João Cruzué
Jesus se apressa. O tempo do Messias está chegando ao fim. Então em um monólogo prático Ele começa a descortinar os dias à frente. Os dias intermediários entre a partida e a chegada do Espírito do Santo. Este texto vem martelando e eu não posso deixar de escrever.
A Igreja estava nascendo. Não era Católica nem Protestante, ainda estava no ventre do Judaísmo. Religião monoteísta cujos líderes, nos dias seguintes, iriam produzir a prova inconteste para sentenciar Jesus à morte. Vou abrir um aposto no texto.
--Conjuro-te perante o Deus vivo que nos diga se tu és o Cristo, o Filho de Deus, insistiu o Sumo Sacerdote.
-- Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu; respondeu Jesus, dando firme testemunho da boa confissão. A prova testemunhal selou seu destino; segundo o Judaísmo, Deus é único e não tem filho.
O núcleo dos discípulos não fazia a mínima ideia do tamanho da crise político-religiosa que estava a caminho. Como de outras vezes, mais um Messias seria morto, só que este Messias, não fora produzido pela loucura de uma mente paranoica. Era mesmo o enviado de Deus. O Sinédrio de tanto sentenciar messias, já estava acostumado à prática depurativa. Eram convictos de que uma heresia trazia maldição.
O costume de tratar a mesma coisa com o mesmo remédio transforma o sublime em formalismo, expulsa o Espírito e vai formando um vazio. Lembra-me uma goiabeira do quintal. Veio o pedreiro e cimentou o quintal e o tronco da árvore. Em questão de dias a casca da goiabeira apodreceu e interrompeu o fluxo da seiva. A seiva bruta subia pelos vasos lenhosos (xilema) até às folhas, mas seiva elaborada não descia mais à raiz. Com o tempo as folhas deixaram a cor do viço e foram gradativamente ficando amarelas. E para não cair e quebrar telhas, tive que serrar galho por galho, da ponta ao pé aquela goiabeira que produzia até 180 frutas por galho.
O formalismo é como o cimento que apodrece o tronco na divisão do caule com a raiz. As orações sobem, a resposta desce, mas não chega. Algo secou entre o céu e a terra.
No versículo 2 há uma profecia terrível, que mostra a consequência da perda de contato com o Pai: "Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus". Isto se cumpriu literalmente quando examinamos a biografia de Saulo de Tarso.
O clímax da separação e do distanciamento do Sinédrio com Deus está no versículo 3: "E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim". O Judaísmo, em nosso conceito cristão, uma árvore moribunda e morta do tronco para cima.
Quando olho para o que está acontecendo, na Igreja Evangélica brasileira nos dias atuais, eu constato uma má notícia: O formalismo já cimentou completamente o quintal e o tronco das "goiabeiras".
No capítulo 16, Jesus estava conscientizando seus discípulos de que era preciso que Ele fosse, para que o Espírito Santo viesse para estar com a Igreja. Por um pouco de tempo eles ficariam sós e confusos, mas com a chegada do Espírito da alegria, dias melhores estavam pela frente.
Não é o nosso caso. O Espírito Santo já veio. De uma forma simplista de dizer, está conosco, na Igreja Pentecostal brasileira, há mais de cem anos. E tendo provado a excelência da sua companhia, entristecendo-o, já não resta mais esperança.
Mas assim como a Bíblia fala da figueira que brotou a goiabeira do quintal, bem mais humilde, também lançou um renovo. Hoje está quase do mesmo tamanho e produzindo tanto quanto o outro tronco. Isto me faz lembrar de uma coisa: Que Deus é bom, e sua misericórdia, maior que nossos pecados.
"Tenho vos disto, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo: Eu venci o mundo."