domingo, abril 01, 2012

A revolução dos Bispos

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Três  Reais
 João Cruzué

Certo moço pobre passou  frequentar uma grande Igreja. E um dia, ele criou coragem,   foi  perguntar para o Bispo:  Pastor, que hei de fazer para herdar a vida eterna? E o Bispo, examinando de alto a baixo aquele moço de humilde aparência, descobriu que ainda não o tinha visto no Templo.

-- Bem, você precisa aceitar Jesus, conhecer as escrituras e praticar fé, respondeu o Bispo.

Depois de ouvir aqueles conselhos, o moço baixou os olhos, pensou  e respondeu: Bispo, eu  sou cristão desde menino. E o que mais me falta?

--Veja bem, pontuou o religioso,  para que seu testemunho seja perfeito a ponto de causar impacto nas outras pessoas, você precisa prosperar.

--E por que eu preciso prosperar, Bispo?
 
Então, o Bispo não mediu as palavras e foi direto: Meu filho,  você não pode sair por aí dizendo que é crente de nossa Igreja, andando de bicicleta... é feio. Para mostrar que é abençoado mesmo, você precisa chegar à Igreja com um Corolla, um Honda Civic, no mínimo. Isso é prosperidade.

--Mas Bispo, eu ainda não tenho nem uma casa... para ser sincero, moro em um barraco de favela, como vou conseguir prosperar tanto?

--Não se preocupe querido, vou  ensinar-lhe o caminho das pedras. Quanto você tem aí no bolso? E arrematou com uma frase de São Francisdo de Assis: "É dando que se recebe"!

-- Bispo, eu tenho R$3,00, o dinheiro do pão de hoje. E o Bispo recebeu a oferta, fez uma oração a Deus e despediu o moço.

Chegando em casa, o novo convertido contou tudo para a família.  Os meses se passaram. O moço encontrou um bom emprego. Juntou dinheiro. Conseguiu dar entrada em um terreno e começou construir a casa.

Chegou na Igreja bem arrumado e no final do culto foi conversar com o Bispo. Contou que estava prosperando, que tinha até comprado terreno e estava terminando uma casa.  O religioso abriu um largo sorriso, mas fechou o semblante em seguida, assim que  viu a mesma bicicleta.

Envergonhado, o moço perguntou: Bispo, como devo para conquistar o tal  Corolla? 

E o Bispo foi direto: Você vai, e doa  sua casa como oferta para nossa Igreja; com escritura e tudo. Depois disso, coloca sua fé em ação e diga para Deus que fez sua parte, e que agora Ele deve fazer a dEle.

E  assim o moço fez, lembrando dos R$ 3,00. Mas desta vez as coisas não funcionaram. Depois de ter doado a casa de papel passado, ficou desempregado.  

Ficou certo tempo sem ir na Igreja, chateado. Mas quando a frustração passou ele teve vontade de ir na Igreja. No domingo ele contou seu dinheiro:  R$3,00.  Olhou para a bicicleta e tomou a decisão de  congregar na Igreja de outro Bispo

Chegou no novo Templo, gostou, e no final do culto foi falar com o Bispo. Fez a mesma pergunta e ouviu a mesma resposta: Quanto você tem aí no bolso?  Respondeu que não havia nada.

Por precaução tinha deixado os R$3,00 em casa.



Comentário:  A partir desta crônica, se eu  não tiver muito cansado do trabalho, devo retornar a paródia da "Fazenda Animal", mais conhecida na língua portuguesa como "A Revolução dos Bichos", de Eric Arthur Blair, escritor inglês que usava o pseudônimo de "George Orwell".  
Usei o texto do "Jovem Rico", de Lucas 18, como contraponto na paródia, de propósito. Esta passagem é uma grande pedra no sapato dos "teólogos" da prosperidade, que em um caso particular, procuram insistentemente produzir suas galinhas de ovos de ouro para enricar a si mesmos às custas de negócios com a fé alheia. Qualquer semelhança com as práticas avarentas de certa Igreja Evangélica não é mera coincidência.

As riquezas são distribuídas aleatoriamente por Deus. Se você tiver uma bicicleta, dê graças a Deus por ela. Estude bastante, trabalhe mais ainda, economize  ainda muito mais, que você, um dia, pode comprar o seu Corolla. Deus faz, sim, o milagre. Mas lembre-se que Jesus não transformou pedras em pães, só porque estava com fome. Ele aguardou o momento certo.  Dízimo é bíblico e dou meu testemunho pessoal de que ele é aprovado por Deus. 

Resta dizer mais uma coisa: A única pessoa que Jesus sugeriu vender tudo o que tinha, não foi para ficar com o dinheiro dela - era para distribuir tudo para os pobres. Estava testando, até que pondo o jovem rico era desprendido das riquezas.

Se não havendo precedente bíblico, já acontece tantas vigaricse, imagine se Jesus tivesse mandado o moço dar o dinheiro da venda de tudo que possuia para a Igreja...






sábado, março 31, 2012

O Pai do filho pródigo

João Cruzué

Quando o filho mais moço exigiu sua parte na herança, o pai não disse uma palavra; fez suas contas e repartiu a fazenda para os dois herdeiros. Quando o moço vendeu sua parte, pegou o dinheiro e foi-se embora, o pai presenciou tudo, e também não disse uma palavra. E não disse nada, porque nada do que dissesse iria convencê-lo. É o que pode estar acontecendo hoje quando você acha que Deus está em silêncio.

E o filho mais novo da párabola foi-se embora e desperdiçou tudo. E ainda tentou manter-se a distância em um emprego de "pastor" de porcos, depois que o dinheiro acabou. Isso também é muito comum. Deus tem sido uma das últimas portas que os filhos do pós-modernismo batem, quando encontram o fundo do poço.

Quando a fome apertou mesmo, e o moço sentiu que um porco tinha mais valor que ele, a "ficha" caiu. Ele racionalizou, pensou bem, e tomou uma atitude: iria voltar! Mesmo que para isso tivesse que se humilhar e aceitar uma posição de serviçal. Iria trabalhar apenas pelo pão.

E por causa da fome ele voltou. A crise o colocara de volta no caminho de casa.

O Pai, por outro lado, não se esquecera dele nem um dia. E foi assim que o avistou ainda longe, voltando trôpego, nu, esquálido e com os pés feridos e arrependido.

Viu e não deu as costas, nem ficou irado, nem endureceu o semblante. Em vez disso, abriu um grande sorriso, seu coração moveu-se de íntima compaixão, saiu correndo ao encontro do filho sorrindo e chorando ao mesmo tempo.

Abraçou e beijou-o; também não lhe disse uma palavra.

Não sei se chegou mesmo a ouvir as frases ensaiadas do jovem desventurado. O regresso, o rosto humilde já diziam tudo.

E não mais se contendo de tanta alegria, o pai gritou aos empregados:


Trazei-lhe a melhor roupa;

Vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão,

E alparcas nos pés,

Trazei o bezerro cevado, matai-o

e comamos e alegremo-nos,

Porque este meu filho estava morto, e reviveu

Tinha-se perdido, e foi achado.


Aquele pai não disse uma palavra de perdão. Sua recepção, no entanto, valia por mil palavras. Demonstrava não apenas perdão, mas devolução do status filial e um amor incondicional. Amor que se expressou por uma explosão de alegria em uma grande festa.

O pródigo arrependido não estava preparado para um perdão incondicional, nem pela reconquista da condição de filho. Jamais passou pela sua cabeça ser recebido com festa. É assim que Deus faz: Ele vai muito além daquilo que planejamos e esperamos.

Quando Jesus disse esta parábola, o desmiolado filho caçula representava os pecadores: as prostitutas, os leprosos, os publicanos, os samaritanos, os desprezados pela sociedade, os quebrantados de coração, os bêbados, os desgarrados e distanciados de Deus. Você e eu.

E o filho mais velho que se aborreceu com a volta do irmão caçula representava os religiosos legalistas dos dias de Cristo. Fariseus, saduceus, levitas, escribas e sacerdotes. A elite religiosa que torcia o nariz pela forma amorosa com que Cristo se relacionava com a "gentalha". A mesma atitude mesquinha que está acontecendo neste século XXI, em que Deus está interessado na salvação dos perdidos, já tem preparado o "cevado" para uma grande festa, mas os "filhos mais velhos", não estão mais interessados em olhar o caminho dos pródigos.

Jesus deixou implícito e muito claro na parábola que o Pai do pródigo, é Deus, nosso Pai Celestial. Um Pai amoroso, perdoador, festejador, que deseja para abraçar aqueles que se levantam do pecado e encontram o caminho do arrependimento. Um Deus que tem propósitos especiais para cada pessoa - ou farrapo de pessoa. Ele ama cada pecador e está disposto a perdoar e depois revelar em cada coração qual seu propósito de cada um.

Deus está em silêncio, não é porque o/a não ama. Mas porque talvez você se mantém longe e ainda não pensou em voltar. Ainda deseja continuar distante, vivendo infeliz, sob uma justificativa de uma falsa liberdade, crendo em sofismas, em filosofias vazias. Pode ser que jamais pensou em ler uma Bíblia - a palavra de Deus. Quem sabe se Uma foto do quadro da sua vida nesse instante pudesse lhe mostrar que não há nenhum futuro para você sem a mão amiga de Deus.

Jesus é o filho do Deus vivo. Basta apenas um pensamento em seu coração. Um simples pensamento: "Deus, se Tu existes mesmo, mostra um pouco da tua misericórdia para mim, e perdoa-me, pois minha situação é esta, esta e esta...
Eu sempre pensei assim, assim e assim...E agora eu preciso muito de ajuda. Da Tua ajuda, pois eu cheguei além do que se conhece por fundo do poço.

Um abraço de perdão. Um beijo de aceitação. Uma roupa de justificação, um anel de filiação, sandálias para proteger os pés e uma grande festa de comemoração para a sua volta. Você pode estar morto, perdido, derrotado mas se voltar de verdade para Deus vai receber uma nova vida, vai encontrar um caminho da paz e da felicidade e vai voltar a ouvir de novo o barulho da alegria.

Ô Glória!

Nota: Tudo o que disse no texto não é história da carochinha, nem conversa fiada baseada em teorias ou ouvir dizer. Eu conheço bem o gosto das privações e silêncio de Deus, durante 11 anos de um longo desemprego. Eu creio em cada palavra do que disse, e sei que por experiência própria que Jesus, o filho de Deus é o socorro bem presente no dia da angústia.

cruzue@gmail.com




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