domingo, março 29, 2009

Como ouvir a voz do Espírito de Deus

João Cruzué

Sempre fui um ávido leitor de bons livros cristãos. A princípio fui lendo de tudo, depois, quando os assuntos ficaram repetitivos, passei, então, a escolher os que pudessem adicionar conhecimentos novos. O gosto pela leitura veio de minha mãe, uma professora de ensino primário, que por sua vez adquirira de meu avô o gosto pela leitura. Sei Deus fala de várias maneiras: pela palavra, pela leitura bíblica diária, pelos pais, pastores... mas fala principalmente pela voz do silêncio que apenas a alma pode ouvir.

Em um país ainda com tantos analfabetos ter aprendido a ler com seis anos, foi uma grande bênção. Ter concluído um curso universitário ao custo de cinco anos de salário também foi mais uma bênção. Mais dois anos de um curso de inglês. Para um jovem que criou-se e viveu no campo, em um sítio, ter conseguido estas três coisas seriam motivos de muita satisfação. Mas, o melhor veio depois: além daquelas três coisas, tive um encontro real com o Senhor aos 18 anos.

O conhecimento é algo maravilhoso, alicerçado no temor de Deus é melhor ainda, porque Ele é quem dá relevância a nossa vida e nos mostra o propósito para o qual fomos criados. Ainda que para isso, Ele possa até permitir que sejamos moídos em moendas de ferro. Diz a Bíblia que Deus é Pai e sabe corrigir bem seus filhos, para que eles adquiram um carater parecido com o dEle. Quem aceita a correção e persiste na busca, conseguirá o favor de Sua intimidade, isto é, quando você ora, Ele responde.

Quando escrevi pela primeira vez esta mensagem tinha 50 anos. Hoje, ao reescrevê-la, estou com 52. Não penso mais como há 10 anos, pois, a medida que os anos passam posso ver uma realidade que antes não conseguia ver. Eu sei que as receitas para uma aproximação com Deus são mais teóricas que práticas, por isso, quem não tem o poder de Deus, costuma exibir-se com pavonices, palavrórios, empáfia, que são de pouco proveito. É uma experiência pessoal, que não pode ser passada por tradição.

Para ouvir a voz do Espírito de Deus é preciso algumas coisas

FÉ EM JESUS CRISTO

"Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz
não endureçais o vosso coração". Hebreus 3:15

Deus, o Criador, nos amou de tal maneira que enviou seu único filho, Jesus Cristo, para nos trazer uma mensagem - O Evangelho - que significa Boas Novas. A missão de Jesus Cristo era reconciliar todos os pecadores com Deus, pagando um alto preço em resgate da vida de cada homem e cada mulher, sujeitos à condenação eterna por causa do pecado. O preço da liberdade já foi pago, mas para que cada pecador seja livre do senhorio do diabo, é necessário que ele tenha um encontro com o Senhor Jesus para aceitá-lo com salvador de sua alma e Senhor de sua vida. Todos os que aceitam publicamente a salvação por meio da fé em Jesus Cristo, tem o direito de ser chamados de filhos de Deus e de ter seus nomes escritos no Livro da Vida. Não há nenhum outro nome no céu, nem na terra, que possa trazer salvação e reconciliação entre um pecador e Deus, a não ser o nome do Senhor Jesus Cristo.

SEDE DA PALAVRA DEUS
"Eis que vêm dias, diz o SENHOR Deus,
em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água,
mas de ouvir as palavras do SENHOR". Amós :11

Quem aceita o Senhor Jesus como Salvador e Senhor naturalmente tem um desejo profundo de compreender a vontade de Deus, que se acha disponível nas Escrituras - A Bíblia Sagrada. Esta sede de Deus a fome pela sua Palavra é uma característica básica de um cristão sincero, tanto novo quanto maduro.

COMPROMISSO DE FIDELIDADE
"Então, o SENHOR, do meio de um redemoinho,
respondeu a Jó: Cinge agora os lombos como homem;
eu te perguntarei, e tu me responderás". Jó 40:5-6

A característica de um cristão sincero está resumida no primeiro capítulo do Livro de Jó: "Perguntou ainda o SENHOR a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal. Integridade, retidão, temor de Deus e distância do mal. Integridade: Jó não era um homem corrupto nem era amigo de gente corrupta; retidão: entre o certo e o errado, o santo e o pecado: Jó seguia a justiça e a santidade; temor de Deus: Jó andava em justiça e retidão porque sabia que Deus abominava o pecado; distância do mal: Jó desviava-se do mal porque não queria perder a comunhão com Deus. Depois de sua provação, o próprio Deus respondeu a Jó.

EXERCÍCIO DA COMUNHÃO

"Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto,
orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!
Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres". Mateus 26:39.

Comunhão é ouvir e falar. É preciso ter tempo para conversar com Deus. Orar. A oração nunca está completa enquanto conversamos com Deus. Depois que falamos tudo, é preciso exercitar o silêncio para aprender a ouvir. Aqui está o detalhe porquê existem pessoas que passam muito tempo diante do Senhor enquanto outras ficam apenas 15 minutos. A voz de Deus são palavras que se ouvem com a alma, e não com os ouvidos. Em uma geração tão apressada como a nossa, isto soa muito estranho ao nosso entendimento.

Deus não tem pressa, pois é onipresente; na verdade, nascemos apressados, pois nossa vida também é um sopro. Todavia, as grandes escolhas de nossa vida podem correr perigo por causa da pressa. Deus pode responder uma oração de apenas uma palavra, mas quando se trata de comunhão, ele ama estar conosco para dizer principalmente - que nos ama! Aqui vou corrigir uma frase que considero errada: "Muita oração, muito poder" na verdade, precisamos mudar um pouco: "Mais comunhão, mais poder de Deus."

PACIÊNCIA PARA ALCANÇAR AS PROMESSAS
"E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim,
negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me".Lucas 9:23

Para chegar a ser "árvore madura" que produz muitos frutos, demanda algum tempo. Temos também uma tendência natural e ruim à presunção, isto é, quer ser aquilo que ainda não é; e pensar que já se sabe tudo. Ao estudar a história de Abrão, Moisés, Saul e Pedro uma coisa pode ser compreendida: eles erraram por achar que sabiam mais que Deus. Não estavam ainda maduros, Abrão, Moisés e Pedro alcançaram o favor de Deus, pois não insistiram no erro. O rei Saul não teve a mesma sorte, pois era teimoso em fazer escolhas erradas achando que sua vontade era a vontade do Senhor.

O importante a essa altura da vida cristã, já perto da maturidade, é não jogar tudo fora por falta de paciência; em querer ser algo sem ter vocação de Deus, baseando-se em chamado de homens. Ou trocar a visão de Deus por uma coisa superior aos olhos dos homens. Em nossos dias, quem seguiria o conselho de Paulo em Romanos 12:16 "Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos"?

O TRABALHO COMO ATRIBUTO DE CARÁTER
"E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora,
e Eu trabalho também". João 5:17

Em todas as fases de nosso crescimento espiritual Deus espera que sejamos produtivos e laboriosos. O trabalho é o atributo natural de um cristão sincero. Por outro lado, o diabo é o pai de todo ocioso. Não existe nenhum homem ou mulher na história reportada pela Bíblia Sagrada que ouviram a voz de Deus e continuaram no sono dos mortos, no ócio dos pecadores ou árvores que não produziram frutos. Quem crê verdadeiramente no Senhor tem alegria de trabalhar tanto na vida secular quanto espiritual.

Quando o profeta Samuel à casa de Jessé ungir um de seus filhos para ser o novo rei para Israel, não disse antecipadamente quem seria. E por não ter ouvido ainda a voz do Senhor, diante da beleza e altura de Eliabe - o primogênito - o profeta se enganou. Todos os filhos de Jessé que estavam em casa, ociosos, foram rejeitados. David, o mais moço, estava no campo t r a b a l h a n d o. Havia uma diferença entre o caráter deles que significou a rejeição do ócio e o prêmio da unção ao trabalho. Louvado seja o nome do Senhor, que hoje, 01 de maio de 2008 - dia mundialmente comemorado como Dia do Trabalho, este atributo seja uma das principais características de seu caráter.

Espero que estas palavras simples possam agradar ao Espírito Santo e ao concluir esta leitura, você esteja sentindo algo diferente alegrando a sua alma.


cruzue@gmail.com

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Lança teu pão sobre as águas

João Cruzué

Não posso esquecer a emoção que senti quando ouvi a voz silenciosa do Espírito Santo falando em mim. Eu acabara de receber uma carta de um preso e ainda estava com ela nas mãos. Vou contar de novo este fato, pois faz ele parte das boas coisas que aconteceram comigo durante um longo período de tribulações financeiras.

De 1994 a agosto de 2000 eu cuidei de uma congregação. Por motivos pessoais licenciei-me da Igreja para atender um compromisso familiar. Seis meses depois de volta a São Paulo comecei a passar uma temporada de solidão ministerial. Entendo que estava "atravessando" de barco o "Mar da Galiléia". Eu tinha tudo para naufragar,mas Jesus a tudo observava.

Um dia, olhei no portão de casa para ver se chegara mais uma conta. Lá estava um envelope cor de rosa, estranho. Remetente? Um presidiário da P1 de Avaré. Destinatário? Curiosamente, tinha os mesmos dados de um velho carimbo de literatura. A surpresa: seis anos foram o longo tempo que se passou para que uma semente Evangelho S. João levasse para brotar desde a semeadura até aquele envelope no portão.

Ao ler a carta e conhecer os dados do carimbo eu percebera que Deus estava falando comigo. Ao compreender que aquela carta era o brotar da primeira semente de uma semeadura de seis anos, um tempo muito longo de onde nada havia brotado, chorei, e alegrei-me no espírito.

O Espírito Santo martelava no meu coração as palavras de Eclesiastes 11:1: : Lança o teu pão sobre às águas, porque depois de muitos dias o acharás; era como se alguém o marcasse com brasas.Na tradução literal: Lança a tua semente sobre as águas...

Este foi o começo de um ministério de dois anos e meio. Mais de meia tonelada de literatura usada recolhida e despachada para 30 penitenciárias diferentes dentro do Estado de São Paulo. Mais de 500 cartas recebidas e 800 enviadas. Desempregado e solitário na Igreja, aquela ocupação caiu do céu para ocupar-me até o início de meus dias de novo emprego.

Se por um lado, foram aproximadamente 11 anos de deserto, principalmente financeiro, foi também o período em que mais busquei a presença do Senhor. Eu era como um grão de areia dentro da ostra em um processo de criação de uma pérola. Ainda não sou a pérola, mas passei por um polimento rigoroso.

Vejo com muita preocupação os dias da Igreja Evangélica brasileira. Todo ano são centenas e centenas de ministérios abertos, de todas as correntes, matizes, ideologias e idiossincrasias. Somos muito divididos e pouco coesos. A julgar pelo Evangelho, "reinos" divididos são reinos enfraquecidos. Enquanto isso mais de uma centena de milhões de brasileiros ainda não tiveram um encontro verdadeiro com Deus. Eles estão famintos, mas não confiam em nós. Com muita justiça, nossa imagem perante eles é de uma avareza e hipocrisia ímpares.

Há um evangelho "água de batata" sendo pregado na terra do café. Ele faz comichão nos ouvidos das pessoas porque elas gostam de ouvi-lo. São palavras lindas de se ouvir: Vitória! Bênção! Ouro e prata! Portas abertas! Carrões, mansões, viagens ao exterior! Ô maravilha!

Um evangelho de palavras! Focado em testunhos de prosperidade de A, B e C. A publicidade está direcionada para homens de sucesso. Isto não passa de castelos construídos na areia e com a areia da praia. Quando o "rei" do castelo cai, o estrago não pode ser medido. Jesus ficou fora do foco e isso é um mau sinal.

Estive lendo "Aurora" de Nitchzsche esta semana. Ele fala uma linguagem muito apreciada pelos não crentes, pelos crentes desviados. Ele estudou teologia numa escola que poucos tiveram e têm o privilégio de estudar. Pais luteranos, estudou Teologia e Filosofia na Universidade de Bonn. Cumpriu literalmente em Nitchzsche este versículo bíblico "A letra mata, mas o Espírito vivifica.

Nitchzsche não teve a oportunidade de um encontro verdadeiro com Jesus. Se teve, com certeza deve tê-la desprezado. Ele deu testemunho do apóstolo Paulo, segundo ele o homem que atirou ao mar boa parte do lastro do judaísmo pelas bordas do navio do cristianismo para conseguir navegar por águas gentílicas. Nitchzsche testemunhou que, se não fora o ímpeto do apóstolo Paulo, já há muito não se falaria do cristianismo. O interessante é que Nitchzsche como teólogo tinha um potente "telescópio" para ver com muito mais acuidade que qualquer outro. Mas ele era completamente cego. Não cria no Espírito Santo. Achava que Paulo foi o motor que impulsionou o cristianismo até os nossos dias. Paulo pode até ter sido o motor, mas não era o combustível, a energia - assunto tão prioritário em nossos dias.

Paulo dizia claramente que não pregava um evangelho de palavras persuasivas de retórica humana. Ele fazia questão de afirmar que pregava um Evangelho de poder, de arrependimento, de sinais e milagres. O Evangelho da diferença, o Evangelho que faz o pecador sentir a presença de Deus. O Evangelho do arrependimento e do compromisso. É por isso que estamos passando por dias ruins, estamos presenciando a busca por um evangelho pragmático.

Estamos presenciando um paradoxo em nosso meio evangélico. Nunca tivemos tanto, mas continuamos famintos. Ministérios, mansões, carross, megatemplos, megaeventos, superpregadores, mas o povo continua faminto da presença de Deus.

É como dizia um pregador: É preciso ter para poder dar! Quem não tem a presença de Cristo na própria vida, não tem nada para semear, a não ser palavras de um falso evangelho, que parece, mas não é!

Por isso não se engane com palavras bonitas, compre as verdadeiras sementes em um processo de aproximação constante do Senhor. Alguém tem que fazer o trabalho duro, este alguém pode ser você. Há uma multidão de famintos em nossa nação, são muito exigentes: eles detestam o pão dos exploradores da fé. Há muita pregação e pouco Evangelho. Muito espetáculo e pouca colheita. Se hoje ouvires a voz do Espírito: semeie, pregue, ensine, louve, reparta, ore - AJA!]

cruzue@gmail.com

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