Padre Marcelo Rossi |
João Cruzué
A Folha de São Paulo traz hoje na folha A14 uma entrevista feita por Diógenes Campanha com o Padre Marcelo Rossi. Entre outros temas comentados está de volta ao cenário nacional a velha "Teologia da Libertação" defenestrada pelo Cardeal Ratzinger ex-prefeito da Congregação para Doutrina da Fé da Igreja Católica, sob a então batuta anti-comunista de João Paulo II. Isto pode ser muito bem entendido pelos recentes rumores agora confirmados pela oposição do carismático Padre Marcelo.
Foi a Igreja Católica, segundo Padre Marcelo que deu origem ao PT, mediante as "CEBs - Comunidades Eclesiais de Base. E lembro-me bem disso, no começo dos anos 80, quando os anos de chumbo da ditadura militar estavam no mim, do apreço que os Jesuitas da minha Faculdade (São Luís) tinham por Luiz Inácio da Silva. Comprei inclusive um livreto "Aí a peãozada partiu pro pau" autografado pelo próprio, na Livraria Loyola da Rua Hadock Lobo. Convites para ouvir no Teatro Tuca, da PUC de São Paulo, sobre a Carta Encíclica "Laborem Exercens" de João Paulo II, publicada em 14 setembro 1981. Sim, eu estava lá, e na mesa dos conferencistas estava um trabalhador convidado.
Mas, não passou muito tempo e João Paulo II, que tinha horror ao comunismo, escaldado da Polônia, sua terra natal, com o passar do tempo bateu de frente com frade franciscano conhecido como Frei Leonardo Boff, que primeiro foi "convidado" a ficar em silêncio obsequioso até se desligar da Sé em 1992. Com ele também estava Frei Beto, amigo próximo e consultor de Lula no primeiro mandato da presidência.
Padre Marcelo é representante da Ala Carismática da Igreja Católica, a vertente tolerada e utilizada pelo Vaticano para suprimir a Teologia da Libertação, que na forma era religiosa mas na essência era a pregação de um Cristo socialista, amigo dos pobres e inimigo dos ricos. Simples assim. Na cidade onde cresci, havia uma Casa chamada Mobon- Movimento Boa Nova, onde havia doutrinação comunista m-e-s-m-o! As pessoas simples da minha terra eram treinadas a não cumprimentar quem tivesse alguma posse em terras. Coisa que escandalizaram meus pais - extremamente católicos - mas que se tornaram evangélicos, entre outras coisas, pois detestavam ideias comunistas.
As CEBs podem estar de volta. Pelo menos, a julgar pelo noticiário não é mal vista pele atual Papa Francisco. Aparentemente, seus auxiliares mais próximos têm simpatia pela volta desta forma de evangelização, amparados pelo votação expressiva do Cardeal Jorge Mário Bergoglio já no processo de eleição de Bento XVI. E agora, com a renúncia deste, o Cardeal argentino voltou a ser lembrado, ganhado a eleição de forma tranquila, creio eu, por ter ideias bem diferentes do Cardeal Ratzinger.
Podem até dizer que não, mas Padre Marcelo Rossi foi bem claro na entrevista quando questionado pelo fato de que na assembleia da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil feita em abril foi indicado aos presentes que a Igreja quer incentivar o retorno das CEBs na tentativa de recupera o espaço que vem perdendo para as Igrejas Evangélicas.
Imagino que Padre Marcelo seja mesmo contra, pois se a Igreja Católica Latino-Americana se voltar outra vez para a esquerda, a ala carismática da Igreja Católica vai perder força. O padre carismático disse que "acha" importante as CEBs, mas que hoje o povo precisa de grandes espaços. Se bem entendi, aquele ambiente "familiar" de pouca gente, onde o veneno comunista era destilado no ouvido dos pobres gota a gota, segundo o entendimento do padre não deve voltar mais.
O fato novo é que a era Ratzinger passou e a de Bergoglio começou. O cabo de força entre a ala carismática e os adeptos da teologia da libertação pode estar apenas começando. E como ele já deixou raízes e muita simpatia no passado, agora é a vez dos carismáticos declinarem ou se reciclarem. Se isto for verdade, uma das primeiras coisas que vão resolver, será a formação de leigos, casados, para fazer o trabalho de evangelização (doutrinação) da Igreja Católica. Digamos que vem aí o cargo de "presbítero" da Igreja católica, a função mais alta que um leigo poderia, eventualmente, atingir dentro da Igreja de Roma. Mas, isto é só especulação de minha parte.
Padre Marcelo e os padres carismáticos da Rede Canção Nova de Cachoeira Paulista devem estar bem preocupados neste momento, pois a simpatia do ex-Cardeal Bergóglio ao movimento eclesiais de base parece consistente. Sobre este assunto é o próprio Frei Leonardo Boff quem confirma. Onde há fumaça... há fogo!
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