Pastor Armando Vanelli
Quase sempre, diante de situações de conflitos, costumamos escamotear com um sorriso de lado, um rosto dissimulado, frases rebuscadas, uma máscara facial, mas os subterfúgios não conseguem esconder aparências que não enganam.
Estou falando de uma crise pessoal, de um situação existencial que é comum a qualquer ser humano. Afinal, nem sempre dá tempo de correr para a cabine telefônica e tirar a camuflagem e sair com aquela disposição comum do “Superman” (ainda vou ter uma camiseta com “V”, nos moldes do Clark Kent, afinal todo mundo pensa que eu sou o Super Vanelli). Mas, a maior prova de que não sou, está aqui nestes escritos que a minha alma filtrou da leitura de um texto bíblico e que agora extravasa.
Estes conflitos existenciais é comum a todos. E eles aparecem diante de situações que aos nossos olhos se aparentam insolúveis, principalmente quando já esgotamos todos os argumentos pessoais. É lógico que diante de uma crise deste porte, a tendência humana é buscar um bode expiatório. Então automaticamente é formulada uma lista dos possíveis culpados: A família, o pai, a mãe, o chefe da empresa e o Pastor da igreja. Por incrível que pareça, até Deus pode entrar no roll dos culpados. Geralmente o argumento para culpar a Deus parte da premissa de que Ele não interviu na situação, sendo que uma fagulha do seu poder, poderia ter levado a cabo a caso.
Vejamos o texto de I Reis 19:1-10: “Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito e como matara todos os profetas à espada.
Então, Jezabel mandou um mensageiro a Elias a dizer-lhe: Façam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã a estas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles.Temendo, pois, Elias, levantou-se, e, para salvar sua vida, se foi, e chegou a Berseba, que pertence a Judá; e ali deixou o seu moço.Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte e disse: Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais.
"Deitou-se e dormiu debaixo do zimbro; eis que um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come.Olhou ele e viu, junto à cabeceira, um pão cozido sobre pedras em brasa e uma botija de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir.Voltou segunda vez o anjo do SENHOR, tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come, porque o caminho te será sobremodo longo. Levantou-se, pois, comeu e bebeu; e, com a força daquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus. Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do SENHOR e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?Ele respondeu: Tenho sido zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida.”
--Que incrível narrativa.
Um dos mais renomados profetas de Deus, debaixo de um profunda crise existencial. Elias sai de um tempo de triunfo, de conquistas, de vitórias, para imergir numa fase de introspeção decepcionante e visualiza interiormente uma profunda catacombe emocional. Apesar de todo sucesso experimentado, agora à primeira instância de sua crise, intenta em seu coração empreender uma fuga: vv. 1-3.
Não olhemos para Elias como homem de Deus, mas como homem. Porque é nesta mesma condição que agimos diante de crises existenciais. Geralmente diante da crise, uma bifurcação de fuga se desenha a nossa frente e no impeto de escolher uma das vias, acabamos pondo os pés em uma e na outra opção, como se pudéssemos andar pelas duas: primeiro é a do isolamento, tentando esconder do problema, não aceitando a ajuda de ninguém; depois fazemos como uma avestruz: enfiando a cabeça num buraco, preferindo não encarar o problema de frente. É como pudéssemos dizer: não existe nenhum problema, é coisa da minha cabeça.
Lembro-me de uma canção antiga, mas muito bonita, exortativa, do conjunto Banda e Voz, o mesmo que cantava “Falando de Vida”, e o seu título era “Fugir não adianta”. Muitas vezes usei esta linda música para minha vida e para a de terceiros, porque a realidade conta que a melhor definição para fuga é covardia diante do problema. E o mais delicado ainda, diante de Deus. A Bíblia está repleta de homens vocacionados que diante de difíceis situações, tentaram ou empreenderam fugas diante de problemas.
Vou me ater a três para não estender muito.
Por exemplo, o patriarca Jacó: “Levantou-se naquela mesma noite, tomou suas duas mulheres, suas duas servas e seus onze filhos e transpôs o vau de Jaboque. Tomou-os e fê-los passar o ribeiro; fez passar tudo o que lhe pertencia,ficando ele só; e lutava com ele um homem, até ao romper do dia.” Gn. 32:22-24. É bom lembrar aqui que uma fuga pode ser uma fraqueza, mas não um distúrbio de caráter.
Outro personagem famoso: Davi, o grande salmista.” Estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; temor e tremor me sobrevêm, e o horror se apodera de mim. Então, disse eu: quem me dera asas como de pomba! Voaria e acharia pouso. Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto.” Sl. 55:4-7 . Davi, tem neste versejar poético, a fuga como resultado do perigo de vida, a opressão do inimigo, o que se tornou uma circunstância aflitiva pessoal.
E finalmente,o profeta Jeremias: “ Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Prouvera a Deus eu tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Então, deixaria o meu povo e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, são um bando de traidores;” Jr 9:1-2. Uma fuga nunca se justifica, mas Jeremias fala tão enfaticamente sobre esta estalagem no deserto onde pudesse ficar um pouco em paz e lá não estivesse diante de homens em tamanha rebelião ao Senhor, ele tinha conhecimento só do versículo 2 ao 14 sobre os 20 pecados de Judá.
O grande dilema de quem trilha dois caminhos pesados, como o isolamento e a fuga, é que as introspecções são tamanhas que acabam resultando numa forte vontade de experimentar a morte. (v.4).
Fatalmente esta é uma conclusão funesta. E geralmente esta vontade é como se fosse, segundo pensam alguns, a morte, o cessar do sofrimento. Elias ousou pedir a Deus que lhe tomasse a sua alma, e esta tem sido uma saída para pessoas, que mesmo envolta a uma vida de fé, acabam pedindo a morte diante de um crise profunda. Jonas fez isto, Moisés também e até o paciente Jó.
Por maior que seja a dificuldade, a morte por si só não tem poderes para solucionar problemas existenciais. Desejar, ansiar e anelar a morte só traz complicações à alma, afinal deve ser forte o desejo de quem conhece a Deus, de viver e continuar a sua jornada nesta terra.
Lamentavelmente todos os dias pessoas se pegam em verdadeiras crises, pensando mesmo até tirar a vida, com vontade de morrer e até pedindo a Deus a morte, como se isto fosse o grande lenitivo e finalização dos percalços que a vida nos impõem.
Na maioria das vezes, as pessoas tentam afogar suas mágoas, dores e sofrimentos fugindo pelo caminho da bebida, das drogas ou até mesmo fazendo de conta que a crise é inexistente, não é real. Mas, há um caminho proposto por Deus, para os que experimentam as crises existenciais, e é um “santo remédio”, a busca da orientação de apoio de Deus na Bíblia Sagrada, o que certamente nos traz alivio paras as dores e sofrimentos experimentados.
O grande salmista Davi, o mesmo que também teve a vontade de fugir, de voar para longe, como uma pomba, este mesmo Davi, que mais tarde ainda enfrenta as angustias e dificuldades experimentadas no Salmo 120, quando chega no 121, ele discorre sobre a confiança em Deus e sua ajuda em tempo de angústia. “Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra. Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel. O SENHOR é quem te guarda; o SENHOR é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o sol, nem de noite, a lua. O SENHOR te guardará de todo mal; guardará a tua alma. O SENHOR guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.”
Às vezes, no meio de tamanhas dificuldades pode ter uma voz divina lhe chamando para algo, atente-a, saia do comodismo. Diante das lutas, das crises, não escamoteie, não finja, não faça de boa aparência, não tente fugir ou se esconder, obedeça e ponha sua confiança no Senhor e a benção e a salvação serão estabelecidas sobre a sua vida.
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