domingo, abril 29, 2012

As bênçãos de Deus na adversidade de Jó

Jó 
João Cruzué

O Livro de Jó é um das leituras mais fascinantes da Bíblia Sagrada. Ele introduz uma quebra de conceitos na lógica da prosperidade do pensamento legalista. Fez tudo direitinho? então  você prospera. Pisou na bola escondido? pois Deus está batendo a sua porta para cobrar. Sua família veio de grandes pecadores? então você nunca vai sair da miséria ou pobreza. Jó destoa. Desconcerta. Chama atenção para um ponto interessante: O justo, depois da prova, passa conhecer melhor a fragilidade da justiça humana enquanto alcança uma posição mais alta na comunhão com Deus.

Regra geral: Guarda com sinceridade os mandamentos e Deus vai prosperar você. A bênção calçada pelas obras, e as obras ditadas pela Lei. Legalidade  e prosperidade. Automático.

Regra distorcida: Sua prosperidade depende de quanto você abre seu bolso. "É dando que se recebe".  A regra de ouro dos corruptos atuais. Em um ambiente de pessoas fragilizadas por necessidades de graus diversos, profetas caídos correm atrás do prêmio de Balaão, explorando a fé e o bolso de quem precisa de uma solução de Deus.

Jó era um legalista, religioso, que a princípio pensava que um modo santo de viver sustentava a prosperidade de um homem. Ele ainda não sabia que a justiça humana era  ínfima diante da santidade de Deus. Quando entrou em crise e perdeu tudo, imaginou que  Deus  miséria. Seus conceitos de vida foram colocados em cheque, e ele nunca imaginou que o causador de tudo aquilo era o diabo. E Deus não julgou importante lhe revelar isto.

Os três amigos de Jó eram tão religiosos como ele. Julgavam que Jó tinha algum pecado escondido e que sua sorte revelava uma grande hipocrisia. Depois de ver a morte de todos os filhos, a perda de toda prosperidade e por fim a saúde da esposa foi pragmática: Amaldiçoa este teu deus e morre. Ela deve ter concluído que tanta má sorte em tão pouco tempo era pelo abandono divino.

Então, depois de Jó  ter chegado ao limite sem ter desistido, Deus olhou para Jó e se compadeceu. Mas, antes de devolver em dobro tudo que o diabo levou Deus também decidiu questioná-lo. E lhe mostrou que seu conhecimento da consciência de Deus era nada.

--Eis que sou vil; que te responderei eu? A minha mão ponho na minha boca, respondeu Jó.

E depois de ter tratado com Jó, Deus apareceu para Elifaz e o reprendeu. Mandou que ele avisasse os outros dois que levassem sete bezerros e sete carneiros para oferecer sacrifício na casa de Jó, e se humilhassem diante dele. Somente com a oração de Jó, Deus perdoaria a loucura das palavras dos três.

No final, Deus deu em dobro tudo que o diabo invejosamente tirou de Jó.  O dobro do rebanho, sete filhos e três lindas filhas. Jó agora não era o mesmo homem; já tinha renovado seu entendimento sobre quem era e quem era Deus. Ele tinha aprendido que Deus pode permitir a perda, como também se for da vontade dele, restituir tudo em dobro. Para que isto aconteça, você não deve desistir de orar nem de acreditar em Deus. Eu sei disso por experiência própria.

Continue firme! 

A  perda da prosperidade, a doença,  o desemprego, enfim os dias maus, o vale da sombra da morte pode vir tanto para o ímpio quanto para o crente. As obras de justiça escritas nos livros de Deus não servem moeda de troca para negociar com Deus. 

Andar direito com Deus é um dever de cada um. Dar tudo o que lhe resta para um pastor desonesto não é garantia aceita por Deus para lhe garantir prosperidade. Isto na maioria das vezes não funciona. E quando funciona é porque Deus é bondoso e teve compaixão de ver você caindo no conto do "vigário". 


Quero terminar dizendo que no capítulo 12 do Livro de Romanos está escrito: E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.


E quando Deus quer que deixemos de ser meninos no entendimento e nos tornemos cristãos maduros, ele nos trata como um Pai, que corrige os filhos para que cheguem à maioridade espiritual. Em tempos em que o "ter" é mais valorizado que o "ser", isto é bem difícil de entender.







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Igreja e credibilidade social


Sal
João Cruzué

Prometi para alguns amigos que iria escrever hoje um texto sobre a credibilidade da Igreja Evangélica  perante a sociedade. Depois de acompanhar as mudanças que ocorreram na Suécia, mas recentemente no Canadá e o que está para acontecer por estes dias na Grã Bretanha, fiquei profundamente chocado com a rapidez das mudanças. 

Três grandes nações. Três  grandes berços  de missionários  que impactaram o mundo nos séculos XIX e XX. As duass primeiras garroteadas por uma  lei da "homofobia" e o terceiro a poucos dias de cair perante a mesma legislação, restritiva à liberdade de pregação das verdades bíblicas completas. 

Como foi que as sociedades sueca, canadense e inglesa chegaram a este ponto, em que a liturgia dos templos e a pregação do Evangelho precisaramm ser "adaptadas" para celebrar bênçãos matrimoniais do casamento gay para fugir do rótulo da discriminação evitando citar trechos de alguns livros da Bíblia - por exemplo, a Epístola Universal de Paulo aos Romanos. 

O Canadá é evangélico. Cerca de 70% dos crentes são presbiterianos. Berço da Igreja do Povo, instituição fundada em Toronto pelo saudoso Pastor Oswald Jeffrey Smith em 1928. O escritor de vários livros de missões, sendo o "O Clamor do Mundo" um dos mais conhecidos. Líder da Aliança Cristã Missionária, uma das maiores agências de sustento de missionários do século passado. Nestes últimos dias, a Igreja do Canadá está as voltas com a Lei da "Homofobia" que passou tranquilamente pelo parlamento e se converteu em lei. A maior preocupação da Igreja do Canadá é com a perda da imunidade tributária, a partir de denúncias sobre pregações e supostas resistências em atender demandas gays, de casamento na Igreja, por exemplo. Alguns líderes de igrejas menores, já cogitam pagar o imposto de renda sobre os dízimos e ofertas,  para não comprometer a pregação do Evangelho integral.

 A Igreja da Suécia, berço dos missionários nórdicos que levaram o pentecoste para o Japão, Argentina e principalmente para o Brasil. Qual é sua situação? da última vez que acompanhei o debate, e isto já é coisa de uns três anos, a união das Igrejas Evangélicas de lá estavam mudando sua liturgia para não "afrontar" os direitos de homossexuais, ade uma lei da "homofobia" que passou tranquilamente pelo parlamento sueco. 

 Por fim, o Primeiro Ministro Gordon Brown estava superempenhado este ano em aprovar a lei que ampliava os direitos dos gays na Grã Bretanha. Recebendo inclusive a crítica de seus pares, que o consideravam muito envolvido com coisas pequenas em lugar de grandes projetos. 

Bem, amigos, a introdução do assunto está aberta na mesa e agora vem a pergunta principal: Por que a causa homossexual sobrepujou a importância da Igreja nestas três grandes nações que impactaram o mundo nos dois últimos séculos? A resposta mais curta: Porque as lideranças dessas Igrejas entristeceram o Espírito Santo. 

E como foi que isto aconteceu? Naturalmente, foi um processo de esfriamento muito devagar. Tão devagar e passou desapercebido. Os pastores pregavam, os crentes iam aos cultos, cantavam, contribuíam e depois, todos voltavam alegremente para suas casas com a consciência tranquila de que renderam um bom culto a Deus. Apenas, com o tempo, esqueceram-se de uma coisa: Que o culto não se restringe ao tempo passado no ambiente de um Templo. Ele oferecido a Deus 24 horas por dia. 

E assim, ao evitar qualquer envolvimento foram apagando a chama do Espírito de suas vidas. Uma Igreja insípida. Míope. Prioridades locais. E por locais, não estou me referindo ao lugarejo ou cidade, mas aos quatro cantos do templo mesmo. Ensaios, reuniões, acampamentos, seminários, pós-graduação, mestrados, doutorado em divindade... prática do evangelho, que é bom... nada! 

 Soube hoje, que um dos meus pastores mais admirado pela sua força em abrir campos, visitas, construir congregações, passou para o Senhor com hepatite "B". Há mais de 20 anos passou por uma operação e recebeu transfusão de sangue contaminado. Homem forte, saudável, de grande disposição. Nunca, jamais, imaginara que estivesse contaminado. Mas estava. Silenciosamente e imperceptivelmente o vírus avançava, sem que ele ou ninguém percebesse. Hepatite "B" não tem cura. Quando os sintomas apareceram e foi feito o diagnóstico, não havia mais nada a fazer. 

Assim também aconteceu com a Suécia e o Canadá. A Inglaterra também segue os mesmos passos. Os pastores pregavam, arrecadavam, mas deixaram foram deixando de se comprometer com a voz do Espírito Santo. A visão cotidiana das quatro paredes. Igreja alienada dos processos sociais. E um desfecho triste. Porque nunca foi incisiva em salgar a sociedade e falar quando devia, agora, tarde demais, tem desejo de recuperar o tempo perdido, mas o tempo se foi. 

Vejo com muita tristeza o que também acontece com a Igreja Evangélica no Brasil. A política encanta mais as lideranças que projetos de evangelização. Perante sociedade, a imagem que se sobrepõe é ruim. Pastores, Bispos e "Apóstolos" são vistos como homens avarentos. Que arrecadam, arrecadam, pedem e tornam a pedir - para quê? Para manter programas de TV no ar, construir templos, plantar sementes, mas que administram muito mal as finanças que recebem. 

Os recursos para a Obra do Senhor não são para comprar Redes de TV para semear lixo e esgoto de novelas e programas indecentes nas casas das pessoas. O dinheiro dos dízimos doados generosamente nas Igrejas, não são para comprar haras para criar cavalos QM, nem para adquirir fazendas de gado no Mato Grosso, nem para financiar campanhas políticas de "seu" ninguém. 

Se uma lei de homofobia passar no congresso brasileiro, é por responsabilidade das lideranças das Igrejas Evangélicas que diante dos brados gays ficam caladinhas, quietinhas, pensando que isso não tem nada a ver com seus "mundinhos" e projetos pessoais. Deus não perdoa alienação nem indiferença. A sociedade brasileira é crítica da exploração de pessoas humildes e fragilizadas por lobos disfarçados de pastores. De novela em novela, de fazenda em fazenda, de jatinho em jatinho, de carro blindado em carro blindado, a credibilidade da Igreja (que é atrelada ao comportamento de seus líderes) vai descendo a ladeira. 

A função da Igreja principal da Igreja é levar a voz de Deus ao povo. Sal e Luz. O amor e o consolo Deus que deve chegar aos cansados e sobrecarregados. Aos abatidos e quebrantados de Espírito. A Igreja deve ir até onde o Espírito mandar. Mas se a liderança passar por cima das ordens de Deus,  racionalizar, e der ouvidos a outras razões, pode entrar pelo mesmo caminho do rei Saul, e o destino vai ser o mesmo: Perda da presença do Espírito do Senhor e a perda da credibilidade para com a sociedade.

 Acontecendo isto, a Igreja Evangélica será como o sal inútil, atirado no chão para ser pisado por qualquer um. Infelizmente, isto só é descoberto quando é tarde demais. 

 O que aconteceu com as Igrejas da Suécia, Canadá e está para acontecer na Inglaterra, não foi obra do acaso. A Igreja destes lugares foi perdendo imperceptivelmente sua importância e credibilidade perante a sociedade. Em um processo lento e gradual, da mesma forma que está acontecendo agora no Brasil. 

Que Deus nos guarde. 




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