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quarta-feira, janeiro 13, 2016

Um bispo na porta do céu

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Porta
Por: João Cruzué


Um moço, de origem muito humilde,  tinha 18 anos quando saiu da casa de seus pais, para tentar a vida em um grande cidade e sair da pobreza. Quando lá chegou, em lugar de procurar pelos prazeres da vida, começou a andar junto com os crentes. Isto aconteceu, pois um tio vinha todo final de semana para falar do amor de Deus. Na primeira vez que aquele moço foi em uma Igreja crente ele aceitou Jesus. Um ano depois estava firme e batizou-se, mais três meses se passaram e ele também recebeu o batismo com o Espírito Santo. Um ano depois, recebeu o chamado do seu pastor para começar no ministério da palavra.

A primeira vez que pregou, foi em um culto na frente da casa de uma família crente. O bairro era muito pobre e a rua estava deserta. Quando ele fez o convite para que alguém viesse até aquele lugar para receber a salvação em Cristo Jesus, embora não houve pessoas nas ruas, havia gente ouvindo a pregação pelas janelas das casas. Quase 10 pessoas saíram em silêncio de suas residências e foram até aquele lugar.

Animado com o resultado, aquele jovem crente foi pregar na praça de um dos maiores bairros daquela cidade. Uma pequena multidão se ajuntou para ouvir a palavra. Outros companheiros pregaram, mas quando chegou a vez daquele moço, ele falou sobre as desgraças que um homem sem Deus pode fazer, quando deixa o diabo governar a sua vida. Na hora do apelo, o moço perguntou para os ouvintes da palavra quem queria entregar sua vida para Cristo. O resultado foi aquele multidão de mãos erguidas no ar. Alguns ouvintes levantaram as duas mãos. O destino daquelas pessoas ele nunca soube.

E ele ficou ainda mais entusiasmado. 

Começou a fazer planos para iniciar uma Igreja, pois era evidente para ele que a presença do Espírito de Deus era consigo. E ele abriu um salão de pregação no seu bairro e o salão se encheu.

Mais animado ele ficou e, por isso, foi procurar um espaço no maior bairro daquela cidade. Não foi fácil, demorou um pouco, até que um dia o cinema daquele bairro fechou as portas. O moço não tinha dinheiro suficiente para alugar aquele espaço comercial. Orou, orou, jejuou e jejuou. Pediu para Deus que o abençoasse e lhe desse aquele grande salão.

E deus ouviu suas orações e o abençoou o desejo do seu coração. Ele não só conseguiu instalar ali sua Igreja  como, também, o espaço se encheu e ficava gente de fora em menos de dois anos.

Dali, ele começou a pensar alto. Muitos companheiros de ministério começaram a provocar suas ambições.

--Olha, o Missionário  fulano dominou o Brasil inteiro através evangelização pelas ondas do Rádio. Acontece, que ele rejeitou evangelizar pela TV, porque, no entender dele, aquilo era o território do diabo. Mas, nós temos certeza que não. Aquilo é igual ao Rádio, só que é um milhão de vezes melhor para evangelizar e nos vai dar acesso a milhões de lares que preferem assistir TV.

E aquele moço, desta vez, colocou a opinião de seus colegas no seu coração e não insistiu com Deus para ver se aquilo era da SUA vontade. Trocou o silêncio do Espírito Santo pelas vozes ambiciosas de seus companheiros. Na verdade, chegou um momento que ele se apossou daquela ambição como se sempre estivesse lá, no fundo do seu coração.

TV precisa de muito dinheiro. Dinheiro na casa dos milhões. 

Como Deus operava milagres e e expulsava muitos demônios por intermédio daquele moço, agora casado, e bem casado, em todos os cultos que dirigia, ele começou a sonhar com o que aconteceria com os telespectadores no dia que vissem nas imagens da TV os demônios saindo e as pessoas sendo curadas de todo tipo de enfermidades. Desta fonte, ele pensava, Deus supriria os gastos para manter o programa de TV no ar.

E o dinheiro veio. E veio muito além daquilo que ele poderia imaginar.

Como era tanto o dinheiro, que houve necessidade de fazer novos planos, quem sabe alugar por 24 horas um canal de TV ou, quem sabe, comprar um. A partir deste momento, a avareza começou a falar mais alto, e a voz do Espírito foi começando a ser deixada de lado.

Para alugar por 24 horas um canal de TV, era preciso de mais dinheiro. E para conseguir mais dinheiro era preciso novas ideias. O Marketing entrou na história para desenvolver novos "produtos". Um planejamento agressivo de arrecadação de fundos foi aprovado e posto em prática. Nenhum obreiro daquela Igreja deveria ter vergonha de pedir dinheiro. A justificativa dos novos planos era comprar novos terrenos, construir grandes templos, enviar centenas de missionários para todos os países do mundo, comprar um jatinho Learjet para deslocamentos rápidos pelo mundo afora.

Deus tem pressa. Pelo menos esta era a divisa de marketing da Igreja.

A Igreja apostou na ideia do uso de uma franquia, para crescer ainda mais depressa e dominar o país e o mundo. Um pastor, para instalar um templo em determinada cidade precisava assinar um contrato.  Cada mês, durante uma ano, ele deveria pagar uma grande quantia em dinheiro. Se durante aquele ano o franqueado não conseguisse pagar todo o investimento, de acordo com uma cláusula do contrato, ele deveria passar o "negócio" à frente para outro pastor. Assim, à frente de cada Templo, só permanecia os mais espertos.

E a experiência dos mais espertos era discutida em ensinada, por baixo dos panos, aos jovens ministros.  Coisas do tipo: pedir como oferta as chaves de casas, carros, escrituras de terrenos, o primeiro salário  de cada desempregado que encontrasse emprego; 50% de cada causa difícil, resolvida, 30% para lavagem de dinheiro sujo, e vai por aí afora.

E foi assim que aquele moço deixou de ser humilde e pobre e se tornou o mais bem sucedido líder evangélico na história de seu país. Sua Igreja agora tinha templos abertos em mais de 200 países do mundo. Milhões de pessoas ouviram o Evangelho e levantaram as mãos para Cristo em seus Templos.


E ele ficou velho. E depois de velho ele faleceu e foi sepultado. Em seu sepultamento estiveram presentes dos membros da Igreja até o Presidente da República, afora muitos Senadores, Deputados, Governadores, banqueiros,  Prefeitos, Desembargadores, Juízes. O Presidente da República decretou luto oficial. Por três dias a Bandeira Nacional ficou a meio mastro.

A cerimônia foi veiculada incessantemente pela TV. As câmeras mostravam o choro dos fiéis consternados pela grande perda. Nos púlpitos dos Templos, versículos de honra era lidos em memória do grande líder falecido. 

Depois de todas estas honras, o espírito daquele celebrado defunto foi levado até a porta do céu. Ali, estava São Pedro com as chaves na mão. Antes de abrir a porta, as obras do pretendente precisavam ser pesadas.  

Cheio de autoconfiança o espírito do falecido pastor entregou uma grande caixa contendo suas obras ao Senhor Jesus Cristo. Havia uma fornalha acesa ao lado da porta do céu. Quando aquela caixa foi colocada na fornalha, as labaredas subiram muito alto e o crepitar das obras fazia muito barulho.

Quando a fornalha foi aberta, o Senhor deu ordem ao anjo para pegar o que restou de precioso das obras depois das glórias e valores puramente humanos.

Só havia um punhado de cinzas. Nenhum sinal de ouro, prata ou bronze. Tudo o que a grande caixa de obras continha não passava de palha ou madeira.

Muito assustado o espírito do grande líder evangélico estremeceu. Olhando para o Senhor Jesus Cristo, ele começou buscar justificativas para entrar na porta do Céu.

--Senhor, eu era um moço pobre e humilde. Aceitei a fé no começo da minha juventude. Em lugar de andar e beber com as prostitutas e me tornei um crente. Comecei a ganhar almas para ti desde bem cedo. Vendo que tinha  o dom investi todo o meu tempo na sua causa. Construí milhares de templos, gastei os tubos evangelizando pela TV, minha Igreja expulsou demônios de milhares de pessoas. Os cegos viam e os aleijados eram curados. Os endividados eram abençoadas e milhares tornaram-se empresários. Resumindo, para tomar seu tempo, Senhor, ganhei milhões de almas para Ti.

--Como é que tendo feito tudo isto, o resultado foi um punhado de cinzas...Senhor, por favor me desculpe, mas se eu não conseguir entrar por esta porta, quem é que poderá entrar?

E o Senhor, com um semblante calmo, olhou para aquele moço de falou:

--Amigo, lembra do dia que ouvistes a voz dos teus companheiros de ministério, quando eles lhe mostraram a obra do missionário fulano? Pois bem, aquela voz não era Minha, mas do diabo. Como não fostes orar para pedir a minha confirmação, te fizestes surdo ao Espírito Santo e tudo o que construístes foi sobre a areia. O meu propósito para sua vida era bem diferente do que fizestes.  Ganhastes o mundo inteiro, mas deixastes a tua alma sob o domínio do diabo. Não é com o ouro e a prata que se paga o preço da salvação de uma alma perdida.

--Aparta-te de Mim, tu que praticastes a iniquidade, porque há muito tempo deixastes de ser ovelha do meu rebanho!



Nota do blogueiro: hipotéticas semelhanças do texto com a vida real, pode ser mera coincidência.








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