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Branco e negro |
REVISTA DESPERTAI/TORRE DE VIGIA
"MUITOS líderes religiosos responderam que “Sim”. Os clérigos Robert Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, em seu comentário bíblico, asseveraram: “Maldito seja Canaã [Gênesis 9:25] — esta maldição se tem cumprido na . . . escravização dos africanos, os descendentes de Can.” — Comentary, Critical and Explanatory, on the Whole Bible (Comentário, Crítico e Explicativo, de Toda a Bíblia).
Afirma-se que não só a escravização dos negros cumpria tal maldição bíblica, mas que sua cor preta também. Assim, muitos brancos foram levados a presumir que os negros são inferiores, e que Deus propôs que fossem servos dos brancos. Muitos negros ficaram amargurados pelo tratamento recebido, em resultado desta interpretação religiosa. Uma delas observa:
[Testemunho de uma vítima do preconceito]:
“Era o verão de 1951 quando eu, menina curiosa de 7 anos, sentei nos degraus da Primeira Igreja Batista em Sheepshead Bay, Brooklyn, e chorei. Tentara diligentemente esfregar a negritude de minha pele até ela sair, porque minhas coleguinhas brancas tinham comentado que era repulsiva. Esfregá-la com detergente Ajax apenas deixou uma mancha vermelha e inchada. Aquilo doía, quase tanto quanto meu coração infantil, quando comecei a ponderar por que um Deus de amor me tinha feito negra, a menos que não me amasse.
“Tinha ouvido dizer que isso era devido a uma maldição imposta por Deus à nossa raça. Mas, não conseguia entender ou compreender o que havíamos feito a Deus para merecer tal castigo. E acho, refletindo, que no fundo do coração eu sempre nutri um ressentimento particular contra Deus por me fazer negra e me colocar num mundo branco.
“Nos distúrbios esmagadores das zombarias e epítetos raciais de minhas coleguinhas, tais como: ‘Se é branca, é uma linda criança; se é morena, só nos dá pena; se negra é aqui não ponha o pé’, surgiu uma condição marcada, em que comecei a ferver de raiva, especialmente diante de meninas brancas da minha idade.”
O que dizer dessa maldição bíblica? São negras as pessoas por causa duma maldição imposta por Deus a algum ancestral delas? E sofreram os negros séculos de escravidão em cumprimento desta maldição? Ensina realmente a Bíblia tais coisas?
Vejamos. O relato bíblico que em pauta reza:
“E [Noé] bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda. E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos os seus irmãos fora. . . . E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera. E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. E disse: Bendito seja o Senhor Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.” — Gên. 9:21-27, Tradução Almeida.
Tem-se afirmado que esta maldição bíblica marca os negros para a servidão perpétua. Com efeito, em 1838, o realizador duma cruzada anti-escravista, Theodore Weld, escreveu num tratado popular: A “profecia de Noé [supracitada] é o vade-mécum [companheiro constante] dos senhores de escravos, e eles jamais se aventuram a sair sem ele”. — The Bible Against Slavery (A Bíblia Contra a Escravidão), página 66.
Mas, primeiro de tudo, queira notar que nada se diz neste relato bíblico sobre alguém ser amaldiçoado com a negritude de pele. E, observe, também, que foi Canaã, e não seu pai, Cã, que foi amaldiçoado. Canaã não tinha pele negra, nem seus descendentes, os quais se fixaram na terra que se tornou conhecida como Palestina. (Gn. 10:15-19) Os cananeus, com o tempo foram subjugados pelos israelitas, descendentes de Sem, e, mais tarde, pela Medo-Pérsia, Grécia e Roma, descendentes de Jafé. Tal subjugação dos cananeus cumpriu a maldição profética sobre seu ancestral, Canaã. A maldição, assim, nada teve que ver com a raça negra.
De onde, então, veio a raça negra? Dos outros filhos de Cã, Cus e, provavelmente, também de Pute, cujos descendentes se fixaram na África. Mas, como vimos, a Bíblia não diz absolutamente nada sobre os descendentes negros de tais homens serem amaldiçoados! Todavia, presumiu-se incorretamente que assim o foram. Quando é que os comentaristas eclesiásticos começaram a aplicar a maldição a Cã?
Um eclesiástico de uns 1.500 anos atrás, Ambrosiaster, aplicou-a assim, dizendo: “Devido à sua tolice, Cã, que tolamente zombou da nudez de seu pai, foi declarado escravo.” E John F. Maxwell observa em seu recente livro Slavery and the Catholic Church (A Escravidão e a Igreja Católica): “Este exemplo desastroso de exegese [explicação] fundamentalista continuou a ser usado por 1.400 anos e levou ao conceito amplamente expendido de que os negros africanos foram amaldiçoados por Deus.”
Até mesmo há uns cem anos, a Igreja Católica detinha o conceito de que os negros foram amaldiçoados por Deus. Maxwell explica que este conceito “aparentemente sobreviveu até 1873, quando o Papa Pio IX associou uma indulgência à oração em favor dos ‘desgraçados etíopes da África Central, para que o Deus Todo-poderoso remova inteiramente a maldição de Cã de seus corações’”.
Todavia, mesmo antes do começo da cristandade, mais de 1.500 anos atrás, sim, possivelmente mesmo antes de Jesus Cristo viver na terra, os rabinos judeus ensinavam uma estória sobre a origem da pele negra. Afirma a Encyclopœdia Judaica: “O descendente de Cã (Cus) tem pele negra como castigo por Cã ter tido relações sexuais na arca.”
“Estórias” similares foram inventadas nos tempos modernos. Os defensores da escravidão, tais como John Fletcher, de Louisiana, EUA, por exemplo, ensinavam que o pecado que motivou a maldição de Noé fora um casamento inter-racial. Afirmavam que Caim fora assolado com a pele negra por matar seu irmão, Abel, e que Cã pecara por se casar com alguém da raça de Caim. É digno de nota, também, que Nathan Lord, presidente da Faculdade Dartmouth, no último século, atribuiu também a maldição de Noé sobre Canaã, parcialmente, ao “casamento misto proibido [de Cã] com a raça previamente iníqua e amaldiçoada de Caim”.
Mas, tais ensinos não têm nenhuma base na Bíblia. E houve gente, nos séculos passados, que mostravam que a maldição proferida por Noé estava sendo aplicada erroneamente aos negros. À guisa de exemplo, em junho de 1700, o Juiz Samuel Sewall, de Boston, EUA, explicou: “Pois Canaã é a pessoa amaldiçoada três vezes, sem se mencionar Cã. . . . Ao passo que os da raça negra [em inglês, Blackmores] não descendem de Canaã, mas de Cus.”
Também, em 1762, certo John Woolman publicou um tratado em que argumentava que a aplicação desta maldição bíblica, de forma a justificar a escravização de pessoas e privá-las de seus direitos naturais, “é uma suposição embrutecida demais para ser admitida pela mente de qualquer pessoa que sinceramente deseje ser governada por sólidos princípios”.
Imensos danos resultaram da aplicação errônea, por parte de eclesiásticos, desta maldição bíblica! A escravização dos negros africanos, e os maus tratos que lhes impuseram, desde os dias da escravidão, não podem de forma alguma ser justificados pela Bíblia. A verdade é: Os negros não são, e jamais foram, amaldiçoados por Deus!"
---Fim---
Opinião do Blogueiro sobre a origem da raça negra:
Na minha vida de cristão ouvi muitas vezes, sempre de pessoas iletradas que nem pensavam direito no que repercutiam, que a cor negra da pele era a maldição de Caim. Sem ficar repetindo esse assunto, e indo direto ao ponto, a pessoa que ressuscita este tipo de texto em pleno século XXI está procurando encrenca.
A Genética, um ramo da verdadeira Ciência que trata, entre outras coisas, do estudo do DNA, genes, cromossomos, bases de ligação, já jogou luz suficiente neste assunto, para dar a entender a quem investiga a beleza da criação de Deus que este tipo de comentário não resiste à mais simples lógica científica. Se Caim ou Canaã foi amaldiçoado com a pele negra, como se explica a cor negra das aves, dos peixes, dos animais e até das frutas e legumes? Será que somente o homem possui a cor da pele negra?
Se nós cristãos cremos pela fé que Deus criou o corpo do homem e da mulher, também devemos crer que Ele potencializou sua genética (DNA) para produzir filhos e filhas com diferentes cores de: pele, olhos e cabelos. A esta opinião devo acrescentar as Leis de Mendel, que tratam do estudo das características recessivas e dominantes transmitidas pela união de indivíduos diferentes da mesma espécie.
A pele negra, os olhos e cabelos negros tem tudo a ver com melanina e nunca foi uma maldição divina. Sua origem é genética e tem perfeita explicação na Biologia.
Pesquisando a Bíblia, é muito provável que a sedição de Miriã e Arão em Números 12:1 tenha tido origem na cor da pele da mulher de Moisés que era cuxita (etíope). Se assim foi, Deus não deixou isso barato. A lepra de Miriã a deixou branca como a neve. Teria este castigo alguma repreensão direta contra racismo? Por que uma doença que mudasse a cor da pele para um branco extremo?
Bem, se em nossos dias, alguém ainda fica falando ou citando abobrinhas racistas nos púlpitos de Igrejas, talvez esteja mesmo procurando sarna ou processo para se coçar. Depois não me venha com conversa de perseguição injusta por causa da fé... Pois em Provérbios 26:3 está escrito: "O açoite é para o cavalo, o freio é para o jumento, e a vara é para as costas dos tolos."
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