio Pinheiros desde o Cebolão até a Represa Billings, passando pela nobreza do Jockey Clube de São Paulo, onde quem quiser, pode ver uma cascata de uns dois metros de altura, onde cai mais coisas além de água.
Não vou deixar de fora as Igrejas Evangélicas brasileiras, principalmente as pentecostais, que nasceram evangelizando os pobres, mas que hoje ficaram ricas e têm medo de subir as favelas e torcem o nariz para o cheiro dos pobres. Os projetos de reinserção social que propagandeiam são hipócritas - apenas para colocar na internet. Evangelização no Brasil, hoje, não funciona mais na base de palavras. É preciso muito mais que isso: de amor e atitudes. Se nas décadas passadas o Evangelho subia o morro e impedia milhares de jovens de entrar para o crime, hoje seus portadores estão com medo de sujar os sapatos. Estamos em tempos maus, onde o evangelho está sendo pregado na Televisão e entre as quatro paredes. O Ide mudou: agora é somente Vinde, e de preferência com o bolso cheio. O "Evangelho" pentecostal de hoje prefere Brasília aos becos de favelas.
Não estou aqui fazendo apologia do tráfico nem de traficantes nem de funkeiros que ligam o som de seus "poisés" com o que há de mais podre diante dos ouvidos das crianças da periferia. Não estou defendendo isso. Estou criticando a ausência do Estado brasileiro que não tem assumido seu papel nas favelas e periferias das Metrópoles. As piores condições de moradia, a falta de saneamento básico, falta de reurbanização, dificuldade centenária que impedia a graduação do jovem excluído à Universidade, hospitais que mais parecem açougues humanos - e um "monte" de outras coisas. Isto não se resolve com tanques, nem com carros blindados, nem com borracha nem com o Exército.
Quantos bilhões vão ser usados para construir estádios de futebol, que depois vão ficar às traças - com está acontecendo na África do Sul? Por que estão querendo torrar 40 bilhões de dólares no Projeto do Trem Bala que vai ligar Campinas ao Rio de Janeiro, canibalizando a ponte área? Por que o Palocci vai para a Casa Civil e não para o Ministério da Educação? Sabe porquê? Porque não há visão. E não me venha com papo de bolsa família nem inserção de miseráveis na baixa classe média. Essa gente desassistida precisa muito mais do que esmolas e publicidade enganosa. Precisa de um projeto de Educação na mão de um grande Gestor. Precisa de saneamento básico e reurbanização de favelas, precisa de moradias decentes que não desabem todo ano na estação das chuvas.
A ocupação do complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro, é a evidência mais concreta do abandono dos seres humanos excluídos da sociedade. É a prova da ausência do papel do Estado nos morros e favelas do Rio. Se o Estado estive presente ali nos últimos 100 anos, não haveria tráfico, nem cooptação dos garotos das famílias entregues à miséria. Isto é uma vergonha centenária. Ocupação e bolsa família é muito pouco, pois está faltando tudo.
cruzue@gmail.com
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