sexta-feira, maio 29, 2009

Meu pé de goiaba vermelha

Goiabeira
João Cruzué

Quando minha filha nasceu, eu sonhei com uma árvore bem grande no quintal onde eu pudesse amarrar uma corda e fazer uma gangorra para ela brincar. Sim, eu queria empurrar a Priscila para vê-la subindo e descendo, com os cabelos agitados ao vento, no vai e vem da gangorra. Sim, eu ainda veria isto.

E lá estava eu, um dia, no Paraíso. Não no céu, mas na Rua Martiniano de algumas sementinhas e as plantei. Nasceram muitas, mas fiquei apenas com três. Eu fiquei com um e dei os outros aos vizinhos.

Minha filha cresceu. Junto com o pé de goiaba. Até que um dia, eu comprei uma corda de bacalhau e dei um nó no galho curvo da goiabeira, ainda bem jovem. Eu vi minha filha primogênita balançando naquela gangorra, indo tão alto, que seus pés quase tocavam as telhas da varanda. Eu pude empurrá-la para que subisse mais alto, e mais alto. Eu vi seus cabelos se agitando ao vento.

Depois veio a outra filha. O pé da goiabeira já estava enorme. Galhos mais altos e mais fortes. Eu construi outra gangorra. Uma corda bem mais longa. Quando Aline subia, levava a gangorra à alturas bem maiores. Chegei a ficar com medo. Ali gangorrava as duas, os sobrinhos, minha esposa... e até eu. Sim até eu a experimentei.

A goiabeira só dava frutos uma vez por ano. E janeiro. As folhas começavam a cair, em agosto. Em setembro não havia mais nenhuma olha em seus galhos. Mas no chão... No mês de outubro brotavam folhas e botões de flores por todos os lados. E em janeiro, os frutos já estavam bem grandes- de novo. Como eu não usava inseticida, era aquele festival de goiaba madura caindo no quintal. Com muitas lagartinhas os famosos bichos de goiaba. Lembro de um ano, que limpando sementes e cascas, devo ter feito uns 20kg de polpa de um rosa avermelhado. Era um pé de goiaba exageradamente produtivo. Boas para comer quando estavam de vez. Maduras? Nem pensar... eram propriedade das lagartinhas, os famigerados "bichos" de goiaba.

A árvore ficou muito alta; seus galhos ultrapassavam os limites do quintal, invadindo propriedades dos vizinhos>: Tanto o da esquerda quanto da direita. Pelos galhos fugiam céleres o Simba, o Rômer, o Chamy, o Astolfinho - uma curriola de gatos siameses e angorás que tínhamos em nossa casa.

Até que um dia veio o pedreiro para construir uma escada nova no quintal. Ele cimentou meu pé de goiaba vermelha. Ninguém percebeu. A não ser tarde demais. O cimento fez apodrecer a casca do pé da goiabeira. Agora uma seiva subia até às folhas, mas a outra não descia de volta às raízes. Assim, o pé de goiaba foi murchando, amarelecendo. Com muita tristeza eu tive que derrubá-lo, para que não caísse sobre a casa. Cortei galho por galho; da ponta mais alta até próximo do chão. Aquela goiabeira doida que em apenas um galho de um metro e meio eu contei 180 goiabinhas estava acabada.

Mas eis que para surpresa minha do chão brotou um renovo. Um galho franzino subiu da raiz daquela goiabeira moribunda. Passa-se um ano. Dois anos. Nada muito promissor. Três! Agora em maio, depois de algumas semanas de muito trabalho voltei para ver o quintal. Novidades! Frutos fora de época. Folhas de um verde escuro muito viçoso. Altura, quase a mesma tempos passados. E um pequeno ninho de pássaros escondido entre os galhos.

Eu olhei para aquela nova árvore. Reparei que estava mais bonita que antes. Outro galho curvo apareceu. Para amarrar uma nova gangorra. Como minhas filhas já estão grandes; uma até já se casou, eu tive um novo sonho. Ainda vou ver meus netos com os cabelos agitados ao vento, balançando, subindo e descendo. Ouço alguém falando: Cuidado para não cair!

Interessante a volta por cima das árvores. Da mesma forma, há uma profecia bíblica sobre Israel: do tronco da árvore de Davi iria brotar um renovo, um novo Rei nasceria da descendência de Davi. Um Rei, cujo reino seria eterno. Jesus Cristo.

Eu não esperava que depois de abatida, seca, cortada, ainda brotasse um renovo na minha goiabeira. E também não esperava que a segunda árvore fosse mais bonita que a primeira.
Que se vestiu de beleza para despertar em mim um novo sonho. A missão de construir a terceira gangorra para meus netos.

Vou ficando por aqui, não sem antes deixar uma frase bíblica que me veio à mente: "Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam." I Coríntios 2:9




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Um comentário:

Eliseu Antonio Gomes disse...

João

Parabéns, amigo! A inspiração está ótima, da pia entupida à goiabeira tudo está excelente, mesmo.

Isto vai acabar em livro ou em um novo blog! As Crônicas de João Cruzué!

Sobre os bichos na goiabeira, conheço um veneno natural, aprendido no pomar da minha infância. Faça um buraco de uns 20 centímotros ao redor do caule da árvore e despeje nele um quilo de sal e e devolva a terra no lugar. A safra do ano seguinte será de frutas limpas.

Abraço.

Eliseu Antonio Gomes
http://belverede.blogspot.com