segunda-feira, janeiro 28, 2008

Bem-aventurados os que sonham


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João Cruzué

Hoje, fui caminhar à tarde no intervalo do almoço; como de costume aproveitei para orar. Ao final, tive a visão de escrever uma vez mais sobre como é importante sonhar. É claro que não vou tecer um rol de frases cheias de palavras como: conquistas, vitórias e afins, pois creio que isto cansa, principalmente àqueles que de fato precisam muito de uma bênção – muito esperada - mas que nunca vem. Sei que no Sermão das Bem-aventuranças não está incluso o tema deste texto “Bem-aventurados os que sonham”, mas que ele está implícito em outros contextos do Evangelho, isso está.

“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis;
batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe;
o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á”
Mateus 7.7-8.

O sonho não pode morrer. Ele precisa da fé para continuar vivo. E ter fé é teimar em acreditar, mesmo quando não existe a mais remota chance de sucesso. É teimando, insistindo em seus sonhos, que você vai encontrar a porta, vai bater nela, quantas vezes precisar até que consiga realizá-los. O Senhor concede a oportunidade de realizar grandes sonhos apenas para os mais teimosos, os mais insistentes, aqueles que sempre se levantam do pó de uma batalha perdida e continuam até ganhar a guerra. Há vários personagens da Bíblia que travaram batalhas e venceram suas guerras. Vamos citar quatro exemplos.

Abraão não tinha herdeiro. Ele era próspero, tinha um lar, uma esposa, amava e era amado por ela, tinha muitos criados, gado sem conta e o respeito dos vizinhos. Apesar de tudo isso ele tinha uma grande frustração. Faltava-lhe uma coisa, que todos tinham, e ele não – um filho. Quanto ao sonho, se algum dia teve, já o havia sepultado definitivamente. Não havia mais a mínima possibilidade de que Sara e ele, já velhos e secos, tivessem um filho natural. E por isso o Senhor mandou Abraão contar as estrelas do céu para ressuscitar o sonho morto. E um dia, muitos anos à frente, Isaque encheu de riso o lar de um casal de velhos. Ao ser provado pela última vez, quando Deus pediu sacrificasse Isaque em holocausto, não titubeou. Se no passado andou vacilando e mentindo, agora esbanjava fidelidade.

José teve dois sonhos. O sonho de um molho de trigo que se levantava enquanto os molhos de seus irmãos inclinavam-se diante dele, e o sonho do sol a lua e onze estrelas que também se inclinavam diante dele. Os sonhos eram de Deus e mesmo que José não insistisse sobre o assunto, o Senhor os cumpriu literalmente na sua vida. De filho minado a escravo; de escravo a governador do Egito. José não se embaraçou com mágoas, pois tinha um coração perdoador.

Neemias ouviu uma triste notícia a respeito da cidade de Jerusalém, cujo povo vivia em grande miséria e desprezo, os muros estavam fendidos e suas portas queimadas a fogo. E ele chorou, e orou, e jejuou, mas a seguir começou a pensar na reconstrução da cidade. Por trás daquela tristeza de Neemias estava trabalhando a vontade de Deus. Ele, como simples copeiro do rei, tinha pouquíssimas chances de realizar aquele sonho, mas não ficou apenas no choro e nas lamentações. Insistiu em oração e jejum, para que o Senhor preparasse o tempo de falar com o Rei. O impossível ficou por conta de Deus, que um dia, dispôs o coração do rei não apenas para ouvir mas para suprir com materiais e dinheiro exatamente o que fosse necessário para reparar os muros da cidade de Jerusalém e suas portas. Neenias mostrou-se um homem compassivo e não se portava com indiferença diante das necessidades de seu povo e de sua pátria.

E como último exemplo, a viúva do profeta, que além de endividada, ficou desesperado quando o credor veio bater a sua porta para avisar que levaria seus dois filhos para a servidão. Em seu desespero não conseguia ver uma saída, e nunca iria descobrir que só um pouco de azeite, dentro de uma simples botija, daria para pagar todas as dívidas e ainda que sobraria o bastante, para viver do resto. Uma virtude ela possuia: a do não-conformismo e também sabia o que fazer, pois foi reclamar com a pessoa certa - o profeta Eliseu - homem de Deus.

Não julgue inconveniente as grandes frustrações ou aflições de sua vida. Elas podem levar a dois destinos: ao atoleiro da murmuração de onde ninguém sai ou para o caminho da realização de seus sonhos.

Abraão era frustrado. José do “Egito” sofreu com o desprezo dos próprios irmãos. Já Neemias fazia parte de um povo envergonhado e aparentemente abandonado pelo próprio Deus, por causa do pecado. E a viúva de 2 Reis capítulo 4, não aceitava o fato de que, tendo servido a Deus com seu esposo por tanto tempo, viria ficar além de viúva, endividada e desamparada dos filhos.

Frustração, desprezo, vergonha e dívidas. Qual destes espinhos ferem dolorosamente sua alma? Sei que é muito difícil conviver com qualquer um deles, mas o Senhor instruiu a minh'alma para escrever sobre este assunto e prontamente lembrá-la(o) de que há uma porta por abrir, e que isso depende de você. O Senhor também lhe pergunta: O que queres que eu te faça?

O que você quer do Senhor? Onde é a sua dor? Qual é o motivo da sua tristeza? Talvez já tenha contado ou reclamado sobre ela para muitas pessoas ou quem sabe nunca falou sobre isso para ninguém. Mas o Senhor quer que você conte para Ele. Acredite.

Se você já fez isso e nada aconteceu, é sinal de que é preciso ir em frente. Comece a fazer planos, ou volte a sonhar com eles; sonhe com coisas grandes que possam resolver seus problemas, coloque pessoas amigas dentro de seus sonhos - pare de lamentar a sua situação.

Li um sermão há pouco tempo em que o pregador ensinava que não devemos levar causas pequenas diante do Senhor, pelo fato de que ninguém solicita uma audiência com o Presidente apenas para levar ao conhecimento dele algo pequeno. Não é o Senhor maior que qualquer rei ou presidente? Mostre seus grandes sonhos a Ele. O Senhor sabe tudo, mas está lhe perguntando: O que queres que Eu te faça? Seja teimosa(o), insistente.

Não existe nenhuma bem-aventurança em frustrações, desprezo, vergonha e dívidas. Mas bendito será você se aproveitar a oportunidade que elas trazem tanto para aumentar sua comunhão com Deus quanto para receber dele as grandes bênçãos. De todos os exemplos citados nesta mensagem, os problemas serviram de causa a grandes e maravilhosas bênçãos.

Então, volte a pedir, a buscar e a bater. Há uma bem-aventurança declarada na palavra do Senhor para você. Quem pede, recebe; quem busca, acha; e quem bate, a porta abrir-se-lhe-á. É Por isso que ainda vale a pena voltar a sonhar.

João Cruzué
http://olharcristao.blogspot.com
cruzue@gmail.com

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domingo, janeiro 27, 2008

Shoah - uma carta de despedida

Homenagem do Blog Olhar Cristão
ao Dia Internacional para Lembrança das
Vítimas do Holocausto - 27 de janeiro de 2008.
PhotobucketMonumento ao Holocausto (Shoah*) em Berlin, Alemanha

Testemunho escrito
Carta de despedida escrita por Cilli Dzialowski

Tradução: João Cruzué


Com a ajuda de uma mulher holandesa, Cilli Dzialowski da Holanda, enviou esta carta de despedida para seus quatro filhos que residiam na Inglaterra, durante a Guerra. Seu filho Hy sobreviveu em um esconderijo na Holanda. A carta foi remetida para o Yad Vashem por uma das filhas de Cilli, asenhora Jakobovitz, que hoje mora no Canadá.

"Enschede, Holanda, 1º de abril de 1943.
Amados e preciosos filhos

Nestes momentos finais, antes de me juntar ao seu querido pai, e perderei, como ele, minha liberdade, há uma compulsão urgente dentro de mim para dizer a vocês o seguinte.

Vocês estão em nossos pensamentos dia e noite; nosso amor por vocês faz de nossa vida, mesmo sob as circunstâncias desta presente dificuldade, valer a pena viver; nós ansiamos pelo momento quando outra vez seremos capazes de abraçá-los com os braços estendidos - a vocês, nossos bens mais preciosos – e temos fé no futuro, que esta suprema alegria nos será concedida.

“Amados pardais” - Eu devo chamá-los assim uma vez mais, como costumava fazer quando vocês eram ainda muito jovens, as circunstâncias deveriam alterar o curso para nós, e nós, segundo a vontade do Todo Poderoso, podemos não nos encontrar outra vez. Eu peço a cada um de vocês, de todo meu coração, para levar sempre vidas francas e honestas e suportar uns aos outros sempre que for necessário. Sua jovem e única irmã deve receber seu máximo cuidado e amor. E Hy, seu irmão mais velho, tem sentido saudades de vocês, não mais que todos nós, em todos estes anos e tem sofrido muito esta agonia e medo, deve estar sempre bem perto de vossos corações.

Desafortunadamente, desarraigados como ficamos na Holanda, nunca fomos capazes de dar-lhes o cuidado paternal e o clima de um lar pelo qual nós desejávamos tanto. Muitas vezes o anseio por vocês e o desejo de estarmos reunidos foram tão dominantes e fortes em nós, tanto quanto nele, que nós ficamos com medo de não poder carregá-lo mais.

Eu sei que temos um tesouro em vocês, meus queridos, e que vocês são comprometidos e de caráter firme e forte, que – Baruch Hashem – vocês são abençoados com aquela essência de personalidade a qual faz de vocês queridos por seus colegas e encontrarão certamente favor diante dos olhos do Criador. Este conhecimento traz-me consolação.

Nunca desviem o comportamento do caminho do temor de Deus e sempre sejam guiados pelo exemplo de vosso querido pai. Nossos pensamentos constantes sobre vocês os têm acompanhado de muito longe, através da estrada da vida de vocês, e nossas bênçãos nunca irão deixá-los.

Esta carta irá chegar até vocês através dos esforços de uma ótima senhora holandesa que sempre foi maravilhosa para conosco e constantemente nos deu coragem para enfrentar o futuro, o que nós aceitamos sempre cheios de gratidão.

Meus filhos preciosos – Eu abençoo a cada um vocês à distância com a benção tradicional, também em nome do Paizinho: Que vocês possam ser felizes e cheios de sucesso na vida; apeguem-se uns aos outros, e nunca desviem nem um só passo do caminho, dos preceitos de nossa Torah.

Eu abraço e beijo vocês, e agora, sinto-me verdadeiramente unida com vocês
Da sempre sua Mamãe."

Álbum do Holocausto
The Auschwitz Album
http://www1.yadvashem.org/exhibitions/album_auschwitz/10-13.html
Cartas de despedidas
http://www1.yadvashem.org/odot_pdf/Microsoft%20Word%20-%202493.pdf

* Shoah, vem do hebraico e quer dizer holocausto, palavra usada depois da II Guerra mundial para definir o extermínio de 6 milhões de judeus praticados a mando dos nazistas alemães, liderados por Hitler.


Veja + em nosso antigo blog

http://theholocausto.blogspot.com

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