sábado, maio 05, 2018

Além do Vietnam Sermão de Martin Luther King Jr

.

João Cruzué

Comentário do blogueiro: Faz tempo esse meu desejo de traduzir o Sermão "Beyond Vietnam" pregado em 04 abril de 1967, pelo Pastor Martin Luther King. Já traduzi alguns outros sermões dele aqui no Blog Olhar Cristão, mas este me trouxe um interesse especial desde o momento em que soube que, a partir deste sermão, a popularidade e os amigos do Pastor King foram minguando. Os aduladores desapareceram. Os políticos passaram a ter receio de serem fotografados perto dele. As ofertas para seu ministério - antes generosas - foram caindo gradualmente. Ele foi se tornando impopular. Tudo isto aconteceu porque estava na contramão do momento histórico de ufanismo e patriotismo americano que seduzia os jovens americanos para defender a causa da paz e da liberdade no Sudeste Asiático, no Vietnã, do outro lado do Globo. Suas palavras destoavam daquela unanimidada dos meados dos anos 60s. Mas a visão do Pr. King estava certa. Poucos anos depois a sociedade americana acordou do pesadelo. E a pressão subiu tanto, que em 1971 os Estados Unidos desitiram da Guerra. É por isso que o Pastor Martin Luther King é reverenciado e honrado nos Estados Unidos. Ele não negociava com a verdade, nem se calava diante das circunstâncias.

O que me cativou no contexto desete sermão foi a visão correta da guerra que o Pastor King possuia. Em tempos de profundo patriotismo e favoráveis a ela, sua voz destoava. O Pastor King agia baseado em princípios. Ele não negociava com a verdade nem contemporizava com a mentira.

Abrir mão dos princípios cristãos para ser aceito e admirado 
pela "tribo" é o maior erro que um líder cristão jamais pode cair, pois Deus não compactua com a injustiça e isto o afasta da presença de Deus.

É por isso que considero este sermão o mais efetivo de todos os que o Pastor Martin Luther King pregou. Ele sabia que iria desagradar, mas estava preparado para as consequências. O Sermão é bem longo, mas espero levar a cabo sua tradução em poucos dias. Eu creio que todos nós precisamos ouvir um pouco mais o que Deus tem a falar através de um sermão que foi dito ha´34 anos.


INTRODUÇÃO.

Tradução de João Cruzué

Quatro anos depois que o envolvimento americano no Vietnã começou, Martin Luther King corajosamente emitiu a sua primeira declaração contra a guerra pedindo um acordo de paz negociado. A sua condenação à Guerra lhe custou a crítica do governo e de alguns colegas do SCLC. Seguindo o conselho para se concentrar nos direitos civis em vez disso, King decidiu se aproximar a questão do Vietnam com certa reserva. Mas quando o Presidente Johnson anunciou seu plano para desviar os fundos da Guerra contra a Pobreza local para gastar na Guerra do Vietnã em dezembro de 1966, King não conseguiu mais suprimir sua oposição. Em Janeiro de 1967, devido em parte ao encorajamento de sua esposa e de conselheiros mais íntimos, o Pastor Martin Luther King fez sua maior e mais contundente declaração pública contra a Guerra do Vietnã perante uma multidão de 3,000 pessoas reunidas na Igreja de Riverside na Cidade de Nova York.

No dia 4 de Abril de 1967, ele pregou um sermão entitulado "Além do Vietnam". King denunciava que o esforço de guerra estava "alistando jovens negros que tinham sido rejeitados pela sociedade, para enviá-los a 21,000 km de distância, para garantir no Sudeste a Ásia as liberdades que eles ainda não tinham conquistado no Estado da Geórgia nem no bairro do Harlem."

Embora alguns ativistas e jornais apoiassem a declaração de King, a maioria foi contra. Os companheiros dos direitos civis começaram a se desvincular da posição radical de King, e o NAACP emitiu uma nota contrária à fusão entre o Movimento pelos Direitos Civis com o Movimento pela Paz. O Pastor King permaneceu determinado, afirmando que ele não estava unindo os direitos civis com os movimentos pela paz, que muitos haviam sugerido.


ALÉM DO VIETNÃ


Pastor Martin Luther King, Jr.

Eu venho até esta magnífica casa da adoração esta noite porque minha consciência não me deixa nenhuma outra escolha. Junto-me a vocês nesta reunião porque estou em mais profundo acordo com os objetivos e o trabalho da organização que nos uniu: Clero e Leigos na questão sobre o Vietnam. A recente declaração de seu comitê executivo são os sentimentos do meu próprio coração e encontrei-me de pleno acordo quando li as suas linhas de abertura: "Um tempo vem quando o silêncio é traição." Este tempo chegou para nós em relação ao Vietnam.

A verdade dessas palavras está fora de dúvida, mas a missão à qual eles nos chamam é a mais difícil de todas. Mesmo quando pressionados pelas exigências da verdade interior, os homens não assumem facilmente a tarefa de se opor à política do seu governo, especialmente em tempos da guerra. Nem o espírito humano muda sem grandes dificuldades contra toda a apatia do pensamento conformista dentro do próprio peito de alguém e no mundo circundante. Além disso quando as questões à mão parecem tão complexas como elas muitas vezes são no caso deste conflito terrível estamos sempre a ponto de ser hipnotizados pela incerteza; mas devemos mudar. Alguns de nós que já começaram a quebrar o silêncio da noite ao descobrir que a convocação para falar é muitas vezes uma chamada de agonia, mas devemos falar.

Devemos falar com toda a humildade que é apropriada à nossa visão limitada, mas devemos falar. E devemos alegrar-nos também, pois seguramente é a primeira vez que isto acontece na história nacional que um número significante dos seus líderes religiosos decidiu ir além das profecias do patriotismo plano às altas terras de uma divergência firme baseada sobre os mandatos da consciência e a leitura da história.

Possivelmente um novo espírito esteja se levantando entre nós. Se for, vamos seguir bem seus movimentos e orar para que o nosso ser interior possa estar sensível à sua orientação, já que precisamos profundamente de um novo caminho além da escuridade que parece tão perto em a nosso redor

Há cerca de dois anos, quando quebrei meu próprio silêncio para falar das ardências do meu próprio coração, quando eu conclamei por uma radical saída da destruição do Vietnam, muitas pessoas interrogaram-me sobre a sabedoria do meu caminho. No âmago de suas preocupações muitas vezes aparecia uma grande e barulhenta uma pergunta: Por Que você está falando da guerra, doctor King? Por que você está reunindo as vozes da divergência? Os direitos de paz e civis não se misturam, eles dizem. Você não está prejudicando a causa da sua gente, eles perguntam? E quando os ouço, embora muitas vezes entenda a fonte do seu assunto, fico sem embargo muito entristecido, por tais avaras mostram que os inquiridores realmente não me conhecem, nem meu compromisso ou a minha chamada. De fato, suas perguntas sugerem que eles não conhecem o mundo no qual vivem. Á luz de tais trágicos equívocos, considero-os um importante de sinal para tentar afirmar claramente, e creio firmemente, por que acredito que o caminho da Igreja de Batista de Avenida Dexter - da igreja em Montgomery, no Alabama, onde comecei o meu pastorado - me dirigiram claramente a este santuário esta noite.

Venho a este púlpito esta noite para trazer um argumento apaixonado à minha nação querida. Este discurso não é dirigido à Hanói ou à Frente de Libertação Nacional. Não é dirigido à China ou à Rússia. Nem é ele uma tentativa de contemplar do alto a ambiguidade da situação atual e a necessidade de uma solução coletiva para o drama do Vietnam. Nem ele é uma tentativa de fazer o Vietnam Norte ou os modelos da Frente de Libertação Nacionais da virtude, nem contemplar do alto o papel que eles podem realizar em uma resolução próspera do problema. Enquanto ambos eles podem ter razão justificável para recear a boa fé dos Estados Unidos, a vida e a história dão o testemunho eloquente ao fato que os conflitos nunca são resolvidos sem confiáveis concessões de ambos os lados.

Esta noite, contudo, desejo falar não Hanói ou da FLN, mas um pouco aos meus colegas Americanos, que, comigo, suportam a responsabilidade maior no fim de um conflito que exigiu um preço alto de ambos os continentes. Desde que sou pregador pela experiência, suponho que não é surpreendente que eu tenha sete razões principais de trazer o Vietnam no campo da minha visão moral. Há desde o início uma conexão muito óbvia e fácil de entender entre a guerra no Vietnam e a luta que eu e outros temos enfrentado na América. Há alguns anos houve um momento brilhante naquela luta.

Parece que uma verdadeira promessa de esperança para o pobre - tanto negro como o branco - pelo Programa de Combate à Pobreza. Houve experimentos, esperanças, novos começos. Então veio o aumento para o Vietnam e eu vi a promessa do Programa quebrada e estripada como se ela fosse algum brinquedo político ocioso de uma sociedade enlouquecida na guerra, e eu sabia que América nunca investiria os fundos necessários ou as energias na reabilitação do seus pobres pra que as aventuras do Vietnam continuassem engolindo homens e habilidades e dinheiro como um tubo de sucção demoníaco e destrutivo. Então eu fiquei cada vez mais compelido a ver o esforço de guerra como um inimigo do pobre e decidi atacá-lo como tal.

continua





terça-feira, maio 01, 2018

O olhar de Jesus

.
Ator Robert Powell - Filme Jesus de Nazareth (1977).

]
"Eu sou a luz do mundo; quem me segue

não andará em trevas, mas terá a luz da vida."

João 8:12

João Cruzué

É notável a diferença entre o olhar de Jesus e o olhar dos homens. Estes habituam-se bem cedo ao pessimismo, ao desprezo, à desconfiança e à crítica. Ajustam o foco sobre as fraquezas, os defeitos, explorando detidamente o lado mesquinho e hipócrita das pessoas. Jesus Cristo, a expressão viva do amor de Deus, não segue o padrão humano, quando examinamos sua maneira de olhar nas páginas do Evangelho.

Por exemplo: Quando Jesus viu Pedro pela primeira vez, não criticou suas fraquezas nem profetizou que o negaria - embora já soubesse de tudo isso. Em lugar de uma taquara (o significado do nome Simão) Cristo via uma rocha; por isso trocou seu nome para Cefas.

É assim que Jesus nos vê.

Quando nos aproximamos dele, não aponta o dedo para nossas fraquezas para que murchemos e desanimemos. Seu olhar  procura por algo  bom em nosso interior, ainda que seja apenas uma partícula de bondade entre um milhão de defeitos. Se você procurar por Ele, vai ver que é assim.

Quando Jesus viu o baixinho Zaqueu no alto da figueira não zombou dele perante as pessoas. Poderia ter dito bem alto: Eis ali em cima o chefe mais corrupto dos coletores de impostos  de Jericó. Não, ele não fez isto. Outros  diriam assim. Mas Jesus olhava para Zaqueu com amor. Foi por isso que sorriu e disse: Zaqueu, desce depressa, pois hoje me convém jantar em tua casa".  Apenas  um olhar e algumas palavras foram suficientes para produzir a mudança mais inesperada na vida do chefe dos publicanos de Jericó.

Já o olhar do diabo é exatamente o contrário. É crítico. Procura insistentemente por qualquer mancha para humilhar, desprezar e destruir. No livro de Jó, isto fica patente. Deus elogiava Jó e o diabo rebatia. Sua especialidade é levar a amargura de espírito porque é um ser amargurado.

Nós também costumamos menosprezar as coisas aparentemente pequenas. Quando o profeta Eliseu perguntou para a viúva endividada: O que tens em tua casa? Ela parou, pensou e disse: Não tenho nada, a não ser um poco de azeite em uma botija. O que ela considerava pouco, era a quantidade certa que Deus precisava para fazer o milagre da multiplicação. Jesus é Deus, e Deus não enxerga coisas pequenas em nossas vidas.

Quando Jesus olhou para aquela mulher, tangida pelas ruas por aquele  grupo de apedrejadores,  não viu uma adúltera nem uma prostituta, mas uma jovem que precisava apenas de uma oportunidade para se levantar e nunca mais pecar.

Quando Jesus mandou retirar a pedra do túmulo de Lázaro, ele não via um cadáver  mal-cheiroso, enrolado, mas  um velho amigo caminhando diante de uma família de pessoas surpresas e maravilhadas.

Jesus vê uma rocha onde todos veem uma fracassado. Jesus vê um convertido sincero enquanto todos enxergam um fiscal corrupto sem possibilidades de recuperação. Jesus vê um homem correndo e saltando, enquanto os conhecidos enxergam um coxo inútil e teimoso. Jesus não atira pedras em quem está caído. Jesus enxerga vida, onde todos já desistiram ou taparam o nariz por causa do mau cheiro. Jesus Cristo não vira as costas ao ladrão arrependido. Ele bate à porta do coração dos homens.

O olhar de Jesus é misericordioso para aqueles que buscam seu socorro. Se nossas virtudes resumissem apenas a uma única gota d'água no fundo do copo vazio, ainda assim Ele volveria seus olhos para ela e nos diria: Me alegra que isto está em teu coração. Este é o olhar de Jesus.


Curso Bíblico: Como se reconcilar com Deus