quarta-feira, março 17, 2010

Quanto vale o seu perdão

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"Eis que estou à porta e bato!"

João Cruzué

Quando um dos discípulos pediu a Jesus que os ensinasse a orar, Ele ensinou orando o "Pai nosso". E no texto do "Pai Nosso" há uma frase muito conhecida e pouco entendida: "Perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve." Quero testemunhar aqui de uma forma bem singela três experiências minhas com o perdão. Eu sei que neste mundo tão violento, se não tomarmos cuidado, podemos repercutir aquele famigerado mandamento "olho por olho e dente por dente".

Quando Jesus ensinou o ato do perdão, ele tinha um propósito: ensinar a confiar nas promessas e provisões de Deus. Mais tem Deus para dar do que o diabo para carregar. Ouvi esta frase ainda criança. E isto se cumpriu literalmente em minha vida em várias ocasiões.

A primeira. Tão logo aceitei Jesus de verdade, em 1985, meus pais muito católicos tiveram uma grande decepção. Eu tinha saído de casa para estudar e trabalhar na grande São Paulo. Dois anos depois, com saudades do sítio, eu estava de volta para a casa deles. Crente convicto. Por pressão do padre, fui "convidado" a sair de casa. Eu não guardei raiva deles. Foi muito difícil mas eu perdoei. Doze anos depois minha mãe se tornou uma crente em Cristo da Igreja Presbiteriana. Dois anos mais adiante, meu pai seguiu o mesmo caminho. Foi uma grande vitória para mim, e quem deu foi Jesus.

A segunda. Em 1993 em estava no sítio. Eu estava vendendo as últimas caixas de tomates de uma experiência de muito trabalho e pouco dinheiro. Um comprador da cidade próximo mandou colher tudo que estivesse nos tomateiros. Foram mais de 200 caixas de 25 kilos cada. Cinco toneladas de tomates. Verificando que o tamanho deles não era o esperado, desistiu da compra.

Assim, no chão estavam estavam 5.000kg de tomates. Era Dia de Finados, quando eu voltei de São Paulo, para o Vale do Rio Doce, onde era o sítio da família. Fiquei tão triste, que não tive coragem de subir até a horta, para ver uma montanha de tomates amadurecendo e se estragando no sol. Eu não dei lugar a raiva. Nem me amargurei com a atitude do comprador. Desde o momento que soube, eu fui orando e contei tudo para Jesus.

Então, eu comecei a ver a mão de Deus. Naquela tarde, um moço da cidade de Muriaé ligou para minha casa. Ele tinha conseguido o telefone do sítio, através de um moço que alugava seu caminhão para que levássemos as hortaliças para o Ceasa de Caratinga.

--Você tem tomate para vender?

--Tenho, mas eles já foram apanhados e estão maduros no chão.

-- Mas são os maduros que eu quero. (O Rio de Janeiro não compra tomates verdes, só maduros.)

E no outro dia, ao lado da montanha de tomates maduros, cobertos por folhas de indaiá, estava um caminhão Mercedes, trucado, com 300 caixas vazias. O preço foi menor do que eu iria ganhar no primeiro negócio.

Mas o testemunho não fica só nisto. Tendo problemas de consciência, o primeiro comprador mandou pagar-me a metade do prejuízo. E somando o que recebi do segundo comprador, com o ressarcimento do primeiro, o total recebido foi maior do que o combinado no primeiro negócio. Quem poderia imaginar que Deus estava neste negócio?

A terceira, e maior experiência. No final dos anos 80 um parente próximo procurou-me para oferecer dois terremos em um bairro da Zona Sul de São Paulo, a 100 metros da Represa do Guarapiranga. Depois, voltou e propôs a compra de mais quatro. Um lugar lindo. Só que poucos anos depois, alguém com apoio da justiça colocou uma cerca de arame de alto a baixo e o negócio complicou-se.

Não consegui as escrituras. Veio a Prefeita Erundina. E um padre da região reunião muitas pessoas e se apossaram da rua em frente aos terrenos. Uma cerca sobre os terrenos e casas sobre a rua. Eu tinha sido enganado. Era uma área em litígio. Tendo ido ao local, um morador saiu para me receber com um facão na mão.

Fui na Imobiliária e ouvi que não era possível vender. E eu mesmo achei que, sem as escrituras não era honesto vender. Foi aí que orei: Senhor, mais tens Tu para dar, do que o diabo para carregar. Em minhas orações eu coloquei aquela causa nas mãos do Senhor.

Decidi passar uma borracha naquele assunto, e mantive a comunicação como o meu parente. Tive oportunidade de receber tudo de volta - a contragosto dele - mas não usei da oportunidade para revidar. Sofri o prejuízo e confiei no Senhor.

Já testemunhei em minhas últimas mensagens que estou trabalhando no Tribunal de Contas do meu Estado. Concurso feito em 2005; 16.000 candidados para cento e poucas vagas. O concurso foi prorrogado por mais dois anos e, por isso, um telegrama chegou à minha casa, avisando para que eu tomasse posse do cargo de auditor.

Com um ano de remuneração neste meu novo serviço, eu poderia comprar hoje todos eles. Eu até tinha me esquecido do assunto, mas em minhas orações da semana passada o Senhor lembrou-me do assunto.

Conheço, por outro lado, um caso muito triste de falta de perdão. Um outro parente, depois de uns 20 anos, viajou para ver a irmã que no passado tivera uma rusga. Ao bater na porta, ela foi abrir. E ao reconhecê-lo, sem nenhuma palavra, fechou porta com um estrondo. Menos de um ano depois ele morreu. Creio que tinha a consciência limpa. Ele dera uma chance para a prática do perdão, mas o ódio do outro lado ainda era tão forte, mesmo tendo se passado mais de 20 anos, não diminuiu.

Sei por experiência própria que se perdoarmos, se nos esforçarmos para perdoar ofensas, prejuízos, e até dívidas, então em nosso coração não haverá lugar para quenenhuma raiz de amargura cresça. E dessa forma e com essa atitude, nós podemos chegar diante do Senhor e expor nossa situação. Assim, mais dias, menos dias, o que Ele vai nos dar será bem maior do que o que o diabo nos roubou.

E foi por isso que guardei bem o texto de dois versículos da Carta de Paulo aos Filipenses: "...E uma coisa faço: e é que esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e olhando para as que estão adiante de mim, prossigo para o alvo pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" Fil.3:13-14.

O valor do perdão pode vir dobrado, triplicado, quadruplicado, decuplicado, ou muito mais que isto. Mas é condicional. Desde que você pare de olhar com angústia o passado. Jesus, através do ensino do perdão, estava dizendo que devemos perdoar para ser perdoados.

O perdão é a única chave que pode abrir as portas das bênçãos que estão no futuro. Negar um perdão é ficar preso ao passado. É a mesma coisa que amarrar uma corrente de aço nos pés, colocar um cadeado nela, fechá-lo, e entregar a chave na mão do diabo. Todo pensamento de amargura e vingança é alimentado (sem que você perceba) por um demônio a serviço do diabo.

Aprenda o propósito do perdão com Cristo para ficar livre das correntes malignas. Conte para O Senhor Deus onde é a sua dor. Onde foi o seu prejuízo. A raiz da sua mágoa. As feridas do seu ressentimento. Aquele enorme prejuízo que você levou. Os abusos que você sofreu. Aquela picuinha que você ainda não esqueceu. Peça forças a Jesus para perdoar. Insista em perdoar. Só assim você vai ficar livre das tranqueiras malignas, para receber as grandes vitórias que o Senhor tem para você.

Com muito carinho, em Cristo

Irmão João Batista Cruzué

cruzue@gmail.com



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domingo, março 14, 2010

Uma boa consciência e cargos religiosos

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Entardeder na Galiléia
João Cruzué

Se você tivesse diante de um processo de escolha difícil, qual caminho tomaria: socorrer um ente querido ou investir apenas no ministério pastoral? Não tenho nada de tão importante assim em vida, para que venha influir na vida de alguém, mas julguei conveniente escrever algumas linhas para dizer que oportunidade não voltam se fizermos escolhas erradas contrariando a voz do Espírito Santo.

Em meados de 2000 eu estava à frente de uma congregação com mais de 100 almas. Deus era comigo, ajudando-me muito no cuidado ministerial. Pela mesma ocasião minha mãe começou a ter sérios problemas de saúde mental. Eu pedi uma licença de seis meses ao Pastor Setorial para cuidar do assunto. A princípio ele não se agradou, mas Deus disse-me que seria bem-sucedido. E eu tinha chegado ao limite, antes de conversar com ele. E o fato interessante era que ao dobrar o joelho para orar, minha consciência se apresentava nítida enquanto marcava em brasa o meu coração com o nome de minha mãe.

Eu fui substituído. Conversei com a família e, durante dois anos, mês sim, mês não, eu viajava 900 km, para fazer companhia a minha mãe. Diante dos colegas de ministério eu fiquei com uma mancha. O julgamento deles era diverso do meu. Achavam que primeiro vem o ministério e depois o resto.

Dez anos depois, ainda continuo analisando minha escolha. Descobri que não valia a pena pensar como eles. Perdi o interesse de andar com eles, pois a mim pareceu-me que não estavam dispostos a sacrifícios pela família. Eu não desisti do ministério, mas o Senhor é Senhor do meu tempo, da minha vida e sabe do propósito para o que me criou.

O que aconteceu nestes dez anos? Bom, seis meses depois de estar cuidando de minha mãe, comecei a coletar literatura para enviar para as igrejas do cárcere nas Penitenciárias do Estado de São Paulo. Durante dois anos e meio, coletei e enviei pelo correio mais de 500kg de revistas usadas de Escola Dominical, sempre acompanhadas de algumas Bíblias. Em 14 de julho de 2003, o Senhor pos fim a 11 anos de desemprego, quando abriu-me as portas para ser o contador da Autarquia Hospitalar do Campo Limpo. Trabalhei seis anos ali. Não consegui resolver todos os problemas de minha mãe, mas ela melhorou bastante, e se sentiu bem mais segura.

No final do ano passado, recebi um telegrama em minha casa solicitando minha presença no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo para assumir uma vaga conquistada em concurso. Data do concurso 11.12.2005. Quase quatro anos. Mudei de emprego e passei a ganhar um dos melhores salários do Estado.

Eu não contei toda a história. Tive um grande prejuízo por causa de um negócio com outro familiar. Perdi seis terrenos comprados e pagos para esta pessoa. Na época do desemprego a venda desses imóveis livraria minha família das grandes dificuldades que passamos. Eu perdoei o prejuízo e coloquei a causa nas mãos de Deus, sabendo que mais o Senhor tem para dar do que o diabo para carregar!

Examinando o passado e principalmente as duas escolhas mencionadas, percebo que meu coração está em paz. Eu não sei se foi por ter feito as escolhas certas que o Senhor colocou em minhas mãos um cargo de auditor no Tribunal. O que sei é que não tenho nada em meu coração que me faça envergonhar das atitudes que tomei. Elas me custaram muitas feridas e muitos mal-entendidos, mas no final de tudo eu percebi que se não fora Jesus ao meu lado eu teria ficado sozinho.

Mas é melhor ficar sozinho e ter a presença de Jesus do que um ministério de fachada. Acho que é uma grande hipocrisia ensinar amar ao próximo do alto de um púlpito, enquanto abandona pais, mães e a família à própria sorte. Isso é loucura, que nossos filhos, dias mais tarde, vão lançar em nosso rosto.

Se assuntos dessa natureza também estão fazendo parte do seu dia a dia, eu creio que uma consciência em paz com Deus é muito mais valiosa. Mais que uma posição eclesiástica conquistada a preço da negligência, da omissão envolvendo um ente familiar. O preço pode não ser suficiente para comprar a sua própria consciência.