.João Cruzué
A Folha Uol publicou no Painel do Leitor a opinião da mexicana Eliane Cecco, de que a questão moral do aborto é religiosa e que o governo do Brasil, um país laico, deve fazer leis que atenda a todos. Ela iniciou dizendo assim: "Quando uma mulher pobre engravida e o responsável masculino não assume a responsabilidade (acontece na maioria dos casos) ela tem duas opções: Arriscar sua vida ao tentar abortar de maneira clandestina e barata; ou ter um filho sem pai e sem dinheiro."
E disse mais: "O que acontece na maioria dos casos é que esta criança vai ser criada na rua, pois a mãe tem que trabalhar para mantê-lo, e tem grande possibilidade de ser marginalizada. Existem estatísticas que demonstram que a maioria dos presidiários no Brasil tem somente o sobrenome da mãe."
E ainda: "Além disso, porque penalizar a mulher que aborta e não penalizar o homem que gerou o filho e não se responsabilizou? A lei que criminaliza o aborto somente penaliza as mulheres e pobres. Esta é a realidade do país".
Quero aproveitar os palpites de Dona Eliane do México, para criticar esta visão de viés notatamente totalitário. Totalitário, sim, porque observei que os pensadores socialistas priorizam a liberação do aborto. Este é o primeiro fato; podem pesquisar.
Quando os partidários do aborto colocam a questão religiosa como inimiga do estado laico, eles querem na verdade que o governo empurre goela abaixo de 90% da população uma Lei que agrada a 10% de ateus. Isto é ditadura. A citação do Estado laico é apenas uma muleta em que eles se apoiam, para dominar sobre o pensamento da maioria que é religiosa, sim.
Essa conversa fiada de que uma coitadinha cede aos encantos de um safado, e depois se engravida, e tem seu filho criado pela avó, é apenas um dos três lados da moeda. O argumento de que é melhor abortar do que ter mais um marginal na rua é o outro lado.
Um erro de comportamento não justifica automaticamente outro erro do Estado. Não se trata apenas de UMA "coitadinha."
Não é tão simples assim, Dona Eliane Cecco. Segundo as estatísticas eleitorais de 2006, muito bem interpretadas pelo ex-Ministro da Educação, Cristovam Buarque, o Brasil tem mais de 100 milhões eleitores que não chegaram ao 2º grau. Minha intuição diz que metade disso são mulheres que pertencem às classes "D" e "E". São 50 milhões de mulheres com graves problemas de renda, um mercado cobiçadíssimo por "grandes" interesses econômicos.
Minha preocupação maior não é legalização do aborto, mas com a banalização dele. De banalização em banalização a sociedade tem que arcar com novos gastos, e quer queira quer não, a religião tem um outro lado que os abortistas não gostam de mostrar. São os religiosos que há mais de um século mantêm orfanatos neste país. A senhora diz que a maioria dos que estão nas penitenciárias não têm o nome do pai na Cédula de Identidade. Isto é um sofisma. Foi a banalização do sexo, a geração do amor livre e da amizade colorida que produziu isto.
Dito isto, o assunto da legalização absoluta do aborto neste país precisa de mais reflexão, pelo que pode acontecer depois: A banalização do aborto. A perda de significado e a desvalorização da vida por quaisquer míseros dez reais, Principalmente de fetos de sexo feminino. É uma falácia dizer que uma coitadinha, uma "novinha" saliente deve abortar, porque andou ralando com um "papai" nos bailes funks e pancadões das periferias. Eu tenho certeza de que se o sexo do feto for masculino suas chances de não ser abortado são maiores.
Então, neste ponto, a questão é livrar a pele de uma mulher, enquanto aniquila a vida de outra.
E a indústria do aborto? Recentemente, uma colega nossa escreveu sobre a cultura do aborto no Japão, onde há firmes rejeições dos médicos em receitar anticoncepcionais, porque faturam fazendo aborto.
Um fato ainda pior: Na maioria dos países que legalizaram o aborto, o tempo de praticá-lo fica por volta da 12ª semana. E em se tratando de uma economia em que o faturamento vem antes do que é moral, qualquer adolescente ou senhora grávida de poucos recursos vai enfrentar, de cara, o assédio de agentes à procura de "clientes" para seus médicos. Se isto acontece no Japão, que é a terceira economia do mundo, no Brasil, então, seria uma explosão de clínicas de aborto.
Esta conversa de que a religião cristã é um atraso, para a modernização da sociedade é preconceituosa. É desejo de uma minoria em aprovar uma lei, que sirva de cabresto, para puxar uma sociedade inteira.
Sou religioso, sim. E com todo direito de exercer minha cidadania. Não é legalizando o aborto enquanto, de outro lado, se promove a prostituição, o sexo irresponsável, mal-embrulhado semanticamente como "fazer amor". A corda e a caçamba. Isto é liberdade? Acho que tem outro nome bem menos agradável: Libertinagem.
A moral ainda é uma das poucas coisas que mantém a sociedade no caminho do progresso. Imagine se a mãe de Barack Obama decidisse abortá-lo, porque seu pai voltou para o Quênia. Imagine se a mãe de Steve Jobs decidisse assassiná-lo antes de nascer? Imagina se a mãe do ex-Presidente Lula chegasse em um hospital, com uma renca de rebentos atrás de si, e o Luiz com 12 semanas na barriga?
Como estamos em um país democrático - e laico - como sempre repete uma minoria totalitária, que se divulgue e amplie o debate sobre o aborto e suas consequências perante a sociedade.
E tendo feito assim, que se conclua a matéria em um plebiscito ou consulta popular. Duvi-d-ó-dó que a sociedade brasileira votaria errado.
Hasta la vista Doña Eliane.