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Favela da Rocinha
João CruzuéEm 1976 (há 25 anos) uma jovem evangélica, nossa conhecida, foi ao Rio de Janeiro à convite de amigas da Igreja Assembleia de Deus. Levava consigo a filha de dois anos e nãão sabia que suas anfitriãs moravam na região da Favela da Rocinha. Assim que chegou, sua amiga a levou até as "autoridades" locais para as apresentações: Olha fulano, está é minha amiga, irmã de Igreja de São Paulo e este bebê é a filhinha dela. Ela veio aqui para visitar e cantar em nossa Igreja. O tal fulano, com um baita fuzil ou coisa parecida no ombro, olhou e tomou conhecimento. Minha conhecida ficou tão surpresa, para não dizer assustada, que ao dar o primeiro passo à frente, torceu, quebrou e voltou com o pé engessado.
Há mais de 25 anos a comunidade da Rocinha está de alguma forma debaixo da lei do tráfico que a cada ano foi ocupando e ocupando o vácuo do Estado. A invasão policial acontecida nesta semana tem sido um espetáculo produzido especialmente para as câmeras de TV. Por que demoraram tanto?
O fermento em pó que branqueou a Rocinha nos últimos 25 anos, na verdade já se espalhou e cresce exponencialmente em centenas de outras favelas das periferias de grandes cidades. É como se fosse uma franquia de um supermercado cujos produtos são: O pó, a erva, o crack e agora o oxi tendo como fundo musical som do "pancadão" ou dos bailes funks.
Segundo declaração não confirmada de Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, metade de seu faturamento de 100 milhões de reais por ano seguia para o bolso de policiais do Rio. O tráfico da rocinha pagava bem: 200 reais por semana para os enroladores e 1.500,00 para os empregados no refino. A "empresa Rocinha Pó Ltda." faturava 2 milhões de reais por semana. E ela prosperou não apenas pelo vácuo do poder do Estado, mas porque parte desse poder se tornou da empresa.
O que está sendo mostrado na Rocinha é o retrato em maior escala do que está acontecendo nas favelas do Brasil inteiro. O termo País emergente, 350 bilhões de dólares em reservas, o saldo positivo de 3 bilhões da balança comercial em setembro de 2011 é apenas vaidade, conversa para boi dormir. O passivo social deste País, a dívida para com estas milhões de pessoas que procuram viver e sobreviver nestas favelas é cerca de 10, 20 vezes mais do que as garantias (reservas de 350 bilhões) dos barões dos Bancos.
A cada meio ponto porcentual que o COPON derruba da taxa SELIC, um bando abutres (economistas de meia tigela) irritados se faz ouvir. Sei que não é tão simples assim mexer nas variáveis macroeconômicas de uma nação, mas anote este número absurdo: 107,7 bilhões de reais. Foi isso que o Brasil (União) pagou de juros em 2011 até setembro passado. Projetando para um ano inteiro serão 143,6 bilhões de reais.
É claro que o capital financeiro deve ser bem remunerado. É ele que irriga as artérias da economia nacional, todavia, por que não à taxas bem menores? A Rocinha é a vista verdadeira da janela dos fundos do Brasil. Sabe o que significaram em termos de juros os oito anos de mandato dos Presidentes FHC e Lula? A "bagatela" de 2,2 trilhões de reais. Metade disso teria eliminado o vácuo de poder do Estado em todas as rocinhas do Brasil. A miséria foi repartida com os que já eram pobres e a gordura (juros) do Brasil foi entregue aos grandes banqueiros e especuladores mundiais.
As próximas informações vieram da site do Tesouro Nacional (STN), onde são publicados os RREOs - Relatório Resumido da Execução Orçamentária (Anexos I e II). Estou familiarizado com elas, pois além de blogueiro, sou contador público, tendo já publicado tais relatórios por mais de seis anos na Prefeitura de São Paulo. Então vamos a elas:
Período: setembro 2011
Olhando sem muita cerimônia para os dados da tabela, você há de convir que: A soma dos orçamentos da Saúde, Educação e Assistência Social - é praticamente o que a União previu e já pagou de JUROS em 2011.
Não sou nenhum idiota anticapitalista nem nunca cri na utopia marxista. No entanto sou cristão, e como tal acho uma vergonha o discurso ufanista que PT/PSDB vêm matraqueando neste país. Foi feito alguma coisa? Foi. Mas para tantos anos de miséria que este país passou, ainda serão necessários igual tanto, para distribuir melhor a renda e zerar a dívida social. Mas de que forma, se ainda pagamos os juros mais altos do mundo?
Quando é que vai sobrar alguma coisa para investir nas periferias das grandes Cidades? A ocupação da Rocinha no Rio, para mim não passa de um grande teatro, onde se vende a ilusão de que o poder paralelo do tráfico está dominado.
Não! Não está dominado coisa nenhuma.
Há centenas de outras rocinhas crescendo neste momento por aí. O maldito tripé droga+traficante+polícia se mostrou um negócio viável, para a infelicidade dos mais pobres.
É preciso mais distribuição de renda. Estes garotos que crescem nas "rocinhas" precisam de algum tipo política pública, para não recorrerem aos empregos informais do tráfico. Trabalho abaixo dos 16 anos "não pode", mas os empresários do pó têm seus próprios regulamentos.
As ações do governo na Rocinha do Rio de Janeiro não passa de uma peça de marketing. Elas estão atrasadas, no mínimo, 25 anos. E que não fique escondido de ninguém que o Brasil está pagando de juros, todo ano, a mesma coisa que gasta com Saúde, Educação e Assistência Social.
Pense nisto da próxima vez que olhar para uma favela.
Por fim vou dizer mais um "desatino": acho que o valor dessas bolsas esmolas que o governo dá para esta gente humilde das periferias abandonadas ainda é menor que os tributos que ele retira do consumo das coisinhas que compram.
Isto é uma tristeza!