O diálogo de Jesus com alguns fariseus no templo de Jerusalém, em João, oito, é muito muito esclarecedor. É possível perceber, ali, que o Espírito que havia em Jesus não comungava com o espírito dos fariseus, pois aquele diálogo foi muito difícil. Durante a conversa, alguns deles creram, mas Jesus olhou para os outros fariseus e disse: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
Jesus não estava falando com publicanos, nem com samaritanos, nem a gregos. Ele proferia essa palavra para nada mais nada menos que a elite politico-religiosa de Israel. Foram palavras duras, brandidas contra três pontos: pecado, escravidão e cegueira espiritual.
Os fariseus eram homens doutos, nascidos em berço religioso, ouviram a palavra desde bebezinhos e a maioria deles tiveram como mestres grandes rabinos. E mesmo assim há um diagnóstico estarrecedor: Jesus os chamou de filhos do diabo, porque tinham um desejo homicida em seus corações.
Quão distanciados de Deus estavam aqueles fariseus. Jesus falou sem reservas que eles eram escravos do pecado, mentirosos, filhos do diabo. Infere-se também no diálogo ríspido que aqueles fariseus eram o grupo que mais resistência oferecia ao ministério de Jesus, e por isso, naturalmente, o diagnóstico estava certo: Se eles faziam oposição cerrada, somente o diabo poderia estar por trás disso.
E a maior prova disso aconteceu mais tarde, quando o jovem fariseu Saulo de Tarso perseguia os cristãos para matá-los. Ele pensava que estava agradando a Deus, porém, desgraçadamente, não via que estava sendo manipulado pelo diabo. No seu encontro com a presença misericordiosa de Deus - literalmente caiu, como caem os endemoniados.
Os fariseus eram religiosos que pertenciam também a um partido políticos. Eram oposição em um Sinédrio governado pelos saduceus.
Fico imaginando a partir de que momento aqueles fariseus, entendidos em teologia, se tornaram filhos do diabo. Onde foi que desviaram?
Não foi da noite para o dia.
Envolvidos em conchavos e acordos políticos foram descendo de degrau em degrau, de mentira em mentira, de prevaricação em prevaricação, até se tornarem instrumentos à disposição do diabo. Eram exatamente eles, as pessoas que o diabo usava para fazer oposição a Jesus. E não só isso, como também ofendê-lo com palavras duras: endemoniado e bastardo. É só ler este capítulo de João para perceber isto.
Religiosos que deixaram seu ministério (contra a vontade de Deus) para defenderem (não a Igreja), mas os interesses pessoais de alguém em busca de poder e glória.
Não está sendo muito diferente dos líderes religiosos de nossa época. Quando os vejo andando com tanta desenvoltura nos meios políticos desta nação eu me pergunto preocupado: estarão andando sob a vontade de quem? Bem... isto o futuro cedo revelará.
Fico assombrado com a quantidade de pastores que estão deixando a frente do curral das ovelhas em busca de emoções menos nobres, seguindo o interesse político de de seus chefes. O projeto de evangelismo da Igreja, não vai bem. Não tenho visto entusiasmo. A vontade do Espírito Santo, eu sei, não mudou. Jesus disse no mesmo capítulo, v. 47, uma receita infalível: Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. E os que lhe não dão ouvidos, a mim se me parecem homens desviados.
Dependendo do momento, é quase imperceptível notar a diferença entre a vontade de Deus, a nossa vontade e a vontade do diabo. Não há como descobrir no "cara ou coroa". Não está escrito na testa, mas no caráter. Algumas coisas dão para perceber sim: A liderança que sempre está na contramão da palavra de Deus é um mau sinal.
Eu vejo, mesmo, a Igreja Evangélica de meus dias muito interessada em política. Costurando muitos acordos. Fazendo muitos planos. Procurando os pastores mais populares para cooptá-los a serem candidatos a uma vaga promissora em uma função menor, de um reino menor ainda.
Da mesma forma, agiam os fariseus e saduceus do início da era cristã. Eles navegam com os pés em dois barcos. Igreja e mundo. E foi assim Eque eles trocaram a vontade de Deus por interesses pessoais. Foram bem menos resistentes que Jesus diante das insinuantes propostas da tentação no deserto.
Líderes escravizados. O pecado serviu de grilhões de uma corrente cuja ponta está nas mãos do diabo. Pensavam que poderiam servir dois senhores ao mesmo tempo, mas tinha perdido a vsião. Achavam-se livres, mas eram cativos. Caíram quando procuravam estabelecer a terceira via. Nem muito estreita e nem tão larga.
E diante deste contexto que Jesus profetizou: E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"
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