terça-feira, novembro 22, 2011

Regência verbal do verbo assistir

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João Cruzué



1 - Assistir de: ver um programa ou um filme.

Detalhe: uso da preposição "a".

Ele assistiu ao Jornal Nacional.



2 - Assistir de: prestar socorro, auxiliar.

Detalhe: sem preposição.

O médico assistiu o motoqueiro atropelado.



3 - Assistir de: morar.

Detalhe: uso da preposição "em".

O ex-presidente assiste em São Bernardo do Campo.




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Combate ao turismo sexual na Amazônia

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UMA REALIDADE CRUEL

MAS POR SER TÃO FREQUENTE , PASSOU A SER VISTA COMO "NATURAL"



IHU On-Line.

Entrevista com Dom Flávio Giovenale/bispo de Abaetetuba-PA


Desde quando acontece turismo sexual no Brasil? Quais são as razões que favorecem essa prática?

Dom Flávio Giovenale – Há dezenas de anos. Mas, nos últimos 15 anos, o turismo sexual se intensificou nas regiões Norte e Nordeste. Antes, as vítimas eram mulheres, mas, agora tem se intensificado o turismo sexual infantil.

Na verdade, o turismo é um meio utilizado para praticar a prostituição. Os estrangeiros, especialmente americanos e europeus, que se envolvem nesse tipo de turismo querem satisfazer seus extintos com “pessoas exóticas”. Eles pensam que o Brasil é o país do sexo e do paraíso. Há alguns anos, a propagada federal brasileira contribuía para intensificar esse crime no país, pois apresentava o Brasil com imagens de mulheres e passava a ideia de que no país tinha “mulher fácil”. O nome Amazônia é algo mágico para os estrangeiros e eles gostam de dizer que fizeram sexo com uma pessoa da região.

Outra causa que facilita o ingresso de estrangeiros no país é a falta de controle policial. Portanto, passa-se a ideia de que no país é possível praticar um crime e ficar impune. Além disso, cresce, no mundo, uma propaganda em vista “do prazer custe o que custar” e algumas pessoas acabam priorizando o prazer.

Quais são os motivos que levam as pessoas a se prostituírem?

Dom Flávio Giovenale – Na Amazônia, a grande causa que leva as pessoas a se prostituírem é a miséria. Aqueles que moram no interior dos estados da Amazônia não têm perspectiva de vida. As capitais dos estados concentram a força econômica, enquanto os municípios do interior vivem do funcionalismo público, das aposentadorias e do Bolsa Família. Escutamos relatos que são inacreditáveis: pessoas trocam uma relação sexual por um cachorro-quente. É triste dizer isso, mas as pessoas se submetem a essa situação porque sentem fome.

Muitas meninas recebem propostas de morar na cidade para poder estudar e trabalhar em casas de família; mas, quando chegam ao local, se transformam em escravas sexuais. Elas são ingênuas e desconhecem a realidade. Por outro lado, alguns jovens pensam que a única perspectiva de vida é a prostituição. E, ao escolher entre ser prostituta do interior, passando fome ou ser prostituta nos grandes centros, preferem migrar para as cidades com a esperança de não passar fome.

Na região também cresce o tráfico sexual entre a classe média?

Dom Flávio Giovenale – De vez em quando aparece alguma denúncia em relação à classe média. Porém, o tráfico sexual é muito forte em algumas regiões como a Ilha de Marajó – nesses locais há uma união entre miséria e organizações criminosas. Não sei dizer se aumentou o tráfico sexual ou se aumentaram as notícias e o interesse em investigar esses casos de prostituição.

Qual é o destino das vítimas do tráfico sexual? Existem rotas internacionais que favorecem a intensificação desse crime?

Dom Flávio Giovenale – Na região oriental da Amazônia, onde ficam os estados do Pará e Amapá, tem um destino que liga a Goiás, e de Goiás as pessoas são levadas para a Europa. A outra rota é por meio da Guiana Francesa e Suriname. Nesses dois países existem comunidades brasileiras clandestinas, que trabalham em garimpos. As vítimas do tráfico sexual são levadas a esses locais e trabalham em bordéis, garimpos, nas periferias das cidades e nas capitais.

Essas pessoas costumam retornar para o Brasil?

Dom Flávio Giovenale – Pouquíssimas. Voltam aquelas que são resgatadas pela polícia, mas, geralmente chegam ao país com pouca perspectiva de vida. Depois de migrarem para esses países, é difícil retornar porque para isso é preciso dinheiro. Algumas pessoas deixam de ser exploradas e passam a ser aliciadores, tornando-se subchefes do tráfico. Poucas pessoas conseguem superar a condição de miséria dos garimpos, pois estes locais são extremamente controlados. Nos bordéis, normalmente as mulheres são tratadas como escravas e são vigiadas.

O turismo sexual se configura como um problema social no Brasil? Em sua opinião, a sociedade e o Estado estão dando a devida atenção a esse problema?

Dom Flávio Giovenale – Nos últimos anos, aumentou a consciência de que o turismo sexual é um crime, tanto que a propaganda do Brasil no exterior foi alterada no sentido de mostrar as belezas naturais, sem apelo sexual. Também existe no país um desejo de mudança e um sentimento de revolta, porque os brasileiros não querem ser vistos como um “povo fácil”. Além disso, há um empenho positivo do governo contra o turismo sexual por meio de campanhas. Por isso lhe digo que não sei dizer se há um aumento do tráfico sexual ou se agora as autoridades estão descobrindo o que acontece. Em minha avaliação, a descoberta de casos de turismo e de exploração sexual demonstra que a luta contra os crimes está sendo eficaz.

Como a população reage diante do turismo sexual e da exploração sexual na região da Amazônia e do Pará? As pessoas costumam denunciar esses casos?

Dom Flávio Giovenale – A grande maioria da população reage com indignação. Mas a situação da miséria é tão intensa, que o fato de alguém da família se prostituir por um determinado período é uma situação considerada normal. É triste dizer isso, mas em algumas famílias todas as mulheres já se prostituíram. Geralmente, a história começa com a mãe; depois continua com a irmã mais velha, que ao completar 18 anos deixa de se prostituir porque chegou a vez da irmã mais nova, de 12 anos. Essas são situações localizadas, onde a venda do sexo para pessoas da região ou para turistas se torna uma atividade normal.

A construção de megaobras no Pará e na região tem favorecido a violência sexual?

Dom Flávio Giovenale – Todas as grandes construções implicam um deslocamento muito grande de pessoas. As fazendas da região também estão recebendo um aglomerado de homens, porque um projeto de biodiesel, coordenado pela Petrobras em 38 municípios do Pará, gera uma movimentação de milhares de pessoas na região, que migram para trabalhar nas plantações de dendê.

Nos dias de pagamento, as vilas dos agricultores enchem de prostitutas, que se prostituem de sexta a domingo. Muitos dos trabalhadores dessas grandes obras vêem na prostituição uma diversão para final de semana. Essa á uma realidade que se repete em todos os grandes empreendimentos. Recentemente, li uma notícia de que o governo brasileiro está preocupado com os futuros eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas no sentido de evitar a prostituição.

Como vê a legislação e a fiscalização da exploração sexual e do turismo sexual no país?

Dom Flávio Giovenale – O Brasil está firmando vários acordos internacionais com países como Inglaterra, França, Itália para prevenir o tráfico sexual. Então, por exemplo, se um italiano abusar sexualmente de uma menina brasileira, o crime será julgado na Itália como se tivesse sido feito com uma menina italiana.

Há alguns anos, dois aviões fretados com turistas que tinham conotação sexual chegaram a um aeroporto brasileiro e, imediatamente, a polícia os mandou de volta para o país de origem. Penso que o Brasil não está fechando os olhos para o problema. Essa violência tem que ser tratada como um crime contra a humanidade.

Recentemente, jornais americanos repercutiram o envolvimento de empresas americanas com turismo sexual no Brasil. O senhor sabe dizer que empresas são essas?

Dom Flávio Giovenale – Li que a Polícia Federal está investigando uma agência americana de turismo, que tem base em Manaus. Essa empresa organizava um pacote turístico que incluía turismo sexual. Não vejo essa notícia como algo estranho porque o turismo sexual não se organiza sozinho; tem o apoio de agências. Alegro-me quando esses casos são descobertos e espero que os aliciadores sejam punidos.

O senhor continua sendo ameaçado de morte em função das denúncias que fez sobre o turismo sexual na Amazônia?

Dom Flávio Giovenale – Há dois anos e meio não recebo mais ameaças. Depois da divulgação de que eu estava sendo ameaçado, parei de receber mensagens. Recebo bastante apoio do povo e das autoridades que moram na região. Sinto-me bem trabalhando na comunidade e espero continuar meu trabalho com serenidade.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

D. Flávio Giovenale, SDB, é bispo de Abaetetuba, Pará. Ele é um dos bispos ameaçados de morte por denunciar o tráfico humano. Ele sempre é acompanhado por agentes de segurança.


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