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quinta-feira, abril 29, 2010

A mestra Elza Pinheiro dos Santos com carinho



Master
"A Professora"

João Cruzué


O dia 10 de abril de 2010 marcou como brasa o coração da professora e Irmã em Cristo, Elza Pinheiro dos Santos. Foi neste dia que seu filho, Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, foi achado morto na Zona Norte de São Paulo, supostamente morto, e com certeza torturado, dentro do quartel por policiais militares. Eduardo era negro. Esta infelicidade, levou o Comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo a escrever uma carta, do próprio punho, com um pedido de desculpas.

Hoje, quando voltava do trabalho, lia a Folha de São Paulo. Chamou-me atenção a forma moderada e digna de sua reação diante da perda incomensurável do filho. Reação de uma verdadeira cristã. Irmã Elza não tem do que se envergonhar. Suas palavras, em entrevista à repórter TALITA BENDINELLI para a Folha, são uma grande lição de vida para seus alunos, colegas de magistério, cidadãos paulistas e, principalmente, para a Polícia Militar.

Seu filho morreu a seis dias do aniversário da filha de dois aninhos. Ela nunca mais vai ver o sorriso do filho, a não ser na foto que guardou dentro da Bíblia, de onde a tirou para mostrar à repórter. Como o pai era motoboy, a filha quando saía com Irmã Elza costumava chamar "papai, papai, papai", quando via uma moto de alguém estacionada na rua.

--Eles (os policiais que torturaram e mataram seu filho) já estão perdoados, todos eles, porque eu sou Cristã! Mas eu confio primeiramente na justiça de Deus e depois na justiça dos homens, finalizou a Professora Elza.

Quando a repórter perguntou qual seria o motivo do assassinato do filho, Irmã Elza foi incisiva: "Sem dúvida nenhuma foi a cor da pele. Sabemos que o nosso Brasil é preconceituoso. Tivemos avanços. Mas o preconceito parece com uma erva daninha, que se você não arrancar com a raiz, ela brota de novo. E brotou. Acho que foi o preconceito [contra negros]. Agradeço à carta do Coronel, na certeza de que haverá justiça.

Entre outras coisas que Irmã Elza disse vou deixar registrado essa: "Tem dia que eu acordo às duas e meia da manhã. Aí eu consigo dormir mais um pouquinho, para acordar às quatro. Então coloco meus joelhos no chão e clamo pela misericórdia de Deus. Porque só Ele nos dá forças, para nos levantar a cada manhã." Fica a esperança de um dia me encontrar com ele [Luís].

Eu fico pensando. Não posso repercutir as opiniões negativas sobre a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Mas como religioso, presbítero da Igreja, reconheço que o meio aonde os militares trabalham é muito estressante. Eles lidam com criminosos todos os dias. Minha sugestão não vai eliminar o mal ou o preconceito pela raiz, mas que está faltando tratamento preventivo, isso está. Assim como há psicólogos trabalhando nos quartéis, também deveria também ter uma melhor assistência religiosa nos batalhões da PM paulista. Como oficial de uma Igreja evangélica, eu sei que não se arranca o mal com as próprias mãos, nem é possível eliminá-lo com discursos emocionantes. É preciso de mais "bíblia" dentro de um quartel que martele contra o perigo de combater o mal com o próprio mal.


Eu sei que o Coronel Álvaro Batista Camilo, apesar de tardio, teve um ato de nobreza ao escrever uma carta de três páginas . Eu não sei como ele finalizou a sua carta, pois nem sabia que estava diante de uma professora. Para ele, Dona Elza era a mãe do finado Luís, o moço que foi torturado e morto dentro do quartel. Mas para mim que conheço bem o trabalho cansativo de uma professora, e principalmente porque Irmã Elza mostrou muito mais equilíbrio do que os 12 PMs, suspeitos de matar seu filho, foi terminar assim:

À mestra Elza Pinheiro dos Santos com carinho: Meus sentimentos e minhas orações pela senhora e pela netinha, agora órfã, graças à maldita tortura que viceja livremente como tiriricas em muitos quartéis e delegacias brasileiras.

Irmão João Cruzué

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