quarta-feira, novembro 18, 2009

Evidências de negros na Bíblia Sagrada


Africa

"Há Negros na Bíblia?


Por BRAZÃO MAZULA - de Moçambique

Dois aspectos introdutórios à minha fala:

i) quando recebi um exemplar do livro, das mãos do meu "padrinho" de casamento e com uma dedicatória muito amiga do autor, havia-me decidido a lê-lo pela curiosidade que o título em si provocava em mim; talvez não o lesse agora; ii) telefonei ao Rev.do Arão Litsuri para felicitá-lo pela obra e agradecer-lhe pela gentil dedicatória. Foi então que disse que queria falar comigo. Numa tarde dessas, encontramo-nos no Hotel Polana. Ele bebendo água e eu tomando um copo de leite, o Rev. Arão Litsuri convidava-me a falar do livro por ocasião do lançamento. Fiquei surpreendido, porque não esperava. Salvo o único encontro que tive com ele durante o processo eleitoral de 2004, do qual ele foi presidente, encontramo-nos algumas vezes em momentos formais e protocolaras, mas nunca tivemos um encontro para bate-papo.

Aceitei o convite, porque não podia recusar. Por duas razões: i) por princípio de vida, não costumo recusar à Igreja: eu sou resultado da formação da Igreja e nunca conseguirei retribuir o quanto a Igreja me deu; - ii) é difícil recusar um convite destes provido duma personalidade com a estatura moral do Rev. Litsuri. Arão Litsuri é artista nato em música, é pastor e dirigente religioso, é mestre. Isto significa que o seu convite é refinado e bem peneirado. No entanto, aceitei o convite com a ressalva de que não sou teólogo. Rev.do Litsuri sorriu como quem não concordava com a minha ressalva.

O Rev.do Litsuri apresenta-nos, para refeição desta noite, apropriando-se da expressão de Santo Agostinho, uma obra teológica. Não se trata de teologia geral, mas de teologia bíblica, fazendo uma exegese da Sagrada Escritura. Uma das áreas mais difíceis nos estudos teológicos é, precisamente, a de estudos bíblicos. Só isto qualifica o autor de um teólogo profundo. Nota-se essa profundidade na busca de fontes primárias assentes na própria Sagrada Escritura. Para isso, estuda o hebraico, língua fundamental para a investigação bíblica. Há quatro línguas fundamentais para a exegese bíblica: o hebraico, o grego e o aramáico e o latim.

Arão Litsuri escolheu o hebraico, a língua original que lhe permitiu investigar o sentido vernáculo e a escrita original dos termos como o de Kush, o seu ponto de referência para a sua tese. A profundidade da sua análise é evidenciada pelo recurso a estudos comparados de historiadores, exegetas, ás fontes arqueológicas e, inclusive, a historiadores africanos e africanistas, como Basil Davidson (p.21), E. Mveng (p.74) e Cheik Anta Diop (p. 82). Essa profundidade é mais evidenciada ainda nas “ferramentas” metodológicas de análise que utiliza. Ao longo da leitura da obra, percebe-se como ele segue lógica e rigorosamente “o método histórico-crítico, o criticismo literário, o criticismo de fonte e o método arqueológico” adoptados (p. 22)

Como o título sugere, o autor propôs-se para a dissertação do seu mestrado em Estudos Religiosos a “pesquisar os antecedentes africanos no estudo da Bíblia Hebraica” (pag. 17). A sua preocupação é a de saber se “há negros na Bíblia. Não se trata apenas de pesquisar a sua presença física, mas de investigar o estatuto, a condição e o papel desses negros no livro sagrado milenar, de cerca de 4500 anos a.C. Arão Listuri não tem receio der abordar esta questão; não se contenta com apreciações ligeiras; persegue-a até encontrar provas convincentes. Arão Litsuri investiga sem preconceito algum. Procura, a todo o momento, equilibrar a racionalidade que uma investigação científica exige, com a fé no que faz assegurando a dimensão epistemologica da pesquisa e a sua sensibilidade africana pela causa africana.

É um trabalho ingente e de muita paciência que vemos no seu livro. O investigador Arão Litsuri palmilha o Pentatêutico, os Salmos, os profetas, as Crónicas, os livros históricos, da Sabedoria e de Ben-Sirá.

Para ponto de partida (p. 17 e 27), escolhe a palavra Kush que aparece muitas vezes nos textos bíblicos e que em hebraico significa “preto, escuro, cara queimada” (p.27).

No seu percurso investigativo, Arão Litsuri observa e demonstra, através de evidências bíblicas, três coisas:

i) que Kush era bem conhecido e “de acordo com o profeta Ezequiel (29:10) Kush localizava-se “no sul do Egipto” e foi bem conhecido pelos hebreus por causa do papel proeminente que aquele país desempenhou nas relações com o Egipto e a Palestina” (p. 28). Demonstra que o “antigo Kush” compreendia as actuais regiões do Sudão e Et~iópia”, “na alrtura (...) também, conhecidos por Núbia” (p. 29) Outros nomes como Sheba, Seba, Sabines, Ofir estão igualmente associados a Kush (p. 30-31). O mais interessante é que os Sabeanos, habitantes de Sheba, cerca de 1000 a.C., devem ter descido até Sofala/Moçambique para o comércio de ouro (p. 31). A exploração e o comércio de ouro até Kush, Líbia, Ofir, Sofala são outras evidências de referências de negros na Bíblia.

ii) Em segundo lugar, percorrendo minuciosamente os textos bíblicos, desde Génesis (2: 10-14), Êxodo, Números, passando pelos profetas Isaías, Ezequiel, Sefonias, Jeremias, Samuel e Daniel, pelos Salmos e pelo livro sapiencial de Job, e pelas Crónicas, pelos livros históricos dos Reis, Naum e Ester, vai descobrindo que Kush aparece como “um termo geográfico”, “nome de uma pessoa”, “uma pessoa”, como “um povo” e como “uma nação( (p.33 – 69). Por exemplo, actual Sudão como antigo Kush (p.35), no século VII a C. , Kush já era conhecido na corte real de Jerusalém (p. 48 e cfr. Num. 12:1).

Nisto, o autor encontra uma prova inconcussa em Jeremias (13.23) quando se interroga se “Pode o etíope mudar a sua pele (a sua própria cor), ou um leopardo as sua manchas (- as pintas da sua pele)? Aqui o termo em hebraico “O kushita” (-etíope, em grego) “denota”, segundo Arão Listsuri, “a colectividade” abrangendo “todos os Kushitas em geral” e, por conseguinte, referiundo-se “ao povo, aos habitantes da terra de Kush”, mais especificamente os “negros”. Assim, o termo etíope, em grego, ou seja kushita em hebraico, está ligado “ao conceito de raça, a (própria) raça negra na Bíblia” (p. 51). Kush (Etiópia) aparece também como nação, como uma identidade própria e “envolvida em questões internacionais como o Egipto, Punt (actual Somália, p. 122) Líbia, Assíria e Palestina e com “Faraós kuchitas”, ou seja, Faraós Negros” (p. 60-61).

Iii) O terceiro aspecto muito importante é o referido pelo profeta Amós (entre os anos 760-750 a. C). A referência a Amós é de grande importância na medida em que, como simples pastor e cultivador de sicómoros (Amós1:1 e 7:14), o profeta Amós aparece à primeira vista como “uma pessoa pobre e sem cultura”, mas na realidade é um conhecedor profundo do seu povo, do que se passa nos países vizinhos e de “toda a problemática social, política e religiosa de Israel” (cfr. Bíblia dos Capuchinhos. Lisboa/Fátima, 1998, p. 1478. Pela boca de Amós, o oráculo do Senhor diz: “Não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes? (Cfr. Versão dos Capuchinhos: “Porventura não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos dos cuchitas? –oráculo do Senhor”). A importância deste versículo está em que, segundo Arão Litsuri, “Amós revolucionou o pensamento fechado dos israelitas para lhes fazer ver que todos os outros povos também eram povos escolhidos, incluindo os africanos”. (p.53).

Posto isto, o autor tira algumas conclusões.

A primeira conclusão, decorrente do método do criticismo das fontes, diz que “o conhecimento difundido sobre Kush era bem conhecido em todos os tempos” e estendia-se a partir de 1500 a. C. (p.73). Mais concrectamente: “que Kush, onde o rio Gihon (ou Nilo) corre, é “um país africano, posto que o rio Nilo corre na África” (p. 74).

A segunda conclusão reforça a primeira. Baseando-se nas expressões do profeta Isaías (18: 1-2) que se referem “para além dos rios da Etiópia” a “Embaixadores do mar”, conclui não haver nenhuma “ sombra de dúvida de que “Etiópia” (Kush) neste caso, está em África, do mesmo modo que não há dúvida de que o Nilo está em África”. E que o Nilo era uma rota de transporte entre Kush, Sudão e Egipto” (p. 79). Não duvida que Kush se localiza em África e não na Ásia (p. 122).

Para terceira conclusão, observa que esse Kush, identificado pelas suas riquezas de topázio, pedra preciosa ou crisolite e ouro, “foi um vizinho próximo do Egipto e que, consequentemente, situava-se em África (p. 80). A quarta conclusão decorre do Salmos 60:31 que diz que “embaixadores reais virão do Egipto: a Etiópia cedo estenderá para Deus as suas mãos”. Daí que “Javé é já adorado em Kush”, ou seja, que “Deus intervém na história humana e assim todas as nações devem adorá-lo”, (p.101). Finalmente em quinto lugar, que é nessa qualidade que estabelece “parceria com Egipto” e “teve pontos de contacto com Israel” (p. 105). Em suma, conclui que “há negros na Bíblia (p. 123).

Para terminar, quero, mais uma vez, felicitar o pesquisador e estudioso em assuntos bíblicos, Arão Litsuri, por este trabalho de grande valor para a ciência teológico-bíblica e para o alimento da nossa fé em Deus. Quero também, agradecer-lhe por me ter servido este delicioso manjar intelectual e espiritual e ter-me honrado com um gesto de amizade de poder participar neste acto solene, de lançamento do seu livro ao público. Intitulei esta minha fala de “depoimento”, deixando assim traduzir o meu pensar e as lições que aprendi e continuarei a aprender. De facto, esta obra ensina-nos muito. Quanto mais a lemos, mais apreendemos coisas nova. Não se trata de obra que apenas enche as nossas cabeças com muita informação. Para isso, basta cada um pegar na bíblia e lê-la à sua maneira. O aspecto particular, para o qual convido o público a adquirir o livro, está na interpelação que a obra nos provoca: a de ver a Bíblia não mais como um simples livros de estante e de pietismo, mas tê-la sempre como fonte da nossa metánia, da nossa permanente transforamação para a perfeição.

Esta obra faz-me pensar der novo na importância da introdução de estudos religiosos, ou seja, de estudos teológicos, nas nossas instituições públicas do ensino superior. Por que não? Existem em muitos países. Não fere a laicidade do Estado. Quanto mais os seus cidadãos tiverem uma cultura religiosa profunda, mais serão interpelados pelos altos valores da existência e da vida, dignificando mais a sua sociedade e, consequentemente, mais enobrecerão o próprio Estado.

Não podia haver um ambiente mais bonito de apresentar esta obra ao público do que fazer coincidir com o lançamento do seu álbum musical, transportando-nos, desta forma, para a fé de David que expressava tambem através da sua harpa. A harpa deste rei bíblico simboliza a razão humana, a sabedoria da vida, a fé em Deus e a cultura caminhando juntos!

Parabéns, Rev.do Arão Litsuri, pois a sua pesquisa cuidada alimenta a nossa razão humana; o rigor do manejo da sua metodologia de investigação deixa transparecer a sua sabedoria de vida; a escolha do tema e a paciência no trabalho realizado revelam-nos a sua fé em Deus; e a viola que o acompanha coroa as quatro dimensões da razão da existência humana neste mundo!

*Depoimento apresentado por ocasião do lançamento do livro e do álbum musical do Reverendo Arão Litsuri, no dia 13 de Dezembro de 2007, no Cine-África, cidade de Maputo

Fonte Jornal Noticias - Moçambique - palavra pesquisada: pastor


Cruzue@gmail.com

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domingo, novembro 15, 2009

Pastor Martin Luther King e o Dia da Consciência Negra


A conquista da igualdade dos Direitos Civis

pelos negros americanos
sob a mão de Deus e do Pastor Martin Luther King

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Pastor Martin Luther King, Lyndon Johnson e o Presidente John F. Kennedy

Tradução: João Cruzué

"Durante a campanha de eleição presidencial, John Fritzgerald Kennedy argüiu em favor da Lei dos Direitos Civis. Depois do pleito, descobriu-se que 70% dos votos da população negra americana foram para Kennedy. Entretanto, durante seus primeiros dois anos de presidência, Kennedy falhou em levar adiante sua promessa de mudar a lei.

Em 1963, o projeto dos Direitos Civis de Kennedy foi levado ao Congresso Americano. Em seu discurso pela televisão em 11 de junho, Kennedy pontuou que: “O bebê negro, nascido na América hoje, dependendo do região de onde ele veio, tem cerca de 50% a menos de chances de completar o colegial, comparado com o bebê branco, nascido no mesmo lugar e no mesmo dia. Tem só 25% chances de terminar a faculdade; apenas 25% de chances de se profissionalizar; duas vezes a mais de chances de se tornar desempregado; cerca de 14,2% de chances de ganhar apenas 10 mil dólares por ano; tem uma expectativa de vida menor em sete anos; e uma perspectiva de ganhar apenas a metade de $, em toda sua vida, quando muito.

Na tentativa de persuadir o Congresso Americano a aprovar o Projeto da Lei Kennedy, o Congresso para a Igualdade Racial (CORE) e a Conferência Sulista de Liderança Cristã ( SCLC) organizaram a famosa Marcha para Washington. Em 28 de agosto de 1963, mais de 250 mil pessoas marcharam pacificamente para o Lincoln Memorial para exigir justiça igual debaixo da lei para todos os cidadãos. Ao final da marcha, Martin Luther King fez seu famoso discurso “Eu Tenho um Sonho.”

A Carta dos Direitos Civis ainda estava sendo debatida pelo Congresso, quando John F Kennedy foi assassinado, em novembro de 1963. O Novo presidente, Lyndon Baines Johnson, que tinha um pobre histórico em questões de direitos civis, assumiu a causa. Usando sua considerável influencia no Congresso, Johnson conseguiu que a Lei dos Direitos Civis fosse aprovada.

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O Presidente Johnson assina a Lei dos Direitos Civis na presença do
Pastor Martin Luther King, em 02 de julho de 1964.


Em 1964 a Lei dos Direitos Civis fez da discriminação em lugares públicos, tais como teatros, restaurantes e hotéis, um ato ilegal. Também foi exigido dos empregadores que providenciassem oportunidades iguais de emprego. Projetos que envolviam verbas federais agora poderiam ser cortados se houvesse evidência de discriminação baseada em cor, raça ou nacionalidade".

Excerto de
http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/USAsitin.htm

Tradução de João Cruzué
cruzue@gmail.com